As assessorias:
Uma boa assessoria - política, imprensa, marketing, comunicação, - deve conhecer profundamente a actividade que a organização e o líder estão a efectuar. “Jorge Alves da Silva explica que precisa de estar «envolvido por dentro» com um partido para poder ocupar-se da sua imagem” (1)
Alejandro Quintero vai mais longe e diz que «para ajudar na preparação de um político a actuar perante a população, um consultor tem de perceber desde Ciência Política, Sociologia e História e ser capaz de desconstruir ideologias, compreender a religião – “o processo político é complexo e exige uma interpretação ampla dos assuntos envolvidos”» - Público; 06/04/1998.
Os assessores devem ter igualmente uma noção clara das tarefas de cada uma das partes, para evitar conflitos e atropelos.
Nem sempre sucede, mas independentemente da área em que trabalha, qualquer assessor tem de ter a frontalidade suficiente para exprimir a sua opinião, por mais critica que seja.
Todo o trabalho que desenvolvem e as informações que obtêm, exigem uma postura o mais discreta possível. Uma boa assessoria trabalha em silêncio.
«Quando se torna necessária a intervenção de um consultor de imagem profissional, as aproximações são feitas e mantidas no maior dos segredos e nem ministérios nem agências gostam de falar no assunto.» Visão; 13/11/2003
As actividades que desenvolvem têm como objectivo valorizar a imagem do líder e/ou da organização política. No entanto, quem tem as ideias, o brilho, a energia, o génio do jogo político, são os políticos. Para um consultor a regra é a discrição. Veja-se o exemplo do assessor de imprensa do então ministro das Finanças, Sousa Franco que, devido a excesso de protagonismo, teve de sair do governo em 1997.
Apesar de assumir um papel determinante, a figura de consultor nem sempre é pacífica no interior das organizações políticas.
“Entre as profissões mais ingratas que se pode abraçar é a de técnico de time de futebol, outra a de profissional de marketing político eleitoral (…). Igualmente em marketing político só interessa a vitória, e quando isto não ocorre, o primeiro culpado é aquele que traçou a estratégia de acção durante a campanha” - Carlos Augusto Manhanelli (este é aliás, um dos motivos que leva muitas agências a recusarem convites para prestarem serviços de assessoria em marketing político).
Logo à partida, há muitas resistências do próprio líder em aceitar a necessidade de proferir intervenções que não correspondem ao seu estilo. Por vezes António Guterres desabafava que se recusava a «ser assessor dos assessores».
Por outro lado, os líderes também se sentem especialistas em comunicação e a prova é terem chegado à liderança de uma estrutura partidária. Os dirigentes políticos têm o preconceito (com algum fundamento) de que se podem tornar uma marioneta nas mãos dos consultores e que isso é péssimo em termos de imagem pública e de acção política.
A juntar a tudo isto, há ainda outros factores que têm a ver com o recrutamento de consultores externos à estrutura partidária e a acção que desempenham apontar para valores e condutas que geram resistências.
Por último, quando acabam por ter uma capacidade de influência, por vezes superior à de alguns dirigentes, surge a inveja e a intriga na «corte».
Este «poder» das assessorias é muito relativo e é muito variável.
Para Ron Faucheux, editor-chefe da revista Campanhas e Eleições (Campaigns & Elections), o poder dos consultores políticos tem mais de mito do que de realidade (...), Não acredita que os especialistas sejam tão importantes como as pessoas acham e temem que eles são. «Pelo contrário, todos os meus amigos consultores queixam-se de que não são ouvidos pelos clientes»” Gazeta Mercantil; 30/07/2001
Há quem defenda a tese que o recurso e a influência dos consultores são maiores nos países ou nos partidos com menor peso ideológico. Tese esta, que explica o recurso permanente aos consultores nos Estados Unidos e ao número significativo de experiências que estão a ter lugar nos países de leste.
Na Europa ocidental a carreira de um político é quase impensável sem o apoio partidário. Este peso da influência partidária sente-se a vários níveis na política de comunicação.
Enquanto os partidos com menor tradição e peso ideológico têm maior flexibilidade em traçar valores e objectivos programáticos, os partidos com uma forte militância, são mais propícios a seguir uma linha de continuidade - “Nos Estados Unidos ou no Brasil vamos tentar perceber aquilo que temos que fazer para mudar a opinião das nossas bases. Em Portugal, ainda se tem em conta o que pensa o jovem militante do Alentejo ou o autarca do interior e é essa opinião que eles vão trabalhar para transformar em discurso político, encomendando ou não a campanha a profissionais” - Edson Athayde em declarações ao Público de 6 de Julho de 1999.
Saliente-se, no entanto, que a tendência é para as organizações políticas caminharem para uma postura menos ideológica, mais personalizada e com propostas que vivem de temas conjunturais.
«Nas últimas décadas do século XX, os partidos de massas foram sendo cada vez mais eclipsados pelos (...) partidos eleitoralistas. (...) Os partidos eleitoralistas São fracos do ponto de vista organizacional, muito embora possuam escritórios e os seus grupos parlamentares sejam apoiados por funcionários. Em altura de eleições, contudo, estes partidos surgem na arena política com o intuito de desempenharem a sua função primordial: a condução de campanhas eleitorais. Utilizam técnicas de campanha “modernas” (dando ênfase à televisão e aos meios de comunicação de massas, em detrimento da mobilização de militantes e organizações aliadas) e apoiam-se fortemente em profissionais que as desenvolvem de forma eficaz» - Portugal a Votos (2)
Em Portugal, no que diz respeito às assessorias de comunicação e marketing político, encontramo-nos numa fase embrionária, de alguma confusão, de importação de modelos e em alguns momentos até de importação de profissionais.
Repare-se no exemplo do PSD:
Sá Carneiro foi um dos primeiros políticos a recorrer a um profissional de comunicação e marketing político. Escolheu José Luís Sanchis para a campanha eleitoral de 1979. Em Espanha tinha trabalhado para o antigo primeiro ministro Adolfo Suarez,
Este técnico espanhol trabalhou ainda para a candidatura presidencial de Soares Carneiro em 1980 e de Feitas do Amaral em 1986. José Luís Sanchis assessorou também o PSD nas eleições legislativas de 1987 que deu a primeira maioria absoluta a Cavaco Silva.
Depois do técnico espanhol e ainda no tempo de Cavaco Silva, este trabalho foi feito por Jorge Alves da Silva.
Com Marcelo Rebelo de Sousa a opção foi para a agência em Portugal do francês Seguella.
Mais tarde, com Durão Barroso na liderança, o responsável pela campanha do PSD para as legislativas de 1999 foi Manuel Maltez, director-geral da BBDO Portugal.
Para as eleições presidenciais de 2001, o PSD foi ao Brasil buscar o ‘Mago Merlin’. Hiran Pessoa de Mello começou por dirigir a campanha de Ferreira do Amaral e pretendia dar continuidade ao seu trabalho com Durão Barroso.
No entanto, um outro brasileiro, Einhart Jácome Paz fez a campanha vitoriosa de Santana Lopes para a Câmara de Lisboa no final de 2001 e, logo de seguida, liderou a campanha do PSD para as legislativas em 2002. Com a passagem de Santana Lopes à liderança, continuou a assessorar o PSD.
Em Portugal - à semelhança do que se passa no Brasil e em Espanha- o fenómeno da competição política é recente. Só agora é que estão a ser formados profissionais com especialização na área do marketing e da comunicação política. Em Portugal é onde se verifica o maior atraso. Mesmo assim, regista-se uma evolução significativa, dentro e fora dos partidos.
Nos sucessivos governos das últimas duas décadas todos os departamentos têm pelo menos um assessor de imprensa.
Na Assembleia da República institucionalizou-se a figura de assessor de imprensa, quer no gabinete do Presidente, quer nos grupos parlamentares.
As autarquias passaram também a ter um gabinete de imprensa. Segundo um estudo efectuado pelo Instituto Superior de Comunicação Empresarial, em 1997, 41% das Câmaras Municipais têm um departamento de Marketing/Comunicação. Destas estruturas, a função mais referida é a de assessoria de imprensa. Apesar destes números, das 128 Câmaras inquiridas, apenas 21% dizem fazer anualmente um plano de marketing/comunicação.
Com o desenvolvimento económico e com uma procura crescente dos seus serviços, as agências de comunicação surgiram como cogumelos. No final de 1997, cerca de 50 estavam já associadas à APAP - Associação Portuguesa das Empresas de Publicidade e Comunicação.
Uma outra associação, a APECOM - Associação Portuguesa das Empresas de Conselho em Comunicação e Relações Públicas, tinha 23 empresas associadas em 2004. Eram «as mais relevantes empresas portuguesas de consultoria nas áreas das Relações Públicas, Assessoria de Imprensa, Organização e Eventos e Imagem Empresarial.
Como sector emergente, de grande importância para o desenvolvimento empresarial, o Conselho em Comunicação e as Relações Públicas tornaram-se ferramentas indispensáveis a gestores e governantes, como forma de comunicar eficazmente com todos os seus públicos.
À APECOM cabe o papel de promover e desenvolver um sector em forte crescimento, que em Portugal emprega mais de 500 profissionais». Site www.apecom.pt em Outubro de 2004.
Embora não exista um trabalho exclusivo em comunicação política, algumas destas empresas prestam serviços também em períodos eleitorais. Algumas chegaram mesmo a expandir os serviços aos PALOPs.
A nível internacional, a primeira empresa de consultoria foi criada em 1933, na Califórnia, nos Estados Unidos. Hoje há milhares de especialistas.
“Mercado Gigante
Os números da política norte-americana:
- O custo de uma campanha política para o Congresso numa eleição apertada é de 800 mil dólares. Em 1996 era de 500 mil dólares
- O custo total das eleições presidenciais e de congressistas efectuadas no ano passado foi de 3 mil milhões de dólares. Em 1996 teriam sido gastos 2.2 mil milhões de dólares e 1.8 mil milhões de dólares em 1992. Ao redor de 15% de valor ficaram com os consultores políticos.
- Em 1970 o país tinha 200 firmas de consultoria política. Hoje são mais de 3 mil empresas que empregam 7 mil profissionais.
- Um consultor especializado em mídia ganha entre 75 dólares e 120 mil por candidato. Num ano eleitoral, o consultor assessora de cinco a seis aspirantes simultaneamente.
- Existem mais de 513 mil postos de eleição popular nos Estados Unidos. Apenas 10 mil candidatos utilizam os serviços de profissionais de marketing”
Gazeta Mercantil; 30/07/2001
Há, neste aspecto, uma situação de interactividade.
O trabalho dos consultores tem contribuído para um maior pragmatismo dos políticos e, por outro lado, as estruturas partidárias têm abandonado a tradição ideológica a caminho de um partido de eleitores. O número de militantes diminuiu; o nível de decisão esgota-se na estrutura dirigente; com excepção dos grupos parlamentares, as outras estruturas têm reduzido o seu peso e o objectivo último e exclusivo é obter um bom resultado nas eleições, persuadindo as pessoas com a promessa que lhe garantem um melhor nível de vida.
Uma das consequências de todo este processo é o aumento significativo de um eleitorado volátil. Aumentando a indiferença do eleitorado, aumenta também a necessidade de se recorrer a técnicas de marketing para se alcançar este eleitorado volátil. Parece estar-mos assim num ciclo vicioso, cuja principal consequência é o peso crescente de técnicas de comunicação na actividade política.
Grosso modo, poder-se-á dizer que a assessoria política tem como função o aconselhamento da liderança sobre a actividade política que está a ser desencadeada.
Têm de ser bons observadores, interpretar alguns sinais e terem a perspicácia para encontrarem iniciativas políticas que possam favorecer o dirigente que apoiam. Muitas vezes são eles que fazem o esboço das intervenções públicas do líder da organização política.
Geralmente têm uma longa relação pessoal com o líder e, nem sempre, com os restantes membros da direcção do partido político. Mais ainda, quando o líder também ocupa outro cargo (por exemplo o de Primeiro-ministro) e nem sempre existe uma coincidência de interesses.
Por vezes desempenham outras funções, designadamente contactos com outras entidades políticas ou institucionais e são um dos contactos frequentes dos jornalistas.
Têm capacidade de influência mas não de decisão.
À assessoria de marketing e comunicação cabe propor os melhores caminhos para, do ponto de vista da comunicação, se atingir os objectivos delineados pela estrutura política.
Tem de ter grande capacidade criativa e conhecimento das técnicas de comunicação e publicidade, além de um entendimento claro do que é o jogo político.
Tem capacidade de influência e de decisão nas matérias onde, tecnicamente, é responsável.
Esta assessoria vive de duas vertentes: uma mais criativa, ligada à publicidade e ao marketing, e outra mais relacionada com os jornalistas e os media em geral.
Embora por vezes trabalhem de forma separada, há alguma articulação entre as duas áreas, para que se consigam sinergias.
Este trabalho pode ser desenvolvido por uma estrutura interna ou recorrendo ao trabalho de uma agência.
«Junto do Governo, empresas como a Ipsis e a Unimagem têm como missão, designadamente, agilizar a comunicação entre os ministérios, fazer passar mensagens para o exterior ou recuperar a imagem que a opinião pública formou sobre um governante específico. Funcionam como uma espécie de complemento da assessoria de imprensa, cabendo-lhe auscultar a opinião pública, reunir com as equipas políticas, seleccionar informação, definir mensagens, preparar intervenções e mediatizar eventos.» Visão; 13/11/2003
Estes profissionais não podem, por si, garantir a vitória. Terão uma quota parte de responsabilidade no resultado final, têm grande influência e capacidade de decisão, mas a última palavra é sempre do líder. Se a perspectiva que eles utilizam é sempre a do eleitor (o cliente é que tem razão), o trabalho é virado essencialmente para o líder.
Daí que, entre eles, tenha de haver uma relação muito próxima, franca e profissional. Mesmo que em algumas situações o líder possa não ter disponibilidade para estes contactos, há alguém encarregue de o substituir e, por outro lado, eles participam nos encontros que visam definir ou retocar a estratégia.
O trabalho é desenvolvido nos bastidores.
No entanto, os que trabalham na área de comunicação surgem nas salas de conferência de imprensa, a chamar a atenção dos jornalistas para determinadas situações do evento. «Influenciam chefes de Estado, manipulam a informação, fazem e desfazem a opinião. Mas ninguém os conhece. Os mestres da manipulação preferem a sombra à luz, os artifícios do marketing político à transparência democrática». Visão; 13/11/2003
«Têm como principal função “moldar” a informação, ou seja, tentar tirar o melhor partido de qualquer situação. A mais valia que podem dar, baseia-se deste modo, no melhor aproveitamento das situações, articulando-as com uma perspectiva política o mais vantajosa possível. Para quem não saiba, spin doctors são cavalheiros que “tratam” a informação, não propriamente mentindo, mas fazendo com que ela chegue ao público da maneira mais favorável ao governo: na altura exacta, do ângulo certo, com o destaque conveniente ou convenientemente escondida e disfarçada na página 24 ou em dois segundos de televisão. Por outras palavras, os spin doctors existem para criar uma “realidade” que justifique e promova o poder» - Vasco Pulido Valente; DN; 2004
Os chamados spin doctors «moldam» ainda as expectativas em relação a determinados acontecimentos. Por exemplo, se os estudos de opinião antecipam uma grande derrota eleitoral, é «anunciada» a possibilidade de derrota num círculo eleitoral mas que, espera-se, o resultado final seja uma vitória. Este discurso pessimista é enganador. É para se clamar uma ou outra vitória num ambiente negativo. Com esta antecipação, amacia-se a derrota e, por outro lado, há uma ou outra «surpresa» que permite julgar que a derrota não foi estrondosa. O mesmo se passa em situações que vivem de grande subjectividade. Nos Estados Unidos, quando do debate entre o republicano Robert Dole e Walter Mondale, candidatos a vice-presidente, os republicanos tinham receio que fosse feita uma avaliação negativa sobre o seu candidato. Para controlar esta situação, colocaram figuras de relevo a comentar o debate nas várias televisões e Dole recebeu uma chamada do presidente Ford onde lhe dava os parabéns pela vitória. Claro que os jornalistas assistiram a esta chamada telefónica.
Os dez mandamentos do ‘spin doctor’
1. Haver um só maestro (centralizar a informação)
2. Jogar bem (não tolerar fífias)
3. A mensagem, nada mais que a mensagem
4. Alimentar os meios de comunicação a tempo e horas
5. Guardar os bons pedaços (cachas, fugas) para os amigos
6. Martelar a informação
7. Tomar constantemente o pulso à opinião pública
8. Testar e medir cada decisão (grupos de controlo)
9. Roubar ao adversário os melhores argumentos
10. Enfeitar, ameaçar, por vezes bater.
Visão; 13/11/2003
Pode haver uma grande especialização, mas basicamente o trabalho divide-se em cinco tarefas: preparação do evento; interpretação junto dos jornalistas e comentadores depois do evento ter lugar; dar interesse a algo que à partida não é fascinante; tomar conta de situações que estão fora de controlo e por último - diminuir os estragos de situações não controladas.
Na área da comunicação, por vezes, também existe a tarefa de acompanhar de forma o mais actualizada possível as actividades da candidatura adversária. (3) O indicado é até ter capacidade de antecipação.
Parte do trabalho dos profissionais de marketing consiste na produção de materiais de comunicação e na compra de espaços para difundir as mensagens. Neste sentido, para evitar problemas, é imperativo que se faça um orçamento adequado, que se respeitem os prazos e que seja realizado o controlo das despesas. Não é apenas uma questão de eficácia. Se for efectuado um planeamento adequado e se o plano for respeitado, ganha-se em eficácia de comunicação, poupa-se muito dinheiro, evitam-se conflitos que podem ser mediatizados e pode-se pensar em soluções mais criativas para responder a situações de actualidade.
Não de uma forma permanente, pode haver ainda a assessoria em outras áreas da comunicação e marketing.
Alguns líderes políticos recorreram a técnicos da fala. Por exemplo, Cavaco Silva tinha alguns problemas de expressão (além da saliva nos cantos da boca) e ultrapassou estas dificuldades com o apoio da actriz Glória de Matos, que já tinha feito o mesmo trabalho com Sá Carneiro.
Há ainda quem recorra a especialistas de televisão para participar em sessões de TV training.
A assessoria de imprensa é essencialmente reactiva e trabalha exclusivamente com os media.
O seu trabalho resulta, em muito, do que é dito na comunicação social, das solicitações dos jornalistas e da colocação de mensagens nos media.
O objectivo primeiro é ter uma boa ligação com os jornalistas. Responder a uma solicitação do Expresso com a seguinte mensagem: “Vejo que gosta de emprenhar pelos ouvidos”, tal como fez o assessor de imprensa do Ministro da Administração Interna, em 2006, é uma situação excepcional (Expresso de 22/07/2006). E estranha.
Na grande maioria dos casos, os assessores de imprensa funcionam até como “amortecedores”. Se há um problema, são eles que assumem as responsabilidades, para evitar animosidade contra o dirigente para quem trabalham.
A rotina diária é conhecer os jornalistas, saber do que falam e interpretar o que é publicado. “Há também a preocupação de descodificar porque surge uma notícia num dado momento, quem a pôs a circular e que interesses estão por detrás da mesma. «às vezes é óbvio», dizem. Outras vezes recorrem à táctica dos telefonemas cruzados para outros gabinetes. «Há canais abertos», reconhecem e diversas formas de obter informações sobre dossiers de outros ministérios” – A Capital; 008/01/1999. Um outro processo que facilita a interpretação do que é publicado é estar atento ao que é noticiado e ter frequentemente contactos com os jornalistas. “No fundo, «passamos o dia a argumentar e a contra-argumentar ao telefone»”.
Todas estas informações deverão ser trabalhadas e constar em sínteses que a assessoria redige para os órgãos de decisão.
«‘Gabinete Big Brother’ Controla Governo
O Governo decidiu reactivar o gabinete de imprensa afecto à Presidência do Conselho de Ministros (PCM) para tentar assegurar uma mais eficaz recolha e análise da informação que vai saindo nos jornais, televisão e rádios sobre as várias áreas da governação. (...)
Quanto à análise de Imprensa, a PCM tem recorrido a algumas empresas externas que fazem este tipo de serviços. (...)
Subjacente a esta decisão de tentar credibilizar a auto-análise sobre o Executivo está o reconhecimento de que a coordenação interna entre os gabinetes tem revelado falhas.»
Expresso 08/11/2003
A eficácia, a capacidade de resposta e de decisão do trabalho, é tanto maior quanto melhor estiverem informados do que se passa na organização onde trabalham, nomeadamente com o líder.
Com um assessor de imprensa deve-se ter uma relação de lealdade e frontalidade. “No entender de um ex-assessor: «a relação pessoal com o governante contribui em 50 por cento para o êxito do trabalho do assessor”» - A Capital; 08/01/1999.
Não é adequado que lhes seja sonegada informação, muito menos no que se refere aos objectivos que se pretendem alcançar. O assessor nunca pode saber menos que o jornalista que ele próprio vai contactar sobre um determinado assunto.
Para que um facto se transforme em notícia, para se conseguir a cobertura dos media, é preciso que, em primeiro lugar, esse facto chegue ao conhecimento das redacções dos órgãos de comunicação social. Para isso, a assessoria de imprensa deve conhecer as técnicas que formatam os produtos dos vários meios de comunicação social.
Um mesmo facto pode ter várias abordagens, consoante o tipo de comunicação social. Por exemplo, um comunicado pode ser redigido e tratado de forma diferente, se for para a imprensa, para a rádio ou para a televisão.
Em 24 de Outubro de 1998, o assessor de imprensa do MNE, Horácio César, leu para a TSF este comunicado. Trata-se de um texto redigido para rádio. Ao todo tem 35 segundos. Parecia um repórter da TSF: “O ministro dos negócios estrangeiros, Jaime Gama, partiu para Bissau a fim de estabelecer contactos com o Presidente Nino Vieira e com a Junta Militar.
Trata-se de uma deslocação feita no contexto da actual crise guineense.
As autoridades da Guiné-Bissau mostraram interesse activo na presença do ministro português.
Jaime Gama, acompanhado pelo director geral de política externa, embaixador Salgueiro, deslocar-se-à num avião Hércules C 130 da Força Aérea Portuguesa e aterrará no aeroporto de Bissalanca, o qual, pela primeira vez vai ser aberto, a título excepcional, para possibilitar a deslocação do chefe da diplomacia portuguesa.”
A questão essencial, é saber gerir a informação de que se dispõe.
A gestão dos dados que, mais tarde podem vir a ser noticia, deverá ser feita de uma forma discreta.
Nos contactos com a comunicação social, deverá ser criada uma expectativa adequada ao valor da informação que vai ser tornada pública e nada de comentários ou adjectivos sobre a iniciativa. Muito menos mentir ou pressionar. O resultado é, quase sempre, o inverso do pretendido e, por outro lado, o assessor de imprensa, corre o risco de se desacreditar junto dos jornalistas.
Os dados a transmitir devem reportar-se apenas aos factos, para evitar que o jornalista se sinta pressionado na avaliação que irá fazer sobre a eventual cobertura da iniciativa. Os factos a que se deve cingir são: o quê? (o que vai fazer); quando o vai fazer?; como vai ser feito e onde vai ter lugar. Deverá também ser referido quem vai participar e inserir a iniciativa num contexto (porquê?).
O contacto com a comunicação social deverá ser feito com algum tempo de antecedência e, se for necessário, com algumas informações úteis - hora e local de encontro, se é fornecido transporte, acreditação… deve também constar no documento a pessoa e o telefone onde poderão ser dados outros esclarecimentos.
Os contactos deverão ser feitos por escrito e, mais tarde, deve-se contactar o editor /chefe de redacção e também o(s) jornalista(s) que habitualmente faz a cobertura dessa organização política. Segundo relata o Expresso de 22/07/2006, “o gabinete de Sócrates (...) confirma que <<muitas vezes opta-se pela diversificação de contactos>> privilegiando as direcções”
Para que este trabalho seja eficiente e rápido, as assessorias devem ter um ficheiro com os contactos dos órgãos de comunicação social e dos jornalistas que, trabalham na área política.
A haver um convite, deve ser enviado em separado.
Em situações muito relevantes, devem ser enviados vários convites (sempre assinado pelo líder), incluindo ao director do órgão de comunicação social.
Se a opção for restrita, se a preferência for para um ou dois meios (exclusivos) tem de se ter em conta a escolha do jornalista a quem vai ser dada a informação com embargo e por vezes até sigilosa.
O principal critério é um jornalista que inspire confiança, do ponto de vista ético, e que saiba o que faz. Não se exige qualquer tipo de afinidade político/partidária. Simplesmente, alguém com princípios éticos e profissionais.
Uma última cautela, a assessoria de imprensa deve ter sempre montado um esquema de emergência. Em algumas circunstâncias, é vital dar rapidamente uma resposta ou confirmar uma informação.
Todo o trabalho das assessorias deve ser efectuado com grande profissionalismo. É necessária a máxima atenção para evitar os erros.
Podem sair caros, em termos monetários e políticos.
Um exemplo: anunciar a presença de um dirigente do PS num encontro partidário, na qualidade de Ministro, pode dar azo a acusações de envolvimento do governo nas eleições.
É por isso necessário um acompanhamento permanente da produção de todos os materiais e, quando se verificar um erro, tentar rectificá-lo o mais depressa possível.
Quando da selecção destes quadros ou das empresas a contratar, um dos critérios a ter em conta é a imagem que têm junto da comunicação social e, por outro lado, têm de se identificar com quem vão trabalhar. «Conheço aqui em Portugal profissionais da área da comunicação política que, no dia-a-dia são de esquerda e até anarquistas, e depois fazem campanhas para a ultradireita. O cidadão não gosta muito de descobrir que quem faz o ‘marketing’ político não acredita nos seus candidatos. Essa é uma discussão que não tem sentido nos Estados Unidos mas que aqui vai começar» - Edson Athayde em declarações ao Público de 05/07/1999
Ver ainda: A função da assessoria
(1) Público, 5 de Julho de 1999
(2) Portugal a Votos; As eleições legislativas de 2002; Organização André Freire, Marina Costa Lobo e Pedro Magalhães; Imprensa de Ciências Sociais; Lisboa; 2004
(3) “(A. Guterres) respondendo de imediato à tese dos aumentos das prestações do crédito à habitação (os socialistas tinham espiões eficazes no comício do PSD), desafiou o primeiro-ministro a definir-se. «Não fique à espera dos resultados do PSD; ou avança por convicção ou desiste já.» (sobre as eleições presidenciais)” Reportagem do Público sobre os comícios do PS e do PSD em Faro em Agosto de 1995.