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Comunicação Política

Comunicação Política

12
Mai13

Introdução

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Política é comunicação.
Toda e qualquer acção política passa pela comunicação.

Construir um movimento doutrinário, edificar uma estrutura assente em bases ideológicas ou pragmáticas, alargar essa estrutura gerando simpatias, crenças, expectativas…governar e fazer oposição. Tudo isto passa pela comunicação. “Para chegar ao poder, assim como para o exercer ou prestar contas ao cidadão, a política é comunicação.” (1)

Seja qual for o sistema político e a organização do Estado. A própria legitimação do sistema assenta nesta capacidade de comunicação - «as acções para gerar e manter a crença social da validade das instituições são em grande medida uma tarefa que se dá à propaganda. Nela se atribui a função de difundir os princípios e os valores que fundamentam o exercício ideológico, consolidar a legitimação do sistema.» (2)


Esta é uma das características mais salientes da Democracia porque está directamente relacionada com um dos elementos essenciais do sistema: o voto. Votar é escolher. Para haver uma escolha tem de existir informação sobre as candidaturas.

Quanto mais informação, quanto melhor o conhecimento acerca da governação, dos programas eleitorais e do estado do país, mais se afirma a Democracia. Apesar de, aparentemente, provocar resultados contraditórios: em Portugal, por exemplo, o grupo de pessoas com maior nível de instrução é o mais crítico e o que mais rapidamente assume uma postura de desconfiança em relação à governação do país.
Segundo o sociólogo Pedro Magalhães, a capacidade de discernimento deste tipo de eleitor perante o não cumprimento das promessas por parte do eleito propicia este sentimento negativo.

Os assuntos relativos a uma comunidade local ou a toda a sociedade deixaram de ser exclusivo de uma elite. Passaram para a «esfera pública» onde cada cidadão pode exercer os seus direitos, individualmente ou inserido numa organização.
O próprio debate dos temas colectivos é aberto e tende a ser o mais abrangente possível. Uma multiplicidade de direitos (e novos direitos) – cidadania, organização, opinião, diferença…. – são indutores da necessidade de afirmação, de fazer valer os respectivos pontos de vista para influenciar a tomada de decisão.
Este processo passa necessariamente pela troca de informação, pela procura de se ser notícia, de fazer parte da agenda dos media. Todos os suportes são válidos - imprensa, rádio, televisão, internet, comunicação directa ou por líderes de opinião....Esta necessidade não se resume às organizações políticas. Hoje em dia a estruturação do poder passa por outras entidades, como sindicatos e grupos de pressão. É um fluxo que se estabelece em rede, onde os núcleos centrais são os eleitos, os eleitores e grupos de pressão.

Independentemente destes efeitos, há uma necessidade permanente de os regimes democráticos serem sistemas abertos, com um fluxo significativo de informação.

O trabalho desses profissionais é, em síntese, recolher e interpretar informação e comunicar da forma mais positiva possível as decisões que são tomadas.

O objectivo principal passa por dois planos:
- dar a conhecer, de forma positiva, a organização e/ou a liderança;
- influenciar o cidadão em determinado sentido.

A primeira fase, «dar a conhecer», tem em vista a notoriedade: é a difusão do nome do líder, do candidato, da plataforma política ou das acções que estão a ser desenvolvidas por entidades, como por exemplo, governos, autarquias e partidos políticos.
Trata-se essencialmente de construir uma imagem, uma mais-valia em função dos outros concorrentes ou das propostas que estão em discussão.

“Fizemos uma sondagem que revelou isso mesmo, há uma percentagem assustadora de portugueses que não sabem quem é o Dr. Durão Barroso” (…) Por isso, o primeiro “outdoor” de campanha que o PSD vai pôr na rua tem a cara do líder e a pergunta “Já tem o Portugal que quer?”, sem qualquer menção ao partido, apenas o símbolo gráfico. “o que queremos, nesta fase, é dizer que ele é o líder, apenas isto” (3)
A segunda fase visa alcançar o apoio dos cidadãos. O objectivo é convencer – o verbo diz tudo - através da persuasão, de uma mensagem fortemente apelativa e frequentemente emocional. “É um processo comunicativo cuja finalidade ou objectivo é a influência. Uma mensagem persuasiva comporta-se segundo a conduta expressa pelo emissor para que seja adoptada voluntariamente pelo receptor”(4).

Se a comunicação política não atinge a audiência desejada, a mensagem que se pretendeu transmitir não tem qualquer relevância e, por vezes, até tem um efeito negativo. O mesmo se pode afirmar quando atinge a audiência pretendida mas a mensagem não é adequada.

Um outro elemento a ter em conta é que nem sempre o aumento da notoriedade implica uma melhor popularidade. No exemplo atrás citado, do outdoor e a volta a Portugal de Durão Barroso, o resultado não foi o melhor para o então líder do PSD. Segundo sondagens divulgadas pelo DN/TSF/Marktest (30-07-99), Semanário/Eurotest (30-07-99) e Expresso/Euroexpansão (31-07-99), com o final da volta a Portugal, Durão Barroso aumentou a notoriedade mas prejudicou a popularidade, devido essencialmente ao aumento de opiniões negativas.

Quer numa, quer noutra fase - que se podem e devem integrar – são definidos os objectivos a alcançar, o eleitorado preferencial a atingir, qual o tempo necessário para concretizar as iniciativas, a estratégia a seguir e as melhores formas para desenvolver essa estratégia.

Em todas estas fases há sempre um princípio a seguir: a comunicação é lançada por antecipação, antes que seja por arrastamento. Por outras palavras, a própria organização política não perde tempo na definição e desenvolvimento da sua imagem. Se não for assim, os adversários encarregam-se de construir essa imagem e, seguramente, não será muito boa.

Também pode ser a comunicação social a estabelecer essa imagem, privando, logo de início, a organização de controlar os mecanismos de produção dessa mesma imagens.

Um exemplo de antecipação que teve um efeito positivo para o autor da iniciativa: dias antes de tomar posse como ministro, Morais Sarmento deu uma entrevista num canal de TV onde confessou ter um passado toxicodependente. O facto de ter feito esta revelação, sem estar sujeito a qualquer pressão, permitiu-lhe receber rasgados elogios e inibiu os políticos adversários de insinuar este problema.

«Nuno Morais Sarmento mostrou muita coragem e personalidade na entrevista que concedeu a Maria João Avillez na SIC Notícias, ao revelar que já foi dependente de drogas duras e ao contar o seu difícil processo de recuperação e os apoios que teve.(…) Nuno Morais Sarmento vai ter tempo para mostrar se será ou não um bom ministro. Para já, mostrou carácter. E a coragem que a muitos falta.» Duarte Moral, DN; 13 de Novembro de 2002.

Por outro lado, esta antecipação evitou a possibilidade de o caso surgir, mais tarde, na forma de manchete de um jornal, apresentado como um grande escândalo.
«Para evitar uma das principais fontes de bons boatos, os estudiosos recomendam que você não inicie a campanha sem eliminar o background noise, isto é, o “ruído de fundo” na sua vida passada. Se você tem algo na sua trajectória que pode ser utilizado como munição pelos seus adversários, a melhor maneira de desarmá-los é contar logo. Assim, a “terrível denúncia” que eles iam fazer não existe mais.» (5)

Agora, um exemplo de sentido contrário. Dos efeitos negativos devido a um processo de comunicação que falhou por ser tardio na transmissão da mensagem principal: a campanha do “SIM” à regionalização no referendo realizado em 1998. «Ninguém explicou convenientemente os benefícios que a regionalização traria. Quando se tentou esclarecer a população já era tarde e já havia muito ruído por parte de outros partidos» - Margarida Ruas dos Santos in Diário Económico de 10/11/1998.

Um outo dado relevante é que, por melhor que seja a política de comunicação, ela não resolve tudo.
Santana LopesNas legislativas de 2005, Einhart da Paz foi o responsável pela campanha de Santana Lopes que teve um resultado eleitoral negativo: “«a campanha não surtiu efeito mas não foi errada», conclui Einhart, que se recusa a atirar as culpas para Santana (…) lembrando que «o papel do ‘marketing’ não é preponderante». Subjacente parece estar a certeza de que este era, à partida, um caso perdido”. – Expresso 26/02/05.

Elihu Katz, investigador norte-americano e antigo responsável da televisão pública de Israel, vai mesmo mais longe e assegura que «a realidade tem demonstrado que os milhões de dólares gastos em campanhas políticas têm conquistado um número desproporcionadamente escasso de votos. (6)

Uma política de comunicação ajuda, contribui, é um elemento vital, mas não é o único. «Sempre manifestei alguma desconfiança em relação às técnicas de “marketing” e a determinados “estilos de comunicação” que reduzem os discursos políticos a meros “slogans” para saírem nos telejornais e serem assimilados por grandes audiências. O essencial, para um dirigente político, é ter ideias próprias, objectivos claros e convicções sólidas. (…) Cito Abraham Lincoln: “É possível enganar toda a gente durante algum tempo, e mesmo alguma gente durante todo o tempo, mas não é possível enganar toda a gente durante todo o tempo”. É por isso que uma boa estratégia de comunicação se deve adaptar ao pensamento daquele ou daqueles que serve.» - Mário Soares no Prefácio de «As Presidências Abertas de Mário Soares». (7)
Com este pensamento, Mário Soares teria ficado “estupefacto” ao ler o Público de 5 de Julho de 1999, onde Manuel Maltez, o responsável da campanha do PSD, afirmou: «Sou um profissional remunerado que tenho agora como objectivo vender um partido político e vou vendê-lo como venderia um champô ou sabonete». A frase foi citada em vários jornais e por alguns políticos como sinal de exagero. Da parte dos dirigentes do PSD houve um profundo silêncio.

No lado oposto a este tipo de campanha, há o exemplo de João Soares.
Convencido que a «obra» realizada era suficiente para convencer o eleitorado em Lisboa, João Soares não quis recorrer a uma comunicação forte, a instrumentos de marketing, nas eleições autárquicas de Lisboa em 2001. Perdeu para Santana Lopes e uma das conclusões que assumiu é que a derrota foi, em parte, «por culpa própria. Aprendi que não é suficiente o trabalho feito. É preciso comunicar e dar a conhecer o projecto que defendemos», disse a Judite de Sousa numa entrevista na RTP em Julho de 2004.

O mesmo problema se tem colocado a vários governos. É frequente a referência à necessidade de haver uma comunicação eficaz com os cidadãos. Por vezes, esta dificuldade de comunicação é colocada como um dos principais problemas da governação.

Foi o que sucedeu com o executivo liderado por Durão Barroso.
Vários comentadores chamaram a atenção para a ausência de uma política de comunicação. ‘Para Marcelo Rebelo de Sousa o «Governo prepara medidas, vai tomando iniciativas, mas não tira proveito delas’. Pelo contrário, critica, «às vezes ficam grandes equívocos no ar». –DN; 10/12/2003. Nesta mesma edição o editorial do DN foi dedicado a este tema e o título era: «Comunicar é preciso», onde se explicava que «na capacidade comunicacional de um Governo repousa muito do seu trabalho político, porque o que hoje conta, verdadeiramente, são as mensagens que se passam à opinião pública».


Ciente deste problema e alertado pelas críticas, o então primeiro-ministro assumiu a necessidade de comunicação como um dos problemas da governação e, segundo conta o DN, fez dele um dos temas de um Conselho de Ministros: ‘«Precisamos de melhorar o nosso diálogo com os portugueses», apelou o chefe do Executivo.
Nessa mesma reunião, Durão pediu aos seus ministros que enumerassem as prioridades sectoriais de cada pasta para 2004. Na sua opinião, isto permitirá simultaneamente melhorar a comunicação interna e dar visibilidade externa ao Executivo no seu todo’.

A preocupação do então primeiro-ministro foi mais longe porque, a partir daqui, o governo começou a avaliar a hipótese de criar uma estrutura que coordenasse a comunicação do executivo. Esta proposta mereceu forte contestação, embora seja um processo perfeitamente normal em alguns países, como é exemplo os EUA.

Pelo que se pode perceber nos exemplos citados, há as mais variadas opiniões sobre o papel do marketing e da comunicação na política. O que parece ser unânime é que a política não pode dispensar estas técnicas de comunicação.
Até a contra gosto: «O PCP “embora não concorde com muitas das evoluções da vida política, inevitavelmente é condicionado por elas (…) Uma dessas evoluções é a personalização da campanha em torno do líder, que se tornou um pouco inevitável, nos últimos anos, pois é atrás dele que vão as televisões»” – Vítor Dias ao Público de 5 de Julho de 1999, sobre a preparação das eleições legislativas onde a CDU apresentou pela primeira vez outdoors com o rosto do líder do PCP.

Por outro lado, a capacidade de comunicação dos dirigentes políticos começa a ser um atributo determinante para as funções para as quais são eleitos ou nomeados, designadamente a liderança de uma organização política. «Tony Blair tornou-se o primeiro político britânico a assumir a liderança de um partido, porque na visão da maioria dos militantes, tinha uma grande capacidade de comunicação na televisão (…) Um dos motivos mais evocados no apoio a Blair era a crença de que era o melhor colocado para levar o Labour ao poder, devido à sua capacidade de comunicação com o eleitorado através dos media ». (8)
O mesmo disseram muitos comentadores políticos em relação à eleição de José Sócrates para líder do PS em 2004. Aliás, um dos argumentos utilizados foi a boa prestação televisiva do dirigente do PS nos debates na RTP contra Santana Lopes.

 

(1) Michel Bongrand; O Marketing Político; Publicações Europa-América;1986
(2) Mário Herreros Arconada; Teoria e técnica da Propaganda eleitoral; Coleccion Comunicación y relaciones públicas; PPU, Barcelona, 1989
(3) Público, 5 de Julho de 1999, citando declarações de Manuel Maltez, o responsável pelo marketing da campanha do PSD nas eleições legislativas de 1999.
(4) Alejandro Quintero.
(5) Sérgio Arapuã de Andrade; Como vencer eleições usando Tv e Rádio; Livraria Nobel; São Paulo; 1996
(6) Público; 23/03/1999
(7) Estrela Serrano, As Presidências Abertas de Mário Soares;
(8) Nicholas Jones; Soundbites & spin Doctors – how politicians manipulate the media – and vice versa; Indigo edition; Londres; 1996

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2. A mensagem negativa

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Um dos processos habituais em comunicação política é a mensagem negativa.

Quase todo o discurso político recorre a acusações, críticas, denuncias…cartaz do PSD para legislativas de 2002

Apesar de não haver unanimidade sobre a ética e os efeitos de uma mensagem negativa, a tendência da comunicação política é recorrer com frequência a este tipo de mensagem.

No entanto, há quem pense que uma mensagem profundamente negativa pode provocar uma reacção de antipatia, penalizando o seu autor, porque provoca no receptor uma sensação de desagrado e de desconforto.

 

Estudos efectuados nos Estados Unidos mostram também que o recurso à mensagem negativa pode levar ao afastamento dos eleitores. As críticas permanentes e o “lavar decartaz do BE sobre Fernando Nogueira e Durão barroso roupa suja” em público propiciam uma atitude de afastamento do eleitorado indeciso. “Os políticos são todos iguais, para quê mudar”?

Por um lado, a propaganda nos média pode, com frequência, incentivar os militantes e simpatizantes a votar no seu partido; por outro lado, a mesma propaganda está a aumentar significativamente o número dos que passam da independência para a apatia, se não mesmo para a antipatia, em relação a várias instituições políticas.(…) A campanha negativa ou de “ataque” suprime a vontade de mudança. Os anúncios negativos até podem ser usados para este objectivo.” (1)

 

O recurso sistemático a mensagens negativas tem ainda um efeito a médio e longo prazo: é a crispação entre os candidatos. «A experiência, em especial nos Estados Unidos, tem mostrado que é muito fácil “resvalar para as tentativas de destruição de pessoas e de vidas familiares”. Daí o aviso: “O melhor é não começar.” »– Público de 29 de Julho de 1999 sobre declarações de António Guterres no arranque da campanha eleitoral.

 

A crispação originada pela campanha negativa provoca ainda outro problema a nível institucional: dificulta as relações entre os dirigentes partidários, por vezes ao longo de uma legislatura, impedindo entendimentos e uma acção política mais construtiva.

 

Um dos exemplos mais recentes foi o ataque mútuo entre Paulo Portas e Durão Barroso nas legislativas de 1999, o que contribuiu decisivamente para um mau relacionamento entre os dois líderes no período seguinte às eleições, inviabilizando durante muito tempo entendimentos à direita do PS. O mesmo se passou em 2002, provocando muitas dúvidas sobre a natureza da coligação governamental e uma grande inquietação em relação ao comportamento de Paulo Portas.

 

Em muitas situações deste género o eleitorado não entende a postura de agressividade e o tacticismo aplaudido pelas elites é rejeitado pelo cidadão comum.

 

Uma outra consequência é o reforço da perspectiva populista de que os políticos são corruptos, estão afastados dos problemas das pessoas….

No entanto, apesar destas reacções de rejeição, outros especialistas consideram (e a própria experiência também o tem revelado) que, entre outras vantagens, é mais fácil memorizar uma mensagem negativa do que uma referência positiva.

É possível, no entanto, encontrar aqui uma simbiose que propicie uma mensagem eficaz.

 

Seguramente, uma das formas mais eficientes de transmitir uma mensagem negativa é através do humor e da ironia. Um dos exemplos mais citados é o da campanha de Richard Nixon que foi fortemente abalada por cartazes que o mostravam com ar de intrujão e com a seguinte pergunta: “você comprava um carro em segunda mão a este homem?”.
Ou seja, trata-se de uma mensagem com um conteúdo negativo, mas cuja forma propícia uma sensação de descontracção.

 

Nas presidenciais de 2004 dos EUA, seguiu-se o mesmo principio mas recorrendo a novas tecnologias.

«CORRIDA À CASA BRANCA
Videojogos seduzem candidatos

Desconhece-se se a moda veio mesmo para ficar, mas, de momento, é a grande febre na corrida à Casa Branca: a criação de videojogosjogo da campanha de kKerry contra George W. Bush
(…) Um dos jogos que tem feito mais furor é uma paródia ao conhecido jogo “Space invaders”, com o título “John Kerry: tax invaders”, em que o utilizador controla a cabeça do actual presidente e candidato republicano, George W. Bush, que dispara contra as supostas subidas de impostos por parte de John Kerry, o nome proposto pelos Democratas para a Casa Branca. (…)
Confrontados com os ataques, John Kerry e seus pares não tardaram a entrar no jogo. A resposta surgiu sob a forma de uma sátira chamada “Kick Bush out”. Nesta caricatura interactiva, o participante é convidado a desferir três patadas de burro - animal que simboliza o Partido Democrata - na figura do actual presidente. Os resultados obtidos dependem da destreza e rapidez dos jogadores
políticos que satirizam os principais candidatos à Presidência dos Estados Unidos da América.» JN; 13/07/04

 

Após a revolução de 1974 um instrumento muito utilizado foi a banda desenhada.

A candidatura de Pinheiro de Azevedo à Presidência da República em 1976 recorreu quase exclusivamente ao humor, o que, de certa forma, correspondia à personalidade do candidato.

Este processo pode ter efeitos mortíferos, mas antes, terá se ser bem testado e concretizado. O humor e a ironia, se forem mal feitos, dificilmente passam nos média e até provocam ruído na comunicação.

 

Um outro factor que contribui para o sucesso deste tipo de comunicação é o de que a ideia negativa que se quer transmitir já deve ter um rasto. As características negativas que são apontadas não podem ser uma absoluta novidade. No mínimo, para ser eficaz, os receptores devem ter uma «impressão» do conhecimento de alguns dados – mesmo que vagamente.

 

A mensagem negativa que é transmitida funciona como reforço ou validação dessa impressão ou do «dizem por aí… afinal é verdade». Assim se dá crédito a um boato, tirando-se partido do «senso comum».

Foi o que fizeram os defensores do “Não” no referendo sobre a regionalização em 1998, ao tirar partido da desconfiança generalizada do eleitorado. Vários estudos de opinião divulgados nessa altura pelo D.N. colocavam a classe política entre as mais desacreditadas.
Segundo Margarida Ruas dos Santos (Diário Económico de 10/11/1998), a campanha do “Não”, «do ponto de vista dos valores foi das mais negativas feitas em Portugal. Exploraram e julgaram os medos colectivos de forma pouco escrupulosa».

As mensagens utilizadas na campanha do referendo que incidiam na probabilidade de mais corrupção, mais clientela, não faziam mais do que explorar essa desconfiança relativamente à classe política.

É aliás curioso verificar que após rebentar o “caso JAE”, com alegadas situações de corrupção, favorecimento e financiamento dos dois maiores partidos políticos, o “Sim” à regionalização deixou de subir em vários estudos de opinião.

 

Também à «boleia» do boato andou o PSD de Santana Lopes nas legislativas de 2005. Mas aqui o efeito não terá sido muito positivo.
Tudo começou num boato cujo foco ocorre em Lisboa, pouco depois de Sócrates ser eleito secretário-geral do PS. O rumor vai fazendo o seu caminho, ganha contornos vários e, para os dirigentes socialistas, o «alerta» tocou numa entrevista do então ministro José Luís Arnault ao Expresso, pouco depois de Jorge Sampaio convocar eleições antecipadas. Interrogado acerca das propostas do novo líder do PS, Arnaut respondeu que preferia saber o que Sócrates pensava sobre outras questões, como por exemplo «se é a favor de casamentos entre homossexuais. Eu não». A afirmação do dirigente do PSD é «forçada». Nada justificava levantar este tema. A justificação era o boato.
Com o aproximar da campanha eleitoral surgiam sinais de que o boato estava a ganhar uma grande dimensão. Alguns estudos qualitativos indicavam que o boato era do conhecimento de várias pessoas, em várias zonas do país e de vários estratos sociais e económicos. Nesta altura começaram as dúvidas entre os dirigentes do PS sobre a forma mais indicada para um desmentido. José Sócrates opôs-se a qualquer iniciativa.

No início de Janeiro de 2005, «um obscuro jornal brasileiro trouxe uma notícia, daquelas de coluna social, sobre os candidatos às eleições em Portugal. Na notícia liam-se alusões caluniosas sobre a vida privada dos candidatos. Essas alusões foram transportadas para um jornal português, daqueles de bas- -fond, muito tablóide.» (o Crime)
«Primeira observação sobre este método é um modelo clássico de manipulação, utilizado por serviços de informação e por polícias secretas. Consiste em, quando não há possibilidade, por causa da legislação ou dos costumes, de colocação de um boato num determinado país, conseguir a sua publicação num jornal estrangeiro e, depois obter o transporte para um jornal desse país, disponível para o publicar escudando-se no facto de esse dado já ter sido tomado no estrangeiro. É uma técnica conhecida e tudo menos inocente.
Trata-se de um boato plantado por quem sabe plantar boatos. Até aqui, estamos perante um mecanismo de lançamento ou de amplificação de um boato.
Infelizmente, foi usado por uma campanha eleitoral [PSD]. Não digo que a campanha tenha sido a autora do mecanismo de amplificação, digo que essa campanha utilizou os elementos do boato
.» Pacheco Pereira; DN; 04/02/05
Os factos a que Pacheco Pereira se refere neste texto de opinião são os cartazes da JSD e a intervenção de Santana Lopes num comício em Famalicão, com mulheres.

Os estudos de opinião revelavam que José Sócrates era desconhecido do eleitorado. As pessoas não tinham uma opinião definida sobre o seu carácter e a sua competência.. Este terá sido o motivo porque o PSD tentou fazer passar a ideia de que votar no líder do PS era apostar no desconhecido. O cartaz da JSD não tinha outro objectivo. Pela primeira vez um líder partidário era usado num ‘outdoor’ de uma candidatura adversária, mas pouco mais de inovador havia neste cartaz. O problema surgiu quando o PSD começou a relacionar este desconhecimento sobre José Sócrates com outras questões, designadamente a do boato.
Por um lado, «subitamente, foram levantados temas como o casamento dos homossexuais». Por outro lado, «há um terceiro elemento, este da responsabilidade directa do primeiro-ministro, como, aliás, os outros, o chamado comício das mulheres. Foi uma apologia do machismo. O candidato foi apresentado como correspondendo ao paradigma do macho lusitano, com todas as virtudes de masculinidade, e [Santana Lopes] embarcou neste tipo de linguagem juntando-lhe uma série de frases ambíguas sobre o colo».
A frase sobre «o colo» a que Pacheco Pereira se refere foi a «gota de água» neste processo.
«“Este homem é conhecido pela sua natureza sedutora”. Do púlpito, Augusta Ferreira, doméstica, dirigiu-se com estes modos a Pedro Santana Lopes. Em delírio, as mais de mil mulheres presentes no almoço de Famalicão mostraram partilhar desta apreciação. A seguir, foi a vez de Manuela Cardoso levar a sala ao êxtase: “Ele ainda é do tempo em que os homens escolhiam as mulheres para suas companheiras”, afiançou esta funcionária pública, lembrando que Deus assim o quis. “Bem-haja os homens que amam as mulheres!”, sentenciou ainda. “O outro candidato (José Sócrates) tem outros colos. Estes colos sabem bem”, confessou Pedro, no final aos jornalistas». Relato de Alexandre Praça no Público; 30/01/2005
Esta frase foi proferida no dia 29 de Janeiro, num sábado. No domingo ganha eco com esta notícia no Público. Relevante foi ainda o comentário de Ana Sá Lopes, nesta mesma edição:«o homem já não tem nada para vender. Resta-lhe o currículo conhecido do eleitorado através das ‘revistas do coração’, (…), Ontem lançou o mais estranho mote da campanha eleitoral: votem em mim porque eu gosto de raparigas. Chegámos ao patamar que nunca pensámos atingir na política. Só um miserável – e quem é Santana Lopes, neste momento do campeonato, senão um pobre despojado de qualquer bem válido para a polis? – pode utilizar em comícios, como aquele em que ontem participou, com 1000 mulheres, em Braga, o facto de ser aquilo a que se chama um femeeiro”». Público; 30/01/05. Este comentário foi publicado em vários blogues e parte do texto citado em vários jornais.
Nos dias seguintes a frase é citada em vários órgãos de comunicação social. Se até esta data o PSD não podia ser acusado de algo em concreto, com esta frase, a situação inverteu-se, multiplicando-se os comentários fortemente críticos contra o líder do PSD. Por outro lado, a frase do líder social-democrata permitiu a José Sócrates encontrar um motivo para negar o conteúdo do boato e, ao mesmo tempo, lançar uma ofensiva política que condicionou fortemente o PSD. A resposta foi dada na terça-feira seguinte, numa entrevista na RTP1. Para criar expectativa, logo pela manhã, Jorge Coelho
afirmou que «os socialistas não vão seguir o exemplo dos adversários e vão fugir às ofensas e ataques pessoais. (…) como todos sabem, têm havido insinuações, rumores, nas rádios, nos jornais e nas televisões, têm sido ditas coisas nesta campanha que eu acho que não são dignas de um confronto político que deve ser de ideias e não de calúnias». TSF, 01/02/05.

À noite, José Sócrates foi entrevistado por Judite de Sousa e afirmou ser «incompreensível que o líder do PSD utilize como arma política uma onda de boatos e insinuações. (…) Isto passou as marcas. Tenho vindo a ser alvo de uma campanha de boatos absolutamente falsos, mentirosos, ridículos até (…) Houve acusações brejeiras de um líder partidário. Tenho de falar nisso, não para me defender a mim, mas para defender a minha família e os meus filhos».
Depois desta entrevista e das reacções publicadas na comunicação social, inclusive de dirigentes do PSD que se demarcaram de Santana Lopes, os sociais-democratas terminaram com as insinuações.
Primeiro tentaram justificar «o colo» - «a frase do nosso líder não permite extrapolações»,
disse Pedro Pinto. Clarificou que o «colo» a que Santana Lopes se havia referido no sábado envolvia uma referência política e não outra e que o líder do PS precisa desse «colo», pois «nada» tem feito pelo país.».  O próprio Santana Lopes foi obrigado a alterar o discurso, negando que alguma vez tivesse feito qualquer insinuação: «O que sei do engenheiro Sócrates é que ele é divorciado, pai de filhos, como eu. Quero que os portugueses votem nos líderes políticos em função das propostas que têm para a sociedade». DN; 02/02/05.
O PSD não voltou a pegar no tema do boato e terminou com a mensagem baseada no desconhecimento do líder do PS. Mudou de estratégia. A referência negativa deixou de incidir em exclusivo sobre o líder do PS e passou a abranger vários dirigentes socialistas, tentando tirar proveito da ligação desses dirigentes aos governos de António Guterres.

 

Uma mensagem negativa deve ter ainda em consideração os valores e a tradição do eleitorado a quem se dirige essa mensagem, para evitar um efeito «boomerang».

 

Há um caso na história recente da comunicação política em Portugal e que foi retirado devido ao receio de provocar efeitos perversos: o “General Balança”. Foi uma ideia desenvolvida nos tempos de antena do PS em 1987, contra o PRD, um partido da iniciativa do general Eanes e que tinha como símbolo uma balança. O conceito dos tempos de antena era, através do humor, acentuar as indecisões do general e a alegada influência que era exercida pela sua mulher. O tempo de antena era mortífero mas, talvez por ser um género inédito em Portugal, originou contestação (e receios de dirigentes do PS, nomeadamente de Vítor Constâncio, que deu ordens para anular a emissão de vários episódios que já estavam produzidos), e apenas foi editado um tempo de antena. (2)

 

Embora com menos impacte e polémica, um outro tempo de antena, com uma mensagem marcadamente negativa, teve lugar em 1995, da autoria do PP. A descrição é do jornalista Paulo Moura, no Público de 20/09/95: “imagem a preto e branco, com muito grão. Ouvem-se sinos a tocar o dobre de finados, banda sonora que se prolonga por todo o «spot». Uma menina com uma mochila da escola vai sozinha pela rua, alegre e distraída a olhar as árvores. Passa por um arrumador de automóveis, com a camisa fora das calças e a barba por fazer. A câmara começa a fazer «traveling» rápido por grades e muros, como num filme de «suspense». Uma letragem enche o ecrã: «1994: os crimes violentos aumentaram 25 por cento». No seu percurso, a menina cruza-se com outro tipo «mal-encarado», de barba rala, que aparentemente passa droga a um outro, de óculos escuros. Há uma troca de olhares desconfiados. Letragem: «1994: foram assaltadas 128 lojas por dia.» A partir daqui, tudo se torna inverosímil, como se passássemos a ver a realidade pelos olhos de uma menina assustada que vê fantasmas e papões. Dois tipos saem de uma loja a fugir. A miúda começa a correr, em pânico. Letragem: «1994: foram assaltados oito carros por hora.» Um homem quebra o vidro de um carro para o assaltar. Ouve-se uma gargalhada de filme de terror. A miúda continua a correr, fecha-se em casa. No ecrã, aparecem as fotos de Nogueira e Guterres: «1992: PS e PSD aprovaram a redução de penas para traficantes de droga.». A miúda surge a uma janela gradeada. Voz: «Os portugueses estão presos dentro de casa, enquanto assassinos e traficantes andam em liberdade».”

Na história da Democracia portuguesa há outros casos de recurso sistemático a uma mensagem negativa, mesmo no plano pessoal.

Um dos exemplos mais conhecidos teve Sá Carneiro como alvo.

 

Além do lançamento de notas com o rosto de Sá Carneiro, foram distribuídos vários documentos que acusavam o líder da AD de não ter pago uma dívida contraída num banco e de, alegadamente, ter recorrido a um processo fraudulento.

 

Um outro caso que provocou alguma polémica foi um cartaz e um autocolante do PSR, na pré-campanha das legislativas de 1995

Nas eleições legislativas de 1999, na pré-campanha, o PSD avançou com algumas iniciativas de campanha negativa, de que foram exemplo o livro “Promessas”, o cartaz com a rosa do PS a murchar e a acusação de João Jardim que chamou mafioso ao então primeiro-ministro.

anúncio do PSD ao livro das promessasO recurso a estes instrumentos de campanha negativa levou mesmo António Guterres a fazer uma intervenção política em jeito de aviso: “o melhor é não começar. A experiência internacional revela que quando se dá início a uma campanha pela negativa sabe-se onde começa, mas nunca se sabe como acaba”. Só que, nesta intervenção, António Guterres disse ainda que uma campanha negativa “muito rapidamente resvala para as tentativas de destruição de pessoas e de vidas familiares”. Esta frase foi entendida por alguns comentadores e pelo próprio líder do PSD como uma ameaça e, também ela, uma acção de campanha negativa. É que, nessa altura, corria um rumor acerca de antigos problemas familiares de Durão Barroso.
Para quem tinha conhecimento do rumor, a afirmação de António Guterres era igualmente assassina. Dirigentes políticos do PS próximos de António Guterres garantem que não foi essa a intenção. “Nestas palavras, Barroso viu uma «chantagem», como se Guterres tivesse na manga informações íntimas sobre adversários e ameaçasse divulgá-la!
Os dois líderes dos dois maiores partidos devem das duas uma: ou declararem que há um mal-entendido nesta história ou desistirem da pose de gente de bem quando se encontram. Porque está lançada a suspeita de haver um relacionamento canalha
.” – Tal&Qual 06 Agosto, 1999.

 

Uma outra situação teve a ver com o caso das «viagens fantasma» dos deputados e da suspeita gerada em volta de António Guterres. O líder do PSD andou mais de uma semana a questionar o primeiro-ministro, conseguindo, de certa forma, desgastar a imagem de Guterres. Face a estes ataques, o líder do PS utilizou quase toda a campanha para avançar com um processo de vitimização. Com esta estratégia, António Guterres conseguiu recuperar parte da sua popularidade e Durão Barroso acabou por ficar com uma imagem de pouca simpatia e maior agressividade. Tal como já foi referido, lançar uma campanha contra uma pessoa muito popular, “limpa” de qualquer pecado, pode ser uma acção arriscada. Só funciona se houver provas contundentes, claras, sem qualquer margem de dúvida. Caso não funcione, tem um efeito nefasto no autor da acusação.

 

Em outros países repetem-se estas situações de campanhas negativas. Nos

EUA é frequente este tipo de comunicação devido ao recurso a ‘spots’ comerciais.


 

 

Um dos casos mais emblemáticos teve lugar em 1988. Foi a campanha de George Bush contra Michael Dukakis e um dos pontos altos foi o “spot” de Willie Horton. Provocou a ira de vários comentadores e associações cívicas, por apelar ao racismo, mas provocou também um grande desgaste na imagem do candidato democrata. «A propaganda republicana não apenas estabeleceu a agenda dos media quanto à campanha, levando-a a destacar um tema que era do seu interesse, como também impôs à cobertura dos media o seu próprio enquadramento (framing) acerca do tema: o vocabulário republicano impregnou profundamente as reportagens que, depois da exibição da propaganda republicana, passaram a adoptar, de forma atípica, uma “linguagem de tablóide de tortura e terror” para descrever o episódio.» - Kathleen Hall Jamieson em “Dirty Politics: Deception, Distraction and Democracy” citada por Silas Andrade
O efeito ainda foi mais nefasto para Dukakis porque durante muito tempo o candidato democrata recusou responder a esta ofensiva.

 


 

Ainda nos EUA, um dos casos mais conhecidos - e que hoje é apontado como um clássico da campanha negativa - foi em 1964 o spot de Lyndon Johnson contra o republicano Barry Goldwater.

"Daisy Girl" foi um forte ataque político onde se insinuava que o adversário político poderia inicar uma guerra nuclear.

 

a galinha dos tories

 

Em 1997 a luta entre Major e Blair, na Inglaterra, também teve facetas negativas. Uma delas irá ficar na memória. Pretendendo atacar a imagem de Blair, de só “cacarejar”, os conservadores colocavam uma “galinha” nas proximidades das principais acções do Labour,.

A resposta não se fez esperar. Ao lado dessa galinha o Labour colocava outra, mas sem cabeça. Com esta resposta rapidamente terminou a rábula das galinhas, embora tivessem entrado na história das campanhas britânicas.

 

Tony Blair’s seeming unwillingness to engage in a head to head debate with John Major saw him labelled a “chicken” by the prime minister. To press the message, Tory Central Office employed a man in a chicken suit to follow Mr Blair.

The Tory chicken unleashed a menagerie of publicity stunts the like of which the British electorate had never seen before. By the end of this brief interlude, headless chickens, foxes, teddy bears and even a rhinoceros had all made a brief appearance on the political stage. Although exactly what causes they were trying to promote still remains unclear.
BBC
blair num cartaz dos toriescartaz dos conservadoresNestas eleições, os conservadores tiveram uma outra iniciativa que provocou polémica: um cartaz com uma montagem de uma fotografia de Blair com olhos de “diabo”.
A iniciativa não teve sucesso e os «Tories» foram obrigados a arrepiar caminho. Um dos elementos centrais da campanha dos conservadores era criar o receio da mudança.

Nas eleições seguintes foi ao contrário. Thatcher fez duras críticas ao governo de Blair e à eventual adesão ao Euro, o que levou vários comentadores a sugerir que era a «Dama de Ferro» que ainda mandava nos «Tories». Aproveitando a ideia, o Labour fez um outdoor onde o líder dos conservadores aparecia com a cabeleira de Thatcher.

 

 

Há várias explicações para o recurso frequente à publicidade negativa:
 é mais fácil fazer publicidade negativa, nomeadamente nos países onde é permitida a utilização de spots comerciais;
 é mais fácil o recurso a situações negativas porque, mesmo sendo casos pontuais, podem aparecer como regra (pode-se ter melhorado o atendimento nos hospitais, mas se a visita às urgências de uma unidade de saúde mostrar uma longa fila, macas no corredor…, a força desta imagem pode anular a ideia das melhorias que foram conseguidas).
 é mais fácil assegurar a cobertura dos media (3);
 os media adoptam mais facilmente o discurso, os “sound bites” das campanhas negativas;
 Se a acusação tiver receptividade dos órgãos de comunicação social, ao fim de algum tempo é difusa a fonte de informação. Para muitos, já não se trata de uma mera acusação levantada por um partido, mas antes, um caso levantado por um órgão de comunicação social, uma investigação jornalística ou criminal….
 com o desgaste crescente da classe política obtém-se a garantia de maior receptividade junto do eleitorado quando se critica um político - em Portugal, o PP de Manuel Monteiro recorria frequentemente a este discurso e, com grande frequência, conseguia obter algum eco na comunicação social;
 pode ser útil recorrer à técnica de demarcação convencendo o eleitorado que a força política adversária é pior. Este argumento encontra justificação quando vários estudos de opinião mostram que, para muitos eleitores, o voto foi determinado, não por grande convicção no partido em que se votou, mas, porque as alternativas eram consideradas piores;
 a possibilidade de se obter dividendos da dramatização, ao serem colocados cenários de crise, de apocalipse, se a outra força política ganhar. Este processo é mais usado por quem está no poder, essencialmente se o ambiente não for favorável à mudança; (4)
 por último, vários estudos mostram que, surtindo efeito, a mensagem negativa tem uma repercussão imediata nas sondagens, conseguindo fazer baixar a popularidade da organização adversária. Em alguns momentos, este efeito pode contribuir para uma maior mobilização, a chamada «dinâmica de vitória».

 

Duas notas finais. Há situações em que aparentemente não existe uma mensagem negativa, mas onde o efeito é quase idêntico.

 

Vários estudos mostram que a simples associação a um comportamento censurável (mesmo em situações em que seja negada essa relação), provoca um efeito negativo no eleitorado.
Um exemplo: Marcelo Rebelo de Sousa, em Abril de 1998, acusou “o governo de ter negócios obscuros com alguns grupos económicos”. A acusação provocou uma onda de indignação de membros do governo e de empresários. Como afirmou Leonardo Ferraz de Carvalho (Independente, 24/04/98) se o então líder do PSD, em vez de fazer a acusação directamente, tivesse feito uma pergunta – “o governo está a privilegiar grupos económicos?” -, poderia ter provocado um desgaste no governo (criando a dúvida, colocando em debate um tema que podia lançar suspeitas), evitando tornar-se ele próprio o alvo das reacções contundentes.
cartaz do PSDPercebendo o erro, as ofensivas seguintes do PSD já seguiram esta sugestão: muitas perguntas, com algumas insinuações pelo meio e uma outra ideia de fundo: “Não ter medo de dizer a verdade…”., citando Sá Carneiro

Ainda segundo os mesmos estudos e pegando no mesmo exemplo, a simples frase: “O governo não privilegiou grupos económicos”, provoca igualmente uma reacção negativa no eleitorado. Apesar de negada, a simples associação a um comportamento censurável provoca desconfiança nas pessoas.

 

Segunda nota. É frequente uma campanha negativa procurar atingir um efeito de medo nas pessoas. Foi assim que George W. Bush ganhou as presidenciais de 2004. Criticou Kerry por não ser suficientemente forte na luta aos terroristas e reafirmou que os norte-americanos podiam contar com ele na defesa das suas vidas e dos seus interesses.
Bush conseguiu mesmo transformar situações controversas em exemplos da sua luta contra os terroristas que funcionam em rede e que atacaram os Estados Unidos.
«O recurso ao medo tem maior eficácia quando: 1) produz um sério sobressalto; 2) apresenta uma recomendação concreta para superar a ameaça indutora do medo; 3) as medidas propostas são avaliadas como positivas para atenuar a ameaça: 4) a pessoa que recebe a mensagem crê que pode desenvolver a acção que é sugerida. (…) Nem todos os apelos ao medo funcionam. Quando a comunicação de uma mensagem suscita um medo extremo, temos a tendência de não prestar muita atenção» - Anthony Pratkanis, Elliot Aronson em “La era de la propaganda – uso y abuso de la persuasion; Oaidós Comunicación; ; Barcelona; 1994.

 

 

(1) Going Negative; Stephen Ansolabehere; Shanto Iyengar; Free Press; N. Y. 1995

(2). Num comentário no Diário de Noticias sobre os tempos de antena, no dia 1 de Julho de 1987, J. Fragoso Mendes escreveu “A «subversão» do discurso veio de onde se esperava menos. A utilização do humor, do absurdo partiu de um partido «sisudo» o PS, de facto, estreou-se em grande, nos tempos de antena da TV para a Assembleia da República. Muito mais que os ataques directos ao PSD e ao PRD - ainda que interpretados pelo cidadão comum - terá resultados em cheio no recurso a métodos dignos de Herman José, para atingir tal fim. Os socialistas, com muito humor, bom gosto e sem recurso a meios sofisticados, como que transportaram «o tal canal» para o Largo do Rato, e terão garantido, logo à partida, uma audiência elevada para futuros tempos de antena. (…)”. No entanto, os dirigentes do PS recuaram e não houve mais devido à celeuma que foi provocada. No dia seguinte, o Correio da Manhã reproduzia um comentário do General Eanes que afirmou “Tenho pena pelo PS e pela liderança de Vítor Constâncio”. Na mesma edição era referido que Álvaro Cunhal, num comício, “considerou que «é de lastimar» que o PS conduza uma campanha «com tal violência»”…

(3). Acerca da maior cobertura dos média à publicidade negativa há um dado curioso, descrito num livro de Dennis Kavanagh (Election campaigning): a imprensa britânica e norte americana tem a tradição de apoiar uma das forças políticas nas eleições. Até meados da década de 60, a maioria dos jornais que optavam pelo apoio a um candidato davam maior cobertura a essa candidatura, com referências positivas. No final da década de 60 (depois do Watergate e da consequente desconfiança perante os políticos) a estratégia foi alterada. Há mais referências à candidatura adversária com mensagens negativas.

(4).“Estava previsto há meses: enquanto a oposição tentaria, com a abertura da campanha oficial, mostrar-se majestática, a situação daria início à sua última fase estratégica, a dramatização. Esta já é evidente. Cavaco Silva vem para a estrada. Sucedem-se as declarações sobre o caos que se vai abater sobre nós, no caso de o PSD não ganhar. A oposição não sabe fazer contas, iremos à falência. Os socialistas gastam dinheiro, a bancarrota é certa. Os investidores levam os capitais para o estrangeiro. Os trabalhadores perdem os empregos. Todos os grupos profissionais farão exigências irresponsáveis. (…)” Público - comentário de António Barreto. Setembro de 1995