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Comunicação Política

Comunicação Política

18
Fev11

Entrevistas

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Uma pessoa, um rosto, um sorriso, os gestos, o sotaque… São muitos os elementos que fazem parte da «mensagem» numa entrevista. Essencialmente se for em televisão ou rádio.
A entrevista é um instrumento importante para quem quer criar ou consolidar uma imagem. Por outro lado, em algumas circunstâncias, atingem uma elevada audiência. (1)

Audiência das entrevistas na TVI para as Legislativas de 2011:

11 de Abril 2011 PEDRO PASSOS COELHO (PSD)   audiência: 981.860  share: 34.4%
19 de Abril 2011 PAULO PORTAS (PP)                                   953.550            30.6%
21 de Abril 2011 FRANCISCO LOUÇÃ (BE)                             973.230            33.0%
22 de Abril 2011 JERÓNIMO DE SOUSA (PCP)                        856.030            30.7%
26 de Abril 2011 JOSÉ SÓCRATES (PS)                                1135.040            40.5%

fonte: Marktest
 

Deste modo, aceitar um convite para uma entrevista é um desafio que obriga a uma grande preparação.
As principais preocupações são: saber o tema da entrevista e quem vai fazer a entrevista. Não é a mesma coisa ser entrevistado por um “generalista” ou por um jornalista especializado.
É igualmente relevante saber se a entrevista é em directo e, caso seja gravada, se vai ser editada na íntegra. É que, em muitas situações, se a entrevista for editada, apenas uma pequena parte da conversa é aproveitada e, é infalível, o jornalista tende a sobressair o que pode causar polémica.

Por hábito, as assessorias preparam a entrevista reunindo material de apoio, designadamente uma lista de questões que podem ser colocadas. Nesta lista estão os temas de actualidade, mesmo que nada tenham a ver com o tema da entrevista. Por vezes esses temas surgem no próprio dia. Assim, antes da entrevista, é frequente confirmar-se se há qualquer notícia polémica que tenha surgido nas últimas horas.

Os dados, estatísticas e relatórios, são sintetizados de modo a servirem de cábula e para mostrar que se está seguro das afirmações que se fazem. Evita-se levar muitos papéis, apenas uma pequena cábula. Nas entrevistas em rádio ou televisão, os políticos mais experientes, quando se socorrem destas cábulas procuram evitar a leitura de um texto ou de uma anotação. Conseguem manter a espontaneidade do discurso oral. A própria comunicação gestual ganha uma expressão maior, o contacto olhos nos olhos (os óculos não podem impedir a visibilidade dos olhos), os gestos e a autoconfiança permitem reforçar a capacidade de comunicação. Ganha-se muito mais naturalidade e espontaneidade - ou seja, comunicação.
Os mais experimentados recorrem à leitura de um texto apenas quando se pretende fazer uma citação – habitualmente não muito longa – para dar credibilidade à argumentação que está a ser utilizada.

Por parte dos entrevistados, na grande maioria dos casos, o objectivo não é transmitir um conhecimento específico sobre determinada matéria. A preocupação principal é mostrar um bom desempenho ao longo da entrevista. É evidenciar que tem resposta pronta, que é simpático, hábil, inteligente e ultrapassa as dificuldades que lhe são colocadas por alguém, que por vezes, até tem o estatuto de «estrela» da televisão.

A experiência revela também que para obter impacte a entrevista tem de ter um dado novo, uma revelação que possa ser notícia. Isto é, algo que possa provocar referências noticiosas no próprio meio de comunicação social (e se for conseguido em outros, melhor ainda). Quando se afirma algo de relevante, frequentemente, é feita uma notícia nos telejornais e em outros órgãos de comunicação social, o que permite alcançar uma audiência muito maior e multiplicar as formas de transmitir a mesma mensagem.
Com esta “notícia”, além de se valorizar a entrevista (o que propicia novos convites), consegue-se difundir a perspectiva que mais interessa e evita-se que o jornalista destaque uma parte que não dá tantos dividendos ou até que seja negativa.
Mesmo que não seja possível dizer algo de muito relevante, há a preocupação de se dizer algo de novo, de introduzir novas referências. Se não for feito, se do ponto de vista informativo a entrevista não for relevante, corre-se o risco de não ser editada. Se for uma entrevista em directo, transforma-se num aborrecimento.

Uma outra constatação é que os entrevistados evitam serem interrompidos e, sempre que possível, “levam a água ao moinho”. Ou seja, aproveitam todas as oportunidades para falarem apenas do que lhes interessa. Para conseguir este objectivo, essencialmente nas entrevistas em meio audiovisuais, as respostas são muito breves e em alguns casos já estudadas.

O mesmo sucedo com a referência de casos concretos, que servem de exemplo da justeza dos argumentos que estão a ser utilizados. Os exemplos que são citados têm de ser do conhecimento generalizado do auditório e são referidos na perspectiva que mais interessam ao entrevistado.

Um outro aspecto que os políticos mais experimentados já interiorizaram é que, na verdade, o interlocutor não é o jornalista que coloca as perguntas, mas os receptores do órgão de comunicação social a quem se dá a entrevista. Por isso, utilizam uma linguagem simples, clara e de fácil entendimento por parte do público.

Algumas observações finais:
Se o local da entrevista for em instalações escolhidas pela estrutura de apoio ligada ao entrevistado, escolhe-se um espaço sossegado e evitam-se interrupções de telefonemas ou qualquer outro tipo de solicitação.

Se a entrevista tiver de ocorrer num espaço improvisado é aconselhável perceber o meio envolvente, evitar cenários estranhos ou que possam ser prejudciais à imagem do entrevistado. Não é nada aconselhável estar a ser entrevistado e a imagem de fundo é perus a serem degolados, como fez Sarah Palin numa televisão local, KTUU em Anchorage.

 


Não se tratando de uma entrevista em directo, é desejável evitar referir a outros jornalistas o conteúdo da entrevista antes da sua publicação.

 

(1)    Nos últimos anos, a entrevista que conseguiu obter um valor mais elevado de audiência média foi na pré-campanha para as presidenciais. Na TVI, Cavaco Silva conseguiu, em Novembro de 2005 uma audiência média de 17.8% (ultrapassando em certos momentos os dois milhões de espectadores). No mesmo grupo de entrevistas, Manuel Alegre obteve 13.8% e Jerónimo de Sousa 12.8%. Na lista das entrevistas que conseguiram mais audiência, vem depois  «Grande Entrevista a António Guterres» em 04/05/2003. Teve 12%. Segue-se a «Grande Entrevista a Cavaco Silva», em 06/03/2003 com 10.9% de audiência média. Ainda no formato de entrevista, Durão Barroso teve 8.5% em 16/07/03  e Ferro Rodrigues teve 8.1% em 11/11/03. A entrevista a Cavaco Silva na TVI está no terceiro lugar do ‘Top’ de programas políticos.

18
Fev11

Reportagem

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Não é muito difícil uma organização política captar a atenção dos jornalistas para uma reportagem.
Mais uma vez, o ponto de partida é a construção de um cenário que desperte a atenção dos jornalistas e, em última instância, da audiência dos órgãos de comunicação social.
O cenário pode ser algo bem simples, como por exemplo, a leitura de um comunicado (quando é urgente marcar uma posição) ou algo mais complicado e elaborado, como por exemplo, uma visita a um bairro, uma esquadra…ao estrangeiro.
Estes pseudo-acontecimentos são preparados ao pormenor. A experiência revela que por vezes, um pequeno deslize pode estragar todo o evento. Para evitar esta situação, um dos procedimentos habituais é testar o cenário.

Tudo é preparado com grande antecedência, nomeadamente a confirmação prévia das presenças dos convidados (1) e dos jornalistas, o material que vai ser entregue aos jornalistas e as condições de trabalho que lhes são facultadas.

Sobre a Caravana da «Nova Maioria», organizada pelo PS em 1995:
«integrado na volta, segue também um autocarro de luxo, cujo interior se encontra adaptado às indispensáveis necessidades dos jornalistas que fazem a cobertura da ronda de Guterres. Eles dispõem, gratuitamente, de terminais de computadores e de telefaxes, de telefones portáteis e de aparelhos de TV e até do serviço extraordinário de dois motoqueiros que transportam a qualquer momento para Lisboa ou Porto as cassetes dos operadores de televisão. Independentemente das facilidades concedidas aos jornalistas, o PS oferece ainda aos órgãos de informação que para ali mandam os seus «correspondentes» a estada gratuita nos hotéis onde ficam instalados». José Manuel Saraiva; Expresso; 27/05/95 .

Para a comunicação social é preparado um documento curto com dados alusivos à iniciativa que está ter lugar. Este dossier de imprensa contém apenas o essencial. É de fácil manuseio, sem folhas soltas e com uma referência clara ao conteúdo de cada documento.
É destacada a informação mais relevante e sintetizados outros dados, mesmo que não constituam qualquer novidade. Por dois motivos: permite ao jornalista ter background sobre a história (orientando o seu ponto de vista) e, muitas vezes, os jornalistas acabam por repetir essa informação. Desconhecem que esses dados já foram divulgados (devido ao número escasso de jornalistas especializados em muitas redacções, por vezes, o jornalista que vai fazer a cobertura do acontecimento não tem o background suficiente e desconhece o que é novo - são poucos os jornalistas que antes de sair para reportagem se tentam inteirar da iniciativa que vão reportar).

É igualmente frequente, neste tipo de cobertura dos media, a recolha de depoimentos. As regras a utilizar são as mesmas de qualquer depoimento. Mas há quem recorra a outros instrumentos. Se, por exemplo, a reportagem decorre num «exterior» é apontado um exemplo que está ali à vista, mostra-se … Este tipo de acção exige que se seja o mais concreto possível e não falar durante muito tempo.

Uma outra preocupação dos protagonistas destes pseudo-acontecimentos é dirigir o discurso para questões concretas, que dizem directamente respeito ao cidadão. Por vezes recorrem a valores estatísticos sobre a situação em causa mas, o mais frequente, é citarem um caso concreto que seja ilustrativo (2).
A situação ideal é que esse caso concreto tenha um rosto, uma imagem. Resolve um problema aos jornalistas – que procuram sempre imagens «reais» e vai de acordo às pretensões do autor da iniciativa.

Para conseguirem estes objectivos, parte significativa destas iniciativas são realizadas fora das tradicionais salas das conferências de imprensa.
O risco é maior mas muitos dos imprevistos podem ser ultrapassados. Os políticos mais experientes raramente perdem a calma e muitas vezes até recorrem ao humor para ultrapassar as dificuldades e improvisam uma mensagem que se articula plenamente com o pretendido.

Em momentos políticos agitados e em determinados círculos fechados (Assembleia da República), é usual recorrer-se com excessiva frequência a conferências de imprensa, o que acaba por causar alguma saturação nos jornalistas e por vezes até comentários jocosos.

Um outro motivo porque os jornalistas não apreciam muito as conferências de imprensa, é porque a mesma informação é disponibilizada para toda a gente, já que a regra é convocar todos os meios de comunicação social.
Os jornalistas preferem um contacto pessoal, colocar perguntas e obter respostas exclusivas, para conseguir alguma mais-valia, um cunho pessoal, uma perspectiva mais própria e não banalizada.
Tendo em conta este objectivo, há até jornalistas que assistem às conferências de imprensa não para ouvirem a declaração mas para fazerem uma «espera». No final, num contacto directo, aproveitam a oportunidade para recolher depoimentos exclusivos (por vezes as perguntas incidem sobre outras matérias).
Para os políticos o maior «problema» das conferências de imprensa é sujeitarem-se a perguntas que nada têm a ver com o tema do encontro.
Quando estão numa posição frágil é frequente esquivarem-se a essas perguntas, mas acabam sempre por dar uma imagem negativa.
Para ultrapassar este «problema», quando é dado conhecimento aos jornalistas da realização do encontro, em vez de «conferência de imprensa» aparece a expressão «declaração». Significa que não há perguntas. Outra possibilidade, que nos últimos anos está a ser mais utilizada é limitar o número de perguntas. Outra alternativa é substituir a conferência de imprensa por um comunicado escrito ou colocar outro dirigente – que nada tem a ver com a questão polémica a que se pretende «fugir» - a fazer a declaração.

Um erro frequente é avançarem com iniciativas que não têm qualquer interesse para os órgãos de comunicação social.
Provoca irritação nos jornalistas que se deslocaram ao local e no editor que deu prioridade a uma reportagem que não o merecia. O resultado é ir tudo para o lixo e para a próxima vez já fica desconfiado se vale a pena enviar um jornalista.

As assessorias e os dirigentes políticos com mais experiência sabem igualmente que nestes contactos com a imprensa é importante respeitar o «distanciamento» dos jornalistas. Feita a exposição, lançam algumas pistas ou sugestões sobre a relevância do que foi dito – não sobre a abordagem do jornalista – e nada mais do que isto.
A experiência revela que é contraproducente «impingir», seja o que for, ou fazer um acompanhamento «em cima» dos jornalistas. Alguém das assessorias faz um acompanhamento para prestar qualquer apoio ou esclarecimento e nada mais do que isso.
Algumas vezes, quando há apoiantes da organização política, é frequente haver pressão sobre os jornalistas. Nestes casos, os próprios assessores e dirigentes políticos assumem uma posição proteccionista e até pedem desculpas – tudo para que os jornalistas não se sintam incomodados ou condicionados.

Um outro motivo de irritação para os jornalistas é arrastar as iniciativas.
Os políticos mais experientes percebem quando se começa esse cansaço. Muitos jornalistas ficam desatentos e outros abandonam a sala. Aproveitam então uma oportunidade para dizer que é a última pergunta ou que a iniciativa está a terminar e depois de uma síntese, encerram o evento.

(1) “O almoço de ontem atraiu a Belas para cima de três mil idosos, deixando estupefactos os homens da máquina socialista, que já se davam por contentes se aparecessem aí uns mil. Faltavam pratos, guarda sóis, os talheres e o vinho nas mesas. Grupos de enérgicos velhotes como que “assaltaram” a adega do restaurante e chegavam exultantes às mesas com garrafas de tinto e de branco em cada um dos braços. A improvisação instalou-se, a banda desatou a tocar sem parar, os pares saltaram para a pista, António Guterres foi literalmente amassado à chegada.” Público - Setembro de 1995

(2) “A Praça de Bocage ficou a muito pouco de encher, no que terá sido um dos maiores comícios do PS na cidade do Sado. Guterres ensaiou o discurso da crise, mas não funcionou. Sacou então de uma verdadeira “bomba”, que, mais uma vez, soltou as lágrimas ao povo. Contou a história de uma criança de nove anos que, no dia anterior, lhe tinha entregado uma carta em que contava uma triste história. “A minha mão foi para o céu com apenas 29 anos…” E depois, lá vinha o previsível desenvolvimento. Pai desempregado, criado com avós. À carta juntava-se o retracto da criança que lhe dizia ainda: “Deixo-lhe o meu retracto para que não se esqueça das crianças como eu!” Já com umas lágrimas à solta por entre a assistência, Guterres assumiu um compromisso solene: “Se for primeiro-ministro, esta fotografia estará ao lado da dos meus filhos… Foi o momento mais forte do comício…”. Público - Setembro de 1995

18
Fev11

2.4 Media que marcam a agenda

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Não é fácil conseguir a cobertura dos principais órgãos de comunicação social, nomeadamente das televisões. Apenas uma pequena parte dos acontecimentos agendados são relatados nos órgãos de comunicação social em geral e na TV em particular.
Há, no entanto, algumas técnicas que ajudam a conseguir o objectivo de «ser notícia».

Um dos processos é marcar a agenda dos média através de um ou dois órgãos de comunicação social. Por vezes é uma técnica eficaz porque nem os próprios jornalistas/editores se apercebem deste propósito.
O motivo é simples. É que os jornalistas, além de serem produtores de notícias, são também consumidores e deixam-se influenciar pelas manchetes de outros órgãos de comunicação social.
Um outro motivo, tem a ver com a preocupação dos editores em não deixarem de fora alguns temas importantes, que já estão a ser tratados nos outros media. O medo de serem ultrapassados e que provoca o mimetismo.
Para satisfazerem esta preocupação é até frequente seguirem a mesma abordagem e recorrerem a depoimentos das mesmas pessoas. Até o comentário dos mesmos especialistas.

Em Portugal, no final da década de 90, os órgãos de comunicação social diários e de informação geral, que mais determinavam as agendas das televisões, eram a TSF, o DN e o Público.
Num levantamento efectuado durante 20 dias, em Dezembro de 1997 (10 dias no decorrer da campanha eleitoral e os restantes 10, depois das eleições autárquicas), foi avaliado o impacto das notícias dos jornais diários.
A conclusão foi a seguinte: nove notícias do DN foram repescadas por outros órgãos de comunicação social. Essas nove notícias tiveram, no mínimo, 27 citações em outros órgãos de comunicação social, nomeadamente nos principais blocos informativos das televisões.
No mesmo período, o Público teve três notícias que foram citadas por outros media. Essas notícias tiveram, no mínimo, sete referências em outros órgãos de comunicação social, inclusive televisões. (1)
Refira-se ainda que, além da repescagem das notícias, em muitas outras situações, consegue-se influenciar o ponto de vista dos jornalistas de outros órgãos de comunicação social. Um exemplo: na primeira semana de Fevereiro de 1998 o Público colocou em primeira página um “Acordo global” entre o PS e o PSD sobre a realização de três referendos. Apesar de sucessivos desmentidos, esta informação foi um eixo permanente em vários media e, num caso, num directo da SIC, o jornalista chegou mesmo a falar num acordo global entre os dois partidos.

Se uma notícia tiver grande impacto e for salientada por um dos órgãos de comunicação social que marque a agenda dos outros media é possível que seja ampliada a sua repercussão.

É uma situação que pode interessar às várias partes. Cito o jornalista Luís Miguel Viana, numa referência que vem na página do Provedor dos Leitores, de Mário Mesquita, na edição do DN de 8 de Dezembro de 1997: “«Se um jornalista chegar hoje às redacções (…) e disser que teve acesso, em primeira mão, através do gabinete do ministro da Administração Interna, por exemplo, ao relatório de segurança interna (…), o seu texto terá acesso directo à primeira página (…). O que conta é que, com aquele exclusivo, o seu jornal conseguiu atingir vários objectivos que hoje são preciosos: ultrapassar a concorrência directa; reforçar os canais que permitem ter acesso a informação com origem no Governo; e induzir o noticiário de outros órgãos de informação que partilham a mesma cultura informativa, tais como as televisões e as rádios (deve dizer-se que, em Portugal, conseguir impor o tema do Fórum-TSF da manhã seguinte é um sinal, com muito prestígio, de que se alcançaram os objectivos pretendidos)”.

Nos dias mais recentes, há que ter em conta o surgimento de novos órgãos de comunicação, designadamente da SIC Notícias que é dos meios de comunicação social que mais condicionam os jornalistas. Devido à importância que atribui à informação, recorrendo com frequência a «directos» e ao facto de ter muitos noticiários ao longo do dia, acaba por ser uma «companhia» permanente em muitas redacções. O mesmo se passa em relação a páginas na web de alguns órgãos de comunicação social (caso do Público).

Mesmo que seja de forma empírica, muitos políticos percebem a «dinâmica» que as notícias produzem se forem publicadas em determinados órgãos de comunicação social. Em algumas situações é muito fácil. A quantidade de solicitações por telefone, a partir das Redacções, depois da difusão de uma notícia é um sinal claro do efeito de arrastamento junto dos outros media.

Este é um dos motivos porque alguns políticos têm um relacionamento privilegiado com determinados órgãos de comunicação social e reservam para eles os «exclusivos».

(1).
dia                Notícia                                                               referências*
3 DN - Jorge Coelho não participa na campanha        R. Nova; TSF, RC; SIC
4 Público - relatório europeu sobre prisões                RR;RC;TVI
5 DN - novidades na educação - bolsas                         RTP; RDP; R. Nova; RC
10 Público - obras no colégio moderno                        RC; SIC; TSF;
12 DN - sangue limpo nos hospitais                              TSF; RTP
16 DN - importado produto contaminado                   RTP; TVI RDP; TSF; RR; R. Nova
17 DN - lei incompatibilidades/autarcas                     RC
17 DN - bolsas a 50% estudantes pobres                      TSF
18 DN - artigo Pacheco Pereira                                     RR; TSF; Expresso
19 DN - recibos verdes na administração pública      RDP
22 Público - absolvido ex-secretário estado                TSF
23 DN - PS do norte conspira ao almoço                    TSF; RR; RC

18
Fev11

2.5 O exclusivo

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Os jornalistas têm duas «obsessões» não perder uma história que a concorrência pode dar e, se possível, ter uma «cacha». Um exclusivo.

Os políticos conhecem esta «obsessão» e conseguem tirar dividendos ao dar uma «cacha» a um jornalista. Além da relação positiva com o jornalista, quase sempre o órgão de comunicação social dá mais importância ao tema porque tenta valorizar o seu «exclusivo».

«algumas “cachas” que orgulham os seus autores são formas espertas de fazer passar a mensagem através do mensageiro certo, quer dizer, é propaganda sem propaganda» - Eduardo Cintra Torres; Público; 27/01/1998

Há quem se aproveite desta situação e, em vez de um, dá dois «exclusivos», uma «dobradinha». A história é dada a um jornal e à rádio ou uma televisão, com a garantia que tem embargo até às 0h/01h. Cada um deles até pode ter dados complementares, mas o sentido da informação veiculada aos jornalistas vai na mesma direcção.
Habitualmente, como são meios complementares, não há conflito de interesse entre os dois órgãos de comunicação social e o efeito que se pretende – a maior divulgação possível da mensagem e condicionar outros órgãos de comunicação social – pode ser mais facilmente atingido.

Referente aos assessores de imprensa e de comunicação do Governo de António Guterres: «Todos têm uma lista de órgãos de comunicação social que querem privilegiar. Nas televisões, os índices de audiência determinam a preferência. Quanto aos jornais, são os lidos pelos políticos, os de «referência»: Jornal de Notícias, Diário de Notícias e Público. Nas rádios, TSF, Rádio Renascença e Antena Um. Entre os semanários, pontifica o Expresso e não é apenas por ser o de maior tiragem». – Capital; 08/01/1999

Quando da escolha do órgão de comunicação social que vai ter o exclusivo, além dos critérios como a marcação da agenda, da credibilidade e da audiência coincidir com o eleitorado que se quer atingir, há, episodicamente, um outro factor - por vezes, um jornalista já andou atrás da história e até solicitou informações sobre essa matéria. Para evitar o sentimento de marginalização desse jornalista é habitual ser-lhe fornecida alguma informação, sem por em causa o exclusivo do outro órgão de comunicação social.

Há ainda uma outra situação que é mais grave e que nem sempre é evitada provocando, por vezes, grandes «estragos». Quando do contacto de um jornalista, para obter mais dados ou uma reacção, as assessorias ficam a saber o tema que ele está a trabalhar e alguns pormenores. Por vezes, há quem tenha a tentação de contar estes dados a outro meio de comunicação social. Quem fica “estragado” é o jornalista que estava a fazer a investigação e se apercebe que foi “traído”.

Definido o órgão de comunicação social a quem vai ser dado o exclusivo, a regra é respeitar o compromisso. Se não, o prejudicado é quem deu a informação. Fica com uma avaliação negativa e desprestigiada. É que, os jornalistas detestam sentirem-se enganados e, por outro lado, situações deste género, são sinais evidentes de má fé ou desorganização.

Um outro elemento que serve de regra quando se dá um «exclusivo» por exemplo, a antecipação de uma conferência de imprensa, é fornecer apenas uma parte da informação acerca da iniciativa. A razão principal é que não querem esvaziar o interesse da conferência de imprensa. Terá de haver algo de novo a dizer, se não mesmo o mais importante. Mesmo assim, muitos jornalistas ficam satisfeitos por terem antecipado parte da história.

Quando se antecipa uma iniciativa as assessorias fazem um acompanhamento permanente da informação, essencialmente nos meios rádio, tv e online. Em muitos casos, essencialmente quando surgem reacções de outras organizações, são mobilizados outros protagonistas para responderem e contra-atacarem.

Refira-se ainda que é também frequente dar um «exclusivo» sem surgir a «impressão digital» de quem foi a fonte de informação. Com alguma frequência alguns jornalistas que têm um relacionamento mais próximo com os agentes políticos recebem documentos, material comprometedor em relação a uma figura pública ou instituição.
Muitas vezes esta documentação está toda preparada para ser trabalhada e publicada. Ou seja, quem recolheu os dados já teve em conta a necessidade de ter elementos comprovativos. O jornalista que recebe estes dados, muitas vezes, limita-se a confrontar o visado da notícia. O resultado final parece uma «investigação jornalística» - o que lhe dá mais credibilidade - mas, na verdade, a recolha de informação foi feita por outras pessoas.

18
Fev11

2.6 A hora certa

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A hora em que é desencadeada uma iniciativa relevante é um factor determinante.

Se o objectivo principal é o acontecimento ser reportado nos principais blocos informativos das televisões, a iniciativa é feita até meio da tarde. Se o pseudo-acontecimento tiver força importante para passar em directo, a opção é a iniciativa estar a decorrer na hora dos noticiários televisivos (1).

Para se conseguir este último objectivo é frequente alguém estar atento às emissões das televisões para sinalizar o início do directo.
Repare-se no exemplo do comício de encerramento do PSD nas legislativas de 1999. Como a RTP estava a fazer um directo, o assessor de imprensa do PSD, José Mendonça, foi a um canto do palco com uma placa dar o sinal a Durão Barroso. A partir da Convenção das legislativas de 2002 este processo foi ultrapassado com a colocação de monitores no púlpito e, mais recentemente, através de sinais luminosos no palanque do orador que indicam qual o canal de televisão que está em directo..

O orador está atento ao sinal e depois incide a sua intervenção na mensagem que considera importante. Mesmo que isso implique uma repetição. Por vezes até é obrigado a fazer mais do que uma repetição – ao surgir o directo de outra televisão.
Apesar de aos olhos dos presentes – jornalistas e público - parecer estranha a repetição, quem o faz está interessado é nas milhares de pessoas que recebem directamente a mensagem através das televisões.

Uma outra preocupação na escolha do momento mais adequado para estes «pseudo-acontecimentos» é evitar a reacção em tempo útil da oposição.
Para isso, é frequente realizarem o evento quase em cima do “dead line” das Redacções (de televisão). Neste caso, corre-se o risco de a iniciativa não passar, mas como habitualmente são avisados os principais órgãos de comunicação social de que está prevista uma iniciativa para essa hora, e se forem dados alguns pormenores reveladores da importância do que se irá passar, o risco é diminuído.
É neste «jogo» que muitas vezes estão envolvidos os principais partidos, com o governo e os jornalistas a servirem de peões.

Durante muito tempo os dois maiores partidos portugueses (PS e PSD) utilizaram a seguinte estratégia: marcavam as reuniões dos órgãos nacionais para cerca das 17h e prestavam declarações aos jornalistas pouco depois das 19h. Quase em cima dos telejornais, restava apenas uma hora.
A equipa de reportagem das televisões recolhia o material, ia apressadamente para a Redacção e todo o esforço era dirigido para editar a notícia a tempo útil de ser colocada no jornal das 20h. Na prática, isto impedia ouvir a reacção do partido adversário a tempo de entrar no mesmo bloco informativo. Na prática, esta estratégia condicionava fortemente uma das regras do jornalismo: ouvir o contraditório (para alguns estudiosos da comunicação, o que de facto o jornalista procura não é o contraditório, a confrontação das ideias. O objectivo é o choque e o drama do confronto entre duas personalidades, o que propicia maior audiência).

Por sua vez, os oponentes tinham uma primeira dificuldade que era saber o que tinha sido dito. Em alguns casos esperavam por essa informação na agência Lusa. Noutros casos tinham de ouvir os noticiários das rádios ou alguém telefonava para um jornalista conhecido (que por vezes até tinha estado a presenciar o outro «acontecimento») a perguntar o que se tinha passado. O objectivo seguinte era desencadear o mais depressa possível uma reacção de forma a conseguir que a mensagem ainda fosse a tempo de sair na edição seguinte dos jornais e nos noticiários da noite das rádios e televisões. Um dos processos mais céleres para atingir este objectivos era colocar a informação na agência de informação.

Actualmente esta preocupação de conseguir o contraditório ganha ainda maior relevo devido à ‘actualidade’ de uma mensagem, um dos critérios de aferição dos jornalistas quando do tratamento de uma notícia. Se antes este critério podia ser mais elástico, hoje o tempo de vida de uma notícia é muito curto. Ou a reacção entra ainda a tempo da «actualidade», ou então é um caso perdido.
Quem faz a gestão de comunicação destas organizações depressa se apercebe deste factor e procura dar a resposta o mais depressa possível.

Se não se consegue atingir o objectivo de fazer passar a reacção à iniciativa de uma organização política concorrente, é vulgar criar-se um outro «pseudo-acontecimento». No dia seguinte volta tudo ao início.

Na gestão semanal da agenda dos média, o melhor dia para avançar com uma iniciativa é habitualmente a segunda-feira. É um dia de rescaldo do fim-de-semana e, na maior parte das organizações, é quando se faz a gestão das iniciativas a curto prazo. Os jornalistas têm menos acontecimentos agendados e estão mais disponíveis para a cobertura de outro tipo de acontecimentos.
A sexta-feira é um dia muito particular. Muita gente antecipa o fim-de-semana e alguns nem sequer têm contacto com os principais noticiários das televisões. Além disso, excluindo as iniciativas que requerem alguma urgência, as principais histórias foram «guardadas» para os semanários. Os políticos sabem o peso de um jornal como o «Expresso», e se tiverem possibilidade de serem notícia, de dar um exclusivo, de guardar um comentário….para o sábado, chegam à quinta e sexta-feira e a gestão da informação já tem em conta este objectivo.

«Um evento marcado para as 11.30h de uma terça-feira tem muito mais potencial mediático do que se for combinado para as 16.30 de sexta-feira» - Luís Paixão Martins; Schiu… Está aqui um jornalista

Quem tem uma visão mais apurada da gestão da agenda dos média ao fim-de-semana, tem também em conta a revista do grupo Notícias (JN e DN). Esta publicação sai ao domingo, é lida por mais de duas centenas de milhares de leitores e permite a colocação de um outro tipo de histórias. Os hobbies de um político, as viagens, a casa de campo, a família… Não é para discutir política. No entanto, muitos políticos sabem que é extremamente útil para revelar facetas pessoais ou «humanizar» alguém que por vezes tem uma postura distante do cidadão comum.

Uma última nota sobre a forma como é gerida a informação em situações de crise.
O ritmo da informação que é transmitida para a comunicação social é um dado relevante. Se há um fluxo permanente de informação isso significa que o «caso» ainda não está encerrado. Ao contrário, se for libertada informação mais espaçadamente, pode-se criar a ideia que há poucos dados novos, que o «caso» se está a esgotar e, desse modo, criar a ideia que a situação de crise está a ser ultrapassada. Jaime Gama é um dos políticos que recorre a esta técnica e chegou a influenciar o ritmo de informação dado aos jornalistas em situações de crise, no governo de António Guterres.

Gestão a médio e longo prazo:
Numa gestão a médio e longo prazo, o planeamento já não é de horas mas de semanas ou de meses.
Varia consoante a acção dos oponentes e a opinião do eleitorado, em particular de alguns círculos eleitorais.
Através de estudos de opinião consegue-se perceber se vale a pena apostar em determinado círculo eleitoral ou se os «ganhos» que se vão conseguir são nulos. Por exemplo, nas legislativas de 2005, o PS tinha vários estudos onde se concluía que a maioria absoluta só era possível se o partido conseguisse crescer em cinco círculos eleitorais. Passaram a ser os «key seats» da campanha socialista:
«Os distritos de Lisboa e Porto são os dois que o secretário-geral do PS, José Sócrates, deverá visitar mais vezes durante o período oficial de campanha eleitoral, que dura entre os dia 6 e 18 deste mês. A campanha do líder socialista vai centrar-se fortemente nos distritos mais populosos, e que elegem mais deputados à Assembleia da República, devendo mesmo ocupar-se exclusivamente dos principais centros urbanos (Aveiro, Setúbal e Braga, além de Lisboa e Porto) nos últimos 9 dias de uma campanha eleitoral de 14.» DN; 01/02/05

Os mesmos estudos permitem avaliar o comportamento do eleitorado. Tradicionalmente onde vota, se é muito volátil, se há muitos indecisos, se há condições para haver uma mudança de opinião algum tempo antes das eleições e, em caso afirmativo, como se pode consolidar estes votantes.
Em função das conclusões é escolhida a altura mais indicada para se avançar com medidas marcantes.
Em alguns contextos, o eleitorado é reticente a mudar de opinião e muitos votantes só assumem a sua escolha no decorrer da campanha eleitoral, se não no próprio dia das eleições. (2) O que implica manter a “pressão” até ao fim.
Se for outro o ambiente, se existirem condições favoráveis à mudança, as eleições podem ser ganhas muito tempo antes do acto eleitoral.
Foi o que se passou em Portugal nas legislativas de 1995. Segundo uma sondagem, 75% dos votantes tinham tomado a opção há muito tempo. No decorrer da campanha, apenas 5.1% dos votantes tomaram uma decisão sobre o partido onde iriam votar. Na véspera a percentagem foi de 0.8% e no próprio dia a decisão foi tomada por 3.4%. (3)

Um estudo, realizado na Inglaterra sobre as eleições legislativas de 1987 revelou que o comportamento do eleitorado sofreu profundas alterações meio ano antes do início da campanha eleitoral. ( Miller, W. Clarke, H…(1990) How Voters Change: the 1987 British General Election in Perspective, Oxford, Clarend Press ). Esta mudança foi em benefício dos conservadores.
Segundo Dennis Kavanagh (Election Campaigning - the new marketing of politics), os conservadores decidiram antecipar a preparação da campanha eleitoral depois de uma delegação ter ido aos Estados Unidos perceber o sucesso de Ronald Reagan. Na preparação do período pré-eleitoral de 1984, a equipa de Reagan desencadeou um plano para os últimos meses, antes do arranque da campanha eleitoral. Esse plano passava pela marcação da agenda através de discursos, conferências de imprensa, deslocações e iniciativas legislativas.

Com estes ensinamentos, os conservadores prepararam de igual modo as eleições de 1987. Uma equipa ficou encarregue de elaborar um plano que passou pela gestão da agenda através de iniciativas essencialmente no parlamento - controlo dos agendamentos, apresentação das iniciativas legislativas, debates, orçamento… Em termos complementares era feita a gestão da exposição pública de membros do governo e lançados os temas mais favoráveis.
Bill Clinton fez o mesmo ao antecipar a campanha eleitoral. Mal terminou a convenção do Partido Democrático, Clinton e Gore foram para o terreno, percorrendo vários estados. Quando terminou a Convenção do Partido Republicano, já Clinton tinha marcado há muito tempo a agenda. O mesmo sucedeu nas presidenciais de 2004. Nove horas depois de terminar a Convenção Democrata, Kerry foi para as ruas de Bóston, iniciando uma jornada que o levou de costa a costa, durante quinze dias.
Em Portugal, nas legislativas de 1 Outubro de 1995, o Partido Socialista recorreu a igual estratégia. Com o PSD ainda a elaborar a sua estratégia para as eleições, o PS encerrou os Estados Gerais em Março e, em Maio, meio ano antes do arranque da campanha, já andava António Guterres a percorrer o país, acompanhado por jornalistas.

Ao contrário das anteriores campanhas e pré-campanhas eleitorais do PS, a Caravana d’«A Nova Maioria», que está a levar António Guterres a 32 concelhos do continente e ilhas, constitui um surpreendente exemplo de organização. Inspirado no modelo de pré-campanha de Bill Clinton, que há três anos o colocou na presidência dos EUA, o actual circuito nacional do líder socialista baseia-se no principio de que é preciso dar-se a conhecer para ser conhecido. Baseia-se também no conceito segundo o qual se torna fundamental conquistar antecipadamente no terreno a simpatia dos eleitores e convencer os indecisos para os objectivos a que se propõe qualquer candidato a primeiro-ministro». José Manuel Saraiva; Expresso; 27/05/95

Nas eleições seguintes, o PSD tentou fazer o mesmo, mas um problema de saúde de Durão Barroso obrigou-o a adiar a iniciativa para próximo das férias e depois da Convenção do PS. Com o adiamento perdeu-se parte do efeito pretendido.

O propósito de antecipar as iniciativas de pré-campanha reforça a tese de que são modestos os efeitos de uma campanha eleitoral, por melhor que seja a política de comunicação.
As eleições ganham-se ou perdem-se ao longo de quatro anos e não em quatro semanas.
Tendo em conta esta tese, não é de estranhar o esforço de alguns governos (Reagan, Clinton; Blair…e também de Guterres) de estarem permanentemente em campanha. Diz Caio Blinder, especialista em assuntos internacionais, no DN de 19/10/2003: «Num ponto Bush é certeiro. Assim como o seu antecessor Bill Clinton, o presidente vive em campanha permanente e tem legiões de militantes conservadores trabalhando para ele em tempo integral».

Por último, sublinhe-se que, em algumas circunstâncias, as eleições são ganhas depois de fechadas as urnas, conforme Pacheco Pereira o salientou na sequência de uma «noite eleitoral».
Isto é, as eleições podem ser ganhas nas televisões, na noite eleitoral, quando os resultados são muito próximos, ou quando diferem os critérios de interpretação dos resultados.
Foi assim nas autárquicas de 1993 em Portugal, onde o PS foi surpreendido pelo PSD.
Nas eleições autárquicas de 1997 o PS aprendeu a lição e logo às 19.30h (antecipando a hora prevista) declarou a vitória. Esta iniciativa obrigou o PSD a também antecipar a sua declaração, reivindicando igualmente a vitória, mas quando o fez, já foi tarde.

Por outro lado, é ainda nas noites eleitorais que ficam as intervenções mais marcantes para o debate político. Mesmo quando se perde um escrutínio é essencial desencadear uma estratégia de «controlo de danos». Um dos processos habituais é assumir a responsabilidade da derrota.

«Guterres matou a noite política a seu favor com a intervenção em que assumiu as responsabilidades e é pena que não fosse possível realizar uma sondagem logo a seguir ao discurso. Decerto que lhe seria bastante favorável» – Joaquim Sabino em declarações ao Diário Económico de 10/11/1998 sobre a derrota do «Sim» no referendo da regionalização.

 

(1). “E os condimentos típicos do exercício do poder, ou das tácticas de quem por ele luta, estiveram bem presentes na reunião do “conselho económico e social” dos socialistas, que reuniu ao fim da tarde, em Setúbal, para discutir os problemas do emprego. Notoriamente, um mero pretexto para exibir a galeria de “notáveis” dos Estados Gerais. Todos os “trunfos” do PS em matéria de políticas económicas e sociais ali estiveram. Constâncio, a desdobrar-se em entrevistas e a explicar a credibilidade das propostas do PS, sobretudo aquelas que foram quantificadas (por si, claro!), Daniel Bessa, João Cravinho, António Vitorino, Vital Moreira, João Proença, Pina Moura, Ferro Rodrigues, entre outros. Tratou-se de um “número” bem conseguido para as televisões, com direito de entrada no Jornal da Noite, da SIC, e um “directo” com Vítor Constâncio. (…)” Público - Setembro 1995

(2). Nas eleições britânicas de 1992, segundo dados revelados pelo Labour, nove milhões de votos mudaram na última semana. O resultado final, com a vitória de Major, acabou por ser um balde de água fria para o Labour, já que existia um triunfalismo exagerado antes das eleições. Tendo em conta esta experiência, nas eleições seguintes, em 1997, os trabalhistas recusaram sempre um triunfalismo prematuro e organizaram detalhadamente os últimos cinco dias de campanha, concentrando e reforçando as iniciativas nos noventa círculos eleitorais que consideraram determinantes (key seats) para vencer. Na organização havia mesmo uma estrutura encarregue de preparar apenas a última semana de campanha.

(3). Na mesma sondagem, as razões que determinaram o voto eram as seguintes: fidelidade: 52%; era o melhor partido: 37.3%; voto útil: 4.6%; outra razão: 3.1; nenhuma razão: 3%.

18
Fev11

2.7 O contexto ideal

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A hora em que uma iniciativa é desencadeada é importante mas não é suficiente. Também é relevante o contexto em que ocorre essa iniciativa.

É fácil perceber que, se a selecção nacional jogar amanhã a final do campeonato europeu de futebol, de nada vale avançar com uma acção para o mesmo dia, sobre um tema que nada tem a ver com isso.

Ao contrário, se uma iniciativa ganhar o estatuto de notícia durante o mês de Agosto, é certo que tem mais impacte. As notícias são poucas, a actualidade não é tão vertiginosa e na rádio é maior o efeito de repetição. Nesta fase do ano, em que as pessoas estão de férias, era assumido que de pouco valia avançar com iniciativas políticas. Alguns publicitários garantem no entanto que, em férias, as pessoas estão mais receptivas para ouvir «histórias» se elas forem agradáveis e divertidas.

Uma outra situação que condiciona fortemente a presença nos média é quando um dos protagonistas está envolvido numa polémica e não se consegue desembaraçar desse tema.
Foi o que aconteceu ao líder do PS em 2003, quando do caso Casa Pia, conforme desabafou o próprio quando a imprensa transcreveu algumas passagens das escutas telefónicas a que foi submetido. Dias depois da prisão de Paulo Pedroso, em conversa com o líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues afirmava que «é evidente que a todo o lado que um gajo vai querem falar comigo e não com os outros, mas comigo só querem falar das coisas que não são as que a gente quer que eles falem». (DN: 19/10/2003) De facto, por mais que tentasse, nos media só apareciam as referências à polémica gerada em volta das detenções de pessoas alegadamente envolvidas nesse caso.

Há uma variedade enorme de factores que são avaliados na escolha do contexto mais adequado para se avançar com uma iniciativa.

Os políticos (e não só) com mais experiência sabem que, por regra, há alguns requisitos, que devem ser tidos em conta: vale mais actuar por antecipação do que por arrastamento; a iniciativa consegue maior impacte se surgir numa altura em que existe uma discussão na opinião pública sobre o mesmo tema; a receptividade às propostas é maior se, antes, outros factos ou notícias chamaram a atenção para o problema que, agora, se pretende resolver. Os ciclos, os hábitos (férias, inicio das aulas, ano novo/vida nova…) podem também contribuir para a escolha do momento mais adequado para iniciativas que correspondam às expectativas e ansiedades que as pessoas vivem nesses momentos.

Apesar de todos os cuidados, da preparação minuciosa destas iniciativas, pode suceder que «o momento ideal» se transforme num dos piores momentos. Um ministro vai inaugurar um lance de auto-estrada e horas antes há um acidente; um outro ministro vai dar arranque ao ano lectivo mas um pormenor a que deu grande destaque, por exemplo a comunicação da colocação de professores através de SMS, não funciona; um membro do governo avança com medidas duras contra a sinistralidade automóvel e na mesma altura sabe-se que o motorista de outro membro do executivo teve um acidente e o teste mostrou que tinha álcool a mais no sangue…. São inúmeros os casos e todos os exemplos atrás citados tiveram de facto lugar.

Quase todas as organizações políticas têm um núcleo restrito que tem como função preparar uma resposta rápida de modo a controlar os estragos quando ocorrem situações deste género.

Por regra, a resposta nunca induz a ideia de fuga. Quem quer assumir (ou já desempenha) um cargo de responsabilidade nunca pode virar costas às dificuldades. Mesmo apanhado em «contra pé», os políticos com mais experiência dão uma resposta afirmativa, algo do género: «aguardo que me sejam transmitidos dados importantes sobre essa matéria, para tomar uma decisão. Só depois é que me poderei pronunciar. Espero transmitir-vos essa decisão o mais depressa possível, talvez dentro de uma hora…».
Desaparecer de «cena», não ir aos locais onde ocorreu o problema, alterar a agenda para não ser confrontado… são situações que a curto prazo têm um preço político elevado. Repare-se no exemplo dos incêndios no Verão de 2003. Um dos motivos porque o Governo foi fortemente criticado foi por não ter dado uma resposta rápida às preocupações das populações nos primeiros dias. Quando os ministros apareceram no terreno já era tarde e já estavam a ser sujeitos a fortes críticas. Mais, no caso, Jorge Sampaio percebeu o vazio que estava a ser criado e foi ele próprio ter directamente com as populações.
«A gestão política à volta desta vaga de incêndios tem gerado algum clima de desconforto entre Governo e Presidente. O Executivo não tem apreciado as deslocações de Sampaio - que há duas semanas chegou ao terreno antes de qualquer ministro ou do primeiro-ministro - , considerando-as uma “marcação“.» - Público; 7 Agosto de 2003.
De facto, aquilo que Jorge Sampaio fez, do ponto de vista da comunicação política, foi «ir à boleia» de um acontecimento que na altura centrava as atenções da comunicação social.
Quando a vaga de incêndios começou, o então primeiro-ministro fez uma intervenção no Porto (em 31 de Julho) sobre um outro tema, mas ninguém o ouviu. Os media estavam já a fazer «directos» dos locais onde ocorriam os incêndios. O que Jorge Sampaio fez foi aproveitar este contexto para assumir o protagonismo, para chamar a atenção para este problema.

Esta é uma das técnicas recorrentes na comunicação política. Se um tema assume uma posição dominante, o mais indicado é desencadearem-se iniciativas que estejam directamente relacionadas com este assunto. Curiosamente, neste caso, alegando uma «postura de estado», alguns partidos da oposição não o fizeram e sofreram críticas internas.

18
Fev11

1. O líder e a política de comunicação

rgomes

«Para Alejandro Pizarroso Qintero, existem três tipos de políticos com os quais os profissionais do marketing terão de se confrontar: aqueles que não entendem o fenómeno da comunicação e não atendem aos conselhos dos consultores, aqueles que são um puro produto de marketing e aqueles que têm personalidade e inteligência para atender a esses conselhos» Público; 06/04/1998
Ao fim de alguns meses, independentemente da relação inicial, todos percebem que é vital o papel desempenhado pelo líder e o seu envolvimento na política de comunicação.

Numa sociedade fortemente mediatizada, os líderes são o elemento central da actividade política.
Há uma relação biunívoca. Os dirigentes precisam da comunicação social para difundir a sua mensagem e, por outro lado, os media andam incessantemente atrás dos líderes. Um exemplo é o número crescente de histórias que vasculham a vida pessoal dos líderes e dos seus familiares. Os chefes de governo, os ministros os líderes partidários recebem centenas de solicitações por parte de jornalistas.
Porque a actividade que desempenham está muito dependente da avaliação que é feita pelos órgãos de comunicação social, os líderes políticos procuram adaptar-se à linguagem e aprendem muitas das técnicas de comunicação.
Nem todos os dirigentes partidários se adaptam bem a este papel, nem à postura que muitas vezes são «obrigados» a assumir, em função da mensagem que foi definida.
Foi o caso de Santana Lopes quando assumiu as funções de Primeiro-ministro.
A imagem com que se apresentou não era a que estava na memória das pessoas. Procurou uma postura mais institucional. «Não gostava do penteado dele, mas ele dizia-me que se usava em Portugal. Agora, quando chegou a primeiro-ministro, finalmente cortou o cabelo» - Einhart Paz, em declarações à A Capital; 10/08/2004. Santana Lopes fez outras alterações. Parte significativa das intervenções públicas foi feita com discursos escritos e não se deu bem. Aparecia muito distante. Teve de mudar e passou a improvisar. Por várias vezes a comunicação social chegou a referir que ele não se adaptou bem ao papel de primeiro-ministro e a oposição acusou-o no Parlamento de «não se sentir bem no fato de chefe de Governo».

«Quando ascendeu ao Governo, há três anos, Paulo Portas assumiu uma pose de estadista que soava a falso. Passou a vestir de modo mais formal, adoptou uma postura corporal rígida e pareceu mesmo ensaiar uma mudança na colocação de voz.
Todos os observadores notaram a diferença – que foi objecto de múltiplos comentários.
A verdade é que, a pouco e pouco, o hábito foi fazendo o monge – e a certa altura o “Paulo Portas governante” e o “Paulo Portas individuo” confundiam-se, a ponto de ninguém distinguir um do outro.
Com Pedro Santana Lopes sucedeu exactamente o oposto.
Em vez de se meter na pele do governante, Santana tentou que o governante se metesse na sua pele. Engoliu-o Continuou a ter o comportamento que tinha antes, a fazer as mesmas coisas, a manter os mesmos hábitos, a encarar a vida do mesmo modo.
Deve dizer-se que esse é o lado mais atraente de Santana Lopes: ser ele próprio em todas as circunstâncias e levar a vida com ligeireza.
Só que, de todos os cargos da política portuguesa, o de primeiro-ministro é o mais exigente.
Ao querer adaptá-lo à sua forma de estar, Santana Lopes retirou-lhe toda a respeitabilidade e traçou o seu próprio destino». José António Saraiva; Expresso de 22/01/05.

Este é um processo que necessita de uma adaptação mútua entre o candidato e a mensagem que se pretende transmitir. É um casamento que tem de ser perfeito.

“Preparar o candidato não significa procurar ensinar-lhe coisas a respeito das quais conhece bem e já tem pontos de vista formados. Trata-se, isto sim, de proceder a um ajustamento entre a sua personalidade, suas ideias, objectivos políticos e administrativos e a linguagem a ser adoptada nas comunicações aos eleitores, adequando o conjunto à plataforma política final (…) o candidato deverá ser preparado para a linguagem, o processo de comunicação que deve ter com os eleitores. Em todos os níveis, portanto desde a comunicação factual, publicitária, até os contactos com os grupos representativos do seu eleitorado e os próprios eleitores, passando pela cobertura da imprensa, reuniões, comícios, encontros, entrevistas, etc., a imagem de personalidade do candidato deve obedecer a parâmetros uniformes, valorizando a credibilidade em seus planos de acção, em sua plataforma eleitoral (…) Trata-se pois, na verdade, não de preparar um candidato mas, sim, de fazer com que este seja visto sob a óptica do político em acção política”. - “A Cartilha da Eleição” - Manual do PDS ( Partido Democrático Social ), Brasil.

Nas palavras de Edson Athayde ao Público de 5 de Julho de 1999: “Construir a imagem de um político é impossível, explica. «Pode ir conseguindo convencer as pessoas um dia, outro dia, mas chega a altura em que o olhar trai, alguma coisa não convence, soa a falso. A imagem do engenheiro Guterres é a dele, enquanto for a dele está óptima»”.
Roger Ailes, que foi um dos principais conselheiros de Ronald Reagan conta a sua surpresa quando assistiu a um encontro do candidato republicano com os assessores de imagem. Estes queriam obrigar Reagan a assumir uma postura que não tinha nada a ver com ele e tudo soava a falso. Quando Ailes assumiu o papel de conselheiro alterou completamente esta postura e apostou na valorização de uma das principais características de Ronald Reagan: «ele era um excelente comunicador». Ele próprio era «a mensagem», o trabalho a fazer era valorizar esta característica deixando-o assumir uma postura natural e preparar apenas a argumentação que Reagan poderia utilizar.

Com o crescente efeito da personalização da política em Portugal, este tem sido também o caminho percorrido pela maior parte das organizações políticas. Procuram centrar a mensagem nos atributos que estão directamente associados à imagem do líder.
Os valores pessoais, as crenças sobre o sistema político, o seu passado e da organização política que lidera (o que por vezes implica alterar a imagem do partido), a forma como reagiu numa situação difícil... são sinais importantes para o eleitorado e até determinantes para estabelecerem juízos de valor, afectos e a escolha na hora do voto.

Para aferir a «imagem» do líder, as características negativas e positivas, recorre-se a estudos de opinião. Numa primeira fase é um trabalho qualitativo, para se saber a percepção do eleitorado sobre o candidato - aquilo que ele é, o que gostariam que fosse e o que esperam dele.

Numa segunda fase, depois de trabalhadas as conclusões do estudo qualitativo e lançadas as pistas que podem ser seguidas, passa-se para um estudo quantitativo.
Conclusões de um estudo – qualitativo e quantitativo - realizado em 1999 onde se «afere» a imagem de António Guterres e Durão Barroso:

Foto A. Guterres: Foto Durão B. Durão B. - negativos

Vantagem de A Guterres (1)

Conclusões de um outro estudo, anterior, quando estava a ser preparada a AD de Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Portas:
«António Guterres / Marcelo Rebelo Sousa:

1. Atributos mais valorizados:

2. Atributos menos valorizados:

Vantagem na comparação:

Estes dados servem, em primeiro lugar, para se perceber qual a leitura do eleitorado em relação aos líderes políticos.
Traçados os «perfis», o passado seguinte é avaliar quais os atributos positivos do líder que devem ser valorizados e quais as características negativas do adversário que devem também ser realçadas. Um outro dado que é avaliado é se é possível alterar este perfil, através de iniciativas ou mudanças na postura. No fundo, é procurar atingir o «perfil desejado» pelo eleitorado, pelo menos em alguns atributos considerados vitais.

É em função do perfil actual e do perfil que pretende alcançar que o líder norteia a sua acção política e o modo como se apresenta ao eleitorado.
O processo mais recorrente é começar por estabelecer um conjunto de compromissos perante o eleitorado.
É um parágrafo com uma linguagem clara e com um conteúdo adequado às expectativas do eleitorado.
Numa situação normal, «o líder apresenta-se perante o eleitor no estilo do “homem comum”, para que a massa dos eleitores se possa identificar com ele. Existe outro tipo de “imagem” mais adequada em épocas de crise. Trata-se do líder pai da nação, no qual se confia e se entrega a tutela dos demais». (1)

Numa fase posterior, esses compromissos são desenvolvidos e assumidos de uma forma frontal com o eleitorado.
Basicamente o jogo consiste na seguinte regra: o eleitorado ao votar num político delega nele determinadas responsabilidades. Para conseguir esta delegação de poderes, o político tem de ser merecedor de confiança, competente, honesto... Pode não o ser, mas tem de o parecer. Tem de dar sinais que é competente, que tem capacidades para assumir as responsabilidades do cargo, que não vai esquecer quem o elegeu e mantém a palavra dada....
Para alcançar alguns destes atributos, o político tem de saber do que fala, não cometer erros e, antes de mais, incutir entusiasmo e confiança.
Um líder tem de evidenciar ambição e confiança de que vai atingir o objectivo.
Esta característica é fundamental para poder mobilizar, logo numa primeira fase, os seus apoiantes. Fernando Lima sobre Cavaco Silva: “era importante que os portugueses compreendessem que o País tinha um rumo e que ele, à primeira dificuldade, não mudava de agulha. Procurava, com a força das suas convicções, transmitir esperança e ambição”.
Para alcançar esta projecção de confiança, um dos recursos mais frequentes é estabelecer objectivos a curto prazo que sejam realizáveis.
Alicerçada esta imagem, partem então para outro patamar, com metas estabelecidas a médio e longo prazo.

Todos estes elementos são importantes na implementação de uma política de comunicação, mas há precauções a tomar antes de se avançar com as iniciativas e sair para o terreno.
Um líder político é alguém que está a ser observado em permanência pelos eleitores e pela comunicação social. Um dirigente político está frequentemente sob a mira dos adversários e sujeito a desafios permanentes, quer dos outros partidos, quer da comunicação social, como também dos próprios apoiantes. A pressão é tão grande, que é necessário estofo e preparação adequada para ultrapassar essas dificuldades.

“Numa campanha eleitoral, os líderes estão tão expostos que a verdade vem sempre ao de cima, há um “striptease” público que mostra tudo, o melhor que se pode fazer é ajudá-los a estar bem, dar-lhes conselhos básicos que qualquer pessoa sabe dar” - Manuel Maltez, director-geral da BBDO Portugal que trabalhou para o PSD nas eleições europeias e legislativas de 1999, em declarações ao Público de 6 Julho de 1999.

É tendo em conta estes factores que, previamente, é feito um trabalho de “laboratório” para tirar melhor partido da exposição pública. Como se comportar perante as câmaras de televisão, como falar através de um microfone, que tiques devem ser evitados, o melhor aproveitamento da voz, que técnicas devem ser usadas em situações como entrevistas (2), debates, contacto com eleitorado, avaliação da situação em que se pode tirar melhor partido (pequenos grupos, comícios, contactos de rua, participação nos media …).
Os resultados de todo este trabalho é depois tido em conta no planeamento da política de comunicação.
O próprio candidato deverá ter confiança em todos os passos que está a dar. Confiança em si próprio e confiança na sua equipa. Só assim conseguirá ter um norte e resistir à má-língua, à intriga, a conselhos, dicas de leigos, por mais próximos que lhe sejam.
Em algumas circunstâncias (essencialmente quando o líder não é muito conhecido) o trabalho prévio chega ao ponto de escolher qual o nome que deve constar em toda a comunicação. (O nome não é grande, tem de ficar no ouvido e quando o apelido é banal, mais importante se torna o primeiro nome.)

Com o objectivo de acentuar a imagem de competência, honestidade, prestígio e o estatuto que já adquiriram (sinais indutores de confiança), os líderes recorrem também a iniciativas onde se tentam «colar» a figuras internacionais. Exemplos não faltam - reuniões, encontros com dirigentes políticos internacionais; participação em encontros internacionais e nacionais de grande prestígio; convites a personalidades importantes; publicação de livros… mesmo sobre matérias que nada têm a ver com a actividade política. Os livros foram o forte na campanha eleitoral das Europeias de 1999, com Pacheco Pereira a ter grande visibilidade mediática devido à biografia de Álvaro Cunhal. Quanto aos encontros internacionais dois exemplos: o empenho de António Guterres, antes das legislativas de 1995, em encontrar-se com Helmut Khol – “(…) na mente dos dirigentes socialistas, sobretudo daqueles que dirigem a campanha, estão as vantagens eleitorais que poderão tirar da audiência com o democrata cristão, Khol. Acham mesmo que, «se o PS não tivesse hipóteses de ganhar, Khol não o receberia…»” – Público 21/08/95.
O outro exemplo tem a ver com Durão Barroso que, mal foi eleito líder do PSD, teve uma audiência com o chefe do governo espanhol, José Maria Aznar.
Ainda na fase de pré-campanha um dos principais objectivos de Durão Barroso na visita ao Brasil foi a “foto” com Fernando Henrique Cardoso.

Se estas oportunidades forem devidamente aproveitadas, o candidato não dá o tempo por perdido… “ Penso que posso dizer, como uma das testemunhas directas, que o Prof. Cavaco conseguiu grande projecção internacional, expressa não só através de inúmeros artigos de órgãos de comunicação social de renome mas, também, pelas referências elogiosas de muitas personalidades conhecidas e pelos prémios de prestígio que lhe foram atribuídos” - Fernando Lima.

São muitas as oportunidades que um líder político tem ao seu dispor para projectar a sua imagem. Muitas pessoas estão convencidas que é uma actividade aliciante, para não dizer, deslumbrante. No entanto, há uma faceta que habitualmente é ofuscada. É uma actividade muito exigente, dá muito trabalho e por vezes implica muita paciência.
Não é fácil e exige uma grande preparação ter de «dar a cara» em situações difíceis e de grande tensão, até mesmo do ponto de vista pessoal. Na noite em que morreram ter soldados portugueses na Bósnia, António Vitorino teve de «cerrar os lábios» e fazer uma declaração que as televisões transmitiram em directo. Terminada a intervenção, já nos bastidores, não aguentou e surgiram as lágrimas.
António Guterres conseguiu ofuscar na sua actividade pública como Primeiro-ministro os difíceis momentos que passou com a doença da sua mulher, durante semanas.
Ferro Rodrigues andou, infundadamente, a ser envolvido no escândalo Casa Pia e, durante algumas semanas, conversas particulares que teve (por exemplo com a filha) sem qualquer significado com o caso, foram relatadas na comunicação social. E tinha de aparecer em público, nas actividades de secretário-geral do PS, contendo a sua revolta e amargura pelo que lhe estavam a fazer. Falava de temas que tinham a ver com os objectivos políticos e os jornalistas só lhe faziam perguntas sobre o caso Casa Pia. Apesar destas dificuldades, não baixou os braços mas, nos bastidores, quem ouvia os seus desabafos, percebia que levava o esforço quase ao limite para cumprir a sua tarefa.
Para se ser um bom líder é vital ser um bom comunicador. Mas não é tudo. A exposição pública é de tal forma grande que, se falhar uma das partes, falha tudo.


Ver ainda: Fale para todos como se falasse para cada um

 

(1) Mario Herreros Arconada; Teoria e técnica da Propaganda eleitoral; Coleccion Comunicación y relaciones públicas; PPU, Barcelona, 1989

(2) Só para dar um exemplo (da autoria de Roger Ailes) de uma técnica que pode revelar uma faceta pessoal: a técnica consiste em ajustar o tom de voz e as expressões gestuais à forma como foi feita a pergunta. Se o jornalista faz a pergunta num estilo agressivo, hostil, o candidato deve responder com calma, de uma forma suave. Através desta técnica consegue evidenciar que controla as emoções e não se deixa influenciar pelas dificuldades que lhe são criadas.