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Comunicação Política

Comunicação Política

12
Mai13

2.1 Seleccionar os media

rgomes

Dizer que é preciso escolher os media que mais se adequam aos objectivos da iniciativa que se vai desencadear é, para muitos dirigentes políticos, uma heresia: eles vivem obcecados pelas televisões.

A televisão é de todos os media aquele que tem mais força  mas não é adequado para a difusão de mensagens muito complexas e que exigem muito tempo para serem explicadas.

Segundo o estudo «Media Monitor» da Marktest, em 2002, e relativo aos espaços informativos das televisões generalistas, «a duração média de todas as notícias foi de um minuto e cinquenta e cinco segundos». Uma notícia com esta duração tem de ter um discurso simples e abrangente.
A televisão permite, sim, a criação de uma impressão, de uma imagem – simpático, preocupa-se com os nossos problemas…. Nem sempre o conteúdo é o mais importante.

Com a rádio já se pode dar um maior desenvolvimento e profundidade aos temas que vão ser abordados. É possível deixar ao ouvinte uma maior liberdade de pensamento, uma maior adesão às ideias mas, ao mesmo tempo, é preciso uma grande clareza na exposição das ideias.

A imprensa é mais duradoura e fixa de uma forma mais definitiva a imagem que se pretende transmitir. Pode-se expor de forma exaustiva as ideias, com mais profundidade. A possibilidade de reler os textos permite ao leitor esclarecer as dúvidas.

Uma mesma matéria pode ser aproveitada para atingir mais do que um público-alvo. Numa primeira fase, é desencadeada uma iniciativa destinada a um público geral (através da televisão e/ou da rádio) e mais tarde é concebida outra iniciativa (uma entrevista ou a revelação de dados técnicos e de pormenores) com o objectivo de atingir um público mais restrito e mais especializado (imprensa).
O mesmo método é usado para os media de âmbito nacional e depois para a comunicação social regional.
Um outro critério tem a ver com o tipo de audiência de cada órgão de comunicação social. Se a mensagem é para a classe média baixa, a escolha incide em órgãos de comunicação social que atinem este tipo de audiência.
O critério pode ser ainda mais detalhado. Por exemplo, há programas na rádio e na televisão que se destinam especificamente a um determinado tipo de audiência - os telejornais da hora de almoço têm uma forte audiência  de pessoas com mais idade e donas de casa.

Um outro critério na selecção dos media tem a ver com a credibilidade e a independência dos órgãos de comunicação social. É que nem todos merecem uma credibilidade idêntica por parte do eleitorado.

Os políticos mais avisados também sabem que é importante o tipo de audiência de alguns órgãos de comunicação social, em função da sua conotação ideológica ou partidária. Para um político de esquerda de pouco servirá dar uma entrevista a um jornal cuja linha editorial é assumidamente de direita.

Por último, como já foi referido: nem todos os órgãos de comunicação social têm o mesmo «peso». A experiência revela que uma notícia difundida num determinado órgão de comunicação social passa despercebida mas, se for num media de referência para a classe jornalística, é amplificada e desenvolvida em quase todos os órgãos de comunicação social.

18
Fev11

2.5 O exclusivo

rgomes

Os jornalistas têm duas «obsessões» não perder uma história que a concorrência pode dar e, se possível, ter uma «cacha». Um exclusivo.

Os políticos conhecem esta «obsessão» e conseguem tirar dividendos ao dar uma «cacha» a um jornalista. Além da relação positiva com o jornalista, quase sempre o órgão de comunicação social dá mais importância ao tema porque tenta valorizar o seu «exclusivo».

«algumas “cachas” que orgulham os seus autores são formas espertas de fazer passar a mensagem através do mensageiro certo, quer dizer, é propaganda sem propaganda» - Eduardo Cintra Torres; Público; 27/01/1998

Há quem se aproveite desta situação e, em vez de um, dá dois «exclusivos», uma «dobradinha». A história é dada a um jornal e à rádio ou uma televisão, com a garantia que tem embargo até às 0h/01h. Cada um deles até pode ter dados complementares, mas o sentido da informação veiculada aos jornalistas vai na mesma direcção.
Habitualmente, como são meios complementares, não há conflito de interesse entre os dois órgãos de comunicação social e o efeito que se pretende – a maior divulgação possível da mensagem e condicionar outros órgãos de comunicação social – pode ser mais facilmente atingido.

Referente aos assessores de imprensa e de comunicação do Governo de António Guterres: «Todos têm uma lista de órgãos de comunicação social que querem privilegiar. Nas televisões, os índices de audiência determinam a preferência. Quanto aos jornais, são os lidos pelos políticos, os de «referência»: Jornal de Notícias, Diário de Notícias e Público. Nas rádios, TSF, Rádio Renascença e Antena Um. Entre os semanários, pontifica o Expresso e não é apenas por ser o de maior tiragem». – Capital; 08/01/1999

Quando da escolha do órgão de comunicação social que vai ter o exclusivo, além dos critérios como a marcação da agenda, da credibilidade e da audiência coincidir com o eleitorado que se quer atingir, há, episodicamente, um outro factor - por vezes, um jornalista já andou atrás da história e até solicitou informações sobre essa matéria. Para evitar o sentimento de marginalização desse jornalista é habitual ser-lhe fornecida alguma informação, sem por em causa o exclusivo do outro órgão de comunicação social.

Há ainda uma outra situação que é mais grave e que nem sempre é evitada provocando, por vezes, grandes «estragos». Quando do contacto de um jornalista, para obter mais dados ou uma reacção, as assessorias ficam a saber o tema que ele está a trabalhar e alguns pormenores. Por vezes, há quem tenha a tentação de contar estes dados a outro meio de comunicação social. Quem fica “estragado” é o jornalista que estava a fazer a investigação e se apercebe que foi “traído”.

Definido o órgão de comunicação social a quem vai ser dado o exclusivo, a regra é respeitar o compromisso. Se não, o prejudicado é quem deu a informação. Fica com uma avaliação negativa e desprestigiada. É que, os jornalistas detestam sentirem-se enganados e, por outro lado, situações deste género, são sinais evidentes de má fé ou desorganização.

Um outro elemento que serve de regra quando se dá um «exclusivo» por exemplo, a antecipação de uma conferência de imprensa, é fornecer apenas uma parte da informação acerca da iniciativa. A razão principal é que não querem esvaziar o interesse da conferência de imprensa. Terá de haver algo de novo a dizer, se não mesmo o mais importante. Mesmo assim, muitos jornalistas ficam satisfeitos por terem antecipado parte da história.

Quando se antecipa uma iniciativa as assessorias fazem um acompanhamento permanente da informação, essencialmente nos meios rádio, tv e online. Em muitos casos, essencialmente quando surgem reacções de outras organizações, são mobilizados outros protagonistas para responderem e contra-atacarem.

Refira-se ainda que é também frequente dar um «exclusivo» sem surgir a «impressão digital» de quem foi a fonte de informação. Com alguma frequência alguns jornalistas que têm um relacionamento mais próximo com os agentes políticos recebem documentos, material comprometedor em relação a uma figura pública ou instituição.
Muitas vezes esta documentação está toda preparada para ser trabalhada e publicada. Ou seja, quem recolheu os dados já teve em conta a necessidade de ter elementos comprovativos. O jornalista que recebe estes dados, muitas vezes, limita-se a confrontar o visado da notícia. O resultado final parece uma «investigação jornalística» - o que lhe dá mais credibilidade - mas, na verdade, a recolha de informação foi feita por outras pessoas.

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