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Comunicação Política

Comunicação Política

12
Mai13

A Mensagem

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O principal objectivo de qualquer organização política é provocar um determinado efeito nos eleitores que pretende atingir. Para isso, tem de escolher a melhor estratégia e a mensagem que presume ser a mais adequada para conseguir esse objectivo. Essa mensagem pode ser difundida em vários suportes - discurso oral, escrito, visual, etc.

No entanto, a mensagem não se resume a uma ideia ou a um slogan. É algo complexo, construído a partir de uma multiplicidade de factores.

Na grande maioria dos casos, a mensagem não se esgota no conteúdo das ideias e vale mais pela forma como se apresenta.

Neste processo comunicativo, quando se pretende dar a conhecer um tema, há dois caminhos que, embora complementares, podem levar a opções bem diferentes.

Pode-se recorrer ao debate, à discussão das ideias e ao aprofundamento do tema para, depois da reflexão, os cidadãos fazerem uma escolha. Procura-se a «essência das coisas», vale a razão e aplica-se o distanciamento emocional. Noutras palavras, estamos no terreno da reflexão sobre o “ser”.

O outro caminho tem a ver com a crença, com o jogo da sedução. O que é relevante não é o que sou mas o que o outro pensa de mim - a minha imagem.

É o discurso da impressão, do “parecer”.

«É na medida em que o mundo de hoje – cada vez mais dominado pela Internet e pelos media – perdeu densidade e espessura física, se volatilizou em ícones que tendem a ser arquetípicos, que o império das imagens e a forma como elas são construídas acabam por configurar uma espécie de realidade paralela, tantas vezes mais forte do que a ‘realidade verdadeira’.

Na política, a perícia e a rapidez com que se manipula este mecanismo de produção de imagens – podemos mesmo falar de uma fábrica de imagens – é hoje o campo de confronto substituto do debate ideológico. Mais do que esgrimir ideias, confrontar projectos, analisar o impacte positivo de medidas concretas, sejam dos governos ou das oposições, o importante é colar um selo, uma etiqueta, um chavão que aguça o apetite para o telejornal do dia e que marca o protagonista com um carimbo que às vezes é mortal» - Duarte Lima; Expresso nº1658; 07/0804

Aquilo a que Duarte Lima refere como a «produção da imagem» pública, de facto, não é uma especificidade dos dias de hoje.

«O fenómeno da imagem pública, particularmente na sua forma política, parece ser tão antigo quanto o próprio fenómeno da vida pública. (…) O que o traz ao centro da cena é a sua vinculação à esfera da visibilidade pública e a sua relação estreita com os meios de comunicação de massa. Embora quase conatural com a actividade política, o fenómeno contemporâneo tornou-se o que é, em termos de importância social, por causa de três factores: a) O advento da democracia moderna, trazendo consigo exigências de esfera pública; b) o advento das sociedades de massa; c) o predomínio dos grandes meios de comunicação como lugar e como recurso expressivo no qual e pelo qual se realiza a esfera daquilo que é socialmente visível. » (1)

«As novas técnicas trouxeram meios mais poderosos para a dramaturgia democrática: os meios dos media, da propaganda e das sondagens políticas. Reforçam a produção das aparências, ligam o destino das pessoas de poder à qualidade da sua imagem pública tanto quanto às suas obras. Denuncia-se então a transformação do Estado em “Estado Espectáculo”, em teatro de ilusão. O que assim se encontra sujeito à crítica, porque considerado como perversão, não é senão a ampliação duma característica indissociável das relações de poder (…) Por detrás de todas as formas de disposição da sociedade e de organização dos poderes, encontra-se, sempre presente, governante de bastidor, a “teatrocracia”. Ela regula a vida do dia-a-dia dos homens em colectividade; ela é o regime permanente que se impõe aos diversos regimes políticos revogáveis, sucessivos». - Georges Balandier (2)

Não é assim de estranhar que tenha sido Aristóteles o primeiro a conceber uma teoria sobre a persuasão - a origem (ethos), a mensagem (logos) e as emoções da audiência (pathos). O próprio Aristóteles recomendava que o orador tinha de mostrar credibilidade, ter um fio condutor na argumentação e a mensagem devia ter em conta as crenças da audiência.

A preocupação com a criação e gestão da imagem pública sempre acompanhou a actividade dos agentes políticos e hoje adquiriu maior importância.

O que pode variar é qual a função prioritária na actividade política: a produção da imagem (o image making) ou a função substantiva da actividade política: decidir em função do bem comum, fazer uma gestão adequada dos bens (sendo que ambas as funções, nunca andam separadas.)

De facto, na grande maioria dos casos, «fazer conhecer passou a ser mais importante que fazer.» (3)

Quando hoje um político critica um adversário de a sua única mais-valia ser apenas a imagem – a acusação a José Sócrates, feita por colegas de partido quando se candidatou a secretário-geral do PS em 2004 - pretende-se insinuar que o autor da acusação não se preocupa com a sua imagem pública. Nada mais falso. Com estas acusações, ele próprio está a tentar conseguir dois objectivos: determinar a «imagem» do adversário (no caso de José Sócrates – a de um candidato “de plástico”) e construir a sua própria «imagem» baseada em características supostamente menos artificiais – “o PS genuíno”.

Este tipo de discurso, que aposta na imagem, no “parecer”, é cada vez mais frequente e não apenas por ser o mais fácil de produzir.

Por um lado, nos dias de hoje, qualquer pessoa é “bombardeada” com informação. «Um norte-americano vê ou ouve em média, ao longo da sua vida, mais de sete milhões de anúncios. (…) Esta saturação de mensagens impõe ao emissor uma carga persuasiva na mensagem para conseguir chegar ao receptor». (4)

Por outro lado, este tipo de mensagem é mais eficaz porque está em consonância com os valores dominantes, o modo como cada vez mais se apreende o mundo pelas imagens, pelas metáforas, pelo audiovisual. Esta é a sociedade da sedução.

«1. A “imagem de marca” no campo da política
A “era da moda consumada” é caracterizada por Giles Lipovetsky como o “domínio dos princípios do efémero, da sedução e da diferenciação marginal, reorganizando em profundidade o contexto quotidiano, a informação e a cena política”.
A efemeridade resultaria da sedução do novo, ou mais precisamente da novidade, acelerando a marcha da obsolescência de produtos, ideias e imagens, assim induzindo a renovação contínua de ciclos de consumo.
A frivolidade é a outra face da efemeridade: os valores tradicionais, as crenças profundas, são fagocitadas pela voracidade do descartável, do facilmente digerível, do que conduz à distracção e não à concentração .
O império do efémero é assim o império das aparências feéricas, da vitrinização, da busca do “efeito espectáculo”.
(…) Vale destacar que na esfera da política a forma moda pressupõe a centralidade dos processos de produção, circulação e consumo de imagens políticas que assumem elas próprias a condição de mercadoria.
Configura-se assim um outro campo de saberes e regras operativas desse fantástico mercado das imagens políticas: o marketing político eleitoral.
»- (5)

Os vários modelos de conhecimento, a aprendizagem das narrativas, o modo como se conta uma história, são cada vez mais determinados pelos meios audiovisuais.

O principal acontecimento do mundo, num determinado dia, não passa de uma história de dois minutos, contada através de imagens e numa linguagem simples e directa. Todas as outras histórias passam por esta grelha, para não se tornarem aborrecidas.

O mesmo se passa na política.
A mensagem de um líder partidário, para ser difundida pelos media, é determinada por essa grelha.

Os comentadores exigem aos políticos este tipo de discurso, caso contrário consideram que estes não têm perfil para o cargo (foi de certa forma o que sucedeu com Vítor Constâncio e Manuela Ferreira Leite cuja capacidade técnica foi ofuscada pelas dificuldades de comunicação).
Por último, os receptores, os eleitores, vão dando sinais de que a mensagem com maior receptividade é aquela que não exige grandes reflexões, que seja simples e agradável q.b.

 

Ver ainda: Construir a imagem


 

(1) Wilson Gomes; a Política de Imagem. Wilson Gomes é doutorado em Filosofia e professor do Departamento de Comunicação da Universidade Federal da Bahia.
(2) Georges Balandier; O Poder em Cena; Éditions Balland, 1992; Minerva
(3) Omar Gais; Espectaculo Y Ciudadania. La politica en los médios; Facultad de Ciencias Políticas y Sociales Uncuyo; Mendonza
(4) Anthony Pratkanis, Elliot Aronson; La era de la propaganda – uso y abuso de la persuasión;; Oaidós Comunicación; ; Barcelona; 1994
(5). Rejane V. Accioly Carvalho; Imagem Marca e Reeleição: A campanha presidencial de FHC em 1998;

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Mai13

5. Uma mensagem credível

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Um outro elemento fundamental em qualquer processo de comunicação é a credibilidade.
Se ninguém acredita no que está a ser dito, a mensagem não tem qualquer efeito.
A falta de credibilidade pode radicar no emissor, na argumentação que está a ser utilizada, no próprio tema que serve de base à intervenção política ou, na falta de coerência de todos estes factores.
Algumas das decisões políticas que parecem «forçadas» ou «artificiais» têm a ver com este problema de falta de credibilidade. A tentativa de aliança PSD/PP em 1998 é um desses exemplos. Depois das sucessivas acusações mútuas entre o PP e o PSD e entre Marcelo e Portas, poucos acreditavam num fácil entendimento entre os dois partidos. Com a agravante de que um dos atributos críticos do líder do PSD era a falta de credibilidade. Numa sondagem da Metris, efectuada em Julho de 1997, eram tantas as pessoas que atribuíam a Marcelo Rebelo de Sousa a característica de honestidade como a de não honestidade. Cerca de um ano depois, em 9 de Abril de 1998, uma outra sondagem da Metris publicada no Independente voltava a colocar a credibilidade como um dos pontos mais fracos da prestação de Marcelo Rebelo de Sousa. Em honestidade, Marcelo tinha 8,4% e Guterres 42,1%.

Foi devido a esta «falta de credibilidade» que no dia em que Marcelo Rebelo de Sousa apresentou as bases programáticas da AD (22 de Janeiro de 1999), Carlos Magno fez o seguinte comentário na TSF: “as propostas podem ser interessantes. Resta é saber se as pessoas acreditam no que Marcelo prometeu”. Este indicador de falta de credibilidade de Marcelo Rebelo de Sousa foi também utilizado pelo PS como um dos instrumentos de combate ao PSD: “O que Marcelo diz hoje, amanhã não é verdade; não se pode confiar no que ele diz; sobre a mesma matéria, em menos de um mês o líder do PSD já disse três coisas diferentes…”

O mesmo problema se colocou quando da formação da AD em 2002. A questão da credibilidade não estava propriamente nos protagonistas – Durão Barroso e Paulo Portas – mas na solução encontrada. No dia em que a coligação foi dada como certa, quase todos os órgãos de comunicação social publicaram desavenças antigas entre os dois partidos. Até alguns dirigentes do PSD, como Pacheco Pereira, salientaram as dificuldades porque «nesta coligação há uma profunda desconfiança, em grande parte devido a Paulo Portas».

O mesmo Pacheco Pereira, posteriormente, foi uma das vozes que se juntou ao coro que chamava a atenção para o comportamento «errático» de Santana Lopes, quando Jorge Sampaio fazia auscultações sobre a decisão de avançar ou não para eleições antecipadas. Nesta fase, em Julho de 2004, várias pessoas (como por exemplo Marcelo Rebelo de Sousa) apontavam a Santana Lopes um perfil inadequado para chefiar o Governo porque é ‘«hiperdecisório» e «pouco coordenado» e, como tal, tende a ter «decisões múltiplas ao longo do tempo. Não é um perfil que (…) seja porventura o mais indicado para primeiro-ministro» É desta forma que Marcelo Rebelo de Sousa define o novo líder do PSD.’ (TSFOnline, http://www.tsf.pt/online/portugal/interior.asp?id_artigo=TSF151938)

Quando a falta de credibilidade é um dos atributos dominantes, é muito difícil ultrapassar este problema.

Em alguns casos, a credibilidade só lentamente é adquirida.
Os responsáveis políticos fazem um rigoroso controlo da exposição pública e procuram evitar qualquer sinal de desconfiança.
Recorrem a personalidades com grande credibilidade e reputação para “mostrar” como estão a ganhar o estatuto de “figuras respeitadas”. Em outros casos, repetem até à exaustão os argumentos indutores de confiança: “«O espírito de solidariedade já existe hoje entre os dois partidos, os dois líderes, as duas direcções e estou convencido que entre os dois partidos na sua generalidade. Acredito plenamente que isto vai funcionar», disse Durão”. – Público de 29/03/02 sobre a assinatura do acordo entre PSD e PP.

Em outras situações a credibilidade só pode ser conquistada assumindo-se os erros. Próprios ou cometidos por pessoas da mesma organização politica.
Foi o que fez Ferro Rodrigues quando se candidatou pelo PS em 2002. Perante a ideia generalizada de que o governo e o PS tinham cometido vários erros, Ferro Rodrigues assumiu o que foi feito de negativo e prometeu que com ele seria diferente: «Também cometemos erros. É nossa responsabilidade percebê-los e tirar as necessárias consequências, para corrigir caminhos e enfrentar as dificuldades com seriedade, com sentido de responsabilidade e sem indulgências connosco próprios» “RENOVAR A MAIORIA - O nosso compromisso com os portugueses” - Moção de Estratégia de Ferro Rodrigues para secretário geral do PS em 2002.

A credibilidade não é uma característica intrínseca a um indivíduo. É antes um processo contínuo, que se pode solidificar (mas nunca pode ser dado como irreversível) e, muitas vezes, é resultado de técnicas que criam essa aparência.

A mais recorrente é mostrar convicção no que se diz e ser consequente nas ilações: «Penso que, com inteira lucidez, devo reconhecer que, se nada fizesse e se olhasse para estas eleições e passasse por elas como porventura seria integralmente meu direito constitucional, continuando a exercer as funções de primeiro-ministro, o país cairia inevitavelmente num pântano político que minaria as relações de confiança entre governantes e governados, que são indispensáveis para que Portugal possa vencer os desafios que tem pela frente» (António Guterres em 16/12/01 ao anunciar a sua demissão de primeiro-ministro depois da derrota do PS nas eleições autárquicas).

Uma outra regra muito relevante para a afirmação da credibilidade é nunca violar os compromissos assumidos. Muito menos os que serviram de bandeira – “leia nos meus lábios” (George W. Bush sobre o aumento de impostos); “no jobs for the boys” (Guterres sobre a colocação de apoiantes em cargos públicos), “eu não fujo” (Durão Barroso nas eleições seguintes à demissão de António Guterres).

Quando um destes compromissos é desrespeitado, torna-se um poderoso instrumento de combate político a favor dos adversários.

É igualmente importante que se seja respeitado pelos que o rodeiam. Uma das imagens fortes de Cavaco Silva era o respeito que merecia de outros membros do governo e do PSD, o que contribuiu para solidificar a imagem de um líder forte.

O ritual desenvolvido por Cavaco Silva nas remodelações era um exemplo da afirmação dessa autoridade. Não remodelava sobre pressão da comunicação social e, quando o fazia, os visados eram demitidos sem «cerimónia».
José Sócrates foi elogiado por seguir a mesma postura. Remodelações de governo, negociações com parceiros e medidas impopulares foram sempre assumidas sem hesitação e sem receio da conflitualidade de interesses.
Ao contrário, na fase final da sua governação, a partir de 2000, a imagem de António Guterres foi afectada pelas divisões internas e pela afronta de alguns colegas de partido. A juntar a estas divisões, Guterres reforçou a sua imagem de hesitação e de falta de autoridade quando o Governo alterou as medidas sobre a interdição dos touros de morte Barrancos e o limite de álcool no sangue para os condutores de veículos.

Outro atributo a que se recorre com frequência para reforçar a credibilidade é o recurso a especialistas e a citações de estudos. Foi de certa forma o que se passou no dossier da co-incineração no governo de António Guterres. Como havia um problema de credibilidade – as pessoas não acreditavam nos argumentos do governo – recorreu-se a uma comissão de especialistas que serviu de juiz na selecção das cimenteiras onde se iria realizar a co-incineração. Através deste instrumento pretendia-se restabelecer a confiança das populações.

Um outro exemplo teve lugar nas legislativas de 2002. Muitas das medidas apresentadas pelo PSD tiveram o apoio de várias personalidades ligadas aos respectivos sectores: “Numa sala cheia de autoridades do PSD, o líder Durão Barroso apresentou ontem no Porto o programa económico reafirmando a intenção de fazer o choque fiscal que permitirá incrementar a produtividade e a competitividade da economia portuguesa.” Público 15/02/02. A presença destas personalidades era um sinal de credibilidade.

Para fortalecer a imagem de credibilidade um outro elemento importante é ter resposta fácil e directa para as questões que vão ser colocadas e evitar cair em contradição. Em momentos políticos importantes os dirigentes políticos são treinados para estas situações e os assessores preparam respostas que permitam atingir esse objectivo. O mesmo se passa em relação à comunicação não verbal.
Como a classe política vive permanentemente com o problema da falta de credibilidade, recorre quase diariamente a frases e situações que pretendem anular a desconfiança dos eleitores: a actividade que se desempenha não tem outro fim que não seja o bem comum (”Mais importante do que qualquer partido é Portugal. (…) Portugal pode contar comigo” - Durão Barroso em 15/03/02); uma visão fria e a realista (”O caminho que vos proponho não é um caminho fácil. Mas há um caminho” - Durão Barroso em 13/03/02); não se quer influenciar as ideias e os comportamentos dos outros (”Quando convidei o dr. Fernando Negrão, não lhe perguntei se era de esquerda ou de direita” - Durão Barroso em 01/03/02) .
Mais, em algumas situações, até se pode estar a ser prejudicado pessoalmente – a actividade profissional que desempenhava dava mais rendimentos e menos chatices; tem provas dadas na actividade profissional e não precisa da política para conseguir seja o que for; o estatuto de figura pública só provoca constrangimentos, já teve convites aliciantes mas continua empenhado no cargo – foi o caso de António Guterres quando foi «sondado» para Presidente da Comissão Europeia: os dirigentes do PS não se cansaram de repetir que o primeiro-ministro preferiu permanecer no cargo.

No que se refere à argumentação, os problemas mais frequentes que podem por em causa a credibilidade têm a ver com contradições. Contradições relativamente a posições assumidas no passado; contradições entre o prometido e o que está a ser feito; e contradições com os valores dominantes.
A citação de posições assumidas pelo adversário no passado e que não correspondem às actuais é um dos recursos mais frequentes em política e é sempre de esperar na prática jornalística.
Em todos os partidos há gabinetes de imprensa que recolhem e arquivam informação para que, a qualquer momento, esse material possa ser usado no combate político.

No que se refere a posições que colidem com os valores dominantes de uma determinada audiência, há quem utilize a seguinte estratégia: não iniciar a intervenção com argumentos radicais, mas antes criticar com moderação esses axiomas e, lentamente ir chamando a atenção para as diferenças de pontos de vista.
Por exemplo, no referendo sobre o aborto era frequente os vários intervenientes (contra e a favor da despenalização) iniciarem as intervenções com as palavras «este é um problema complexo»; «a decisão é muito íntima»; «do ponto de vista ético não é fácil…». Tentavam começar de uma forma abrangente, com um argumento consensual, o que permitia uma melhor receptividade por parte da audiência.

«Quando a comunicação se faz num pequeno círculo, dados pessoais tornam-se mais relevantes para acentuar ou reduzir a credibilidade do emissor da mensagem. Torna-se importante, então, a naturalidade, a identificação do líder com o meio. (…) Porque são pessoas reunidas em um pequeno círculo, têm alguma coisa em comum. Então, antes de falar, o comunicador deve ouvir. Ouvir e descobrir este traço comum. Quais as aspirações, os problemas. Ambientado, conhecendo o seu palco, o comunicador será mais eficiente. (…) Terá naturalidade e saberá transmitir a sua mensagem no código adequado» - Eduardo Portella Netto

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Mai13

6.Uma mensagem simples

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Como a comunicação política se dirige a uma audiência muito vasta, a mensagem é simples, concisa e perceptível por todos.
Este não é o tipo de comunicação onde são feitas análises profundas.

Uma preocupação constante do prof. Cavaco Silva era que o seu discurso fosse facilmente assimilado pelos portugueses. Para ele era fundamental que as pessoas identificassem os objectivos da sua governação. Por isso, era o mais simples e directo possível. Procurava sempre converter em palavras correntes o jargão habitual das questões complexas.” - Fernando Lima (1)

Há excepções mas a grande maioria dos dirigentes políticos aprenderam que é essencial saber qual o público que vão atingir. É um dos trabalhos das assessorias. Fazer um levantamento de qual a audiência de um programa de televisão ou rádio. Qual a audiência de uma publicação. É tendo em conta esta aprendizagem que os principais responsáveis políticos sabem que uma mensagem para o “grande público” não é a mesma coisa que para um público especializado. Se uma medida for revelada no noticiário das 20h de uma das televisões, o discurso é o mais simples possível, mesmo correndo o risco de ser simplista. Se, por outro lado, a medida é divulgada numa revista da especialidade, já produzem um discurso mais técnico, mais elaborado e com pormenores.

Há também várias figuras de estilo a que os políticos recorrem com frequência para conseguirem uma mensagem simples e directa. Uma das figuras mais utilizadas é a metáfora.

cartaz de apoio a candidatura de Ramalho Eanes Se for bem utilizada, a metáfora ganha um sentido que vai muito para além das palavras. Foi o caso do apoio do PPD à candidatura de Ramalho Eanes à Presidência da República em 1976.

A audiência percepciona de uma forma mais precisa a mensagem que se transmite. Se for eficiente, não é preciso dizer mais nada. Está lá todo o sentido que se pretende dar.
Tem ainda uma outra vantagem: é facilmente mediatizada porque a metáfora é do agrado do discurso dos media. Um exemplo: a cobertura noticiosa da campanha do PSD no referendo da regionalização. No Domingo, 1 de Novembro de 1998, o DN dava o seguinte título à reportagem sobre as iniciativas de Marcelo Rebelo de Sousa: “Piquenicão «laranja» na Beira de Guterres”. No dia seguinte “Portugueses não são cobaias”. Na terça-feira, o lead da reportagem era: “Na cartilha do PSD, a regionalização - «um tiro no escuro, um cheque em branco» - tem muitos males”. Na quarta-feira o título era: “Uma bomba atómica no sistema partidário”.

Muitas vezes estas frases são fruto da imaginação do emissor. Mas nem sempre. Por vezes são resultado do trabalho de assessorias. Procuram uma expressão que tenha força, imaginação, simples e curta. Ou seja, funciona como um sound bite. Este é o «ponto forte de Paulo Portas, a capacidade de sintetizar rapidamente frases mediáticas para determinadas coisas e parecer sério», nas palavras de Einhart da Paz, que assessorou Durão Barroso e Santana Lopes. (2)

Os jornalistas gostam deste efeito porque têm o trabalho facilitado: é só pegar no que é emitido pela boca do político e colocá-lo no precioso segundo televisivo, ou no imaginativo jogo de palavras do título de jornal. É um estilo que se presta à frase assassina, à boutade, ao jogo de palavras” – Pacheco Pereira. (3)

Em alguns casos são os próprios jornalistas que alteram o sentido da expressão e transformam-na num sound bite.

Há outros processos simples e eficazes e do gosto dos jornalistas. Se a medida que vai ser anunciada implica um investimento significativo, este é um dado que os políticos dão grande relevo nos discursos e na pasta de imprensa que é entregue aos jornalistas.
O mesmo se passa com o número de pessoas abrangidas, que estão envolvidas na operação, a contabilização do sucesso alcançado….
Os jornalistas gostam muito deste género de números e com muita frequência dão-lhes largo destaque. Por vezes até anulam o efeito pretendido pelo emissor.

Quando do primeiro governo de António Guterres uma das medidas foi construir 12 novos centros de atendimento a toxicodependentes. Foi este o título da notícia na quase totalidade dos jornais, rádios e televisões quando do anúncio da medida. Mas, nas iniciativas seguintes, porque este dado constava no dossier de imprensa, era quase sempre o elemento relevante das notícias mesmo quando o acontecimento incidia numa outra questão. A partir daqui, em iniciativas sem grande impacte, referia-se este número e, em muitos casos, o elemento central das notícias era, mais uma vez, os 12 centros de atendimento.
Outro exemplo, mas prejudicial para a política de comunicação do governo de Guterres: quando a oposição (essencialmente o PCP) queria destacar a violação da promessa do «no job for the boys», referia o número total de nomeações realizadas. Por mais que o governo tentasse justificar e negar a acusação, raramente conseguia esse objectivo. O número era «fatal».

 

(1) No mesmo texto é referido um outro exemplo pelo jornalista Carlos Magno: “Interessa menos saber quem escrevia os discursos de Cavaco do que perceber porque é que ele fazia discursos assim. Simples e directos. Muitas vezes irritantes para as elites, mas eficazes no eleitorado que ele pretendia atingir. E com quem estabelecia cumplicidades. Ao discursar em Vila Real, depois de o seu governo minoritário ter caído na AR, Cavaco perguntou: «Se estávamos a governar bem, porque é que nos derrubaram?» Uma senhora da primeira fila do comício sugeriu: «Foi por inveja, senhor Professor». Cavaco, que até então tinha repetido a mesma pergunta em todo o lado, chegou ao comício da Régua e incorporou a resposta da militante anónima no seu discurso dizendo: «Só por inveja nos podem ter derrubado…»”.
(2) Independente; 22/03/2002
(3) Pacheco Pereira em Diário de Notícias, 1 Abril de 1999.

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Mai13

7. Uma mensagem fixa e repetida

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Para se conseguir uma mensagem com identidade, simples e eficaz, um outro factor essencial é concentrar o “discurso” nos temas chave e não sair daqui. De nada vale a abordagem de outros temas que não encontram correspondência no eleitorado.

A dispersão tem como consequência andar ao sabor da corrente. É um sinal de falta de convicção e corre-se o risco de cair nos temas que a força política adversária mais deseja. Só se perde tempo, dinheiro e credibilidade - três factores fundamentais em qualquer processo de comunicação política.

A falta de um rumo foi uma das críticas feitas ao governo de António Guterres. Nas palavras de Manuel Maria Carrilho, «umas vezes a prioridade era a educação, outras vezes era a saúde e até foi o Euro 2004».

Um outro exemplo teve lugar na campanha eleitoral das legislativas de 2002. O presidente da Câmara do Porto entrou em conflito com o FC Porto e causou um sério embaraço ao PSD. Segundo o responsável pelo marketing dos sociais-democratas, foi o que correu pior na campanha. «Não porque Rui Rio estivesse certo ou errado. Mas o momento não era o adequado. Durante uma semana, em vez de se discutirem propostas de governo ou criticar o governo PS, só se falou de um assunto que não tinha o mínimo interesse para o eleitor decidir o voto». Esta declaração foi feita numa entrevista ao Independente. Noutra entrevista, ao Público, Einhart da Paz revelou que este caso fez o PSD perder votos.


Mais recentemente e para evitar este efeito de dispersão, as “máquinas partidárias” distribuem diariamente aos principais dirigentes qual o tema que vai ser abordado e quais são os argumentos.


Para se optimizar os efeitos pretendidos e para se marcar a agenda dos media e a agenda pública - o que as pessoas falam no seu quotidiano - é insuficiente expor a mensagem apenas uma vez. Através de uma única iniciativa, nem sempre se consegue o contacto com o eleitorado.


A repetição da mensagem aumenta a probabilidade de se atingir o eleitorado pretendido. Os receptores entendem melhor a mensagem que se pretende transmitir e favorece a memorização.

Vários estudos confirmam esta tese. Uma mensagem transmitida apenas uma vez num órgão de comunicação social tem um efeito praticamente nulo. Segundo esses estudos, num período curto, a mensagem para ter algum efeito, terá de ser repetida pelo menos três ou quatro vezes.

Quanto maior é a exposição, mais fácil é a receptividade da audiência; e em muitos casos os valores, as ideias associadas a essas mensagens, acabam por nortear o nosso comportamento e a avaliação que fazemos do mundo que nos rodeia.

Repetir não significa que seja sempre com o mesmo formato.

«Os anunciantes tentam eliminar o desgaste utilizando uma técnica conhecida como “repetição com variações”. Mediante esta técnica, repete-se muitas vezes a mesma informação ou tema, mas variando o formato da apresentação» - Anthony Pratkanis e Elliot Aronson.


Um exemplo de como se pode provocar o efeito repetitivo utilizando instrumentos diferentes teve lugar na campanha para as eleições legislativas de 2002. Em várias situações Durão Barroso deu a entender que pretendia uma maioria absoluta para o PSD, mas nunca o disse abertamente. A primeira referência foi feita no dia 07/03/02 num comício em Vila Real: “Portugal precisa absolutamente de uma maioria, Portugal precisa de uma maioria absoluta do PSD (…)Aquilo que está em causa em 17 de Março é saber se o governo deve ser de quatro meses ou de quatro anos”.

Durão BarrosoNa mesma altura em que Durão Barroso iniciou o apelo à maioria absoluta para assegurar a estabilidade, chegava à caixa do correio dos eleitores um e-mail a reforçar a mesma mensagem e até com a mesma palavra, «estabilidade».

Durão Barroso não parou no apelo à maioria absoluta. Se no dia 7 fez a primeira referência, no dia seguinte, em Barcelos, defendeu «um governo estável para restituir a esperança». No dia 9, no Porto, falou da «caminhada para a maioria». No comício do dia 10 em Aveiro voltou à expressão «só um Governo estável e forte…».

Sublinhe-se, no entanto, que há uma alteração na linguagem. Enquanto no dia 7, em Vila Real, Durão Barroso utiliza a expressão «uma maioria absoluta do PSD», nos dias seguintes o apelo vai no mesmo sentido mas não utiliza a expressão «maioria absoluta». A razão pode ser encontrada numa entrevista ao Público de 22/03/2002 de Einhart Jácome da Paz. O responsável pelo marketing político do PSD refere que este foi um dos momentos em que «os sociais-democratas perderam votos porque, na altura em que Durão pede a maioria absoluta assustou muitos eleitores». Numa outra entrevista, publicada no mesmo dia, no Independente, Einhart, interrogado «se foi um erro o PSD pedir maioria absoluta muito cedo?», respondeu: «Isso não foi uma questão estratégica de marketing, foi uma estratégia política».


Já no cargo de primeiro-ministro, há um outro exemplo de como Durão Barroso, através da repetição da mensagem, tentou generalizar uma ideia: a da retoma económica que estava a chegar.

O ponto de partida foi a passagem do ano, de 2003 para 2004. Este período, para muitos, constitui uma época de viragem: «ano novo, vida nova». Os rituais da passagem do ano, com os votos de «feliz e próspero ano novo» são outros sinais de alguma receptividade das pessoas para a mudança. Assim, em 25 de Dezembro, na mensagem de Natal, Durão Barroso centrou a sua intervenção na ideia «o pior já passou, pelo que o novo ano já será melhor». No dia 30 foi visitar a AutoEuropa e repetiu a mensagem: «o pior já passou» e «2004 será o ano da retoma económica». No dia 5 de Janeiro, o PSD fez um tempo de antena onde o tema e a expressão utilizada foram idênticos: «2004 será um ano de recuperação». No dia seguinte, Durão Barroso comentou o relatório do Banco de Portugal e afirmou que o documento confirma que «o ponto mais baixo do ciclo económico já terá passado e os primeiros sinais de retoma estão à vista». Este comentário foi feito quando recebeu em S. Bento dois grupos que foram cantar as Janeiras ao primeiro-ministro. No dia seguinte, em 7 de Janeiro, Durão Barroso recebeu o Governador do Banco de Portugal para analisar a perspectiva da economia portuguesa. No dia 8, o ministro Marques Mendes foi ao Parlamento fazer um discurso onde, segundo a agência Lusa, «elegeu a recuperação económica como a grande meta para 2004. Acabou a recessão. Iniciou-se a retoma e a recuperação’». Saliente-se que nestes dias, de 25 de Dezembro a 8 de Janeiro, o Governo optou por não insistir em veicular qualquer outra mensagem.


Apesar do esforço, a repetição desta mensagem acabou por, nesta altura, ser um fracasso. É que foi seguida de algumas medidas em sentido contrário. No início de 2004 foram anunciados aumentos acima da inflação de alguns produtos e serviços básicos, o preço dos combustíveis teve uma subida assinalável e, pelo segundo ano consecutivo, foram congelados os aumentos salariais da Administração Pública. Para o cidadão comum (e para os sindicatos e algumas organizações políticas) estas medidas eram contraditórias com a mensagem que o governo insistia em transmitir.


O efeito repetitivo nem sempre é do agrado da comunicação social. Nas Legislativas de 2005 foram vários os jornalistas que fizeram uma abordagem negativa da campanha do PS pelo facto de José Sócrates não alterar os elementos centrais do seu discurso. Em termos de ‘graça’ chegavam a compará-lo a um robot.

«Sobe:
Tudo sobre rodas. A campanha do PS funciona - passe a banalidade - como um relógio suíço. Recintos cheios, nenhum discurso fora dos eixos, tudo rigorosamente controlado. A “máquina” guterrista - com Jorge Coelho ao leme - ainda é o que era. Pelo menos por enquanto.
Desce:
A “perfeição” da campanha do PS tem um reverso: o tédio. OS estrategos parecem apostados numa campanha de risco absolutamente mínimo, ou seja, desprovida, em absoluto, de factos noticiosos. Não se passa nada porque a estratégia é precisamente essa. Torna-se difícil citar José Sócrates porque o líder resiste fortemente ao apelo de dizer o que quer que seja de novo
». João Pedro Henriques; Público; 07/02/05

Nos últimos dias, num encontro informal, Sócrates explicou aos jornalistas que tinha um manual de Blair onde um dos conselhos era não alterar o discurso: «repeat and remind».


Ver ainda: Pequenos/grandes erros

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Como Difundir a Mensagem

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B. COMO DIFUNDIR A MENSAGEM

Para se conseguir uma política de comunicação eficaz, depois de avaliado o conteúdo e a forma da mensagem, o passo seguinte é gerir o processo de divulgação dessa mensagem.


A difusão é feita através de suportes pagos e “não pagos”.
Em traços gerais, a opção é entre comunicar directamente com as pessoas ou falar para os jornalistas e, através deles, atingir o eleitorado.

Os suportes pagos são materiais produzidos e divulgados sob orientação da estrutura política ou da empresa contratada para esse fim.
Tradicionalmente este tipo de difusão recorre a técnicas ligadas à publicidade.
A principal vantagem da “publicidade paga” é ser inteiramente controlada. A organização política faz a edição e difusão de todos os elementos que pretende difundir. A principal desvantagem é que os custos são elevados.


A comunicação “não paga” são as referências difundidas através da comunicação social, englobando noticiários ou programas de outra natureza cuja edição é da responsabilidade do órgão de comunicação social.
O principal problema deste processo é que foge do controlo do emissor. Estes são simples interlocutores que, recorrendo a determinadas técnicas, tentam valorizar as suas prestações. Não está nas mãos dos agentes políticos a palavra final no processo de produção. Bem pelo contrário. Nos regimes democráticos onde existe liberdade de imprensa, quem faz os convites, quem define os temas, quem decide o tempo que é atribuído, quem escolhe as palavras e as imagens que serão transmitidas são os produtores/jornalistas.


Nas últimas décadas a comunicação “não paga” tem sido o principal instrumento de difusão da mensagem política e a tendência é para ter um peso ainda maior.
Por um lado, existe um maior interesse das estruturas políticas em organizar as suas actividades em função da comunicação social. Por outro lado, os próprios media, pelo menos em períodos eleitorais, mostram maior receptividade para o tratamento de temas ligados à actividade política.
Segundo o Media Monitor, em 2002, a política foi a editoria com mais notícias nas televisões portuguesas.
Na imprensa, em 1979, no decorrer de uma semana, o DN deu em média 3 páginas por edição à cobertura da campanha eleitoral (note-se que nessa altura, o formato do DN era maior, mas nem todo o espaço era dedicado à campanha). Em 1985 a grelha para a campanha eleitoral aumentou para 5 páginas por edição (já em formato tablóide). Em 1995, o número de páginas dedicadas, exclusivamente, à campanha eleitoral, variou entre 10 e 14 páginas. Em 2002 o DN publicou diariamente um dossier com uma média de 8 páginas e fez quatro manchetes com a campanha eleitoral. Em 2005 criou também um dossier que teve em média 6 páginas. Os espaços de opinião que, com grande frequência, se debruçavam sobre o tema das eleições encontravam-se noutras páginas. Em 2009 o DN também criou uma secção, Especial Eleições Legislativas 2009, e em várias edições chegou a dedeicar 10 páginas às eleições Legislativas.

O Correio da Manhã também aumentou o espaço dedicado às eleições. Em 1979 e em 1985 dedicou 2 a 3 páginas à campanha eleitoral para as Legislativas. Em 1995, o destaque foi ligeiramente maior. O espaço reservado à campanha andou pelas 3 a 4 páginas inseridas num dossier denominado “Campanha na Estrada”. Em 2002 fez também um dossier dedicado às eleições legislativas que, em média, tinha cinco páginas. No decorrer desta campanha eleitoral o Correio da Manhã fez duas manchetes sobre a actividade partidária. Nas legislativas de 2005 o Correio da Manhã seguiu o modelo das eleições anteriores. Nas eeições seguintes também criou uma secção, designada Especial Legislativas 2009, e dedicava em média 5 páginas à campanha eleitoral, além de vários artigos de opinião.

Nas eleições de 2002, o Público foi o diário que deu mais destaque à campanha eleitoral. Em média tinha dez páginas dedicadas às eleições e em três dias chegou às 11 páginas. Em doze dias, o Público fez seis manchetes sobre a campanha eleitoral. Nas legislativas de 2005 foi também criado um dossier sobre a campanha que variava entre as 8 e 10 páginas. Nas eleições seguintes foi o mesmo procedimento. A secção Eleições2009 chegou a ter uma edição com 10 páginas. 

A própria apetência das pessoas em dar atenção a programas de informação em períodos eleitorais parece ser maior. Foi feita a comparação da audiência de noticiários de televisão, numa semana de campanha eleitoral, para as Legislativas de 1995 e dois anos depois. A semana foi de 25 (segunda-feira) a 29 (sexta feira ) de Setembro de 1995 e de 22 (segunda-feira) a 26 (sexta feira ) de Setembro de 1997. A comparação incidiu em dois noticiários que começam às 13 h ( Primeiro Jornal e Jornal da Tarde ) e outros dois noticiários que começam às 20h ( Jornal da Noite e Telejornal ). Na semana em que estava a decorrer a campanha eleitoral, os dois noticiários da hora de almoço tiveram uma audiência média de 18.9% (Jornal da Tarde - 10.7% + Primeiro Jornal 8.2% ). Em 1997, sem campanha eleitoral, esse valor baixou para 15.8% (Jornal da Tarde - 8.4% + Primeiro Jornal 7.4% ). O mesmo se passou com os noticiários do horário nobre. Em 1995 tiveram 30% de audiência (Jornal da Noite - 17.1% mais Telejornal - 12.9%). Dois anos depois, em 1997, sem grande actividade política, a audiência média baixou para 28% (Jornal da Noite - 14.6% + Telejornal - 13.4% ).

Na mesma semana de campanha de 1995 é importante destacar um outro exemplo. Ao longo da semana, o 24h da RTP não ultrapassou os 3.4% de rating. No entanto, no dia 29/09/95 fez uma emissão especial dedicada às eleições (encerramento de campanha) e o rating passou para os 6%.


Outro motivo que salienta a eficácia da mensagem através de suportes não pagos tem a ver com a credibilidade dos políticos.
O espectador acredita mais no apresentador de um noticiário do que num líder político a falar num tempo de antena. Várias sondagens têm revelado que o eleitorado tem uma má imagem da «classe política». (1) Um estudo de 2002 conduzido pelos investigadores Pedro Magalhães e Sérgio Faria revela que «em termos médios, as instituições políticas tendem a ser aquelas em relação às quais os inquiridos declaram ter menos confiança (…) Essa desconfiança é determinada em grande medida pela avaliação negativa que é feita da performance dos agentes e das instituições dos espaços políticos, tanto no que se refere à política feita, propriamente dita, quanto aos resultados que essa política tem na órbita dos interesses particulares de cada um». (2)

Como o atesta Kenneth Galbraith, “A crença que era outrora dedicada ao padre - e, talvez em menor grau, ao mestre escola - é agora conferida aos porta vozes da televisão e da imprensa. Alusões à fonte da crença são universais e automáticas - «li isso num jornal» ou «vi isso na televisão» - e é fazendo referência a algum comentário da imprensa ou da televisão que se iniciam quase todas as conversas políticas, é com o efeito de tais notícias ou análises sobre a opinião pública que se alimenta uma enorme parcela das discussões políticas”.

Para além desta vantagem, uma outra é que, de facto, esta mensagem pouco ou nada pode custar em termos monetários.

Face a todos estes dados, não é de estranhar que já fazem parte do passado as políticas de comunicação assentes exclusivamente na publicidade e no contacto directo do líder com os eleitores através de comícios e longas digressões. Repare-se nas palavras de Cavaco Silva, proferidas em 2002, numa aula sobre jornalismo político: “Perito em «falar por cima da Comunicação Social», como o próprio o diz, o antigo Chefe de Governo gabou-se mesmo de ter ganho as eleições de 1991 contra os jornais. Garante que não recebia chamadas telefónicas de jornalistas e que tudo fazia para passar mensagens sem a mediação desses profissionais.(…) Hoje, admite, tal proeza é mais difícil.»” (3). Seria uma estratégia suicida. Aliás, no decorrer da governação de Cavaco Silva, verificou-se uma evolução significativa. Cavaco Silva teve encontros frequentes com jornalistas, pequenos-almoços com representantes de vários órgãos de comunicação social…. Além do mais, «com aquela expressão ingénua de dizer que não lia jornais, Cavaco Silva era muito sensível à comunicação social. Alguns dos seus melhores improvisos eram cuidadosamente preparados» - Marcelo Rebelo de Sousa, DN 10/12/2003.
O próprio PSD tem mais tarde uma postura completamente diferente e quase levada ao extremo quando se interpreta a frase de Einhart da Paz, o responsável de Marketing político de Durão Barroso (em 2002) e de Santana Lopes (2005), para quem «uma campanha eleitoral é organizada como um espectáculo mediático para os jornais terem matéria» - Público, 22/03/2002.


Apesar da diferença entre comunicação paga e não paga, os dois modos de difusão são complementares e utilizados com grande frequência. «Hoje o conceito é o da comunicação global, misturando “marketing”, publicidade e assessoria de Imprensa» - Luís Paixão Martins; Expresso; 18/10/1997


Esta complementaridade é feita de vários modos. Muitas vezes, o lançamento de uma iniciativa através de material pago é o pretexto para se conseguirem referências nos media. Os líderes do PP, por exemplo, recorreram com frequência à criação de um cenário para os media - afixarem o primeiro cartaz de campanha. Funcionou sempre. Os jornalistas reportavam o acontecimento e ampliavam para milhões de pessoas a difusão da mensagem de um simples cartaz.
A complementaridades destes dois tipos de comunicação é de tal forma eficaz que em alguns países os outdoors não são colocados massivamente nas ruas. Pelo contrário, são produzidos em pouca quantidade, são colocados apenas em alguns locais e a sua grande projecção é através dos media.
O efeito interessante da mensagem e/ou o sentido de oportunidade, leva os media a falar desse outdoor como uma resposta ou um ataque. Ou seja, o cartaz transforma-se em notícia. Se for criado um cenário adequado para dar a conhecer o material, mais potencialidades tem esse outdoor de ser notícia. Poupa-se dinheiro e ganha-se em eficácia.

Um outro exemplo, utilizado em Portugal é alguns partidos darem a conhecer aos jornalistas o conteúdo dos tempos de antena. Esta foi uma prática comum nas legislativas de 95. O objectivo era conseguir cobertura noticiosa. Em quase todos os casos, conseguiram referências na comunicação social, com notícias que antecipavam o conteúdo dos tempos de antena. O mesmo fez Durão Barroso num tempo de antena do PSD no início de 2004. Quase todos os órgãos de comunicação social anteciparam a mensagem que se pretendia veicular – de que a retoma económica ia começar nesse ano – antes do programa ser difundido.
Na Grã-Bretanha, os trabalhistas e os conservadores já tinham recorrido à mesma técnica, em 1992.


Um outro processo que consegue a cobertura noticiosa é o uso de mensagens fortemente emotivas e provocatórias que, em geral, provocam uma reacção hostil do adversário - ou seja, notícias.
Com o polémico cartaz da «Corrupção x 8», o PP quis, de forma simples e directa, assustar o eleitorado com a ideia de que a regionalização iria multiplicar os cargos a distribuir por uma classe política sob a permanente suspeita de ser corrupta. É essa a imagem que muitos portugueses têm dos políticos, pensa o PP. Que a vem, aliás, fomentando desde há vários anos, convencido de que daí retira alguns dividendos eleitorais.” Expresso, 26/9/98; José António Lima

Na campanha do referendo sobre a regionalização, o PP recorreu a vários cartazes com uma mensagem forte. Foi o caso da bandeira nacional rasgada e outros que falavam de corrupção, dívidas X 8. As reacções foram muitas e não se esgotaram nos partidos. políticos.


Na Grã-Bretanha, nas eleições de 1992 ficou celebrizado um clip da autoria do Labour - “Jennifer’s ear” – que dominou a agenda dos media durante três dias (de inicio com resultados fantásticos para os trabalhistas mas, no final foi uma catástrofe, quando se descobriu que a história não correspondia à realidade ).
Inversamente, pode-se aproveitar uma situação que tenha ocorrido, que tenha sido sujeita a cobertura dos media e possa ser posteriormente “explorada” através de publicidade paga.

Um dos melhores exemplos, em Portugal, foi na sequência do debate entre Mário Soares e Basílio Horta, para as eleições presidenciais de 1991. No dia seguinte ao debate, a agressividade de Basílio Horta foi sujeita ao humor de Herman José, numa crónica na TSF. Na mesma semana, um dos tempos de antena de Mário Soares, reproduziu a crónica que tinha um efeito devastador para a imagem de Basílio Horta.

O objectivo de quem concebe estas iniciativas é transmitir uma mensagem coerente entre o que é difundido nos meios de comunicação social e a mensagem que se está a desenvolver através da publicidade paga.


Com frequência, essencialmente em campanha eleitoral, é forte a tentação de gastar dinheiro em materiais de propaganda e no recrutamento de algum pessoal especializado.
Para se ficar com uma ideia só dos custos em empresas de comunicação, em declarações ao Expresso em 18/10/1997, Isaltino Morais afirmou que «fiz uma consulta a três agências e em média pediram oito mil contos por três meses de campanha». Em 2003, numa reportagem sobre agências de comunicação, a Visão escrevia que «soube que, para um cliente privado, os conselhos de imagem oscilam entre os 100 euros à hora e os 10 mil euros por trimestre». Visão; 13/11/2003
Muitas vezes, as organizações de apoio gastam sem qualquer controlo e depois aparecem as contas que ninguém quer pagar ou já se esgotou o dinheiro. O resultado é uma imagem negativa e de desorganização.

Para evitar esta situação, quando da pré-campanha eleitoral, os partidos fazem um rigoroso planeamento dos materiais e das despesas que vão efectuar. Este trabalho permite poupar recursos e evitar que a estratégia de comunicação, por ser demasiado ambiciosa, acabe por ruir antes das eleições. Apesar deste esforço, é frequente a divulgação de alguns problemas, essencialmente a nível autárquico.


Uma última referência para novos sistemas de comunicação electrónicos. Alguns exemplos recentes mostram como já estão a ser utilizados e a eficácia que atingiram.
Um desses exemplos é a difusão de mensagens através de e-mail e SMS.
Depois de algumas experiências internacionais, em Portugal o recurso às mensagens SMS começou a ser feito de uma forma sistemática quando da crise governamental com a saída de Durão Barroso para Bruxelas. Na altura, em Julho de 2004, o Presidente da República tinha de decidir se optava por eleições antecipadas ou convidar a maioria parlamentar a formar novo governo.
Foi através de SMS que foram convocadas três manifestações em frente ao Palácio de Belém. Na primeira vez apareceram algumas centenas de pessoas e, dias depois foram convocadas duas outras manifestações. Uma a favor de eleições antecipadas e outra de apoio a Santana Lopes. As manifestações tiveram uma larga cobertura mediática.
Nunca se soube quem foram os organizadores das concentrações porque este meio permite uma difusão muito rápida e, como funciona em rede, é difícil descobrir o ponto de partida. Nestes casos, foram as mesmas pessoas – ligadas a um partido político - que convocaram as duas manifestações, embora de sentido contrário.
Segundo relata o Independente de 16 de Julho de 2004, os serviços de Pedro Santana Lopes descobriram que estava em marcha a convocação de uma manifestação em seu apoio e tentaram difundir um outro SMS com a seguinte mensagem «A manif pró-PSL hoje em Belém às 19 é uma armadilha, por favor não vá». A verdade é que apareceram cinco pessoas e foi esta a mensagem que passou na comunicação social. Nestes dias surgiram muitas outras mensagens, a maioria críticas para Santana Lopes, como foi o caso da seguinte: «Esta noite todos à Kapital. O nosso PM, dr PSL, vai presidir ao concurso Miss T-Shirt Molhada. As 10 primeiras vão para o Governo».
Uma outra mensagem que teve grande repercussão foi na noite em que Jorge Sampaio anunciou que não convocava eleições antecipadas. Para exemplificar o seu desagrado, a dirigente socialista Ana Gomes puxou do seu telemóvel e leu a mensagem que tinha acabado de receber: «Cumpriu-se Sá Carneiro: um governo, uma maioria, um Presidente!». A mensagem foi repetida em todos os telejornais, noticiários de rádio e imprensa.
Talvez por ter percebido a importância das mensagens de SMS, dois meses depois de assumir a liderança do PSD, Santana Lopes assinou um acordo com a PT para o envio de 90 mil SMS por dia. Esta iniciativa foi acompanhada de uma reformulação dos processos de comunicação do PSD com uma aposta nos meios electrónicos: “Miguel Relvas promete tornar o PSD no partido «mais inovador e competitivo de Portugal». O secretário-geral dos social-democratas preparou uma nova estratégia de comunicação e acção que passa por organizar a máquina partidária («centralizar a gestão, descentralizar a execução»), dotando a sede nacional e as sedes regionais e distritais de novos equipamentos informáticos. Outro dos objectivos é chegar aos militantes e atingir os eleitores («pensar global, agir local»), com a implementação de um serviço de SMS, de mail com ‘newsletters’ e de um Call Center que comportará operações de Telemarketing.” - Barbara Baldaia; Diário Económico; 25/08/2004


Um outro processo de difusão de mensagens que está a ganhar importância é através das redes sociais. Em minbloging ou mesmo nos blogues. Em Portugal é frequente os jornalistas «coscuvilharem» alguns blogues à procura de notícias e um dos mais citados é do
Pacheco Pereira.

logo do blog de Pedro Santana LopesA utilização dos blogues pelos partidos políticos foi uma novidade nas legislativas de 2005. A convite do portal Sapo, Santana Lopes, José Sócrates, Paulo Portas e Jerónimo de Sousa, cada um, criou o seu blogue. Em cerca de 20 dias, estas página registaram 270 mil acessos e estiveram quase sempre no ‘top’ dos blogues mais vistos do portal.
Outros partidos políticos e dirigentes partidários acabaram por criar também o seu blog, como foi o caso do Partido Humanista e de Manuel Monteiro.

Nas eleições presidenciais de 2006, alem dos blogues dos candidatos, surgiram dezenas de páginas alinhadas com algumas das candidaturas. Diariamente a imprensa citava e recolhia informação nestes blogues.

 

Nas eleições Legislativas de 2009 alguns dirigentes políticos continuaram a recorrer a blogues mas a maioria preferiu criar um  site de candidatura e recorrer a redes sociais.

Quase todos os partidos e coligações utilizaram redes sociais para difundir a mensagem e palataformas de alojamento e partilha de fotos e vídeos.

Manuela Ferreira Leite tinha uma página no Facebook, o BE andou no  Twitter, o CDS de Paulo Portas colocou vídeos no Sapo Vídeos e no You Tube, a CDU partilhou fotos no Flickr e o PS tentou criar uma rede própria através do site Sócrates2009.

 


(1) Uma sondagem da Universidade Moderna, divulgada pela TSF/DN em 3 Novembro de 1998, coloca os jornalistas como uma das classes com maior credibilidade. Os professores surgem em primeiro lugar com 72.7% de respostas favoráveis. Seguem-se os médicos com 70%, e depois os jornalistas com 31,6%. Os políticos estão em último lugar, com um saldo negativo de 40%. Passados cinco anos, uma outra sondagem, da TSF Euroteste publicada na Visão de 05/11/2003, é apontado que 77% dos inquiridos acreditam no que relata a comunicação social.

(2) Segundo o mesmo estudo, os portugueses confiam mais na Igreja, Presidente da República, Forças Armadas, União Europeia, Comunicação Social, Institutos de Sondagens, Polícia, Parlamento, Governo, Tribunais e Partidos políticos.

(3) TSF Online 19 de Fevereiro de 2003.

12
Mai13

2. A cobertura dos media

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É essencial para qualquer organização política a cobertura dos media - como também, para alguma comunicação social, é vital uma boa cobertura da actividade política .
Esta necessidade mútua faz da Política o tema dominante da informação na grande maioria dos órgãos de comunicação social.

Saliente-se, neste aspecto, o resultado do estudo «Media Monitor» da Marktest relativa às televisões generalistas em 2002. Durante o ano «foram emitidas 19.450 notícias sobre Política ou com um protagonista político, perfazendo cerca de 738 horas de informação e correspondendo a 23.9% do total de notícias do ano». Comparando as várias áreas editoriais em estudo, «a Política foi a mais exposta em todos os canais» (RTP, TVI e SIC). A ter ainda em conta que «a Política, para além de ter sido o assunto mais exposto em todos os canais, foi também o mais visto em todos eles», o que significa que foi o tema com maior receptividade.

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Fonte: Media Monitor

A importância que as televisões generalistas, atribuem aos assuntos relativos à actividade política é de tal forma grande que mesmo «pequenos» partidos conseguem várias horas de emissão. Segundo o mesmo estudo da Marktest, o Governo em 2002 teve 4.805 notícias que totalizaram mais de 188 horas de emissão. O PS teve 1.682 notícias que permitiram mais de 72 horas de emissão. O PSD teve 1.245 notícias correspondendo a mais de 54 horas. O PCP teve 1.179 notícias o que deu mais de 45 horas. O CDS/PP teve 750 notícias, equivalentes a mais de 33 horas. O Bloco de Esquerda teve 667 notícias que permitiram mais de 28 horas de emissão.
Um outro dado relevante é que, das dez personalidades com maior exposição nos noticiários destas televisões, apenas uma – Mário Jardel – não pertencia à actividade política. Durão Barroso foi a personalidade com mais exposição.

media monitor

Fonte: Media Monitor

É tendo em conta estes valores e a importância que os media atribuem à política que, para muitos dirigentes políticos, a cobertura dos media é uma «obsessão» e para outros é um risco inevitável.

Desde que devidamente organizada e profissionalizada e com alguma capacidade de imaginação conseguir ser notícia não é tarefa impossível.

Para se conseguir a cobertura dos media, as organizações políticas e o governo contratam agências de comunicação e pessoas (habitualmente jornalistas) com bons contactos nos meios de comunicação social. Em algumas destas estruturas há ainda especialistas em “criar” ou aproveitar situações que despertam a atenção dos jornalistas e determinam o conteúdo informativo numa determinada perspectiva, preferencialmente, num momento que seja considerado oportuno.

Esta preocupação em conseguir uma boa cobertura dos media faz com que seja crescente o número de organizações que recrutam assessores de comunicação. Por outro lado, em alguns casos, há a formação de alguns quadros nesta área. Geralmente são auto-didactas mas alguns obtiveram formação especializada em Portugal e no estrangeiro. A troca de experiências e as deslocações frequentes a outros países, integrando-se na «máquina eleitoral» de um partido, são também contributos importantes que recolhem e, em alguns casos, adaptam mais tarde à nossa realidade.

Os próprios dirigentes partidários vão adquirindo muitos destes conhecimentos. De início por necessidade depois, por ansiedade de protagonismo. Pouco a pouco vão familiarizando-se com os jornalistas, com os seus métodos de trabalho, e chegam mesmo a estar muito bem informados sobre o ambiente e as pressões que se vivem dentro de uma Redacção.
Todos estes conhecimentos são ferramentas importantes para conseguirem o objectivo principal: «ter uma boa imprensa».

As organizações que têm contacto frequente com a imprensa preocupam-se em facultar instalações e meios técnicos que facilitam o trabalho dos jornalistas.
Os jornalistas enviam mais depressa o seu trabalho e, não menos importante, consegue-se criar o cenário mais adequado para o ‘boneco’ que aparece nas fotos e nas televisões. Ganha-se ainda eficácia se, por exemplo, o objectivo é garantir transmissões em directo. Por outro lado, os jornalistas ficam concentrado num espaço – não andam ‘à solta’ a falar com as pessoas que encontram nos corredores.

Conselho Ministros
O local onde habitualmente ocorrem as conferências de imprensa deve ter características especiais. Se possível, deve mesmo ser preparado exclusivamente para este fim. (imagens da Presidência do Conselho de Ministros).
Estes espaços têm um cenário com um fundo próprio para televisão, iluminação apropriada, isolamento acústico, ar condicionado (nomeadamente para evitar a transpiração de quem dá a conferência de imprensa) silencioso, cadeiras, uma mesa, fichas para electricidade…

Conselho Ministros
Para o material de recolha das imagens é também reservado um espaço.

A escolha é em função da melhor perspectiva de quem vai prestar declarações.

Outra preocupação é haver “saída de som” para as televisões, de modo a que não seja necessário colocar os microfones na tribuna.

O mesmo se passa em relação às rádios.

Os meios disponíveis permitem a captação de som da conferência de imprensa e ligações Conselho Ministrostelefónicas para as rádios, o que facilita as transmissões em directo.


Terminada a conferência de imprensa, os jornalistas precisam de uma sala para redigir e enviar os trabalhos.

É a ‘sala de imprensa’.

Neste espaço há ligações telefónicas, acesso à Internet, papel, uma televisão, além de um ambiente isolado e cómodo.Conselho Ministros

Todas estas instalações devem estar localizadas num lugar de fácil e rápido acesso e, se possível, com fácil estacionamento. Tudo para facilitar o trabalho e o “humor” dos jornalistas. É nas mãos deles que está o sucesso da iniciativa desencadeada pelo agente politico.

12
Mai13

2.2 Criar cenários

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Como despertar o interesse dos jornalistas para que façam a cobertura de uma iniciativa e a edição do material captado? Esta é uma pergunta frequente em todos os directórios políticos, da administração pública, sindicatos, grupos de pressão….
A resposta a esta pergunta é a criação de cenários que cativem a atenção dos media. São os chamados «pseudo-acontecimentos» que, segundo Daniel Boorstin, citado por Brian McNair (1), têm as seguintes características: «não são espontâneos; foram planeados; são criados para serem reportados ou reproduzidos e são concebidos em função dos interesses dos media media; o seu sucesso mede-se pela amplitude da sua cobertura; a sua relação com a realidade subjacente à situação é ambígua e, geralmente, visam a autopromoção.»

Um número significativo de histórias relatadas na comunicação social são «pseudo-acontecimentos» e muito do esforço dos gabinetes de comunicação é preparar estes eventos.
Os próprios jornalistas já manifestam algum desconforto por estarem de forma quase permanente a trabalhar este tipo de acontecimentos. Curiosamente, segundo conta ainda Daniel Boorstin, o «pseudo-acontecimento» tem origem na própria comunicação social que precisava de notícias para manter as impressoras todos os dias em actividade. A pressão aumentou com o surgimento das televisões e hoje são os jornalistas que se queixam de só fazerem trabalhos de «agenda» e de se limitarem a servir de «pé de microfone», porque o trabalho diário é reportar conferências de imprensa e acontecimentos semelhantes preparados pelas estruturas de comunicação das várias organizações.

«Durante os períodos turbulentos o acontecimento cria as ocasiões e força a atenção, porque ele comporta o inesperado ou inquietante. Durante os períodos mais calmos, pseudo-acontecimentos fabricados servirão para alcançar os mesmos resultados.
Na sociedade dos media, a acção política alimenta-se do acontecimento, é o motor das dramatizações que a constituem e mantêm.
» - Georges Balandier

Para a criação destes cenários, por vezes, nem se exige grande imaginação. Basta tentar aproveitar uma oportunidade. Por vezes é muito simples: dia 8 de Março de 2003, Dia Internacional da Mulher. O então Presidente da República teve um encontro com mulheres imigrantes, no decorrer de uma Presidência Aberta dedicada à imigração. Por sua vez, O primeiro-ministro almoçou com meia centena de mulheres polícia. Os dois «acontecimentos» tiveram uma boa cobertura dos media.

Outros exemplos simples: se o Parlamento discute uma matéria ou o Governo vai anunciar uma medida, perante esta oportunidade, antecipa-se uma conferência de imprensa; visita-se um local simbólico alusivo ao mesmo tema e expõe-se situações de casos concretos; vai-se à porta do Parlamento ou de um ministério; divulga-se um relatório ou um estudo…
No final de Outubro de 2003 reuniu-se a Comissão Política do PS, «uma reunião decisiva» para a liderança de Ferro Rodrigues, conforme era referido na comunicação social. O encontro foi antecipado de um debate nos media, sobre a necessidade de o PS realizar um congresso extraordinário devido ao caso Casa Pia. Nestes dias, Manuel Maria Carrilho esteve silencioso. No dia da reunião, a manchete do DN era uma carta de Carrilho a distanciar-se da liderança de Ferro Rodrigues. As rádios passaram nos noticiários da manhã alguns excertos do documento. A meio da manhã reuniu-se o Grupo Parlamentar do PS e Carrilho esteve presente mas não precisou de falar porque a carta divulgada pelo DN estava presente nas perguntas dos jornalistas aos outros deputados. Os jornais televisivos da hora de almoço deram também largo destaque a Carrilho. À noite, nos directos das televisões, a carta de Carrilho foi referida em todas as intervenções dos jornalistas. Na própria Comissão Política o documento foi analisado. O «número» foi feito antes e pelo facto de ter sido divulgado no próprio dia da reunião marcou a jornada informativa nos meios audiovisuais. Condicionou a agenda do PS e colocou Manuel Maria Carrilho no centro da atenção dos media.

Um cenário é, frequentemente, a construção de um “happening”, que desperta a atenção dos jornalistas e, através deles, faz chegar a mensagem ao público.
Quando é bem planeado, não se limita a despertar a atenção dos media. É concebido para maximizar os interesses de quem o organiza. Faz parte de um processo de construção ou consolidação da imagem de quem promove a iniciativa.
Por outro lado, estes pseudo-acontecimentos não têm como fim responder ou lançar reptos aos políticos adversários. Isso é o pretexto. O alvo é o público. A mensagem é dirigida ao eleitorado e o jornalista serve como intermediário.

Como na grande maioria dos casos estes pseudo-acontecimentos são planeados com grande antecedência é possível fazer uma preparação cuidada.

Podem demorar apenas alguns minutos – uma declaração ou conferência de imprensa –,ou vários dias – as Presidências Abertas ou a volta do líder em campanha eleitoral.

Podem ser concebidos quase exclusivamente para as televisões – os congressos dos maiores partidos – ou para a imprensa – uma carta aberta.

Podem viver de um único momento – um discurso - ou são associados a iniciativas desencadeadas por outras entidades – comentários sobre um escândalo que tenha sido descoberto pela investigação judicial.

Podem ser desencadeados para entrar em directo nos telejornais das televisões – começam cerca das 20h – ou a aposta é os noticiários da manhã nas rádios e com desenvolvimento ao longo do dia – começa às 08h e assegura-se a disponibilidade ao longo do dia para outros órgãos de comunicação social.

Em períodos de grande agitação política, quando do planeamento destes «pseudo-acontecimentos», é igualmente avaliada a capacidade de resposta dos adversários. São estudados os melhores processos para minimizar os efeitos das iniciativas dos oponentes.
Nas acções que se prolongam por algum tempo são introduzidos dados novos que possam constituir interesse permanente para o público, O tema central da mensagem é o mesmo. Pode variar o emissor, o canal, a forma da mensagem, mas o tema permanece.
Por vezes, até são complementares os vários cenários:
a) numa conferência de imprensa divulga-se alguns documentos;
b) a actividade do líder nesse dia incide numa acção dedicada ao mesmo tema onde pode revelar mais pormenores;
c) outros dirigentes prestam declarações ou participam em iniciativas alusivas à mesma temática (p. ex. um requerimento na Assembleia da República);
d) incentivam-se outras organizações ou entidades a manifestarem-se;
e) provoca-se o adversário com desafios, reptos….
Um exemplo: no dia 16 de Fevereiro de 1998, numa segunda-feira, o PSD lançou a ofensiva da ausência de concursos públicos na administração pública - 1700 pessoas entraram sem concurso, segundo as histórias publicadas em vários órgãos de comunicação social logo pela manhã. Ao longo do dia, vários dirigentes do PSD comentaram as reacções dos membros do governo. Na terça-feira Marcelo Rebelo de Sousa falou da possibilidade de ser apresentada queixa na Procuradoria-geral da República e, no jornal Público, a deputada Manuela Ferreira Leite escrevia um artigo de opinião sobre esta questão. No mesmo dia, o PSD afirmou ir pedir um agendamento na Assembleia da República sobre o mesmo tema. No dia seguinte um deputado do PSD fez uma intervenção no Parlamento adiantando que o governo já tinha feito seis mil nomeações. Através deste processo, o PSD conseguiu manter o mesmo tema na agenda dos media durante, pelo menos, três dias. O PSD mostrou empenho e provocou uma situação de desgaste no governo.

Sempre que possível, e essencialmente em campanha eleitoral, é feita a articulação destes cenários com a mensagem que é difundida a nível regional. Todos falam a “uma só voz” e a mensagem ganha eco em todo o país.

Na segunda semana de Setembro começam os comícios diários com os cabeças de lista e a volta do líder pelo país.«Apostaremos na cenografia da própria campanha, articulando as voltas dos cabeças de lista com a volta de Paulo Portas, de forma a criar uma vaga de repetição, para que os efeitos se multipliquem»”. Esta foi a estratégia do PP nas legislativas de 1999, e explicada ao Público de 5 de Julho de 1999 por Jorge Alves da Silva, na altura o responsável pela imagem do CDS/PP.

Um dos melhores exemplos foi a candidatura de Bill Clinton em 92. Todas os dias as estruturas regionais e locais eram informadas do tema e do discurso que o candidato ia utilizar. Estas estruturas adaptavam esse tema às questões locais e regionais, preparavam um conjunto de iniciativas e lançavam o material para os media. O resultado era Clinton ver repercutida a sua mensagem, praticamente por todo o país e espalhada por milhares de apoiantes.
Um outro exemplo: nas eleições de 1993 em Espanha, todos os dias, antes das 11h, a Esquerda Unida enviava para todos os candidatos um fax com as linhas fortes da mensagem a difundir nesse dia.

Em muitas circunstâncias a produção destes pseudo-acontecimentos exige equipas muito grandes, profissionais e orçamentos elevados. O efeito que se quer atingir só é possível nestas condições.
Algumas iniciativas, como por exemplo convenções partidárias e deslocações de chefes de governo ou do Presidente, exigem muito trabalho prévio e uma equipa profissional que planeia quase todos os passos.
Ainda estamos longe do que se faz, por exemplo, nos Estados Unidos da América, mas a tendência vai nesse sentido, pelo menos no que se refere aos dois maiores partidos e ao governo e Presidência da República. O que se faz nos EUA, em muitos aspectos, revela como ainda estamos num patamar muito amador.

Em plena guerra do Vietname, a marinha dos Estados Unidos criou uma escola de elite para os chamados melhores pilotos de caça, para apenas um por cento dos melhores. Esses pilotos passaram a chamar-se Top Gun.
Disto fez-se um filme com Tom Cruise.
Foi inspirado neste filme que os assessores de George Bush – filho – o levaram a aterrar a bordo de um caça na pista do porta-aviões USS Abraham Lincoln, ao largo de San Diego, no princípio de Maio de 2003.

Vestido de Tom Cruise, quando este se veste de piloto de caça, Bush abraçou-se aos verdadeiros pilotos, escolhidos especialmente para a recepção ao Presidente. O mesmo equipamento para reforçar a ideia de pertença ao restrito universo Top Gun, um casting atento para que nenhum grupo racial fosse esquecido nas imagens a produzir e a obrigatoriedade de que nenhum dos intervenientes fosse mais alto que o protagonista.
Fez-se filmar e fotografar, sorridente, e entrou nos seus aposentos para mudar de roupa. Vestiu um fato escuro, camisa branca e gravata vermelha. O clássico.

E esperou. Esperou que lhe viessem dizer que tinha chegado o momento de voltar a descer a pista, dirigir-se a um palco aí instalado e iniciar o discurso em que anunciava o fim – pensava ele – das hostilidades no Iraque. O fim da operação choque e espanto. Atrás dele num enorme telão podia ver-se “Missão Cumprida”. (…)
Esta encenação terá sido uma das mais caras na história da comunicação. Um milhão de dólares para deslocar um porta-aviões com o nome de um dos fundadores da nação americana – tripulação e comunicação social. (…)

O correspondente do New York Times falou de uma equipa de especialistas para criar um cenário, uma coreografia, uns adereços e um texto pensado para que a eficácia fosse máxima (…)
À mesma hora, em Indianápolis, sete mil pessoas assistiam pela televisão ao discurso do presidente. A ideia era filmar a assistência local para depois editar e emitir mais tarde
.” - Henrique Cayatte; Revista EGOÍSTA; Dezembro 2003

Se a imagem que existe é dos políticos tentarem a todo o custo promover-se através dos media, por vezes o efeito é o contrário - são os media que “apanham” os políticos. Alguns, mais inexperientes, sentem-se “no fim do mundo” fora dos centros urbanos, longe dos jornalistas, e perante tal “liberdade” recorrem a gracejos e posturas que podem ferir susceptibilidades. Há, no entanto, sempre alguém que pode contar a outras pessoas, pode haver um jornalista no meio da assistência…
Foi assim que em 1991, o então ministro do Ambiente, Carlos Borrego, foi obrigado a sair do governo, depois de ter contado uma anedota sobre o alumínio nos alentejanos (anedota alusiva ao caso de hemodiálises de Évora em que morreram 20 pessoas). O resultado foi a sua demissão.
Em outras situações, porque não se resguardam, os políticos acabam por «danificar» a sua imagem ou «desbaratar» os objectivos. Um exemplo: António Guterres foi algumas vezes criticado no seu “inner-circle” por responder sempre às perguntas dos jornalistas. Guterres falava sobre temas que, em princípio, cabia aos ministros responder, e em muitos casos era criticado por não «saber gerir o silêncio». Também criticada era a forma como Guterres se tentava esquivar às perguntas - «Muito obrigado. Boa Tarde», virava as costas para as câmaras de televisão - e após a insistência de um jornalista, acabava por se voltar e responder. Para um primeiro-ministro que era acusado de falta de autoridade e de indecisão, esta postura reforçava a imagem que os adversários políticos tentavam explorar.

 

(1) Introduction to Political Communication;Brian McNair; Routledge; Londres; segunda edição, 1999

12
Mai13

2.3 Tipo de cobertura pelos media

rgomes

Em termos gerais, existem 5 géneros de cobertura pelos media da actividade política:
- entrevista;
- depoimento;
- reportagem/tratamento informativo de iniciativas;
- comentário;
- debates.

Qualquer uma destas abordagens pode ser feita em directo ou gravada. A decisão é dos jornalistas ou produtores de informação mas, em alguns casos, também é relevante a opinião e a disponibilidade dos políticos.


A mais-valia do directo é que se fala directamente para o público, sem o filtro do jornalista.
Habitualmente também se consegue uma exposição ligeiramente maior. O jornalista receia que o político possa dizer algo de importante a seguir e não lhe corta a palavra.
Numa contagem feita a oito noticiários televisivos em 1997, foi possível chegar aos seguintes números: as declarações dos políticos sem qualquer interrupção, quando são gravadas, têm em média 17.6 segundos. Se forem em directo, a média passa quase para o dobro - 33.7 segundos (1). A declaração mais longa, em todos os noticiários televisivos estudados nessa altura, foi de dois minutos. Foi um directo no Jornal da Tarde (RTP) do dia 23/10/97. O então ministro Ferro Rodrigues falou directamente para os telespectadores, sem qualquer interrupção durante os dois minutos na apresentação das conclusões do Conselho de Ministros.

Uma outra comparação que exemplifica bem a vantagem do directo, ocorreu na SIC, também no dia 23/10/97. No Primeiro Jornal o Director Geral dos Serviços Prisionais falou durante 2 minutos e 52 segundos. Cada resposta às várias perguntas, teve em média 40 segundos. Mais tarde, no Jornal da Noite, a mesma declaração, depois de ser montada, teve 43 segundos e cada resposta teve em média 21.5 segundos.

Foi tendo em conta os factores atrás referidos que, algumas organizações - dos mais variados sectores - começaram a criar cenários para conseguir directos das televisões em horário nobre.


Em Portugal, particularmente em períodos de grande agitação política e social, os titulares dos principais órgãos de soberania agendam as comunicações para a hora dos telejornais, garantindo quase sempre a cobertura em directo.

Cavaco Silva disse em 2003, numa aula sobre comunicação política que, em 1991 «tudo fazia para passar mensagens sem a mediação dos jornalistas». Perito em «falar por cima da Comunicação Social», como o próprio o disse, o antigo chefe de governo adiantou que procurava comunicar directamente com as pessoas, em discursos transmitidos em directo na televisão - fez 12 em dez anos, «com boas audiências» -, em visitas de trabalho e campanhas eleitorais, para que as suas mensagens não fossem «filtradas» pelos «media».


Esta preocupação de garantir o directo é tão grande que os políticos – ou os seus assessores – chegam a inventar argumentos para justificar o atraso duma iniciativa. Os jornalistas já percebem que nada começa enquanto uma das TVs não entrar em directo.


A cobertura dos media incide no líder, em colaboradores próximos ou na restante estrutura política. Algumas vezes até são notícia os apoiantes (Tino de Rãs foi vedeta num dos congressos do PS) .


Para evitar grande sobreexposição e «reservar» o líder para os assuntos mais relevantes as estruturas de comunicação sugerem o recurso a outros protagonistas.
ão instituídos porta-vozes ou responsáveis por determinadas áreas temáticas e funcionam como uma cortina de protecção do líder. Podem ainda reforçar o discurso do líder, propagar as ideias chave…e evitar uma exposição excessiva do elo central do projecto.

Sobre a Caravana da «Nova Maioria», em 1995:
«O secretário-geral do PS tem-se propositadamente abstido de censurar o Governo ou o partido do Governo. Desde logo, porque um dos seus objectivos principais é o de entrar no eleitorado moderado do PSD. Por isso, deixa o ónus da censura política e das críticas mais duras a homens como Jaime Gama, Jorge Coelho, Jorge Lacão e outros dirigentes socialistas. (…) Ao deixar a artilharia pesada à responsabilidade de outros, o líder socialista poupa-se e apenas guarda para si certo discurso de Estado. Aparentemente com êxito.» José Manuel Saraiva; Expresso; 27/05/95


Um outro cuidado das estruturas de comunicação é saber antecipadamente as condições em que vai ter lugar uma acção para a qual foi convidado um dos responsáveis políticos. Com quem se vai dialogar, qual o tema da conversa, se há comentadores ou comentários posteriores, se as declarações são editadas na íntegra ou se ainda serão sujeitas a uma edição, se é possível ver o trabalho final antes de ser editado e a data prevista para a edição do trabalho jornalístico. Por precaução, alguns assessores querem ainda saber se há recolha de imagens – vídeo ou fotos (no caso de TV e imprensa) - para que o protagonista vá vestido adequadamente e seja escolhido um cenário adequado.


Com grande frequência políticos de segundo plano aceitam os convites dos órgãos de comunicação social e nem questionam as condições.

Com os líderes partidários ou chefes de governo a situação já é diferente.
Porque existe uma grande concorrência entre os vários órgãos de comunicação social para conseguir um depoimento ou uma entrevista destes dirigentes políticos, eles acabam por ter algum poder para impor condições. Quase sempre com sucesso.


Aos gabinetes de comunicação cabe fazer o trabalho preparatório.
Chega-se ao pormenor de recolher dados sobre as audiências e adequar a mensagem ao tipo de pessoas que vai consumir esse produto.

É ainda feita uma reflexão sobre a melhor forma de expor uma ideia.
O objectivo é ir já com um raciocínio elaborado, o que permite uma exposição mais clara, sem hesitações e sem erros de interpretação. Muitos políticos têm o hábito de se queixarem de que foram mal interpretados mas, na verdade, estes equívocas devem– se a culpa própria.
É igualmente fundamental ter um bom conhecimento da língua e da matéria de que se vai falar.

 

O erro
Um outro aviso recorrente para quem vai ser alvo da cobertura dos media é evitar erros. Quem os comete não tem perdão dos adversários e dos jornalistas.
Os adversários políticos são provavelmente os que tiram maior proveito de um erro cometido por um dirigente político. Não são, no entanto, os únicos. Existe uma estranha satisfação por parte do público e dos jornalistas em humilhar pessoas com grande notoriedade que acabam por fazer ou ser vítimas de autênticos disparates.

A própria opinião pública também pode condicionar os jornalistas a seguirem este caminho. Ronald Kuntz conta o caso de um político brasileiro que questionou um editor chefe, de um importante jornal, sobre os motivos que levaram os jornalistas a serem tão agressivos com a sua candidatura. A resposta foi que os jornais não podiam remar contra a maré, contra a imagem negativa que estava consolidada na opinião pública. Quem o fizesse desgastava-se e perdia credibilidade.


Em Portugal esta é também uma situação frequente. Em 2001 e 2002, o comentário político e a perspectiva dos jornalistas era quase unânime em considerar que Durão Barroso não tinha capacidade para levar o PSD ao poder. Quando o conseguiu, passou-se para a situação contrária – Durão estava a ganhar «carisma», capacidade de liderança e a fazer uma gestão correcta dos dossiers mais complexos. Poucos estiveram contra esta «maré» e quando o faziam eram suspeitos de ter uma visão interesseira.


A tendência da comunicação social em explorar os erros (gafes, incidentes, mau estar interno…) é também uma forma de fugir ao controlo que as várias estruturas políticas exercem nas acções que desencadeiam.
Como tudo é planeado com rigor, como o discurso do líder é por vezes o mesmo ao longo de vários dias (situação que manifestamente não agrada à comunicação social, que prefere a novidade e a variedade), o resultado é que o jornalista prefere valorizar situações imprevistas.

É o que sucede com frequência nas campanhas eleitorais. Perante um tema que é levado à exaustão, os jornalistas preferem ultrapassar o efeito repetitivo, recorrendo a depoimentos de populares ou a situações imprevistas.
Outras vezes, o próprio jornalista, para “dar a volta” ao “guião”, prefere avançar com uma perspectiva peculiar e até sensacionalista.

Dos exemplos mais recentes, em Portugal, podem-se referir dois casos que tiveram lugar antes das eleições legislativas de 1995 e outro no decorrer da campanha de 2002.
Um deles teve a ver com António Guterres que não sabia fazer as contas relativas a uma parcela do PIB para a saúde.

Foram imagens exploradas pelas televisões durante vários dias e também pelo PSD.
Outro exemplo ocorreu com Valentim Loureiro “Na altura, Valentim Loureiro, no meio de um intervenção acalorada e muito aplaudida, anunciava a chegada de Fernando Nogueira e gritou «Guterres, Guterres». Sorrindo, emendou e começou a gritar «Gondomar»” - Público, Setembro 1995.

O terceiro exemplo não é propriamente um erro ou um disparate, mas antes uma mensagem que pode ser mal interpretada. A autora é a mulher de Durão Barroso no penúltimo dia da campanha eleitoral de 2002.

«No final de sua intervenção, em homenagem ao marido, declamou o poema “Sigamos o cherne” de Alexandre O’Neill:

Durão Barroso e a mulherSigamos o cherne, minha amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria…
»

Os adversários políticos e muitos jornalistas ainda hoje falam no «cherne» e, na altura, foi motivo de muitas brincadeiras que visavam denegrir a imagem de Durão Barroso.
O curioso e, talvez, o mais interessante é que este caso acabou por ter um efeito positivo na campanha do PSD. Segundo Einhart Jacóme da Paz, o técnico de marketing político que assessorou a campanha de Durão Barroso, «tivemos um crescimento muito grande entre as mulheres.
De um dia para o outro, crescemos cinco por cento (…) Qualquer mulher, mesmo a mais feminista, não gosta de ver outra a ser atacada como Margarida Uva foi por aquele bando de marmanjos. Isso vitimou-a e muitas mulheres optaram por votar por ela».
O próprio Einhart, nesta entrevista ao Independente de 22/03/2002, afirmou que «adorava ter criado aquilo, mas é impossível. (…) Independentemente de qualquer motivo, era um gesto de carinho numa campanha extremamente racional, árida e chata.»

Para evitar que alguns destes problemas ganhem maior projecção, ou para salvaguarda de interpretações erradas por parte dos jornalistas, algumas assessorias fazem gravações das declarações. Noutros casos, pedem ou asseguram uma cópia do que foi difundido.
Dou um exemplo: o dirigente do PS, Jorge Coelho, disse numa reunião, no Porto, que se demitiria dos cargos partidários se o processo da regionalização não tivesse qualquer avanço até ao final da legislatura. Dias depois, o PS/Porto aprovou um calendário para a regionalização, onde era proposta a realização do referendo no dia 25 de Abril de 1998. Passado algum tempo, quando se constatou que, afinal, essa data proposta para o referendo era inviável, um semanário confundiu uma coisa com outra e afirmou que Jorge Coelho devia demitir-se, porque teria afirmado que abandonava o lugar se a regionalização não fosse referendada em Abril de 1998. Aproveitando a deixa, vários dirigentes do PSD e PCP repetiram esta frase. Com este efeito repetitivo, o erro quase que passou a uma verdade difícil de desmentir. Alguns jornalistas, só acreditaram no desmentido, quando confrontados com recortes de jornais e uma gravação áudio das declarações de Jorge Coelho.

Mais três notas:

Controlar o fluxo de informação
Em iniciativas muito importantes, a informação é reservada apenas a algumas pessoas de confiança do líder. Apesar de alguns dirigentes ficarem «ressabiados» porque não foram informados. O problema é que muitos políticos não resistem a mostrar aos jornalistas que pertencem ao “inner circle”, que sabem o que se passa, ou seja, que são ‘importantes’ e acabam por fazer revelações indesejáveis. Outros, nada sabem e especulam, provocando assim uma série de equívocos.

Cavaco Silva sofreu várias vezes deste problema e chegou a confessar que «nada mais o irritava do que as fugas de informação».

 

Tak Shows - entretenimento
Um outro elemento que, por vezes, causa alguma estranheza é aceitar convites para programas que não têm grande audiência.
Em alguns casos não se trata de um erro mas antes, tentar atingir um público que tem pouco contacto ou disponibilidade para ouvir mensagens políticas. Por exemplo, se for importante atingir um público jovem, há quem não despreze participar em programas de entretenimento que se dirigem quase exclusivamente a esse público.

Há uma preocupação acrescida de se articular a mensagem com a linguagem que é utilizada nesses programas, sem transfigurações, sem por em causa toda a imagem que se foi construindo.
Em alguns casos estas participações até potenciam outro tipo de abordagens.
Quando Bill Clinton foi tocar saxofone no programa de Arsenio Hall Show, a imagem correu o mundo. As sondagens nos EUA (que são diárias em tempo de campanha eleitoral) mostraram bem o efeito desta presença.

Durante uma campanha presidencial nos EUA, Perot participou em 48 ‘talk shows’, Clinton em 33 e Bush em 16. (2) George Bush foi o que teve menos participações porque, na fase inicial, considerava que o seu estatuto (de Presidente) não era coerente com entrevistas em ‘talk shows’. Só que, avaliado o sucesso destas presenças, decidiu depois aceitar os convites. Clinton aproveitou as participações nos ‘talk shows’ para se dar a conhecer aos norte-americanos. Através de um estudo qualitativo foi concluído que o eleitorado ignorava muitos dados pessoais. Através da presença neste tipo de programas, em alguns casos, com conversas intimistas, Bill Clinton aproveitou a oportunidade para revelar algumas das suas características mais pessoais.

Nas eleições de 2004 os candidatos Democratas também recorreram a este tipo de programas e John Edwards até anunciou a sua candidatura a vice-presidente no programa The Daily Show. John Kerry, depois de uma série de ataques, teve a sua primeira entrevista no mesmo programa. «A decisão de Kerry em aparecer no Daily Show suscitou admiração, por se tratar de um programa que faz humor a partir da realidade. Um porta-voz democrata justificou a escolha afirmando que a presença no programa permite conquistar os votantes mais jovens». (3)


Em Portugal não tem havido muitas destas experiências. Na história recente os casos mais conhecidos foram as participações no programa “Parabéns” de Herman José e em 2009 nos Gato Fedorento.
Num programa de Herman José, Janeiro de 1999, a então ministra do Ambiente. Elisa Ferreira teve a melhor participação pública na defesa do processo da co-incineração. Num ambiente descontraído, com algum humor, Elisa Ferreira conseguiu explicar a diminuição de riscos para as populações e, o mais importante, conseguiu incutir alguma confiança às pessoas sobre as vantagens da solução escolhida pelo governo.

 

Em 2009, na série Gato Fedorento Esmiúçam os Sufrágios, assistimos a um dos momentos mais marcantes na participação de dirigentes políticos em programas de entretenimento no decorrer de uma campanha eleitoral.
Um dos exemplos foi a presença da lkíder do PSD. O programa teve quase dois milhões de espectadores e um share de 46,5 por cento. Foi o décimo programa mais visto do ano
. Superior aos debates entre os líderes partidários, antes da campanha eleitoral.

Um outro dado que deve ser tido em conta é a popularidade de programas como o «Contra Informação» que moldam significativamente a imagem de um político. A expressão «ganda noia» está ligada a Marques Mendes e popularizou-se, como também «o Coelhone», «o Tonecas» e «Santana Flopes». É por este nome que muitas pessoas tratam estes políticos e alguma da imagem que têm deles é moldada pelas características com que aparecem no programa.

Rumores

Uma outra regra é evitar o arrastamento de situações equívocas. Mais se justifica se o ponto de partida for um rumor. Depois de confirmados os dados, não se perde tempo. A resposta tem de ser muito rápida, através de um desmentido.
O rumor não pode ganhar novos contornos e, por vezes até, uma falsa credibilidade.

«O caso não deve ser exagerado. É por isso que todo o mundo começa a refutação com aquelas palavras “apenas em respeito aos meus amigos e àqueles que me conhecem, venho abordar…” (…) Escolher apenas o que seja pertinente ao boato. Não abra nenhum novo assunto ou tema. Fique sempre estritamente dentro da área do boato. Boato é câncer: não seja você a provocar a metástase para o corpo todo. (…). Não fique com raiva. Reaja com calma, frieza, distanciamento, superioridade».


Em alguns casos, o esforço chega ao ponto de as estruturas de imprensa telefonarem para as Redacções para «desmontar» de imediato a possibilidade de o rumor vir a ter qualquer tratamento jornalístico.


A proliferação de rumores e de intriga permanente levou mesmo Cavaco Silva, como primeiro-ministro, a fazer uma comunicação ao país à hora do Telejornal.

Noutros caos, o mais recorrente é uma declaração à agência Lusa. Foi, por exemplo, o que fez António Costa em Outubro de 2003. Numa reunião com deputados do PS usou uma frase que gerou uma interpretação de distanciamento em relação à liderança de Ferro Rodrigues. Pouco depois, disse à Lusa que estava «solidário» com o líder e o objectivo era «estancar» a especulação – e também dar um sinal de apoio a Ferro Rodrigues. Pelo que se soube mais tarde, quando o então líder socialista teve conhecimento da primeira declaração de António Costa ameaçou demitir-se. Com a declaração à Lusa, rapidamente se difundiu o depoimento a todas as redacções e conseguiu-se atenuar os efeitos negativos da informação inicial.


Em outros casos, por exemplo a especulação sobre uma remodelação, os gabinetes dos chefes de governo costumam emitir comunicados a desmentir esses rumores.
Ao contrário, se for uma situação delicada que esteja a ser colocada inesperadamente e que corresponda à realidade, os gabinetes de imprensa preferem ganhar tempo, pedindo ao jornalista para voltar a telefonar mais tarde.

O objectivo é permitir uma resposta que «controle os estragos». Nestes casos, não é invulgar que o visado até se pronuncie antes da difusão da notícia. Um exemplo foi a demissão do governo de António Vitorino antes da publicação do caso da Sisa num monte alentejano. Ao antecipar-se, de certa forma, esvaziou o impacte da notícia que era manchete num jornal no dia seguinte .
O mesmo não fizeram os ministros do Ensino Superior e dos Negócios Estrangeiros no caso da «cunha» em Outubro de 2003. (ver estratégias de defesa e ataque)

 

(1) Estes números foram obtidos a partir da contagem de declarações de dirigentes políticos e governamentais em quatro noticiários da RTP - Jornal da Tarde de 22/10/97; 23/10/97; 24/10/97 e Telejornal de 24/10/97 - e da SIC - Primeiro Jornal de 22/10/97; 23/10/97 e Jornal da Noite de 22/10/97 e 2310/97.
(2). Spin Control
(3) . Diário de Notícias de 26/08/2004
(4) Como vencer eleições usando Tv e Rádio; Sérgio Arapuã de Andrade; Livraria Nobel; São Paulo; 1996

10
Mai13

Comentário

rgomes

O comentário é cada vez mais frequente nos media portugueses e assume uma importância significativa.(1)


Por outro lado, o peso do tema de Política Nacional é significativo.

Num estudo publicado em Janeiro de 2008 "O Comentário Político e a Política do Comentário", Rita Figueiras concluiu que 42 por cento dos trabalhos publicados eram sobre política nacional. Em segundo lugar, com 10 por cento surgiam comentários sobre política internacional. Este estudo incidiu sobre Opinião publicada entre 2000 e 2005 no Expresso, Público, Diário de Notícias e Visão.

 

A opinião, o comentário tem uma forte capacidade de influência.

Por um lado, é uma mensagem fortemente persuasiva porque assenta numa imagem de imparcialidade. Por outro lado, é frequente o comentário ser feito por especialistas nessa área, o que reforça a credibilidade.

Segundo Benjamin Page, em Who Deliberates, «investigações mostram que a opinião destes especialistas transmitido nos media tem um impacte significativo na opinião pública. Os especialistas são apresentados nos media pelas suas credenciais (…) mas a sua escolha tem ainda a ver com a disponibilidade para participarem assiduamente, a capacidade de comunicação e de produção de sound bite». (2)

 

O sociólogo Villaverde Cabral, em declarações ao Público de 10/10/2004, admite que, directamente é reduzida a influência eleitoral dos comentadores, mas têm, um papel importante na determinação da agenda e «de forma geral, embora tecnicamente discreta, na orientação da opinião pública».

 

Deve-se ainda ter em conta que o comentário consegue atingir uma audiência significativa. Na forma do «comentador», do «editorial», do «mais e menos da semana» ou do texto de opinião.

Por exemplo, quando Marcelo Rebelo de Sousa fazia comentários no domingo à noite na TVI, o «Jornal Nacional» tinha em média mais de um milhão e meio de telespectadores e um «share» superior a 30 por cento. «A evolução do número de espectadores vai habitualmente crescendo até ao final do programa quando o professor fala» (Diário Económico de 07/10/2004) e «o Jornal Nacional de domingo tem-se posicionado nos três primeiros lugares do ‘top’ de programas mais vistos, normalmente acima das posições dos dias de semana» - Público de 07/10/2004.

Segundo o Expreso de 4 de Outubro de 2008, após a passagem de Marcelo Rebelo de Sousa para a RTP, "em 2005, segundo a Marktest, o professor estreou-se na RTP com um share de 38,4 e a média do 1º ano foi de 25,5. Este ano, o share médio está nos 21,6 e já é mordido pela concorrência. As últimas Notas Soltas de (António) Vitorino registaram 24,5 e Marcelo ficou-se pelos 21,5".

Em 2013, com o regresso de Marcelo à TVI a audiência rondava os 1,6 milhões de telespectadores. Quase à mesma hora, na RTP1, José Sócrates oscilava entre os 750 e 970 mil espectadores.
Segundo reportagem do Público, em 12 de Maio de 2013, Marcelo liderava na TVI acima de 1.4 milhões de telespectadores, seguia-se Marques Mendes na SIC com perto de um milhão e Morais Sarmento e José Sócrates por volta de 600 mil telespectadores.

 

Rita Figueira fez uma tese sobre «Os ‘opinion makers’ na Imprensa de Referência Portuguesa» e verificou que a partir da segunda metade da década de 90 aumentou significativamente a visibilidade dos comentadores. Na primeira página dos jornais começou a ser habitual a chamada para artigos de opinião. Alguns destes artigos são também colocados em páginas de destaque, como é o caso da última página.
O trabalho incidiu sobre seis jornais e um outro dado revelado é que nos anos 80 há 209 comentadores, 33 por cento são académicos, 22 por cento são políticos e 42 por cento são jornalistas. Na década seguinte o número de comentadores aumentou para 321 e a maioria são políticos (42 por cento), seguidos de 22 por cento de jornalistas.


Na reportagem atrás citada, do Público,em Maio de 2013, as tlevisões generalistas e temáticas de informação tinham 69 horas de comentário por semana. "Dos 97 comentadores com presença semanal na televisão portuguesa, destes, 60 são ou já foram políticos".


Segundo Felisbela Lopes a "carência de especialistas" é colmatada pelo "excesso de opinião composta pela classe política e pela classe jornalística"

Marcelo na TVI

No estudo da Marktest Media Monitor em 2002 sobre o conteúdo dos noticiários televisivos é apontado o valor global dos comentários de Marcelo Rebelo de Sousa e Miguel Sousa Tavares na TVI. Este último teve um tempo de emissão de mais de 12 horas ao longo do ano e Marcelo Rebelo de Sousa teve quase 23 horas.
Segundo o mesmo estudo, a presença do antigo líder do PSD na televisão e a notoriedade que conseguiu atingir, fez de Marcelo Rebelo de Sousa uma das personalidades com maior visibilidade na Televisão. Em 2002, estava em quinto lugar, depois de Durão Barroso, Paulo Portas, Ferro Rodrigues e Santana Lopes.
Marcelo Rebelo de Sousa até superava o Presidente da República.

 

Marcelo Rebelo de Sousa, Pacheco Pereira e Miguel Sousa Tavares são talvez os melhores exemplos do que Brian MacNair chama os jornalistas ‘pundit’ que estão a ganhar peso crescente na comunicação social. «Pundit é um termo que data do século XIX e que ainda sobrevive na Índia e refere-se a uma pessoa culta ou a um professor que não é apenas uma autoridade mas uma figura política reconhecida. (…) O ‘jornalista-pundit’ é alguém que o leitor de um jornal reconhece como uma autoridade em assuntos políticos. Ele transforma-se numa fonte que forma opinião, marca a agenda e a evolução de determinados temas. (…) Para alcançar este estatuto, o ‘pundit’ tem de ser aceite pela classe política, onde se move, obtém informação e estabelece julgamentos.» - Introduction to Political Communication; Brian McNair; Routledge; Londres; segunda edição, 1999

 

É ainda de assinalar que os comentários se transformam muitas vezes em notícias em outros órgãos de comunicação social. A criação de «factos políticos», com alguma frequência, provoca mesmo reacções oficiais de organizações políticas.

«O grupo parlamentar do PS contesta esta segunda-feira, em comunicado, as afirmações de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI sobre a indicação do nome de João Pedroso para o Conselho Superior de Magistratura (CSM), numa altura em que, segundo o professor, o PS e o seu porta-voz, Paulo Pedroso, já sabiam estar sob investigação da Polícia Judiciária no âmbito do processo da Casa Pia». Diário Digital

Noutros casos, as reacções não são oficiais mas atingem uma dimensão muito relevante. Foi o caso da queixa de Jorge Sampaio de que não tinha tanto tempo de antena como Marcelo Rebelo de Sousa. Outro caso, mais controverso, foram as palavras do ministro dos assuntos parlamentares em Outubro de 2004. Rui Gomes da Silva acusou Marcelo Rebelo de Sousa de transmitir «sistematicamente um conjunto de mentiras com desfaçatez e sem qualquer vergonha». Estas declarações e a saída de Marcelo da TVI provocaram uma tempestade política, com fortes prejuízos para o governo de Santana Lopes.

 

Um comentário na TV, um editorial ou um artigo de opinião chegam a atingir um impacte que muitas organizações políticas não conseguem. Por mais iniciativas que desencadeiem.

Muitas vezes, porque dominam a linguagem dos média e sabem com exactidão o público a que se dirigem, há comentadores que fazem um trabalho notável de desconstrução. Conseguem com uma clareza ímpar explicar determinados acontecimentos ou comportamentos de actores políticos o que lhes permite uma excelente capacidade de comunicação.

 

Foi aliás notório, quando da saída de Marcelo Rebelo de Sousa o elogio feito à capacidade de comunicação do então comentador da TVI. É ainda de sublinhar que o comentário de Marcelo provoca uma leitura diferenciada. Varia consoante o background político de cada receptor. Nos fóruns realizados pela TSF e Antena 1 no dia seguinte à saída de Marcelo Rebelo de Sousa, os políticos e comentadores políticos sublinhavam a forma como ele exercia a influência política, através dos «recados» que mandavam. Por sua vez, ouvintes que revelavam não fazer um acompanhamento permanente da actividade política, preferiam sublinhar o papel didáctico desempenhado por Marcelo Rebelo de Sousa: a forma como explicava o que se passava, o enquadramento que dava aos temas para que todos percebessem e as críticas que fazia (que eram interpretadas como zeladoras do interesse comum).

 

Esta força e a linguagem irónica ou mordaz de alguns comentadores são factores que contribuem para a criação de antipatias e inimizades.

Este tipo de reacção é frequente em muitos políticos. Uns, (erradamente) acabam por comentar os comentários. Outros políticos, são também irónicos ou recorrem à hipocrisia porque sabem que é prejudicial uma reacção negativa. Preferem desvalorizar o desagrado que sentem e salientam a «obra feita» que já realizaram, a resolução dos problemas e dão a entender que não se deixam afectar pelas palavras críticas de um comentador. Não querem dispersar as energias e entrar em mais uma frente de desgaste. Sabem que o alvo das afirmações deve ser o adversário político e não alguém que está na margem desta luta política.

 

É igualmente reconhecido que, apesar da influência dos comentadores e da forma como fazem os comentários, assumindo-se como juízes do tribunal da opinião publicada, nem sempre o que dizem corresponde ao sentimento maioritário. A opinião dos comentadores e dos jornalistas, em geral, é mais o espelho da opinião das elites do que «a voz» do eleitorado. De certa forma, o prórpio Marcelo Rebelo de Sousa o reconhece quando afirmou ao JPN, em 2013, que "a influência dos comentadores é muito inferior àquilo que eles pensam. E a sua multiplicação banaliza essa influência, reduzindo-a, em inúmeros casos, quase a nula"
Segundo Einhart da Paz, antes das legislativas de 2002, «a imagem que Durão Barroso tinha na comunicação social – de não ser firme - não era a mesma que tinha entre o povo. Nem o formador de opinião, nem a elite comanda o voto. Nesse caso, a maioria silenciosa é que vale» (2). Como António Guterres disse a Bill Clinton, «nem sempre a opinião pública corresponde à opinião publicada».

 

A opinião transmitida pelos media é acompanhada pelos gabinetes de imprensa e muitos políticos preferem a leitura destes artigos às próprias notícias. Em alguns casos existe um espírito de abertura para reconhecer que alguns argumentos são válidos. Mas quando o comentário é negativo, muitos políticos têm uma reacção hostil colocando em causa a imparcialidade e a competência do comentador.

 

Curiosamente, a regra é ao longo do tempo crescer um sentimento de indiferença. Para os líderes políticos a única opinião válida é a da ‘corte’. O que constitui um problema porque «quanto mais alto você chegar, mais as pessoas à sua volta vão dizer o que você quer ouvir. Você terá sorte se um dos seus assessores lhe disser a verdade. A verdade vai doer». (3)

Nas estruturas mais profissionalizadas e com alguns recursos, a avaliação da opinião pública não se esgota na opinião publicada nos media. Realizam com frequência sondagens para avaliar se a acção política que estão a desenvolver tem uma apreciação positiva por parte do eleitorado.
«Morais Sarmento admite reactivar a estrutura que, no tempo de António Guterres, fazia estudos de opinião regulares sobre preferências detalhadas do eleitorado, por áreas temáticas, faixas etárias ou avaliações globais do Governo. Desactivada desde a saída de Guterres, esta estrutura de sondagens nunca foi utilizada pela equipa de Durão Barroso, que sempre disse recusar-se a governar sob pressão da opinião pública, mas que agora sente a necessidade de estar mais atenta aos sinais do eleitorado». Expresso 08/11/2003.

O mesmo se passa em momentos políticos de extrema relevância. Por exemplo, depois de um debate importante, são inúmeros e diversos os comentários produzidos. No entanto, avaliação é feita através de sondagens. E se os estudos são positivos, é feita uma fuga de informação para alguns jornalistas. O propósito é divulgar os resultados que mais interessam, de forma a atenuar algumas opiniões negativas feitas por comentadores políticos.

 

Muitos políticos procuram «amaciar» os comentadores que têm uma influência mais relevante. Como o próprio Marcelo Rebelo de Sousa afirmou em alguns comentários ministros e responsáveis da Administração Pública telefonam-lhe a tentar explicar o que se passou sobre um determinado assunto que já foi abordado ou que está a causar grande polémica.

 

Esta é uma das formas de evitar comentários negativos ou interpretações erradas.

Através deste diálogo é possível dar «background», explicar os condicionalismos das iniciativas e as opções que são feitas. Estes contactos por vezes não são convincentes, mas podem ser clarificadores em alguns aspectos e evitar erros e antipatias permanentes.

 

Cada político destacado tem a sua forma e um jeito particular de abordar estes comentadores. No entanto, para quem ocupa o cargo de primeiro-ministro parece ter sido institucionalizada a figura do pequeno-almoço. Foi assim com Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso e José Sócrates que, com alguma frequência convidam directores dos principais órgãos de comunicação social e alguns comentadores para encontros informais.

 

 

(1) Para os órgãos de comunicação social também começa a ter importância a existência destes espaços de opinião - «Marcelo Rebelo de Sousa vai iniciar, já neste domingo, uma colaboração regular na TVI, regressando ao comentário político e à análise dos principais acontecimentos da semana. Marcelo tinha convites da SIC e SIC-Notícias, da RTP, da TSF e da futura televisão regional do Norte, além da Rádio Renascença» Expresso; 13/05/2000
(2) Público, 22/03/2002
(3) Poder e influência; Robert L. Dilenschneider; editora Record; RioJaneiro; 1994

18
Fev11

Depoimentos

rgomes

Nos depoimentos, a questão é mais simples, embora não menos importante.

Quando é feita a solicitação para um depoimento, uma das primeiras questões colocadas pela assessoria é saber o tema e em que condições é difundido o depoimento.

Aceite o convite, o passo seguinte é escolher a ideia principal que se quer transmitir.
Quem tem alguma experiência sabe que para conseguir este objectivo tem de centrar o seu discurso na mensagem principal e evitar dissertar sobre outros temas.

Se o depoimento for para rádio ou TV, essa ideia está sintetizada numa frase com o tempo máximo de 30 segundos. Tendo em conta o estudo já atrás referido, sobre o tempo médio das declarações de dirigentes políticos, a conclusão a que se chegou foi: o que há para dizer, em televisão, tem de ser em cerca de 20 segundos. A média - RTP e SIC - de todos os depoimentos é de 18.9 segundos. A média dos depoimentos de dirigentes políticos sobe para os 21.5 segundos.
Em rádio - Antena 1, Rádio Renascença Canal 1 e TSF - a média de um depoimento é de 24.5 segundos e, nas declarações de dirigentes políticos, a média sobe para 27.9 segundos. O estatuto de quem presta o depoimento pode fazer variar o tempo que lhe é concedido. Por exemplo, os depoimentos do Primeiro-ministro, nos três dias do estudo, no que se refere à televisão, tiveram em média 30.6 segundos. Em rádio o tempo médio subiu para os 37.5 segundos. (1)

RTP SIC ocorrências tempo global RTP SIC
Media TV: 18,9 seg. 18,5 seg; 19,1 seg 82 min.
Inf. geral: 17,7 seg 16,3 seg; 18,3 seg 164 48 min. 13,9 min. 34,5 min.
Desporto: 19,6 seg 14 seg; 27,7 seg 17 5,5 min. 2,3 min. 3,2 min.
Política: 21,5 seg 23 seg; 19,3 seg 80 28,2 min. 14,9 min 13,2 min.
Media Radio: 26,6 seg

Média directo TV : Política: 33,7 seg

Média gravado TV: Política: 17,6 seg
Média Primeiro Ministro : Televisão: 30,6 seg
Num outro estudo, o Media Monitor de 2002, concluiu-se que «a duração média de todas as notícias em 2002 foi de um minuto e 55 segundos».

Saliente-se que uma notícia, por regra, tem a entrada (que é lida pelo apresentador do noticiário; texto do jornalista que fez a peça e um ou mais depoimentos.)

É face a estes dados que muitos políticos preparam os depoimentos resumindo a ideia central que pretendem transmitir a uma frase chave, a um ‘sound bite’. É uma frase curta, incisiva, clara e, melhor ainda, com ingredientes que lhe dêem impacto.( 2)

Esta é uma situação que, de certo modo, também interessa aos jornalistas de televisão e de rádio. É frequente eles pedirem aos entrevistados que não dêem respostas longas, que sejam concisos, porque lhes dá menos trabalho de edição.

Se por algum motivo o depoimento se prolongar, os políticos aproveitam um pretexto para repetir a ideia chave. Tudo é feito com naturalidade e com a ênfase adequada.

Tal como sucede nas entrevistas, quando da recolha de depoimentos, essencialmente se for em directo, são avaliados previamente os temas da actualidade que possam ser polémicos. É frequente alguns jornalistas aproveitarem a oportunidade para fazer um parêntesis e colocar uma pergunta sobre essas polémicas.
Muitas vezes, o resultado é que a notícia incide não sobre o tema em que, em princípio, versaria o depoimento mas para a outra questão que foi levantada. A frustração dos políticos é ainda maior quando isto sucede em «pseudo-acontecimentos» que prepararam para salientarem um determinado tema.

Em 13/01/2004 a comunicação social referiu logo pela manhã que o ministro da Educação não teria feita uma declaração de rendimentos às Finanças e ao Tribunal Constitucional. No mesmo dia, no Porto, Durão Barroso foi confrontado pelos jornalistas, quando estava envolvido em várias iniciativas dedicadas à Justiça. Deu a seguinte resposta: «o meu dia, hoje, é dedicado às questões da Justiça. Há pouco, fiz uma referência ao facto de uma das mais importantes reformas estruturantes do Portugal democrático ter passado quase despercebida. Por isso, compreendem que, se eu agora vou comentar qualquer notícia que hoje surja, por mais importante que seja, estou a descentrar a atenção daquilo que eu penso ser importantes transmitir ao país como mensagem». – Noticiário das 12h da Antena1

A pressa em prestar um depoimento pode também provocar uma situação ridícula. Por vezes a comunicação social solicita declarações sobre uma matéria cuja veracidade não está garantida. Diz a experiência que, nestas circunstâncias, o mais indicado é ninguém se pronunciar. O melhor é aguardar. Se for considerado muito importante fazer-se um comentário é vulgar recorrer-se à repetição da expressão “a confirmar-se a notícia…”.

Uma outra situação desagradável é que nem sempre é editado o depoimento. Com alguma frequência os jornalistas acabam por não reproduzir o depoimento. Umas vezes, porque ficou desactualizado, outras vezes porque é irrelevante e, por fim, em algumas circunstâncias, porque o jornalista acaba por inserir esse ponto de vista no próprio texto, sem a referência especifica ao seu verdadeiro autor (do ponto de vista pessoal pode ser frustrante, mas numa perspectiva de estratégia de comunicação, é a situação mais eficaz - significa que não só passou o ponto de vista, como acabou por nortear a perspectiva do próprio jornalista). Para alguns políticos há a frustração de não alimentar o ego e até protestam por terem sido excluídos. Este tipo de reacção propicia antipatias. Noutros casos em que o depoimento não foi editado, a resposta pode remeter a culpa para quem prestou a declaração porque não soube dar um depoimento que tivesse interesse para a audiência desse órgão de comunicação social.
Há ainda uma outra possibilidade que deve ser tida em conta, especialmente por quem ocupa cargos de responsabilidade. Devido às funções que exercem, estes dirigentes são frequentemente solicitados à entrada e/ou saída de reuniões. Em alguns casos, a fazer-se um levantamento, talvez seja possível concluir que parte significativa da exposição nos media, corresponde a este tipo de situação. Ou seja, a imagem pública de um dirigente pode ser fortemente condicionada por breves (mas repetidos) momentos e, ainda por cima, em situações que fogem do seu controlo. Até do ponto de vista físico: muita gente, muito ruído, vento, cenário inadequado… Maior é ainda o condicionamento porque, na ausência de outras imagens e depoimentos, quem mais recorre ao registo destes momentos, são as televisões. Saber dominar os improvisos, saber fugir às questões, passar por um batalhão de jornalistas… é fundamental nestes casos. Faz parte do “media training” a que recorrem muitos políticos e personalidades de outros sectores que habitualmente se confrontam com a presença de jornalistas.

Perante a suspeita ou a informação de que há jornalistas à porta, tentam ganhar algum tempo. Por vezes até fazem contactos para se inteirarem de algo que tenha ocorrido (ou recolhem informação dos assessores que já trocaram impressões com os jornalistas e têm uma ideia mais concreta das perguntas que podem ser colocadas). Antes do confronto com os jornalistas preparam as respostas para as perguntas que esperam que venham a ser feitas.
Para se conseguir um maior controlo na cobertura dos media, quem ocupa cargos importantes, mais tarde ou mais cedo, acaba por descobrir que tem de evitar ser apanhado em situações deste género.

Uma das possibilidades a que recorrem com frequência é anunciar que não há declarações e admitir apenas a recolha de imagens. Fotógrafos e operadores de câmara
estão breves momentos no local onde tem lugar o acontecimento.
As imagens que aparecem na TV são apenas aquelas que foram recolhidas durante escassos minutos. Nesse sentido, muitas estruturas de comunicação têm o cuidado de preparar o cenário, para que as imagens que vão ser editadas estejam em boas condições, quer do ponto de vista formal quer no que se refere ao conteúdo.
As pessoas que se encontram nesse local, durante a recolha de imagens, têm também uma preocupação cénica e, por regra, dizem futilidades devido ao receio dos microfones estarem ligados ou de algum repórter com ouvido mais atento.

Este condicionamento da captura das imagens é muito frequente nas visitas ao estrangeiro de chefes de estado e de governo. Como as televisões têm poucas oportunidades para a captura de imagens, estão dependentes dos poucos minutos que conseguem filmar. Sabendo disto, alguns líderes, quando saem do avião que os transportou, dão um aceno para as câmaras. Como se estivessem a saudar os populares que o foram receber. Não está lá ninguém. Só os jornalistas. Mas como, durante algumas horas, não há mais imagens, muitas vezes é o cumprimento do líder “à população que o foi receber” que acaba por ser editado.

(1) Estudos recentes citados em Election Campaigning de Dennis Kavanagh, mostram que as televisões cada vez dão menos tempo às declarações dos dirigentes políticos. Na campanha eleitoral britânica de 1992, as televisões deram um tempo médio de 18 segundos de excertos das declarações dos líderes. Nos Estados Unidos, em vinte anos, até 1988, as televisões reduziram o tempo médio de 42 para 10 segundos.

(2) Dois exemplos: festa do Pontal do PSD em 1994, onde Cavaco Silva lançou a frase “nós somos a diferença”. No final da sua intervenção, parte significativa das perguntas a que foi submetido foi sobre esta frase. Nos dias seguintes o mesmo se passou com comentadores políticos. Outro exemplo - 4 Outubro de 1997, António Guterres acusou a oposição de ser uma “fábrica de farturas”. No dia seguinte esta referência era ainda a notícia da TSF e da SIC, foi destaque no DN e provocou reacções de outros dirigentes partidários, com a resposta de Manuel Monteiro a chamar “rei das promessas” a António Guterres. A frase não morreu aqui. Quatro dias depois, na Assembleia da República, um deputado do PSD (Carlos Encarnação) disse que, agora já se percebia a piada das farturas: a referência era para o Ministro da Administração Interna - “o rei das farturas”.