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Comunicação Política

Comunicação Política

12
Mai13

2. A mensagem negativa

rgomes

Um dos processos habituais em comunicação política é a mensagem negativa.

Quase todo o discurso político recorre a acusações, críticas, denuncias…cartaz do PSD para legislativas de 2002

Apesar de não haver unanimidade sobre a ética e os efeitos de uma mensagem negativa, a tendência da comunicação política é recorrer com frequência a este tipo de mensagem.

No entanto, há quem pense que uma mensagem profundamente negativa pode provocar uma reacção de antipatia, penalizando o seu autor, porque provoca no receptor uma sensação de desagrado e de desconforto.

 

Estudos efectuados nos Estados Unidos mostram também que o recurso à mensagem negativa pode levar ao afastamento dos eleitores. As críticas permanentes e o “lavar decartaz do BE sobre Fernando Nogueira e Durão barroso roupa suja” em público propiciam uma atitude de afastamento do eleitorado indeciso. “Os políticos são todos iguais, para quê mudar”?

Por um lado, a propaganda nos média pode, com frequência, incentivar os militantes e simpatizantes a votar no seu partido; por outro lado, a mesma propaganda está a aumentar significativamente o número dos que passam da independência para a apatia, se não mesmo para a antipatia, em relação a várias instituições políticas.(…) A campanha negativa ou de “ataque” suprime a vontade de mudança. Os anúncios negativos até podem ser usados para este objectivo.” (1)

 

O recurso sistemático a mensagens negativas tem ainda um efeito a médio e longo prazo: é a crispação entre os candidatos. «A experiência, em especial nos Estados Unidos, tem mostrado que é muito fácil “resvalar para as tentativas de destruição de pessoas e de vidas familiares”. Daí o aviso: “O melhor é não começar.” »– Público de 29 de Julho de 1999 sobre declarações de António Guterres no arranque da campanha eleitoral.

 

A crispação originada pela campanha negativa provoca ainda outro problema a nível institucional: dificulta as relações entre os dirigentes partidários, por vezes ao longo de uma legislatura, impedindo entendimentos e uma acção política mais construtiva.

 

Um dos exemplos mais recentes foi o ataque mútuo entre Paulo Portas e Durão Barroso nas legislativas de 1999, o que contribuiu decisivamente para um mau relacionamento entre os dois líderes no período seguinte às eleições, inviabilizando durante muito tempo entendimentos à direita do PS. O mesmo se passou em 2002, provocando muitas dúvidas sobre a natureza da coligação governamental e uma grande inquietação em relação ao comportamento de Paulo Portas.

 

Em muitas situações deste género o eleitorado não entende a postura de agressividade e o tacticismo aplaudido pelas elites é rejeitado pelo cidadão comum.

 

Uma outra consequência é o reforço da perspectiva populista de que os políticos são corruptos, estão afastados dos problemas das pessoas….

No entanto, apesar destas reacções de rejeição, outros especialistas consideram (e a própria experiência também o tem revelado) que, entre outras vantagens, é mais fácil memorizar uma mensagem negativa do que uma referência positiva.

É possível, no entanto, encontrar aqui uma simbiose que propicie uma mensagem eficaz.

 

Seguramente, uma das formas mais eficientes de transmitir uma mensagem negativa é através do humor e da ironia. Um dos exemplos mais citados é o da campanha de Richard Nixon que foi fortemente abalada por cartazes que o mostravam com ar de intrujão e com a seguinte pergunta: “você comprava um carro em segunda mão a este homem?”.
Ou seja, trata-se de uma mensagem com um conteúdo negativo, mas cuja forma propícia uma sensação de descontracção.

 

Nas presidenciais de 2004 dos EUA, seguiu-se o mesmo principio mas recorrendo a novas tecnologias.

«CORRIDA À CASA BRANCA
Videojogos seduzem candidatos

Desconhece-se se a moda veio mesmo para ficar, mas, de momento, é a grande febre na corrida à Casa Branca: a criação de videojogosjogo da campanha de kKerry contra George W. Bush
(…) Um dos jogos que tem feito mais furor é uma paródia ao conhecido jogo “Space invaders”, com o título “John Kerry: tax invaders”, em que o utilizador controla a cabeça do actual presidente e candidato republicano, George W. Bush, que dispara contra as supostas subidas de impostos por parte de John Kerry, o nome proposto pelos Democratas para a Casa Branca. (…)
Confrontados com os ataques, John Kerry e seus pares não tardaram a entrar no jogo. A resposta surgiu sob a forma de uma sátira chamada “Kick Bush out”. Nesta caricatura interactiva, o participante é convidado a desferir três patadas de burro - animal que simboliza o Partido Democrata - na figura do actual presidente. Os resultados obtidos dependem da destreza e rapidez dos jogadores
políticos que satirizam os principais candidatos à Presidência dos Estados Unidos da América.» JN; 13/07/04

 

Após a revolução de 1974 um instrumento muito utilizado foi a banda desenhada.

A candidatura de Pinheiro de Azevedo à Presidência da República em 1976 recorreu quase exclusivamente ao humor, o que, de certa forma, correspondia à personalidade do candidato.

Este processo pode ter efeitos mortíferos, mas antes, terá se ser bem testado e concretizado. O humor e a ironia, se forem mal feitos, dificilmente passam nos média e até provocam ruído na comunicação.

 

Um outro factor que contribui para o sucesso deste tipo de comunicação é o de que a ideia negativa que se quer transmitir já deve ter um rasto. As características negativas que são apontadas não podem ser uma absoluta novidade. No mínimo, para ser eficaz, os receptores devem ter uma «impressão» do conhecimento de alguns dados – mesmo que vagamente.

 

A mensagem negativa que é transmitida funciona como reforço ou validação dessa impressão ou do «dizem por aí… afinal é verdade». Assim se dá crédito a um boato, tirando-se partido do «senso comum».

Foi o que fizeram os defensores do “Não” no referendo sobre a regionalização em 1998, ao tirar partido da desconfiança generalizada do eleitorado. Vários estudos de opinião divulgados nessa altura pelo D.N. colocavam a classe política entre as mais desacreditadas.
Segundo Margarida Ruas dos Santos (Diário Económico de 10/11/1998), a campanha do “Não”, «do ponto de vista dos valores foi das mais negativas feitas em Portugal. Exploraram e julgaram os medos colectivos de forma pouco escrupulosa».

As mensagens utilizadas na campanha do referendo que incidiam na probabilidade de mais corrupção, mais clientela, não faziam mais do que explorar essa desconfiança relativamente à classe política.

É aliás curioso verificar que após rebentar o “caso JAE”, com alegadas situações de corrupção, favorecimento e financiamento dos dois maiores partidos políticos, o “Sim” à regionalização deixou de subir em vários estudos de opinião.

 

Também à «boleia» do boato andou o PSD de Santana Lopes nas legislativas de 2005. Mas aqui o efeito não terá sido muito positivo.
Tudo começou num boato cujo foco ocorre em Lisboa, pouco depois de Sócrates ser eleito secretário-geral do PS. O rumor vai fazendo o seu caminho, ganha contornos vários e, para os dirigentes socialistas, o «alerta» tocou numa entrevista do então ministro José Luís Arnault ao Expresso, pouco depois de Jorge Sampaio convocar eleições antecipadas. Interrogado acerca das propostas do novo líder do PS, Arnaut respondeu que preferia saber o que Sócrates pensava sobre outras questões, como por exemplo «se é a favor de casamentos entre homossexuais. Eu não». A afirmação do dirigente do PSD é «forçada». Nada justificava levantar este tema. A justificação era o boato.
Com o aproximar da campanha eleitoral surgiam sinais de que o boato estava a ganhar uma grande dimensão. Alguns estudos qualitativos indicavam que o boato era do conhecimento de várias pessoas, em várias zonas do país e de vários estratos sociais e económicos. Nesta altura começaram as dúvidas entre os dirigentes do PS sobre a forma mais indicada para um desmentido. José Sócrates opôs-se a qualquer iniciativa.

No início de Janeiro de 2005, «um obscuro jornal brasileiro trouxe uma notícia, daquelas de coluna social, sobre os candidatos às eleições em Portugal. Na notícia liam-se alusões caluniosas sobre a vida privada dos candidatos. Essas alusões foram transportadas para um jornal português, daqueles de bas- -fond, muito tablóide.» (o Crime)
«Primeira observação sobre este método é um modelo clássico de manipulação, utilizado por serviços de informação e por polícias secretas. Consiste em, quando não há possibilidade, por causa da legislação ou dos costumes, de colocação de um boato num determinado país, conseguir a sua publicação num jornal estrangeiro e, depois obter o transporte para um jornal desse país, disponível para o publicar escudando-se no facto de esse dado já ter sido tomado no estrangeiro. É uma técnica conhecida e tudo menos inocente.
Trata-se de um boato plantado por quem sabe plantar boatos. Até aqui, estamos perante um mecanismo de lançamento ou de amplificação de um boato.
Infelizmente, foi usado por uma campanha eleitoral [PSD]. Não digo que a campanha tenha sido a autora do mecanismo de amplificação, digo que essa campanha utilizou os elementos do boato
.» Pacheco Pereira; DN; 04/02/05
Os factos a que Pacheco Pereira se refere neste texto de opinião são os cartazes da JSD e a intervenção de Santana Lopes num comício em Famalicão, com mulheres.

Os estudos de opinião revelavam que José Sócrates era desconhecido do eleitorado. As pessoas não tinham uma opinião definida sobre o seu carácter e a sua competência.. Este terá sido o motivo porque o PSD tentou fazer passar a ideia de que votar no líder do PS era apostar no desconhecido. O cartaz da JSD não tinha outro objectivo. Pela primeira vez um líder partidário era usado num ‘outdoor’ de uma candidatura adversária, mas pouco mais de inovador havia neste cartaz. O problema surgiu quando o PSD começou a relacionar este desconhecimento sobre José Sócrates com outras questões, designadamente a do boato.
Por um lado, «subitamente, foram levantados temas como o casamento dos homossexuais». Por outro lado, «há um terceiro elemento, este da responsabilidade directa do primeiro-ministro, como, aliás, os outros, o chamado comício das mulheres. Foi uma apologia do machismo. O candidato foi apresentado como correspondendo ao paradigma do macho lusitano, com todas as virtudes de masculinidade, e [Santana Lopes] embarcou neste tipo de linguagem juntando-lhe uma série de frases ambíguas sobre o colo».
A frase sobre «o colo» a que Pacheco Pereira se refere foi a «gota de água» neste processo.
«“Este homem é conhecido pela sua natureza sedutora”. Do púlpito, Augusta Ferreira, doméstica, dirigiu-se com estes modos a Pedro Santana Lopes. Em delírio, as mais de mil mulheres presentes no almoço de Famalicão mostraram partilhar desta apreciação. A seguir, foi a vez de Manuela Cardoso levar a sala ao êxtase: “Ele ainda é do tempo em que os homens escolhiam as mulheres para suas companheiras”, afiançou esta funcionária pública, lembrando que Deus assim o quis. “Bem-haja os homens que amam as mulheres!”, sentenciou ainda. “O outro candidato (José Sócrates) tem outros colos. Estes colos sabem bem”, confessou Pedro, no final aos jornalistas». Relato de Alexandre Praça no Público; 30/01/2005
Esta frase foi proferida no dia 29 de Janeiro, num sábado. No domingo ganha eco com esta notícia no Público. Relevante foi ainda o comentário de Ana Sá Lopes, nesta mesma edição:«o homem já não tem nada para vender. Resta-lhe o currículo conhecido do eleitorado através das ‘revistas do coração’, (…), Ontem lançou o mais estranho mote da campanha eleitoral: votem em mim porque eu gosto de raparigas. Chegámos ao patamar que nunca pensámos atingir na política. Só um miserável – e quem é Santana Lopes, neste momento do campeonato, senão um pobre despojado de qualquer bem válido para a polis? – pode utilizar em comícios, como aquele em que ontem participou, com 1000 mulheres, em Braga, o facto de ser aquilo a que se chama um femeeiro”». Público; 30/01/05. Este comentário foi publicado em vários blogues e parte do texto citado em vários jornais.
Nos dias seguintes a frase é citada em vários órgãos de comunicação social. Se até esta data o PSD não podia ser acusado de algo em concreto, com esta frase, a situação inverteu-se, multiplicando-se os comentários fortemente críticos contra o líder do PSD. Por outro lado, a frase do líder social-democrata permitiu a José Sócrates encontrar um motivo para negar o conteúdo do boato e, ao mesmo tempo, lançar uma ofensiva política que condicionou fortemente o PSD. A resposta foi dada na terça-feira seguinte, numa entrevista na RTP1. Para criar expectativa, logo pela manhã, Jorge Coelho
afirmou que «os socialistas não vão seguir o exemplo dos adversários e vão fugir às ofensas e ataques pessoais. (…) como todos sabem, têm havido insinuações, rumores, nas rádios, nos jornais e nas televisões, têm sido ditas coisas nesta campanha que eu acho que não são dignas de um confronto político que deve ser de ideias e não de calúnias». TSF, 01/02/05.

À noite, José Sócrates foi entrevistado por Judite de Sousa e afirmou ser «incompreensível que o líder do PSD utilize como arma política uma onda de boatos e insinuações. (…) Isto passou as marcas. Tenho vindo a ser alvo de uma campanha de boatos absolutamente falsos, mentirosos, ridículos até (…) Houve acusações brejeiras de um líder partidário. Tenho de falar nisso, não para me defender a mim, mas para defender a minha família e os meus filhos».
Depois desta entrevista e das reacções publicadas na comunicação social, inclusive de dirigentes do PSD que se demarcaram de Santana Lopes, os sociais-democratas terminaram com as insinuações.
Primeiro tentaram justificar «o colo» - «a frase do nosso líder não permite extrapolações»,
disse Pedro Pinto. Clarificou que o «colo» a que Santana Lopes se havia referido no sábado envolvia uma referência política e não outra e que o líder do PS precisa desse «colo», pois «nada» tem feito pelo país.».  O próprio Santana Lopes foi obrigado a alterar o discurso, negando que alguma vez tivesse feito qualquer insinuação: «O que sei do engenheiro Sócrates é que ele é divorciado, pai de filhos, como eu. Quero que os portugueses votem nos líderes políticos em função das propostas que têm para a sociedade». DN; 02/02/05.
O PSD não voltou a pegar no tema do boato e terminou com a mensagem baseada no desconhecimento do líder do PS. Mudou de estratégia. A referência negativa deixou de incidir em exclusivo sobre o líder do PS e passou a abranger vários dirigentes socialistas, tentando tirar proveito da ligação desses dirigentes aos governos de António Guterres.

 

Uma mensagem negativa deve ter ainda em consideração os valores e a tradição do eleitorado a quem se dirige essa mensagem, para evitar um efeito «boomerang».

 

Há um caso na história recente da comunicação política em Portugal e que foi retirado devido ao receio de provocar efeitos perversos: o “General Balança”. Foi uma ideia desenvolvida nos tempos de antena do PS em 1987, contra o PRD, um partido da iniciativa do general Eanes e que tinha como símbolo uma balança. O conceito dos tempos de antena era, através do humor, acentuar as indecisões do general e a alegada influência que era exercida pela sua mulher. O tempo de antena era mortífero mas, talvez por ser um género inédito em Portugal, originou contestação (e receios de dirigentes do PS, nomeadamente de Vítor Constâncio, que deu ordens para anular a emissão de vários episódios que já estavam produzidos), e apenas foi editado um tempo de antena. (2)

 

Embora com menos impacte e polémica, um outro tempo de antena, com uma mensagem marcadamente negativa, teve lugar em 1995, da autoria do PP. A descrição é do jornalista Paulo Moura, no Público de 20/09/95: “imagem a preto e branco, com muito grão. Ouvem-se sinos a tocar o dobre de finados, banda sonora que se prolonga por todo o «spot». Uma menina com uma mochila da escola vai sozinha pela rua, alegre e distraída a olhar as árvores. Passa por um arrumador de automóveis, com a camisa fora das calças e a barba por fazer. A câmara começa a fazer «traveling» rápido por grades e muros, como num filme de «suspense». Uma letragem enche o ecrã: «1994: os crimes violentos aumentaram 25 por cento». No seu percurso, a menina cruza-se com outro tipo «mal-encarado», de barba rala, que aparentemente passa droga a um outro, de óculos escuros. Há uma troca de olhares desconfiados. Letragem: «1994: foram assaltadas 128 lojas por dia.» A partir daqui, tudo se torna inverosímil, como se passássemos a ver a realidade pelos olhos de uma menina assustada que vê fantasmas e papões. Dois tipos saem de uma loja a fugir. A miúda começa a correr, em pânico. Letragem: «1994: foram assaltados oito carros por hora.» Um homem quebra o vidro de um carro para o assaltar. Ouve-se uma gargalhada de filme de terror. A miúda continua a correr, fecha-se em casa. No ecrã, aparecem as fotos de Nogueira e Guterres: «1992: PS e PSD aprovaram a redução de penas para traficantes de droga.». A miúda surge a uma janela gradeada. Voz: «Os portugueses estão presos dentro de casa, enquanto assassinos e traficantes andam em liberdade».”

Na história da Democracia portuguesa há outros casos de recurso sistemático a uma mensagem negativa, mesmo no plano pessoal.

Um dos exemplos mais conhecidos teve Sá Carneiro como alvo.

 

Além do lançamento de notas com o rosto de Sá Carneiro, foram distribuídos vários documentos que acusavam o líder da AD de não ter pago uma dívida contraída num banco e de, alegadamente, ter recorrido a um processo fraudulento.

 

Um outro caso que provocou alguma polémica foi um cartaz e um autocolante do PSR, na pré-campanha das legislativas de 1995

Nas eleições legislativas de 1999, na pré-campanha, o PSD avançou com algumas iniciativas de campanha negativa, de que foram exemplo o livro “Promessas”, o cartaz com a rosa do PS a murchar e a acusação de João Jardim que chamou mafioso ao então primeiro-ministro.

anúncio do PSD ao livro das promessasO recurso a estes instrumentos de campanha negativa levou mesmo António Guterres a fazer uma intervenção política em jeito de aviso: “o melhor é não começar. A experiência internacional revela que quando se dá início a uma campanha pela negativa sabe-se onde começa, mas nunca se sabe como acaba”. Só que, nesta intervenção, António Guterres disse ainda que uma campanha negativa “muito rapidamente resvala para as tentativas de destruição de pessoas e de vidas familiares”. Esta frase foi entendida por alguns comentadores e pelo próprio líder do PSD como uma ameaça e, também ela, uma acção de campanha negativa. É que, nessa altura, corria um rumor acerca de antigos problemas familiares de Durão Barroso.
Para quem tinha conhecimento do rumor, a afirmação de António Guterres era igualmente assassina. Dirigentes políticos do PS próximos de António Guterres garantem que não foi essa a intenção. “Nestas palavras, Barroso viu uma «chantagem», como se Guterres tivesse na manga informações íntimas sobre adversários e ameaçasse divulgá-la!
Os dois líderes dos dois maiores partidos devem das duas uma: ou declararem que há um mal-entendido nesta história ou desistirem da pose de gente de bem quando se encontram. Porque está lançada a suspeita de haver um relacionamento canalha
.” – Tal&Qual 06 Agosto, 1999.

 

Uma outra situação teve a ver com o caso das «viagens fantasma» dos deputados e da suspeita gerada em volta de António Guterres. O líder do PSD andou mais de uma semana a questionar o primeiro-ministro, conseguindo, de certa forma, desgastar a imagem de Guterres. Face a estes ataques, o líder do PS utilizou quase toda a campanha para avançar com um processo de vitimização. Com esta estratégia, António Guterres conseguiu recuperar parte da sua popularidade e Durão Barroso acabou por ficar com uma imagem de pouca simpatia e maior agressividade. Tal como já foi referido, lançar uma campanha contra uma pessoa muito popular, “limpa” de qualquer pecado, pode ser uma acção arriscada. Só funciona se houver provas contundentes, claras, sem qualquer margem de dúvida. Caso não funcione, tem um efeito nefasto no autor da acusação.

 

Em outros países repetem-se estas situações de campanhas negativas. Nos

EUA é frequente este tipo de comunicação devido ao recurso a ‘spots’ comerciais.


 

 

Um dos casos mais emblemáticos teve lugar em 1988. Foi a campanha de George Bush contra Michael Dukakis e um dos pontos altos foi o “spot” de Willie Horton. Provocou a ira de vários comentadores e associações cívicas, por apelar ao racismo, mas provocou também um grande desgaste na imagem do candidato democrata. «A propaganda republicana não apenas estabeleceu a agenda dos media quanto à campanha, levando-a a destacar um tema que era do seu interesse, como também impôs à cobertura dos media o seu próprio enquadramento (framing) acerca do tema: o vocabulário republicano impregnou profundamente as reportagens que, depois da exibição da propaganda republicana, passaram a adoptar, de forma atípica, uma “linguagem de tablóide de tortura e terror” para descrever o episódio.» - Kathleen Hall Jamieson em “Dirty Politics: Deception, Distraction and Democracy” citada por Silas Andrade
O efeito ainda foi mais nefasto para Dukakis porque durante muito tempo o candidato democrata recusou responder a esta ofensiva.

 


 

Ainda nos EUA, um dos casos mais conhecidos - e que hoje é apontado como um clássico da campanha negativa - foi em 1964 o spot de Lyndon Johnson contra o republicano Barry Goldwater.

"Daisy Girl" foi um forte ataque político onde se insinuava que o adversário político poderia inicar uma guerra nuclear.

 

a galinha dos tories

 

Em 1997 a luta entre Major e Blair, na Inglaterra, também teve facetas negativas. Uma delas irá ficar na memória. Pretendendo atacar a imagem de Blair, de só “cacarejar”, os conservadores colocavam uma “galinha” nas proximidades das principais acções do Labour,.

A resposta não se fez esperar. Ao lado dessa galinha o Labour colocava outra, mas sem cabeça. Com esta resposta rapidamente terminou a rábula das galinhas, embora tivessem entrado na história das campanhas britânicas.

 

Tony Blair’s seeming unwillingness to engage in a head to head debate with John Major saw him labelled a “chicken” by the prime minister. To press the message, Tory Central Office employed a man in a chicken suit to follow Mr Blair.

The Tory chicken unleashed a menagerie of publicity stunts the like of which the British electorate had never seen before. By the end of this brief interlude, headless chickens, foxes, teddy bears and even a rhinoceros had all made a brief appearance on the political stage. Although exactly what causes they were trying to promote still remains unclear.
BBC
blair num cartaz dos toriescartaz dos conservadoresNestas eleições, os conservadores tiveram uma outra iniciativa que provocou polémica: um cartaz com uma montagem de uma fotografia de Blair com olhos de “diabo”.
A iniciativa não teve sucesso e os «Tories» foram obrigados a arrepiar caminho. Um dos elementos centrais da campanha dos conservadores era criar o receio da mudança.

Nas eleições seguintes foi ao contrário. Thatcher fez duras críticas ao governo de Blair e à eventual adesão ao Euro, o que levou vários comentadores a sugerir que era a «Dama de Ferro» que ainda mandava nos «Tories». Aproveitando a ideia, o Labour fez um outdoor onde o líder dos conservadores aparecia com a cabeleira de Thatcher.

 

 

Há várias explicações para o recurso frequente à publicidade negativa:
 é mais fácil fazer publicidade negativa, nomeadamente nos países onde é permitida a utilização de spots comerciais;
 é mais fácil o recurso a situações negativas porque, mesmo sendo casos pontuais, podem aparecer como regra (pode-se ter melhorado o atendimento nos hospitais, mas se a visita às urgências de uma unidade de saúde mostrar uma longa fila, macas no corredor…, a força desta imagem pode anular a ideia das melhorias que foram conseguidas).
 é mais fácil assegurar a cobertura dos media (3);
 os media adoptam mais facilmente o discurso, os “sound bites” das campanhas negativas;
 Se a acusação tiver receptividade dos órgãos de comunicação social, ao fim de algum tempo é difusa a fonte de informação. Para muitos, já não se trata de uma mera acusação levantada por um partido, mas antes, um caso levantado por um órgão de comunicação social, uma investigação jornalística ou criminal….
 com o desgaste crescente da classe política obtém-se a garantia de maior receptividade junto do eleitorado quando se critica um político - em Portugal, o PP de Manuel Monteiro recorria frequentemente a este discurso e, com grande frequência, conseguia obter algum eco na comunicação social;
 pode ser útil recorrer à técnica de demarcação convencendo o eleitorado que a força política adversária é pior. Este argumento encontra justificação quando vários estudos de opinião mostram que, para muitos eleitores, o voto foi determinado, não por grande convicção no partido em que se votou, mas, porque as alternativas eram consideradas piores;
 a possibilidade de se obter dividendos da dramatização, ao serem colocados cenários de crise, de apocalipse, se a outra força política ganhar. Este processo é mais usado por quem está no poder, essencialmente se o ambiente não for favorável à mudança; (4)
 por último, vários estudos mostram que, surtindo efeito, a mensagem negativa tem uma repercussão imediata nas sondagens, conseguindo fazer baixar a popularidade da organização adversária. Em alguns momentos, este efeito pode contribuir para uma maior mobilização, a chamada «dinâmica de vitória».

 

Duas notas finais. Há situações em que aparentemente não existe uma mensagem negativa, mas onde o efeito é quase idêntico.

 

Vários estudos mostram que a simples associação a um comportamento censurável (mesmo em situações em que seja negada essa relação), provoca um efeito negativo no eleitorado.
Um exemplo: Marcelo Rebelo de Sousa, em Abril de 1998, acusou “o governo de ter negócios obscuros com alguns grupos económicos”. A acusação provocou uma onda de indignação de membros do governo e de empresários. Como afirmou Leonardo Ferraz de Carvalho (Independente, 24/04/98) se o então líder do PSD, em vez de fazer a acusação directamente, tivesse feito uma pergunta – “o governo está a privilegiar grupos económicos?” -, poderia ter provocado um desgaste no governo (criando a dúvida, colocando em debate um tema que podia lançar suspeitas), evitando tornar-se ele próprio o alvo das reacções contundentes.
cartaz do PSDPercebendo o erro, as ofensivas seguintes do PSD já seguiram esta sugestão: muitas perguntas, com algumas insinuações pelo meio e uma outra ideia de fundo: “Não ter medo de dizer a verdade…”., citando Sá Carneiro

Ainda segundo os mesmos estudos e pegando no mesmo exemplo, a simples frase: “O governo não privilegiou grupos económicos”, provoca igualmente uma reacção negativa no eleitorado. Apesar de negada, a simples associação a um comportamento censurável provoca desconfiança nas pessoas.

 

Segunda nota. É frequente uma campanha negativa procurar atingir um efeito de medo nas pessoas. Foi assim que George W. Bush ganhou as presidenciais de 2004. Criticou Kerry por não ser suficientemente forte na luta aos terroristas e reafirmou que os norte-americanos podiam contar com ele na defesa das suas vidas e dos seus interesses.
Bush conseguiu mesmo transformar situações controversas em exemplos da sua luta contra os terroristas que funcionam em rede e que atacaram os Estados Unidos.
«O recurso ao medo tem maior eficácia quando: 1) produz um sério sobressalto; 2) apresenta uma recomendação concreta para superar a ameaça indutora do medo; 3) as medidas propostas são avaliadas como positivas para atenuar a ameaça: 4) a pessoa que recebe a mensagem crê que pode desenvolver a acção que é sugerida. (…) Nem todos os apelos ao medo funcionam. Quando a comunicação de uma mensagem suscita um medo extremo, temos a tendência de não prestar muita atenção» - Anthony Pratkanis, Elliot Aronson em “La era de la propaganda – uso y abuso de la persuasion; Oaidós Comunicación; ; Barcelona; 1994.

 

 

(1) Going Negative; Stephen Ansolabehere; Shanto Iyengar; Free Press; N. Y. 1995

(2). Num comentário no Diário de Noticias sobre os tempos de antena, no dia 1 de Julho de 1987, J. Fragoso Mendes escreveu “A «subversão» do discurso veio de onde se esperava menos. A utilização do humor, do absurdo partiu de um partido «sisudo» o PS, de facto, estreou-se em grande, nos tempos de antena da TV para a Assembleia da República. Muito mais que os ataques directos ao PSD e ao PRD - ainda que interpretados pelo cidadão comum - terá resultados em cheio no recurso a métodos dignos de Herman José, para atingir tal fim. Os socialistas, com muito humor, bom gosto e sem recurso a meios sofisticados, como que transportaram «o tal canal» para o Largo do Rato, e terão garantido, logo à partida, uma audiência elevada para futuros tempos de antena. (…)”. No entanto, os dirigentes do PS recuaram e não houve mais devido à celeuma que foi provocada. No dia seguinte, o Correio da Manhã reproduzia um comentário do General Eanes que afirmou “Tenho pena pelo PS e pela liderança de Vítor Constâncio”. Na mesma edição era referido que Álvaro Cunhal, num comício, “considerou que «é de lastimar» que o PS conduza uma campanha «com tal violência»”…

(3). Acerca da maior cobertura dos média à publicidade negativa há um dado curioso, descrito num livro de Dennis Kavanagh (Election campaigning): a imprensa britânica e norte americana tem a tradição de apoiar uma das forças políticas nas eleições. Até meados da década de 60, a maioria dos jornais que optavam pelo apoio a um candidato davam maior cobertura a essa candidatura, com referências positivas. No final da década de 60 (depois do Watergate e da consequente desconfiança perante os políticos) a estratégia foi alterada. Há mais referências à candidatura adversária com mensagens negativas.

(4).“Estava previsto há meses: enquanto a oposição tentaria, com a abertura da campanha oficial, mostrar-se majestática, a situação daria início à sua última fase estratégica, a dramatização. Esta já é evidente. Cavaco Silva vem para a estrada. Sucedem-se as declarações sobre o caos que se vai abater sobre nós, no caso de o PSD não ganhar. A oposição não sabe fazer contas, iremos à falência. Os socialistas gastam dinheiro, a bancarrota é certa. Os investidores levam os capitais para o estrangeiro. Os trabalhadores perdem os empregos. Todos os grupos profissionais farão exigências irresponsáveis. (…)” Público - comentário de António Barreto. Setembro de 1995

18
Fev11

Os debates

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 Podem ser decisivos e por isso mesmo são preparados com muito cuidado.

 Antes de mais, são negociadas as condições em que o debate vai ter lugar.
 Quem vai participar, quem é o moderador, com ou sem público, qual o cenário, um ou mais debates.

 O resultado destas negociações vai ao pormenor de definir a colocação em estúdio dos candidatos, o cenário, o tempo que falam e como o podem fazer…

Veja-se o telex da Reuters com alguns detalhes do debate entre Al Gore e George W. Bush para as presidenciais de Outubro de 2000 nos EUA: «Format: the 90-minute debate will not include opening statements. Candidates will have two minutes to respond to a question, followes by one minute to rebuttal and 3 ½ minute exchange bettween themselves. Each candidate will have two minutes for a closing statement. Thoug props are not allowed, the candidates may bring blank paper on which to take notes».

Representantes de Bush e Gore gastaram seis dias em negociações para acordarem os pormenores do debate, desde a altura do pódio ao número de ajudantes e conselheiros permitidos por detrás do palco e até a temperatura da sala.

Nas eleições seguintes, alguns pormenores discutidos nas negociações chegaram ao tamanho dos saltos dos sapatos:

EUA/Eleições: Sapatos de salto alto proibidos nos debates presidenciais
José Pestana, da Agência Lusa
Washington, 23 Set (Lusa) - Quando George W. Bush e John Kerry participarem nos seus três previstos debates televisivos não poderão usar sapatos de salto alto ou outro “instrumento” que os faça parecer mais altos.
Este é um dos muitos pormenores do acordo sobre os debates que estabelece também que as tribunas devem ter exactamente 1,27 metros de altura na parte frontal e que diagramas e cartazes não podem ser utilizados pelos dois candidatos. (…)
As duas partes estão de acordo em que nenhum candidato poderá desentorpecer as pernas, aparentemente para se evitar uma corrida para a beira do palco.
Isto porque, em 1996, Bill Clinton abandonou a tribuna, quando, num dos debates em que as perguntas eram feitas por membros da audiência, se aproximou da beira do palco e falou directamente ao público.A imagem televisiva projectada foi a de um Bill Clinton próximo do público e o seu opositor distante e afastada.
Os acordos foram negociados durante semanas (…).
Lusa/fim

Em Espanha a negociação do primeiro debate, em 1993, também foi complicada: porque Aznar é 12 cm mais baixo que Gonzalez, o PP só aceitava o debate se os dois candidatos estivessem sentados. A Antena 3 teve de apresentar três propostas de mesas para conseguir convencer socialistas e populares… Para evitar qualquer tipo de distracção, optaram pela ausência de público e 15 perguntas, com período de resposta de três minutos, seguida de réplica por mais dois minutos.(1) Este debate, em 24 de Maio de 1993, foi o primeiro, em mais de 15 anos de regime democrático.

Em 2008 foram retomados os debates, com dois frente-a-frente entre Zapatero e Rajoy.  O primeiro  terminou com um empate. No segundo, em 4 de Março, as sondagens deram uma clara vantagem a Zapatero.

 

Em Portugal, em 1995, na preparação dos debates entre António Guterres e Fernando Nogueira, um responsável da SIC (o outro debate foi na RTP) chegou a dizer que, foram mais difíceis as negociações do que a realização do debate.
Durante cerca de duas semanas repetiram-se as conferências de imprensa e as cimeiras entre as delegações dos dois partidos, só para acertarem em que televisões iam ter lugar os debates. O PS rejeitava a RTP. O PSD rejeitava a TVI. Para se ultrapassar o impasse foram avançadas várias propostas. Desde a produção dos debates ser da responsabilidade dos partidos políticos, por sorteio, haver apenas um debate, haver um debate a quatro…


A história dos debates políticos em Portugal é uma sucessão de polémicas.

Em alguns casos os candidatos recusaram-se estar presentes, porque não foram salvaguardas condições de igualdade para todos (Ramalho Eanes nas presidenciais de 1980), outros, porque recusaram o título de “pequeno partido” (Hermínio Martinho do PRD em 29 de Agosto de 1985), num outro caso, não foi aceite a delegação do líder do PSD num outro dirigente (Eurico de Melo em 5 Setembro de 1985 foi representar Cavaco Silva).

Houve ainda a ausência de Jorge Sampaio, que recusou debater com Macário Correia nas autárquicas de 1993, após uma longa polémica com a SIC e ficou a cadeira vazia, passando-se o mesmo com Marcelo Rebelo de Sousa, que recusou participar num debate a quatro. O então líder do PSD queria debater a sós com o Primeiro-ministro num debate agendado para 14/06/1197.

Nas legislativas de 1999 também foi longo o processo negocial, mas foi mais simples e menos polémico do que em 1995. O modelo encontrado foi inédito. Todos os líderes dos quatro maiores partidos se confrontaram entre si e a série foi finalizada com um debate a quatro.

Nas legislativas de 2002 foi inaugurado um outro modelo. Na RTP estiveram os líderes dos partidos com representação parlamentar e na SIC foi o frente a frente Ferro Rodrigues - Durão Barroso. A negociação destes debates não foi tão complexa como em 1995, mas obrigou igualmente a prolongadas negociações, segundo disse ao Independente Einhart da Paz.

Independente: Porque é que se indignou por Durão Barroso ter ficado sentado ao lado de Paulo Portas no debate na RTP?
Einhart: Esta divisão simplista esquerda/direita está morta. Num debate tudo deve ser decidido como em qualquer lugar do mundo: por sorteio. O candidato não está a representar o número de votos que tem, ele ainda não tem que ter votos para lá estar. Porque é que Durão tem que ficar ao lado de Portas, perto do centro como se ele fosse de centro-direita? Nós aceitamos e repare-se que o PS mandou para a reunião com a RTP um membro do governo, o que é assustador discutir o que era para ser feito. A própria Judite de Sousa, por telefone, sugeriu que o debate se iniciasse pela Educação e Saúde porque eram temas que não tinham sido ainda discutidos na campanha. O José Magalhães não aceitou e quis começar pela Economia, porque dizia que era o que interessava às pessoas. É obvio que a economia não interessa a ninguém, é uma coisa árida, mas ele disse que era importante para não perder audiência. O Bloco de Esquerda votou com o PSD neste ponto e quem é que votou junto com o PS? (…) O PP. O PCP estava na cara que ia votar junto com o PS, aliás durante a reunião, o representante do PCP nem falou. (…) José Magalhães foi pedir à RTP para não fazerem grandes planos da cara de Ferro Rodrigues para não se ver que ele baba ao falar
».
Independente; 22/03/2002

 

Nas legislativas de 2005 repetiu-se a polémica e chegou a haver a ameaça de não haver qualquer debate. «A realização do frente-a-frente entre Santana Lopes e José Sócrates foi acordada após várias semanas de desentendimentos entre as direcções do PSD e do PS, quer sobre o número de debates entre os dois principais candidatos a primeiro-ministro, quer sobre as estações de televisão que os deveriam transmitir. O presidente do PSD manifestou a vontade de fazer com o secretário-geral do PS o maior número possível de debates, mas o líder socialista apenas aceitou estar presente num único frente-a- frente com o actual primeiro-ministro e num debate com os outros quatro líderes partidários.
Depois, tendo José Sócrates a posição de apenas fazer um debate com Pedro Santana Lopes, havia que escolher quem o transmitiria entre a SIC e a TVI - as duas estações de televisão que apresentaram propostas para o realizar
“. –
Expresso;

A argumentação oficial do PS é que pretendia manter o modelo das eleições de 2002. Luís Paixão Martins, que tinha a responsabilidade do marketing da campanha disse depois do acto eleitoral que «o candidato que vai à frente não deve arriscar». Ao contrário, Santana Lopes queria que fossem realizados vários frente-a-frente com José Sócrates.

O processo arrastou-se durante toda a pré-campanha e acabou por haver um debate na RTP com os líderes dos principais partidos e um frente-a-frente promovido pelo Clube dos Jornalistas, aberto à comunicação social. Este debate introduziu uma outra novidade: «Debate à americana
Tal como nos debates das últimas eleições presidenciais norte-americanas, os tempos de resposta estão estabelecidos à partida. Quando colocado perante uma pergunta, o candidato visado terá dois minutos e 15 segundos para responder e o oponente um minuto para replicar (e o candidato questionado outro minuto para a tréplica, se assim o entender).
Durante a resposta ver-se-á uma luz verde; a 30 segundos do fim do tempo, acender-se-á uma luz laranja; e a 15 segundo do fim, uma luz vermelha. Rodrigues Guedes de Carvalho terá por missão cortar a palavra aos candidatos se estes ultrapassarem o tempo que lhes é atribuído. Sócrates começa o debate, Santana encerra
». João Pedro Henriques;
Público;

Nas Legislativas de 2009 foi alterado o modelo. Foram realizados debates, dois a dois, entre todos os líderes dos partidos com representação parlamentar.

Em 2011, com a troika em Portugal, os condicionamentos eram de outra natureza. O processo foi mais rápido e o debate entre José Sócrates e Passos Coelho teve uma das maiores audiências na história da Democracia portuguesa.

Em 2015 foi alterada a legislação. Os órgãos de comunicação social registam maior liberdade editorial e os debates estão condicionados pela representatividade das candidaturas ao órgão onde pretendem concorrer.


A ida a um debate implica uma longa e rigorosa preparação, que passa por várias áreas, desde o conteúdo à forma. É um trabalho que, em geral, exige uma equipa que recolhe e trata informação, a observação de debates anteriores e avalia os pontos fortes e fracos – e como os utilizar.

A preparação do debate de ontem começou na passada sexta-feira, dia em que no PS se fez uma reunião de planificação dos temas que ontem estiveram em causa no confronto Guterres-Nogueira na SIC. O levantamento das questões agendadas (…) o visionamento do debate na RTP, esmiuçando os pormenores, detectando os pontos fortes e fracos de Guterres e o mesmo, possivelmente ainda com maior atenção, quanto a Fernando Nogueira” – Público 14/09/85.

O mesmo foi relatado pela comunicação social no debate entre Ferro Rodrigues e Durão Barroso em 2002 e entre José Sócrates e Santana Lopes em 2005 - «O líder do PSD vai passar o dia de hoje a preparar o confronto, saindo de São Bento apenas para um almoço com a Confederação do Turismo. O presidente do PSD gosta de ficar sozinho quando se prepara para confrontos decisivos, a consultar dossiers e a preparar mentalmente as suas intervenções, mas deverá ao longo do dia ouvir conselheiros como Rui Gomes da Silva, Miguel Almeida, Pedro Pinto, Miguel Relvas ou Morais Sarmento. Santana também costuma ouvir amigos que não têm nada a ver com a política, que servem “como uma espécie de focus-group”, diz um colaborador.» - DN

 

Um outro aspecto fundamental é, com alguma antecedência, fazer-se um levantamento das situações desfavoráveis e as perspectivas que possam tornear os problemas, ou mesmo lançar um contra ataque. No “You are the message”, Roger Ailes conta detalhadamente a preparação de Reagan para um debate com Mondale. Um dos pontos fracos de Reagan era a sua idade avançada. Como era de esperar, Mondale avançou com o ataque e Reagan respondeu que não queria fazer da idade um tema de campanha, para não falar da juventude e inexperiência de alguns adversários. Era o caso de Mondale. Com este contra ataque, Reagan resolveu de uma só vez o problema da idade avançada.

 

Repare-se num outro exemplo, relativo à governação do PS que era acusado de promover o «clientelismo». À espera que Durão Barroso recorrer-se a este tema, no já citado debate de 2002, Ferro Rodrigues levou uma resposta preparada.

Durão Barroso insistiu várias vezes com o facto do governo PS ter cedido a lobbies, tendo Ferro Rodrigues reconhecido que sim. Este capítulo seria um manancial que o líder do PSD só explorou pela rama, apesar de ter acusado Ferro Rodrigues de ser o detentor do recorde das “nomeações políticas” do Governo, 1124. Ferro mostrou a última nomeação, a de Leonor Beleza, funcionária da presidência do Conselho de Ministros e candidata do PSD.”
Público; Ana Sá Lopes; 27 Fevereiro de 2002

Neste levantamento constam também os temas que criam dificuldades aos adversários. O trabalho seguinte é transformar esses dados em exemplos concretos, que o cidadão comum perceba.

«Durão Barroso replicou que o Governo “fez três orçamentos num ano”: “Os senhores não acertaram uma vez nas contas“.»
Público; Ana Sá Lopes; 27 Fevereiro de 2002

 

Há depois pequenos truques a que se recorre com alguma frequência, como por exemplo, confrontar o adversário com o preço de produtos ou serviços que fazem parte do quotidiano dos cidadãos – o preço de um pão, de um bilhete de Metro…

 

Nas legislativas de 1999 Carlos Carvalhas utilizou este truque com Paulo Portas mas, o tiro saiu-lhe pela culatra.
O líder do PP levava a lição bem estudada e, além do preço de um litro de leite, disparou de rajada o preço de vários bens essenciais.

Para os debates levam-se os documentos que possam comprovar as acusações que vão ser feitas. Mesmo que não sejam exibidos ostensivamente apontam para eles, podem ler uma frase, uma data… para dar veracidade à acusação:

A divergência relativamente ao rendimento mínimo garantido permitiu a Guterres fazer um número a calhar para a televisão: puxou de uma directiva comunitária assinada pelo «ministro de Portugal Silva Peneda», onde se defendia que os países da União Europeia adoptassem um esquema similar ao proposto pelo PS” –

Público, 07/09/95.


Mais tarde, nas legislativas de 1999 foi a vez de Durão Barroso recorrer a gráficos (que mostrava para as câmaras) para ilustrar o “mau” desempenho do Governo em determinadas áreas.

Há mesmo quem vá mais longe e, além dos documentos, chega a levar outros objectos.

Foi o que fez Paulo Portas no debate de 20 de Setembro com António Guterres para as legislativas de 1999.

O líder do PP queria chamar a atenção para um tema que fazia parte da sua campanha – a agricultura – e levou para o debate duas batatas que fizeram notícia.
Portas mostra duas batatas a Guterres (…) Ao apresentar a batata espanhola e outra nacional, o presidente do PP, Paulo Portas, procurou provar a “enorme” desvantagem competitiva entre os agricultores portugueses e os seus concorrentes directos em Espanha (…) ” Lusa, telex 202351 Set. 99.

 

Na verdade, o recurso a esta temática, vinha já das eleições Europeias, meses antes das Legislativas. Na altura, segundo Jorge Alves da Silva, responsável pela imagem do PP, “«Tínhamos 20 mil contos, não era nada. Precisávamos de fazer algo tipo guerrilha, de multiplicar os efeitos da comunicação do líder». Surgiu então a ideia da campanha nas feiras. «Era preciso encontrar formas de síntese paradoxais para comunicar com o eleitorado. Para combater a ideia burocrática da Europa, perguntava-se onde estão as batatas, as maçãs produzidas em Portugal. São questões concretas que tocam as pessoas»” – Público 5 de Julho de 1999.

Esta estratégia deu resultado e Paulo Portas continuou a apostar na visita às feiras nas eleições seguintes, de tal forma que, por algumas pessoas, era tratado como “o Paulinho das feiras”. (Esta imagem foi quebrada nas legislativas de 2005, quando era ministro de Estado e da Defesa e era perceptível a dificuldade em sobrepor as duas imagens.)

 

Na preparação destes debates é frequente fazerem uma simulação com alguém a fazer o papel de “advogado do diabo”.

Nesta simulação é avaliada a relação com as câmaras, a telegenia, a naturalidade da comunicação porque são elementos relevantes. Por vezes até são os marcantes e diferenciadores de um debate.

Foi o que sucedeu em 2002 entre Durão Barroso e Ferro Rodrigues. Segundo a imprensa, «Não houve vencedores no único frente-a-frente que pôs em confronto Durão Barroso e Ferro Rodrigues nesta campanha eleitoral.» (Ana Sá Lopes, Público de 27/02/2002). A diferença esteve mais na forma como se apresentaram.

«Ferro Rodrigues não dominou ainda o olhar e esse descontrolo da pupila nas órbitas oculares transfere-se para a sensação como o espectador recebe o seu comportamento não-verbal. Na declaração final - o último acto da divina representação - os candidatos são autorizados a prescindir do telejornalista, sacerdote intermediário entre a TV e os mortais que assistem à cerimónia. Mas, por falha momentânea, a realização não cumpriu as suas próprias regras nos primeiros segundos da declaração do candidato do PS, mostrados à audiência não pela câmara escolhida para tal, mas por uma câmara lateral. Por causa disso, vimos Ferro Rodrigues a olhar para o lado. Este facto “desconstruiu” logo de início o conceito de “declaração final”. O candidato do PS esteve a falar para um objecto (a câmara que não estava no ar) e não para “nós” (a câmara escolhida). Se fosse um “pivot” ele teria olhado para câmara certa ao perceber o erro do realizador. O modo de olhar da TV influencia o do espectador, mas não é definitivo..» Eduardo Cintra Torres, Público.

 O PS não aprendeu a lição e este problema que Ferro Rodrigues teve no debate com Durão Barroso repetiu-se no frente-a-frente de José Sócrates com Santana Lopes. Na declaração final o líder do PS não olhou para a câmara que estava definida e o efeito pretendido não foi atingido.

 Antes do debate também é avaliada qual a imagem que se quer alcançar e qual a postura que melhor se adequa a essa imagem. Em função deste exercício, conclui-se como dosear a agressividade, o modo como interpelar os adversários e a forma como abordar alguns temas.
Foi de certa forma o que aconteceu com António Guterres nas legislativas de 1995. No primeiro debate, na RTP, em 06/09/95, foi mais agressivo. No segundo debate, depois de ter ganho por “KO” como foi definido pelo Público de 07/09/95, António Guterres preferiu ir par o segundo debate numa postura mais de “estadista”, “de forma menos polémica e mais institucional”, deixando para o seu adversário “a tentação de criticar Guterres por tudo e por nada” – Público, 14/09/95.

 

Em qualquer caso, um objectivo fundamental é evidenciar uma postura segura, de controlo de todas as situações. “Foi um debate ganho no primeiro minuto: a impressionante descontracção de António Guterres chocou de imediato com a mal-disfarçada insegurança de Fernando Nogueira” – Público, 07/09/95
De forma diferente, foi a avaliação feita a José Sócrates na primeira parte do debate com Santana Lopes: «Uma hora. Durante uma hora José Sócrates não esboçou um sorriso, não descontraiu o rosto. Repetiu gestos curtos, impacientou-se, conteve-se. Depois do intervalo, transfigurou-se. Podem ter sido os conselhos que lhe deram nos bastidores, para ser menos ríspido, para não lançar o tempo todo aquele olhar de animal feroz. Bastou Pedro Santana Lopes aventurar-se em comentários sobre a co-incineração e a cara do líder socialista iluminou-se. Baixou os ombros, recostou-se na cadeira, riu-se pela primeira vez desde as oito e meia da noite, enquanto saboreava a vantagem sobre o adversário. Aquele era o seu terreno, não era o de Santana. Finalmente.»Filipe Santos Costa; DN; 0004/02/05.

Sublinhe-se que o conceito «vencer» um debate nem sempre é claro na mente de alguns políticos (e também de alguns comentadores). Muitos esquecem que «vencer» o debate, não é vencer o oponente, o objectivo é ganhar eleitores.

 

Repare-se, por exemplo, no que sucedeu a Paulo Portas e a Durão Barroso em 22 de Setembro de 1999. Os dois líderes tinham relações políticas de grande tensão e apesar de representarem um eleitorado conservador, que gosta de algum respeito e formalidade no relacionamento pessoal, acabaram por transformar o debate num ringue de acusações pessoais. “Durão e Portas lavaram roupa suja no debate da SIC. Como eles se odeiam” título da reportagem do Público de 23 de Setembro de 1999, que tinha na abertura da notícia o seguinte lead: “Maoísta, nazi, estalinista, troca-tintas. Estes foram apenas alguns dos insultos ontem entre Paulo Portas e Durão Barroso (…) Um debate em que ambos perderam, mas Durão terá perdido mais”. No mesmo dia escreveu o Diário de Notícias em título: “Zangados, nervosos e sem papas na língua.” Segundo o relato da jornalista “a agressão verbal foi aumentando e a tensão também”. Tudo isto, para concluir nas palavras de Vicente Jorge Silva, na mesma edição do D.N.: “ (…) A direita deve ter ficado bastante desgostosa com o espectáculo e Guterres ganhou sem ter mexido uma palha (…)” No mesmo sentido foi a opinião de Manuel Vilaverde Cabral na mesma edição do D.N.: “Perderam ambos o debate, autodestruindo-se”.
Ou seja, não importa qual deles ganhou o debate. O que parece ter sucedido é que ambos perderam uma oportunidade para captar novos eleitores, se não chegaram mesmo a perder alguns.

 

Os debates das legislativas de 1995 entre Fernando Nogueira e António Guterres acabaram com um interregno de 10 anos em que não houve qualquer confronto na televisão entre os líderes dos principais partidos.

 

Este intervalo teve lugar enquanto Cavaco Silva desempenhou o cargo de Primeiro-ministro.
O então líder do PSD considerava que os debates não passavam de um mero espectáculo. Mesmo em 1985, quando participou em debates, Cavaco Silva recusou o primeiro confronto, fazendo-se representar por Eurico de Melo. Só aceitava participar com o candidato socialista sobre políticas económicas. Quando se fez substituir por Eurico de Melo, a RTP não aceitou, argumentando que violava as regras estabelecidas e o debate teve apenas como participantes Lucas Pires (líder do CDS) e Álvaro Cunhal (líder do PCP). Cavaco Silva ficou em casa a ver o debate na companhia de uma jornalista do Expresso. O relato que vem na edição de 7 Setembro de 1985 mostra bem a forma como o líder do PSD encarava a questão dos debates: “Isto da TV faz-me confusão. (…) Há quem diga que eu devo ir, não se pode desperdiçar a ocasião… Não sei. (…) «Tu devias ir» aconselha-o a mulher. «Estão a descascar-te, aproveitam-se de que ali não estejas…»” Cavaco Silva acabou por aceitar a sugestão da mulher e participou em dois debates, sendo o último em 12 de Setembro de 1985, onde esteve em estúdio com Almeida Santos e Álvaro Cunhal. Curiosamente, “os comentadores deram a vitória a Almeida Santos no segundo dos seus debates com Cavaco Silva, mas foi este que ganhou as eleições” – José Manuel Fernandes, Público de 13/09/95. Segundo uma sondagem do Expresso de 7 de Setembro de 1985, Almeida Santos também venceu o debate anterior :” Santos – 36%; Cunhal – 23% e Lucas Pires – 25%”.

Na democracia portuguesa fizeram história quatro debates que, de certa forma, coincidem com três momentos políticos importantes.

 

 

 

O primeiro foi entre Mário Soares e Álvaro Cunhal. O debate teve lugar durante quase quatro horas, na noite de 6 de Novembro de 1975, em plena agitação do período revolucionário.
Para a história fica a frase “olhe que não Sr. Doutor” de Álvaro Cunhal, mas o mais relevante foi o confronto directo entre duas figuras marcantes do regime no período pós revolucionário.
Foi, talvez, o debate mais marcante da democracia portuguesa e serve como ponto de referência para os outros debates, por ter sido o primeiro “combate de gigantes” a ser transmitido em Portugal (2) e ter decorrido num ambiente calmo e ameno, ao contrário da agitação que se vivia nas ruas, mesmo enquanto decorria o debate..

 

Mário Soares participou noutro debate que fez história, devido à forma como conseguiu colar o seu adversário a uma imagem ligada ao antigo regime.
Foi em 1986, na segunda volta das eleições presidenciais, contra Freitas do Amaral. Soares precisava dos votos da esquerda para ganhar e lançou sempre a suspeição sobre Freitas do Amaral de estar envolvido com o fascismo - «Não tenho dúvidas que Freitas do Amaral se converteu, tardiamente, à democracia». Mais tarde, o próprio Mário Soares reconheceu que essa imagem não correspondia à realidade.

 

O terceiro debate que merece ser destacado é por ter tido um papel importante na viragem de um resultado eleitoral. Foi em 1989, entre Jorge Sampaio e Marcelo Rebelo de Sousa, para a Câmara Municipal de Lisboa. Até ao debate quase todas as sondagens davam a vitória a Marcelo Rebelo de Sousa, mas a partir daqui houve uma inversão e Jorge Sampaio acabou por ganhar as eleições

 

 

 

O quarto ciclo de debates que merece ser destacado foi em 1995 entre Fernando Nogueira e António Guterres. Foram dois debates que iniciaram uma nova fase de confrontos televisivos entre os dirigentes dos dois maiores partidos. Segundo um editorial do Público, António Guterres venceu o primeiro debate por «KO» e o segundo debate “confirmou o favoritismo de Guterres”. Um dos motivos invocados por vários comentadores, teve a ver com a capacidade de comunicação de Guterres que “esmagou” uma postura “cinzenta” de Fernando Nogueira. Além do efeito directo do debate (segundo dados da AGB, o primeiro debate foi visto por 1.600 mil pessoas e o segundo debate por 1.500 mil pessoas), António Guterres obteve ganhos acrescidos com os comentários positivos que se multiplicaram em vários órgãos de comunicação social.

 

Há mesmo quem afirme que parte significativa da mais-valia conseguida num debate é o efeito que provoca no tratamento informativo nos dias seguintes. «”As consequências do debate talvez sejam mais interessantes. Dão o tom da campanha a seguir. O debate não se esgota nele mesmo”, diz Fernando Mitre, director de Jornalismo da Band. - O Estado de S. Paulo; 24/10/2004

 

 

 

 

Manuel Maria Carrilho teve esta experiência quando em Novembro de 2005 foi a um debate com Carmona e Silva. A disputa para a Câmara de Lisboa terminou com Carrilho a recusar apertar a mão a Carmona e as câmaras da SIC registaram este momento. No dia seguinte foram estas imagens que abriram os telejornais, foram publicadas na imprensa e na Internet. O grande efeito mediático não foi o debate. Foi o incidente que acabou por ser amplamente valorizados pelos vários órgãos de comunicação social.

 

Após um vazio de vários anos, os debates começaram a ser um ritual nos processos eleitorais.

 

O ponto máximo foi atingido em 1999 com a realização de sete debates. Os líderes dos quatros maiores partidos tiveram confrontos directos e, no final, juntaram-se todos num debate na RTP.
O debate que, aparentemente podia ter maior incidência no resultado eleitoral foi entre António Guterres e Durão Barroso, mas o que reuniu maior curiosidade da comunicação social foi entre Paulo Portas e Durão Barroso. Este debate foi, inclusive, o que teve maior audiência média – 19.7% (fonte Audipanel), enquanto Guterres e Durão ficaram-se pelos 15.2%, o resultado mais baixo de todos os debates na SIC. Segundo uma sondagem da SIC, o líder socialista venceu este debate: 57% - António Guterres e 25% para Durão Barroso. Numa outra sondagem, da Euroexpansão, publicada pelo Expresso em 25.9.99, para 60% dos inquiridos, Guterres foi quem esteve melhor nos debates, que foram vistos por 57% dos portugueses, enquanto 34% atribuíram a Durão Barroso o pior desempenho. Além do efeito directo do debate, António Guterres tirou ainda partido da sua prestação, no dia seguinte, com os comentários publicados em vários órgãos de comunicação social: DN: Vasco Pulido Valente “ Passou por cima de Durão Barroso como um rolo compressor”; Vicente Jorge Silva: “ Claramente, quem ganhou o debate foi António Guterres”; 24H.Primeira página: “Big Show Guterres”; Independente: “o primeiro e o aspirante”, última página, num comentário de Inês Serra Lopes: “ontem o vencedor foi nitidamente António Guterres”; Diário Económico, manchete: “ Durão perde hipótese de vencer Guterres”.

Nesta série de debates, uma outra particularidade teve a ver com o confronto dos quatro líderes na RTP. Foi, de todos, o debate mais informativo, com uma discussão serena de temas que tinham a ver com o quotidiano dos cidadãos – “o debate na RTP (…) foi esclarecedor sobre os objectivos de cada partido em áreas como a economia, questões sociais e políticas.” Lusa 24 Setembro 1999. No entanto, por não ter sido um “espectáculo” televisivo, foi o que obteve menos audiência – 9.8%.
A ideia geral que ficou de todos os debates é que não despertaram grande curiosidade, nem influência no eleitorado. “O resultado final junto do eleitorado talvez tenha sido mais o alicerçar as ideias já existentes.” – Expresso 25.9.99.

 

O que se passou nas legislativas de 1999 é revelador do efeito dos debates. Se algum dos candidatos tiver uma prestação péssima, se cometeu um erro colossal, se teve um acto de coragem ou de grande afirmação, pode, eventualmente, ter reflexos no eleitorado. Se nada disto se passou e o próprio ambiente não é de mudança política, então, os debates de pouco servem. Limitam-se a segurar os fieis e convencer poucos indecisos. Nas palavras de Elihu Katz, professor norte-americano e antigo responsável pela televisão pública de Israel, os debates televisivos servem sobretudo para «cristalizar» opções já tomadas e só residualmente provocam mudanças de posição». (3)

 

Em 2002 a situação também não foi muito diferente. Por um lado, o debate entre Ferro Rodrigues e Durão Barroso não teve grande efeito nos media. O consenso foi que não houve vencedor. Por outro lado, a audiência também não foi muito significativa - «o debate entre Ferro Rodrigues e Durão Barroso teve uma audiência média de 1,2 milhões de espectadores. O”share” foi de 33,4 por cento, o que significa que àquela hora, em cada 100 espectadores que viam televisão 33,4 acompanhava as propostas dos líderes do PS e do PSD. Apesar do interesse do actual momento político português e deste ter sido o único frente-a-frente entre os dois candidatos a primeiro-ministro, o debate não foi capaz de derrotar as novelas da TVI, que mantiveram a liderança das audiências» Lusa

 

Em 2005 os debates não alteraram o valor das sondagens feitas até essa altura. O confronto entre José Sócrates e Santana Lopes não teve um vencedor claro. Pelo menos a opinião expressa nos media era contraditória - «Eleições: Imprensa dividida na análise ao debate entre Santana e Sócrates.

Lisboa, 04 Fev (Lusa) - A imprensa portuguesa de hoje divide-se na apreciação do frente-a-frente televisivo de quinta-feira à noite entre o líder social-democrata Santana Lopes, e o líder socialista José Sócrates, mas é unânime em considerar o debate morno. (…) alguns jornais atribuem a vitória ao presidente do PSD, Santana Lopes, outros ao secretário- geral socialista, José Sócrates, enquanto para outros simplesmente não houve um vencedor..» Lusa 04/02/05.
Uma sondagem revelada pelo Correio da Manhã e realizada pela Aximage revelou que 50,4 por cento dos inquiridos atribuíram a vitória a José Sócrates, 20,2 por cento a Pedro Santana Lopes, enquanto 29,6 por cento considera que se registou um empate.
O que este debate trouxe de novo foi um interesse significativo dos espectadores. O mesmo se passou duas semanas depois no debate na RTP, com os cinco principais líderes partidários.

 

 

O elevado número de indecisos talvez tenha contribuído para levar estes debates para um lugar cimeiro do ‘top’ dos programas políticos mais vistos.

1. P. Coelho/A. Costa - 09/0915 - 3,4 milhões espectadores (RTP, SIC e TVI) 

2. Santana L./J.Sócrates - 03/02/05 - 23,1 % de aud. média ; 2.242.700 espectadores

3. José Sócrates-Passos Coelho 20 Maio 2011              1.584.500

4. Paulo Portas/José Sócrates      09 Maio 2011            1.483.298

5. Paulo Portas/José Sócrates      09/2009 -                 1.439.900
6. José Sócrates/Francisco Louçã  09/2009                  1.419.400

7. José Sócrates/Manuela F. Leite 09/2009                   1.337.400

8. Fernando Nogueira/António Guterres 09/1995          1.280.000

9. Durão Barroso/Ferro Rodrigues 26/02/2002    13.7% 1.230.200

10. Fernando Nogueira/António Guterres 09/1995          1.207.200

11. Francisco Louçã/Manuela F. Leite  09/2009               1.181.500

12. Jerónimo Sousa/Manuela F. Leite 09/2009              1.180.500

13. Paulo Portas/Manuela F. Leite 09/2009                   1.176.600

14. José Sócrates/Francisco Louçã 12 Maio 2011          1.140.000

15. Paulo Portas/Francisco Louçã 09/2009                   1.020.200

16. Paulo Portas-Francisco Louçã 18 Maio 2011            1.015.615
17. Passos Coelho-Francisco Louçã 17 Maio 2011         1.010.995

18. José Sócrates/Jerónimo Sousa 09/2009                   976.800

19. P P Coelho/Jerónimo Sousa 10 Maio 2011                970.748

20. Debate a 5 em 12/03/2002  10.6%                          955.400

 

Outras audiências relevantes de programs televisivos:

Debate a cinco na RTP 16/02/05 - 18,3%
Entrevista a Cavaco Silva na TVI Novembro de 2005 – 17.8%
Entrevista a Manuel Alegre na TVI Novembro de 2005 – 13.8%
Eleições Europeias 13/06/2004 - 13.5%
Entrevista a Jerónimo de Sousa na TVI Novembro de 2005 – 12.8%
Grande Entrevista a António Guterres 04/05/2003 – 12%
Entrevista a Francisco Louçã na TVI Novembro de 2005 – 11.7
Grande Entrevista a Cavaco Silva 06/03/2003 – 10.9%
Entrevista a Mário Soares na TVI Novembro de 2005 – 10.8%
Debate da Nação – dissolução da AR 10/12/2004 – 9.8%
Grande Entrevista a Durão Barroso 16/07/03 – 8.5%
Grande Entrevista a Ferro Rodrigues 11/11/03 – 8.1%

Entrevista a José Sócrates TVI 26/04/2011 1.135.040 espectadores 

 

O debate na RTP com os cinco líderes partidários originou também uma situação inédita. Jerónimo de Sousa ficou afónico e teve de se ausentar. Fez uma primeira tentativa, não conseguiu falar e saiu do estúdio. Após o intervalo regressou, fez uma intervenção mas acabou por abandonar o debate.

O ciclo seguinte foi o das presidenciais, em Dezembro de 2005. O confronto mais esperado foi entre Cavaco Silva e Mário Soares mas acabou por ser o o quarto mais visto da série de 10 debates, com apenas 1,381 milhões de telespectadores a assistir ao "duelo".
O debate entre Mário Soares e Manuel Alegre, realizado a 15 de Dezembro, foi o mais visto, com 1,730 milhões de telespectadores.
Este frente-a-frente foi também líder de audiências, no dia em causa, uma situação que não se repetiu com qualquer outro debate da série.

 

Em 2009 é de assinalar o debate entre José Sócrates e Francisco Louçã. O debate foi visto por 1.419.400 indivíduos. Foi em 08/09/2009, na RTP e marcou uma viragem na motivação do PS. José Sócrates estava em grandes dificuldades e parte do eleitorado fiel duvidava da capacidade do líder do PS em ganhar as eleições.
Neste debate com o dirigente do BE, Sócrates conseguiu uma manifesta vantagem e introduziu uma nova motivação. Como se tivesse "renascido". De facto, para muitos dirigentes socialistas, começou aqui o ponto de viragem que levou o PS à vitória e a comunicação refletiu o impacte da vitória de Sócrates. O próprio Francisco Louçã viu-se na necessidade de, nos dias seguintes, tentar explicar alguns dos pontos controversos do debate.

 Em 2011 o debate que teve maior audiência, em 20 de Maio, entre José Sócrates e Passos Coelho, na RTP1, teve uma outra particularidade: a gestão das expectativas.
 O cariz de Sócrates, a sua acutilância, a sua determinação, o registo de que se prepara em detalhe para os debates, o estar no poder.... todos estes elementos criaram a ideia de que o então primeiro-ministro ía "dar uma tareia" a quem lhe queria tirar o lugar.
 Esta ideia estava projectada na comunicaão social, nas redes sociais e nos comentários de muitos dirigentes políticos.

Na verdade, nada disto se passou. Foi vaga a ideia de quem ganhou mas o simples facto de Passos Coelho não sair em "KO", pelo contrário, ripostou e até conseguiu surpreender José Sócrates, foi o suficiente para dar uma "nova alma" à candidatura do PSD. Ganhou o debate quem melhor fez a gestão das expectativas.

Debates das Legislativas de 2015. A particularidade foi a transmissão em simultâneo do debate Passos Coelho/António Costa por parte da SIC, TVI  RTP.
Os outros debates realizaram-se nos canais informativos distribuidos por cabo.

Como já foi referido, de destacar as audiêncis alcançadas pelos debates na Legislativas de 2009 colocando alguns no Top dos programs políticos mais vistos:
J. Sócrates - P Portas -     1,439,000 espectadores
J. Sócrates - F Louçã -     1,419,400
J Sócrates - M. F. Leite -  1,337,400
F. Louçã - M. F. Leite -    1,181,500
M. F. Leite - Jerónimo S. 1,180,500
P. Portas - M. F. Leite -    1,176,600
P. Portas - F. Louçã -        1,020,200
J. Sócrates - Jerónimo  S.    976,000
F. Louçã - Jerónimo S. -      835,000
P. Portas - Jerónimo S. -      811,400
Dos dez debates exibidos entre 2 e 12 de Setembro, quatro foram os programas mais vistos do dia.

 

 

O ritual dos debates implica também uma prática que começa a ser habitual - o protesto dos que são excluídos e que reivindicam o direito de estar presente.

Em 1985 Carlos Carvalhas tentou entrar na RTP para participar no debate entre Fernando Nogueira e António Guterres e, na semana seguinte, em frente às instalações da SIC, a CDU organizou “talvez, o maior comício desta pré-campanha da coligação de esquerda (à excepção da Festa do «Avante»)(…) Acabou por ser uma aposta ganha.” - (Público 14/09/95).

Passada mais de uma década a mesma história repetiu-se com os debates para as Legislativas de 2011. Os "pequenos" partidos recorreram a tribunais e no primeiro debate "cerca de duas dezenas de pessoas, em representação dos partidos PCTP/MRPP, Partido Trabalhista Português e Partido Nova Democracia, entraram indevidamente nas instalações da RTP, a minutos do debate entre Paulo Portas e Jerónimo de Sousa". No debate seguinte, na TVI, regitou-se novo protesto.

 

 

Uma última referência para as declarações que são feitas nos bastidores dos debates. Muitos órgãos de comunicação social fazem reportagens sobre a forma como os assessores dos líderes acompanham a emissão. É também frequente a recolha das opiniões dos candidatos sobre a forma como decorreu o debate. Muitas vezes estas reacções servem de sinais aos jornalistas sobre a percepção que os vários «stafs» fazem do resultado do debate. Habitualmente reagem de uma forma positiva: “o primeiro-ministro manifestou-se contente com o debate: «nós achamos sempre que ganhamos». E o líder da oposição também: «fiquei extremamente satisfeito»” – Público, 17 Setembro de 1999. Quando não é o próprio candidato a exprimir a sua opinião conome é exemplo no debate com Paulo Portas nas Legislativas de 2011 que permitiu ao site do Expresso colocar em grande destaque "Sócrates: "Ganhei este debate e vou ganhar as eleições"

 

(1) Porque as sondagens davam o PSOE muito próximo do PP, “o duelo feroz entre Felipe Gonzalez e José Maria Aznar terá dois assaltos e decidirá em grande medida a vitória eleitoral, segundo estimam os responsáveis políticos das duas forças políticas” - Cambio 16; 31 Maio de 1993, nº 1.123
(1) Antes, Cunhal e Soares tiveram um outro debate, mas foi difundido apenas na televisão francesa – ORTF.
(2) Público; 23/03/1999

 

 

Lista de alguns dos debates mais marcantes:
Julho de 1975 – Mário Soares / Álvaro Cunhal – ORTF ( difundindo em França)
06 Novembro 1975 – Mário Soares/Álvaro Cunhal – RTP
20 Novembro 1980 – Entrevistas aos candidatos presidenciais
29 Agosto 1985 – MDP/CDE; UEDS; UDP e PRD que abandonou – RTP
03 Setembro 1985 – Almeida Santos; Álvaro Cunhal e Lucas Pires - RTP
05 Setembro 1985 – Álvaro Cunhal e Lucas Pires -Cvaco Silva não esteve presente ) – RTP
11 Setembro 1985 – Cavaco Silva, Almeida Santos e Lucas Pires – RTP
12 Setembro 1985 – Cavaco Silva, Almeida Santos e Álvaro Cunhal – RTP
02 Janeiro 1986 – Mário Soares, Salgado Zenha - RTP
09 Janeiro 1986 – Mário Soares; Freitas Amaral – RTP
06 Fevereiro 1986 – Mário Soares; Freitas Amaral ( segunda volta ) – RTP
28 Novembro 1989 – Marcelo Rebelo de Sousa; Jorge Sampaio
06 Dezembro 1990 – Mário Soares ; Basílio Horta
1993 – Macário Correia e Jorge Sampaio que não esteve presente - SIC
06 Setembro 1995 – António Guterres; Fernando Nogueira – RTP
13 Setembro 1995 – António Guterres; Fernando Nogueira – SIC
1995 – Cavaco Silva; Jorge Sampaio
14 Junho 1996 – António Guterres, Carlos Carvalhas, Manuel Monteiro e Marcelo rebelo de Sousa que não esteve presente.
11 Maio 1999 – Mário Soares, Pacheco Pereira, Ilda Figueiredo e Paulo Portas – SIC
28 Maio 1999 - Mário Soares, Pacheco Pereira, Ilda Figueiredo e Paulo Portas – RTP
16 Setembro 1999 – António Guterres; Durão Barroso
17 Setembro 1999 – Paulo Portas; Carlos Carvalhas – SIC
19 Setembro 1999 – Durão Barroso; Carlos Carvalhas - SIC
20 Setembro 1999 – António Guterres; Paulo Portas – SIC
21 Setembro 1999 – António Guterres, Carlos Carvalhas – SIC
22 Setembro 1999 – Durão Barroso; Paulo Portas – SIC
24 Setembro 1999 – Durão Barroso; Paulo Portas; António Guterres e Carlos Carvalhas – RTP
26 Fevereiro 2002 – Ferro Rodrigues; Durão Barroso - SIC
03 Fevereiro 2005 – Santana Lopes; José Sócrates – SIC e RTP2
16 Fevereiro 2005 - Santana Lopes; José Sócrates; Paulo Portas, Jerónimo de Sousa e Francisco Louça.
15 Setembro 2005- Manuel Maria Carrilho / Carmona Rodrigues – SIC Notícias

15 Dezembro 2005 - Manuel Alegre - Mário Soares - RTP

20 Dezembro 2005 - Mário Soares - Cavaco Silva - RTP

08 Setembro 2009 - José Sócrates - Francisco Louçã - RTP

12 Setembro 2009 - José Sócrates - Manuela Ferreira Leite - SIC

20 Maio 2011 - José Sócrates-Passos Coelho (RTP)

Legislativas 2011:
6 Maio:
Paulo Portas-Jerónimo de Sousa (RTP) - audiência média de 910.800 espectadores. Share de 26.1%
9 Maio:José Sócrates-Paulo Portas (TVI) - audiência média de 1.483.298 espectadores. Share de 38.3%
10 Maio: Passos Coelho-Jerónimo de Sousa (TVI) audiência média de 970.748 espectadores. Share de 26.9%
11 Maio:José Sócrates-Francisco Louçã (SIC) audiência média de 1.140.000 espectadores com um share de 30.2%
12 Maio: Francisco Louçã-Jerónimo de Sousa (RTP) audiência de 894 mil espectadores e share de 24,2%
13 Maio: Passos Coelho-Paulo Portas (SIC) audiência média de 887.369 pessoas com um share de 28,8%
16 Maio: José Sócrates-Jerónimo de Sousa (SIC) audiência média de 920.620 pessoas com um share de 28%.
17 Maio: Passos Coelho-Francisco Louçã (TVI) audiência média de 1.010.995 pessoas e share de 30.2%
19 Maio: Paulo Portas-Francisco Louçã (SIC) audiência média de 1.015.615 pessoas e share de 27.9%
20 Maio; José Sócrates-Passos Coelho (RTP)  audiência média de 1.584.500 pessoas e share de 44.2%