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Comunicação Política

Comunicação Política

18
Fev11

Entrevistas

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Uma pessoa, um rosto, um sorriso, os gestos, o sotaque… São muitos os elementos que fazem parte da «mensagem» numa entrevista. Essencialmente se for em televisão ou rádio.
A entrevista é um instrumento importante para quem quer criar ou consolidar uma imagem. Por outro lado, em algumas circunstâncias, atingem uma elevada audiência. (1)

Audiência das entrevistas na TVI para as Legislativas de 2011:

11 de Abril 2011 PEDRO PASSOS COELHO (PSD)   audiência: 981.860  share: 34.4%
19 de Abril 2011 PAULO PORTAS (PP)                                   953.550            30.6%
21 de Abril 2011 FRANCISCO LOUÇÃ (BE)                             973.230            33.0%
22 de Abril 2011 JERÓNIMO DE SOUSA (PCP)                        856.030            30.7%
26 de Abril 2011 JOSÉ SÓCRATES (PS)                                1135.040            40.5%

fonte: Marktest
 

Deste modo, aceitar um convite para uma entrevista é um desafio que obriga a uma grande preparação.
As principais preocupações são: saber o tema da entrevista e quem vai fazer a entrevista. Não é a mesma coisa ser entrevistado por um “generalista” ou por um jornalista especializado.
É igualmente relevante saber se a entrevista é em directo e, caso seja gravada, se vai ser editada na íntegra. É que, em muitas situações, se a entrevista for editada, apenas uma pequena parte da conversa é aproveitada e, é infalível, o jornalista tende a sobressair o que pode causar polémica.

Por hábito, as assessorias preparam a entrevista reunindo material de apoio, designadamente uma lista de questões que podem ser colocadas. Nesta lista estão os temas de actualidade, mesmo que nada tenham a ver com o tema da entrevista. Por vezes esses temas surgem no próprio dia. Assim, antes da entrevista, é frequente confirmar-se se há qualquer notícia polémica que tenha surgido nas últimas horas.

Os dados, estatísticas e relatórios, são sintetizados de modo a servirem de cábula e para mostrar que se está seguro das afirmações que se fazem. Evita-se levar muitos papéis, apenas uma pequena cábula. Nas entrevistas em rádio ou televisão, os políticos mais experientes, quando se socorrem destas cábulas procuram evitar a leitura de um texto ou de uma anotação. Conseguem manter a espontaneidade do discurso oral. A própria comunicação gestual ganha uma expressão maior, o contacto olhos nos olhos (os óculos não podem impedir a visibilidade dos olhos), os gestos e a autoconfiança permitem reforçar a capacidade de comunicação. Ganha-se muito mais naturalidade e espontaneidade - ou seja, comunicação.
Os mais experimentados recorrem à leitura de um texto apenas quando se pretende fazer uma citação – habitualmente não muito longa – para dar credibilidade à argumentação que está a ser utilizada.

Por parte dos entrevistados, na grande maioria dos casos, o objectivo não é transmitir um conhecimento específico sobre determinada matéria. A preocupação principal é mostrar um bom desempenho ao longo da entrevista. É evidenciar que tem resposta pronta, que é simpático, hábil, inteligente e ultrapassa as dificuldades que lhe são colocadas por alguém, que por vezes, até tem o estatuto de «estrela» da televisão.

A experiência revela também que para obter impacte a entrevista tem de ter um dado novo, uma revelação que possa ser notícia. Isto é, algo que possa provocar referências noticiosas no próprio meio de comunicação social (e se for conseguido em outros, melhor ainda). Quando se afirma algo de relevante, frequentemente, é feita uma notícia nos telejornais e em outros órgãos de comunicação social, o que permite alcançar uma audiência muito maior e multiplicar as formas de transmitir a mesma mensagem.
Com esta “notícia”, além de se valorizar a entrevista (o que propicia novos convites), consegue-se difundir a perspectiva que mais interessa e evita-se que o jornalista destaque uma parte que não dá tantos dividendos ou até que seja negativa.
Mesmo que não seja possível dizer algo de muito relevante, há a preocupação de se dizer algo de novo, de introduzir novas referências. Se não for feito, se do ponto de vista informativo a entrevista não for relevante, corre-se o risco de não ser editada. Se for uma entrevista em directo, transforma-se num aborrecimento.

Uma outra constatação é que os entrevistados evitam serem interrompidos e, sempre que possível, “levam a água ao moinho”. Ou seja, aproveitam todas as oportunidades para falarem apenas do que lhes interessa. Para conseguir este objectivo, essencialmente nas entrevistas em meio audiovisuais, as respostas são muito breves e em alguns casos já estudadas.

O mesmo sucedo com a referência de casos concretos, que servem de exemplo da justeza dos argumentos que estão a ser utilizados. Os exemplos que são citados têm de ser do conhecimento generalizado do auditório e são referidos na perspectiva que mais interessam ao entrevistado.

Um outro aspecto que os políticos mais experimentados já interiorizaram é que, na verdade, o interlocutor não é o jornalista que coloca as perguntas, mas os receptores do órgão de comunicação social a quem se dá a entrevista. Por isso, utilizam uma linguagem simples, clara e de fácil entendimento por parte do público.

Algumas observações finais:
Se o local da entrevista for em instalações escolhidas pela estrutura de apoio ligada ao entrevistado, escolhe-se um espaço sossegado e evitam-se interrupções de telefonemas ou qualquer outro tipo de solicitação.

Se a entrevista tiver de ocorrer num espaço improvisado é aconselhável perceber o meio envolvente, evitar cenários estranhos ou que possam ser prejudciais à imagem do entrevistado. Não é nada aconselhável estar a ser entrevistado e a imagem de fundo é perus a serem degolados, como fez Sarah Palin numa televisão local, KTUU em Anchorage.

 


Não se tratando de uma entrevista em directo, é desejável evitar referir a outros jornalistas o conteúdo da entrevista antes da sua publicação.

 

(1)    Nos últimos anos, a entrevista que conseguiu obter um valor mais elevado de audiência média foi na pré-campanha para as presidenciais. Na TVI, Cavaco Silva conseguiu, em Novembro de 2005 uma audiência média de 17.8% (ultrapassando em certos momentos os dois milhões de espectadores). No mesmo grupo de entrevistas, Manuel Alegre obteve 13.8% e Jerónimo de Sousa 12.8%. Na lista das entrevistas que conseguiram mais audiência, vem depois  «Grande Entrevista a António Guterres» em 04/05/2003. Teve 12%. Segue-se a «Grande Entrevista a Cavaco Silva», em 06/03/2003 com 10.9% de audiência média. Ainda no formato de entrevista, Durão Barroso teve 8.5% em 16/07/03  e Ferro Rodrigues teve 8.1% em 11/11/03. A entrevista a Cavaco Silva na TVI está no terceiro lugar do ‘Top’ de programas políticos.