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Comunicação Política

Comunicação Política

18
Fev11

3. Publicidade Paga

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As organizações políticas produzem muitos materiais de comunicação. O mesmo sucede no governo e nos municípios.


No caso do governo, há uma estrutura mais reduzida que faz a condução da comunicação política e dos meios a que se deve recorrer.


Por vezes esta entidade é difusa, está nas mãos de um ou dois membros do executivo, pertencentes aos ‘inner circle’ do primeiro-ministro. Outras vezes é assumida e até publicitada.

«Sarmento monta central de imagem»
Nuno Morais Sarmento vai criar, na Presidência do Conselho de Ministros, uma Direcção de Comunicação do Governo. Segundo o ministro da Presidência disse ao EXPRESSO, a ideia é «sistematizar e uniformizar a informação» relativa aos vários departamentos por forma a ultrapassar a má estratégia de comunicação do anterior Executivo.
Para accionar o novo serviço, o Governo deverá contratar entre 20 a 30 pessoas, mas o ministro garante que uma vantagem desta direcção de comunicação será a «redução de custos», alegadamente por deixar de ser necessário requisitar alguns serviços externos como acontecia até aqui.
»
Expresso nº1657; 31 Julho de 2004.


No caso dos partidos políticos a organização desta «máquina» de comunicação é mais complexa, devido à dimensão e à descentralização na tomada de decisões.
Tendo em conta estas dificuldades, os maiores partidos definem uma «grelha» que todos terão de seguir.


Este documento, habitualmente designado como manual de campanha, tem referências sobre o modo como deve ser feita a comunicação política e a uniformização do tratamento gráfico dos materiais de campanha.

PCPEste foi o manual enviado pelo PCP para as várias estruturas distritais nas legislativas de 2002 e colocado na Internet. Todas as imagens tinham uma versão a cores e outra a preto e branco.

PSNas eleições autárquicas de 2001 o PS também produziu um manual de campanha. É um documento mais desenvolvido, da autoria de António Galamba. Além das regras de utilização gráfica do símbolo e de outros materiais de campanha (como por exemplo um panfleto para um comício), era dado suporte legislativo. Explicava-se a legislação sobre a colocação de cartazes, a propaganda sonora e, entre outros elementos, eram disponibilizados modelos sobre os formalismos necessários para as candidaturas.


Em síntese, as regras propostas nestes manuais são as seguintes:

1. O design deve ser o mesmo em todos os materiais.
2. Os símbolos da organização partidária devem corresponder na íntegra aos símbolos usados a nível nacional. Para um mais fácil reconhecimento e identificação, convém usar o mesmo tipo de letra e cores nos ícones.
3. Evitar acusações pessoais aos outros candidatos/candidaturas.
4. A linguagem deve ser simples, concreta, directa, em vez de conter abstracções, longas explicações e textos rebuscados . A linguagem deve corresponder à linguagem usada pela população a que se destina o material.
5. Palavras curtas e claras quanto ao sentido que se pretende transmitir.
6. Redigir através do sujeito activo em vez do sujeito passivo. ( ex.: “a assembleia municipal decidiu “, em vez de “numa reunião da assembleia municipal foi decidido”.
7. Evitar excesso de detalhes, jargões técnicos e uma linguagem emocional.
8. Falar de casos da vida real. Abordar os temas do ponto de vista humano e com exemplos locais.
9. Afirmação pelos aspectos positivos das propostas/candidatura.
10. A informação que se pretende transmitir deve ser completa - ou seja deve dar resposta às seguintes questões: quem, o quê, quando, onde e porquê.
11. O texto não pode ser longo.
12. Deve haver um equilíbrio em termos gráficos - algum espaço branco, fortes contrastes e uma “mancha” não muito carregada ou pesada. Se tiver muito espaço em branco, o documento pode parecer trabalho de um amador, vazio e pouco consistente. Se tiver pouco espaço branco pode parecer carregado e é difícil para os leitores extraírem a informação desejada. Deve haver espaço branco entre colunas, parágrafos, linhas, palavras e por vezes entre letras.
13. Na elaboração dos documentos com várias cores, é preciso por vezes levar em conta a posterior utilização do documento a preto e branco. As cores utilizadas nos ícones nacionais têm de ser iguais.
14. Terminada a redacção do documento, deve-se reler e/ou ler a outra pessoa. Avaliar sempre se o documento é facilmente perceptível a quem se destina e se responde a todas as dúvidas e interrogações do receptor. Os adversários políticos não perdoam os nossos erros.


Por último, deve-se ter em conta que todos estes processos implicam custos e nem sempre são fáceis de suportar.
Repare-se no valor declarado nas Legislativs de 2005. Segundo o Tribunal Constitucional, os cinco partidos com representação parlamentar gastaram mais de 13 milhões de euros na campanha eleitoral. O PSD foi o partido mais gastador, com custos acima dos 4,7 M€. Segue-se o PS que gastou 4,6 milhões de euros.

Nas Europeias de 2009 o valor declarado no Tribunal Constitucional foi superior a 8 milhões de euros: "O PSD é o partido que prevê gastar mais com a campanha eleitoral para as eleições europeias, com um orçamento de 2,2 milhões de euros, e o POUS o que vai gastar menos, apenas 720 euros. Ao todo, as 13 forças políticas (12 partidos e uma coligação) candidatas às eleições de 7 de Junho vão gastar 8.204.740 euros com a campanha eleitoral." Público

Nas Legislativas de 2009 foram gastos mais de 11,5 milhões de euros. Aqui, pode ver em detalhe onde foi gasta esssa verba.

 

Nos EUA estes valores atingem quantidades exorbitantes. As presidenciais de 2008 foram as mais caras.

Segundo a Comissão Eleitoral Federal (FEC) o candidato republicano John McCain arrecadou 230 milhões de dólares e gastou 194 milhões. Por sua vez, Barack Obama, recebeu 454 milhões de dólares (recebeu donativos de cerca de dois milhões de eleitores, algo sem precedentes na história eleitoral dos EUA) e gastou 377 milhões.
A estas verbas há ainda a somar as eleições primárias. A verba total atingiu 1,352 mil milhões de dólares recebidos por 27 candidatos --12 democratas, 11 republicanos e alguns independentes, entre inícios de 2007 e outubro de 2008.


Num
estudo realizado no Brasil, em 2008, pela Associação Brasileira de Consultores Políticos (Abcop), custo médio de uma campanha para prefeito nas últimas eleições foi de US$ 14 por voto e para vereador, US$ 8 por voto. Nas eleições presidenciais de 2010 os vlores foram igualmente elevados:
somaram gastos de R$ 3,23 bilhões, incluindo as despesas referentes ao segundo turno para presidente da República e para governador de oito estados e do Distrito Federal, de acordo com as prestações de contas entregues à Justiça Eleitoral. Foram R$ 2,78 bilhões gastos no primeiro turno e R$ 444 milhões pelos candidatos que concorreram no segundo." Fonte: NoticiaJá


Por vezes é exigido um orçamento rigoroso tendo em conta a tentação em gastar mais dinheiro na parte final das campanhas.

18
Fev11

3.10 Comícios

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Os grandes comícios estão em desuso.
Logo a seguir à revolução do 25 de Abril de 1974 era frequente a realização de comícios.

Na grande maioria dos casos, eram a expressão mais visível da força de uma determinada organização política. Se havia contestação, se havia um debate sobre determinada matéria, realizava-se um comício.


Essencialmente em momentos políticos muito agitados os comícios serviam de pretexto para a cobertura dos media e eram também um sinal de afirmação da força política.


Muitas destas iniciativas visavam alargar a base de apoio dos partidos e, outras vezes, medir forças com outras organizações políticas para, desta forma, condicionar o evoluir do “PREC” – período revolucionário em curso.


Um dos comícios que mais conseguiu este objectivo foi o da Fonte Luminosa, em pleno “verão quente” de 1975.
No dia seguinte ao comício, a 24 de Novembro de 1975, o PS emitiu um comunicado onde era afirmado “Assumiu particular significado o comício-manifestação na Fonte Luminosa em Lisboa. Centenas de milhares de pessoas encheram por completo a Alameda Afonso Henriques, mostrando, assim, que Lisboa é Socialista e que o Povo trabalhador de Lisboa, na sua grande maioria, está com o PS e condena a actuação golpista e antidemocrática dos sectores político-militares que tentam derrubar o VI Governo”.


Durante o período revolucionário o poder muitas vezes andava na rua e os partidos não se cansavam de procurar pretextos para organizar manifestações e comícios.

Normalizada a vida política portuguesa e com a consequente mediatização, a realização de comícios restringiu-se às campanhas eleitorais e a alguns momentos simbólicos.


A forma como os comícios são organizados também foi alterada profundamente.
O improviso deu lugar a uma profissionalização crescente e a custos bem significativos: «A volta do líder é uma megaprodução, que inclui três palcos, uma caravana e muito pessoal de apoio (30 pessoas)». – Público; 13/09/95
Hoje em dia os comícios são concebidos como um espectáculo mediático. Por isso mesmo, a cenografia é um dos elementos dominantes para que o “show” decorra da forma mais adequada para ser transmitido nas televisões.
Antes da campanha são visitados os locais onde vão ter lugar os comícios. Por vezes é um trabalho feito com grande antecedência devido ao número elevado de comícios (p. ex. nas legislativas de 1995, só no mês de Setembro, Fernando Nogueira participou em 25 comícios e António Guterres esteve em 24), e à necessidade de se reservarem os espaços.
A partir deste levantamento é concebida a cenografia: a concepção e colocação do palco, a iluminação, a colocação dos materiais de campanha, a entrada e a saída do líder, o púlpito, a colocação das câmaras de filmar –«nomeadamente a do sinal de vídeo interno – a disposição da audiência e a melhor forma de evitar espaços vazios, a música…. «Melhorar a iluminação do palco, encenar o espaço para as câmaras de televisão, em síntese pôr António Guterres a falar mais para o país do que para os presentes  no comício. Este é um dos desafios que o PS se propõe vencer nas próximas semanas (…) Portanto, daqui para a frente, o PS tenciona passar a pente fino os locais dos comícios, procurar os melhores enquadramentos, aperfeiçoar a apresentação em palco, ou seja, buscar uma atitude mais profissional». Público 25/08/95. O mesmo foi feito nas legislativas de 1999, com cerca de um mês de antecedência.


Qualquer um destes elementos é determinante para o resultado final.
O mesmo se passa com o acompanhamento permanente dos media na altura em que está a ter lugar o comício. Por exemplo, se há directos de televisões, é necessário passar essa informação ao orador.
Comício de encerramento do PSD nas legislativas de 1999: a RTP estava a fazer um directo e o assessor de imprensa do PSD, José Mendonça, foi a um canto do palco, com uma placa, dar o sinal a Durão Barroso. Hoje os métodos já são mais sofisticados


Antes de subir ao palco, o orador já foi informado do local onde estão colocadas as câmaras de filmar.
Quando do directo de uma televisão, o orador aproveita a ocasião para transmitir a mensagem essencial. Muitas vezes até repete, volta atrás…


O acompanhamento do que está a ser transmitido permite também recorrer a uma outra encenação, vulgar nos concursos e espectáculos televisivos: quando começa o directo de uma das televisões, o animador do comício toma a palavra, interrompe o orador e começa a “puxar” pela audiência. O grito colectivo de slogans, o agitar das bandeiras… tudo isto contribui para a transmissão de uma mensagem de vitalidade e união.


«O aplauso alegre e estridente serve de instrumento heurístico de consenso social: uma ideia que transmite que todos aceitam esta mensagem, também você o deve fazer. O reconhecimento do poder do instrumento heurístico do aplauso leva os políticos a ambientes favoráveis, tal como os realizadores de televisão inserem risos e aplausos como som de fundo, ou leva os anunciantes a utilizar testemunhos e a apresentar os seus produtos como tendo grande procura»  (1)


Para se conseguir esta imagem de vitalidade é igualmente necessário que a audiência cumpra o seu papel nesta cenografia. Habitualmente esta função é exercida por grupos ligados às juventudes partidárias.
Por outro lado, procuram evitar espaços vazios. É por isso que, quando os partidos têm receio de não reunir uma grande multidão, recorrem a espaços fechados e de menor dimensão. Por vezes desculpam-se com a chuva ou o mau tempo mas, na grande maioria dos casos, é porque têm terror das clareiras. Este receio é também tido em conta no planeamento dos comícios. Essencialmente em campanha eleitoral, as principais apostas têm lugar na sexta-feira à noite ou no sábado. E se por acaso há um jogo de futebol importante que vai ser transmitido nas televisões ou qualquer outro acontecimento relevante, muda-se a hora ou os músicos em palco tocam mais alguns minutos.


Para os últimos dias deixam os locais onde há a certeza que se consegue reunir um número maior de apoiantes, para dar a ideia de um apoio crescente.
E se “Maomé não vai à montanha, vai a montanha ter com Maomé”: «Fernando Nogueira praticamente não pára, até porque vai ser cabeça-de-cartaz das festas de Verão que o PSD decidiu promover em algumas das praias do país. A 25 de Agosto na Póvoa de Varzim, a 27 no Furadouro, a 29 na zona ribeirinha de Lisboa (ou no Tamariz) e a 2 de Setembro na Figueira da Foz – eis os locais onde o PSD espera encontrar o eleitorado fora dos grandes centros devido às férias estivais” – Público 05/08/95.


Eduardo Cintra Torres  sobre os comícios da “rentrée” do PS, PSD e PP em 2003.

«Os Telecomícios da Rentrée

As semelhanças entre os três comícios foram as seguintes:  - Principal semelhança: presença da televisão.  - Os três partidos escolheram espaços urbanos privilegiados (praças centrais, com cafés) de localidades de “província”.(…) A principal preparação cénica é a do palco, com a frase de “rentrée” e o púlpito donde ora o líder.  - Tal como nos “talk-shows” televisivos, dá-se atenção, embora desigual, à animação das massas e à música como formas de criar uníssono nas multidões. (…) Todos os partidos deram a conhecer antecipadamente aos jornalistas o que consideravam ser os principais tópicos dos discursos, pelo que a entrada em palco dos líderes já se fez enquadrada por esse auto-agendamento nas intervenções prévias das jornalistas (…). A roupa dos líderes estava de acordo com a circunstância e a posição institucional: Ferro, da oposição, em camisa; Portas, júnior do Governo, de calça clara, blazer azul e camisa aberta; Durão, chefe de Governo, idem, mas de gravata.
Em resumo, os três comícios foram feitos para a TV. (…) Todos os líderes estavam a falar para o país (Durão disse-o) ou para o partido em primeiro lugar (Ferro) via TV e menos para os presentes. A construção do espaço, a escolha da hora e a animação e guarda-roupa da assistência organizada estavam feitas para a TV, sem competência técnica no caso do PS e com apuro especial no caso do PSD.(…)»  Público


Para evitar o cansaço da audiência e a saída extemporânea de muitas pessoas, os organizadores dos comícios têm sempre mão forte para resistir às pressões e reduzir o mais possível o número de oradores.


Da história recente, um dos episódios que mais marcou a luta partidária foi no Verão de 1995, quando o PS decidiu realizar em simultâneo com o PSD o comício da rentrée em Faro. Foi um medir de forças que até levou a comunicação social a fazer um levantamento dos dois locais, através de um helicóptero. O balanço foi positivo para o PS o que acabou por impulsionar fortemente o arranque da sua caminhada para a vitória.


Nos últimos anos a tendência é evitar o recurso sistemático a comícios.


Por exemplo, nas eleições presidenciais de 2001, Jorge Sampaio optou por pequenas salas onde, de uma forma mais pessoal, intimista, se dirigia à plateia. Um homem num palco, com um microfone e (aparentemente) sem grandes encenações. Os custos são menores, não há o risco de a sala não encher e é reforçada a relação pessoal entre o candidato e a plateia.
No caso do Reino Unido é banal este tipo de contacto. O candidato, num local já determinado e preparado pela estrutura de campanha, apresenta-se directamente às pessoas que se concentram em pequenos grupos. A panóplia de microfones, cartazes e música é substituída por uma relação mais pessoal e directa.


Segundo um estudo de Max Atkinson - Our Master’s Voice, realizado em 1994, no contacto do candidato com o eleitorado, são outros os elementos relevantes:
1.     Mais do que o conteúdo das intervenções, são as técnicas verbais e não verbais que permitem uma resposta positiva.
2.     A atenção do público é menor quando um orador fala muitas vezes ou durante muito tempo.
3.     Para garantir a atenção do público é preciso assegurar boas condições de audição e visibilidade.
4.     O orador deve ter uma vigilância permanente da assistência.
5.     Ajudas especiais como músicas ou slogans podem estimular a audiência  a reagir em uníssono.
6.     Um aplauso ocorre regularmente no final de uma intervenção equivalente a um parágrafo de um texto escrito.
7.     O orador  deve dar um conjunto de sinais, deixas, que permitam à audiência perceber quando deve aplaudir.
8.     Um tipo de mensagem que provoca o aplauso é a apresentação favorável de uma personalidade - identifica-se a pessoa, diz-se algumas palavras sobre ela e depois segue-se o nome. Uma pausa entre o nome e o apelido dá a oportunidade à audiência para se manifestar.
9.     Um outro tipo de mensagem que provoca uma reacção positiva é fazer um juízo favorável, não a nível individual mas colectivo - “nós”.
10.     As críticas e os ataques ao adversário também favorecem um bom feed back.
11.     Na apresentação de listas, exemplos, narração de casos… o número adequado é três. Dois exemplos é pouco; quatro é muito. A lista com três unidades dá a ideia de unidade e de complementaridade.
12.     Fazer um contraste entre dois itens provoca igualmente uma reacção positiva.
13.     Evitar seguir um texto.
14.     Sincronizar o movimento dos braços, das mãos, da cabeça com o conteúdo verbal.
15.     Olhar para a audiência e não utilizar óculos que dificultem a visibilidade dos olhos do orador.

 

 

(1) La era de la propaganda – uso y abuso de la persuasión; Anthony Pratkanis, Elliot Aronson; Oaidós Comunicación; ; Barcelona; 1994

18
Fev11

3.4 Outdoors e cartazes

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Os outdoors são cartazes de grande dimensão.
Em quase tudo o resto são semelhantes aos outros cartazes: uma mensagem simples com um único tema.

Os cartazes e os outdoors são eficazes para fixar a imagem do líder/candidato e/ou o símbolo da organização política.

«A grande alavanca são os outdoors. Foi isso que usámos em Lisboa. Na publicidade normal, outdoor é um apoio da televisão, onde uso o outdoor para dar apoio à publicidade que está a passar na televisão e na rádio. Na política o outdoor determina os caminhos por onde quero seguir. Essa é a diferença básica» - Einhart Jácome da Paz; Meios & Publicidade; 05/02/05,

Outro objectivo é uma boa articulação entre a imagem e o texto - não faz sentido “acordar” às 4h conforme sugeriu o PS de Cascais nas autárquicas de 2005. Aqui pode encontrar muitos outros casos de amadorismo e completas aberrações de outdoors. Dinheiro deitado ao lixo, essencialmente em eleições autárquicas.

 

Porque vive da memória visual, o cartaz é apelativo. A mensagem é simples, com poucas palavras e uma mancha leve e facilmente perceptível.

“Um cartaz moderno será uma imagem, em geral colorida, contendo normalmente um único tema e acompanhado de um texto condutor, que raramente ultrapassa dez ou vinte palavras, portador de um único argumento. É feito para ser colado e exposto à visão do transeunte (…) com legibilidade a grande distância em visão rápida. (…) O fenómeno essencial da percepção do cartaz é a sua repetição.” – Abraham Moles, O Cartaz.

A mensagem que o PS pretendeu transmitir nas legislativas de 1999 centrava-se em dois elementos: o país (a cor da bandeira) está bem (“ Portugal em boas mãos”), por isso mesmo, não há que apostar na mudança.
Nesta fase, da pré-campanha, o PCP jogou com a expressão “boas mãos” e lançou um outro outdoor que pretendia responder a esta mensagem e ao objectivo do PS de obter a maioria absoluta.

Muitas vezes, através destes cartazes são perceptíveis os elementos essenciais de cada candidatura e o “diálogo” que é estabelecido entre elas.
Os cartazes são igualmente um bom instrumento para divulgação da imagem do líder político. Este é um dos motivos porque quase todos os partidos – mesmo os que, aparentemente, recusam a personalização, como o PCP e o PCTP/MRPP – recorrem aos
cartazes para a divulgação da imagem dos respectivos candidatos às eleições legislativas.
Já em 1995, Vitor Dias, dirigente do PCP, admitiu que foi preciso promover, nos cartazes e outdoors, a figura de Carlos Carvalhas, devido à tendência inelutável para a personalização que a vida política sofreu, por culpa dos media e também da opinião pública.
“Mas é uma personalização diferente da que fazem os outros partidos, explica-nos Vítor Dias. «O cartaz não diz nada sobre o líder, nem que é um homem de palavra, nem que vai fazer isso ou aquilo. É apenas o slogan da força política – Vamos dar a volta a isto – com a imagem do homem que é o seu principal representante”. Público 11/09/95

 

A personalização dos outdoors da CDU começou de forma sistemática em 1999 e foi repetida nas legislativas de 2002 e de 2005, com Jerónimo de Sousa.

A utilização eficaz do cartaz implica uma articulação com os outros instrumentos de campanha e com a estratégia global que está a ser seguida. Por exemplo, nas legislativas de 1995, segundo afirmou ao Público Edson Athaíde, os cartazes do PS variaram de acordo com as três fases da campanha.
No início, depois de Cavaco Silva anunciar que ia abandonar a liderança do PSD, foi projectada a imagem de António Guterres.

 

Foram os cartazes com a imagem do líder do PS e, entre outros, os lemas “O homem que sabe o que quer para o país” e “ Os portugueses não são um negócio. São pessoas.”
A segunda fase passou pelo apelo a uma nova maioria e os cartazes recorreram a pessoas anónimas, o símbolo do coração e a frase “A nova maioria é nossa”.
A última fase é a síntese. A imagem é de novo a de António Guterres e a frase passou a ser “Razão e coração”.


Nas legislativas de 1995 o PP também difundiu a sua mensagem com recurso aos cartazes em três fases: inicialmente deu eco às propostas do partido mas de uma forma crítica em relação ao outros partidos – foi o caso dos dois tachos com a frase “velha maioria, nova maioria”, numa referência ao PSD e ao PS. A segunda fase apontava já as propostas de uma forma positiva. A terceira fase é uma simbiose entre os problemas e as propostas apresentadas pelo PP e com a imagem de Manuel Monteiro.

Já em 1999 a estratégia do PS passou pela utilização quase exclusiva da imagem de António Guterres. Se em 1995 o PS valorizou uma mensagem que apostava nas questões sociais – rendimento mínimo, aposta na educação…-, em 1999 não foi feita qualquer proposta concreta.

Tudo se baseava na boa popularidade de António Guterres O primeiro cartaz teve lugar na pré-campanha.
Próximo da data das eleições surgiu o segundo cartaz, com apelo ao voto e, quase em cima do acto eleitoral foi colada a palavra “vote” e o punho, o símbolo do PS que aparece no boletim de voto, na parte inferior direita dos outdoors.
Na noite do dia das eleições surgiu mais um cartaz que fechou o ciclo..

A colocação dos outdoors e cartazes faz-se junto de locais de grande movimento, preferencialmente dispostos numa posição perpendicular em relação às vias de comunicação.

É um meio que, segundo os especialistas, tem grande eficácia. Para Edson Athayde, em declarações ao Expresso de 24-07-99, «sem ser o principal suporte de campanha, o outdoor tem, em Portugal, muito peso».
No mesmo artigo, Jorge Alves da Silva, que trabalhou para o PP, foi mais longe ao considerar «os outdoors essenciais para fazer marcação na cabeça dos eleitores», e sublinhava que «ninguém vota em pobres, é preciso mostrar sinais exteriores de comunicação». Curiosamente, mais tarde, quando do debate do financiamento dos partidos e das campanhas, o líder do CDS-PP afirmou que “os outdoors e pendões são dois meios inúteis, porque «o custo é infinitamente superior ao efeito»” – Público 25/11/99. Paulo Portas defendeu mesmo “a celebração de um contrato entre os partidos para que não seja utilizada publicidade comercial e pendões nas campanhas. «O elevado custo das campanhas de publicidade, onde se vendem ideias como quem vende um shampoo, através de cartazes é caríssimos» e a mania dos pendões que «sujam as vilas, aldeias e cidades de Portugal são gastos desnecessários», considerou Portas”- Lusa 23/11/99..

Devido aos elevados custos, são poucos os partidos ou candidaturas que podem recorrer aos outdoors, nomeadamente em contra-ofensivas. José Manuel Coelho, nas preidenciais de 2011 teve de recorrer à imginação para colmatar a ausência de recursos financeiros.
Numa notícia do Público de 25 Novembro de 1999, é dito que o PP, na campanha para as legislativas de 1999, gastou cem mil contos. “Desses cem mil contos que o CDS-PP diz ter gasto, mais de metade, exactamente 51%, foram despendidos em publicidade estática, ou seja,, na colocação de outdoors durante um mês e meio, a que se deve juntar mais de cinco mil contos da produção dos cartazes”

Se o PP gastou mais de 50 mil contos em cartazes durante um mês e meio, calcule-se as verbas que foram gastas em situações como o referendo sobre a regionalização: “pela parte do PS, haverá cartazes grandes e pequenos, em todo o país, a apelar à união. Dos maiores (8×3m) serão distribuídos 400 e dos mais pequenos (2×1m) haverá mil. (…)O PSD prepara-se para renovar os cartazes contra a regionalização ao ritmo de um por mês. Assim, além do que vigora actualmente nos placares, haverá novas séries em Setembro e Outubro. De cada série não haverá mais do que 103 cartazes (8×3m), em todo o país, número correspondente às estruturas disponibilizadas pelo partido para a afixação. (…) O PCP arranca para o combate já no princípio de Setembro, (…) a novidade vai ser o lançamento do primeiro out-door. (…) Na fase final haverá mais cartazes com mensagens mais direccionadas.” JN, 23/08/1998
Segundo o que foi anunciado pelo então secretário-geral do PSD, António Capucho, dos cofres dos sociais-democratas saíram 50 mil contos para financiar a campanha do referendo.
Pouco tempo depois, nas eleições para o Parlamento Europeu, em 1999, segundo as contas apresentadas à Comissão Nacional de Eleições, o PS gastou 354 mil contos, o PSD 89 mil, a CDU 93 e o PP 22 mil contos. Ao todo, os 11 partidos concorrentes declararam mais de 570 mil contos de despesas.
Nas legislativas de 2005 o Expresso (06/02/05) fez um levantamento e concluiu que os principais partidos gastaram mais de um milhão de euros na campanha. Dos números que recolheu, em média, calculou o custo de um outdoor em «cerca de 300 euros para o PCP, à volta de 400 para o CDS, na casa dos 900 para o BE». Nesta reportagem era ainda referido que o PSD teve 750 “outddors”, o PS 664, o CDS 200, o PCP 130 e o BE 100.

Nas Legislativas de 2009, o custo das campanhas eleitorais om outdoors terá chegado a 23 milhões de euros
A Entidade de Contas do Tribunal Constitucional, nas autárquicas de 2005, estabeleceu um preço de referência de mil euros para cada cartaz de três metros de altura e quatro de largura.
Devido à legislação eleitoral, depois de marcada a data das eleições, os partidos não podem recorrer à publicidade comercial e têm de adquirir os suportes publicitários. É tendo em conta estes custos que só os grandes partidos podem recorrer aos outdoors. Por exemplo, segundo o mesmo artigo do Expresso, nas eleições legislativas de 1999 o PCP tencionava investir em apenas uma centena de outdoors espalhados por todo o país. O PCP/MRPP nem um único conseguiu: “privilegiámos o nosso símbolo. Não temos outdoors, mas tentámos fazer o possível com as verbas atribuídas pelos nossos militantes, escassos milhares de contos que tiveram de servir também para as Europeias.” – Público 04/010/99

Nas presidenciais de 2011, pra dar um sinal de contenção nos gastos da campanha eleitoral - o país confrotava-se com uma crise económica - Cavaco Silva prometeu na sua declaração de candidatura que não ia recorrer a outdoors.

Os cartazes têm um tempo de vida curto e devem ser retirados a tempo, essencialmente se ocorrer chuva e  vento Se os cartazes estiverem muito estragados ou com ar muito gasto, os efeitos podem ser negativos.

Noutras circunstâncias, a mensagem é adulterada, através de inscrições.

 

Marcelo Rebelo de Sousa foi uma vez vítima desta situação. Candidato à Câmara de Lisboa alguém o tentou confundir com uma empresa de venda de electrodomésticos chamada TV Marcelo.

 

Mais recentemente, um outro caso teve lugar nas legislativas de 2005, onde vários cartazes de José Sócrates foram sujeitos a várias inscrições, em muitos casos injuriosas. Nesta campanha eleitoral surgiu um outro caso que atingiu vários partidos. Essencialmente na região de Lisboa era frequente encontrar os candidatos com uma bola vermelha colada no nariz.

 

«Trata-se de um círculo cuidadosamente cortado e colado sobre o nariz dos candidatos. Não foi um gesto de raiva momentânea, foi uma acção concertada que deu uma nova cor aos cartazes do PSD, PS, CDS-PP e Bloco de Esquerda(…)Todos os partidos falaram em falta de civismo e estranham o facto de nenhuma força de segurança ter visto alguém colocar as bolas vermelhas, uma vez que se terá recorrido a uma escada.» SIC online;

A colocação de cartazes em edifícios públicos e privados também provocar reacções negativas. Além de poder violar a legislação. É proibida a afixação “em monumentos nacionais, edifícios religiosos, edifícios sede de órgãos de soberania, de regiões autónomas ou do poder local, nos sinais de trânsito ou placas de sinalização rodoviária, no interior de quaisquer repartições ou edifícios públicos ou franqueados ao público, incluindo os estabelecimentos comerciais.” (Art. 66º, n.º 4 da Lei n.º 14/79)
Mesmo nos locais onde é possível a afixação de cartazes, é preciso fazê-lo com moderação. Os exageros, que são habituais, acabam por ter efeitos contrários. Veja-se o caso do PSD de Águeda nas legislativas de 99: “Com a desculpa de que a campanha eleitoral «é uma festa», um grupo de militantes do PSD de Águeda meteu as mãos à obra e inundou literalmente uma das principais artérias da cidade com pendões e cartazes com a cara de Durão Barroso. O gesto caiu mal, não só entre a população, mas especialmente entre os outros partidos, que protestaram vivamente contra a iniciativa laranja.” – Público 28/09/99
É também proibida a utilização de placares comerciais, a partir da publicação do decreto que marca a data das eleições. (Art. 72º). Em contrapartida, as câmaras municipais e as juntas de freguesia devem estabelecer “espaços especiais em locais certos, destinados à fixação de cartazes, fotografias, jornais murais, manifestos e avisos.” (Art.66º). Nem sempre são decisões pacíficas e em quase todas as eleições há queixas na Comissão Nacional de Eleições.

18
Fev11

3.5 Jornal Campanha

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Jornal de Campanha da candidatura de Mário Soares nas presidenciais de 2006Procuram ser muito parecidos com os jornais que estão diariamente à venda. Apelativos e incisivos na mensagem a transmitir.

 

Exigem uma equipa para a sua produção e, habitualmente, o director é uma figura prestigiada.

 

Nas várias edições do jornal de campanha o cabeçalho é idêntico, com uma forte identidade e, habitualmente, recorre aos símbolos utilizados que estão a ser utilizados na campanha eleitoral.

 

Uma das vantagens do jornal de campanha é que pode inserir depoimentos de figuras conhecidas e narrar as iniciativas que foram desencadeadas no decorrer da campanha.

 

Não primam pela actualidade tendo em conta as dificuldades de produção e são editados poucos números.


Uma das técnicas a que se recorre, para dar credibilidade ao jornal de campanha, é a inserção de notícias e comentários que foram publicados na imprensa.


Com o surgimento de edições electrónicas o “Jornal de Campanha” deixou de ser impresso e passou a ser um dos itens das páginas da Internet. É mais barato e, em princípio, mais eficaz.

Jornal de campanha da APU