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Comunicação Política

Comunicação Política

12
Mai13

5. Uma mensagem credível

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Um outro elemento fundamental em qualquer processo de comunicação é a credibilidade.
Se ninguém acredita no que está a ser dito, a mensagem não tem qualquer efeito.
A falta de credibilidade pode radicar no emissor, na argumentação que está a ser utilizada, no próprio tema que serve de base à intervenção política ou, na falta de coerência de todos estes factores.
Algumas das decisões políticas que parecem «forçadas» ou «artificiais» têm a ver com este problema de falta de credibilidade. A tentativa de aliança PSD/PP em 1998 é um desses exemplos. Depois das sucessivas acusações mútuas entre o PP e o PSD e entre Marcelo e Portas, poucos acreditavam num fácil entendimento entre os dois partidos. Com a agravante de que um dos atributos críticos do líder do PSD era a falta de credibilidade. Numa sondagem da Metris, efectuada em Julho de 1997, eram tantas as pessoas que atribuíam a Marcelo Rebelo de Sousa a característica de honestidade como a de não honestidade. Cerca de um ano depois, em 9 de Abril de 1998, uma outra sondagem da Metris publicada no Independente voltava a colocar a credibilidade como um dos pontos mais fracos da prestação de Marcelo Rebelo de Sousa. Em honestidade, Marcelo tinha 8,4% e Guterres 42,1%.

Foi devido a esta «falta de credibilidade» que no dia em que Marcelo Rebelo de Sousa apresentou as bases programáticas da AD (22 de Janeiro de 1999), Carlos Magno fez o seguinte comentário na TSF: “as propostas podem ser interessantes. Resta é saber se as pessoas acreditam no que Marcelo prometeu”. Este indicador de falta de credibilidade de Marcelo Rebelo de Sousa foi também utilizado pelo PS como um dos instrumentos de combate ao PSD: “O que Marcelo diz hoje, amanhã não é verdade; não se pode confiar no que ele diz; sobre a mesma matéria, em menos de um mês o líder do PSD já disse três coisas diferentes…”

O mesmo problema se colocou quando da formação da AD em 2002. A questão da credibilidade não estava propriamente nos protagonistas – Durão Barroso e Paulo Portas – mas na solução encontrada. No dia em que a coligação foi dada como certa, quase todos os órgãos de comunicação social publicaram desavenças antigas entre os dois partidos. Até alguns dirigentes do PSD, como Pacheco Pereira, salientaram as dificuldades porque «nesta coligação há uma profunda desconfiança, em grande parte devido a Paulo Portas».

O mesmo Pacheco Pereira, posteriormente, foi uma das vozes que se juntou ao coro que chamava a atenção para o comportamento «errático» de Santana Lopes, quando Jorge Sampaio fazia auscultações sobre a decisão de avançar ou não para eleições antecipadas. Nesta fase, em Julho de 2004, várias pessoas (como por exemplo Marcelo Rebelo de Sousa) apontavam a Santana Lopes um perfil inadequado para chefiar o Governo porque é ‘«hiperdecisório» e «pouco coordenado» e, como tal, tende a ter «decisões múltiplas ao longo do tempo. Não é um perfil que (…) seja porventura o mais indicado para primeiro-ministro» É desta forma que Marcelo Rebelo de Sousa define o novo líder do PSD.’ (TSFOnline, http://www.tsf.pt/online/portugal/interior.asp?id_artigo=TSF151938)

Quando a falta de credibilidade é um dos atributos dominantes, é muito difícil ultrapassar este problema.

Em alguns casos, a credibilidade só lentamente é adquirida.
Os responsáveis políticos fazem um rigoroso controlo da exposição pública e procuram evitar qualquer sinal de desconfiança.
Recorrem a personalidades com grande credibilidade e reputação para “mostrar” como estão a ganhar o estatuto de “figuras respeitadas”. Em outros casos, repetem até à exaustão os argumentos indutores de confiança: “«O espírito de solidariedade já existe hoje entre os dois partidos, os dois líderes, as duas direcções e estou convencido que entre os dois partidos na sua generalidade. Acredito plenamente que isto vai funcionar», disse Durão”. – Público de 29/03/02 sobre a assinatura do acordo entre PSD e PP.

Em outras situações a credibilidade só pode ser conquistada assumindo-se os erros. Próprios ou cometidos por pessoas da mesma organização politica.
Foi o que fez Ferro Rodrigues quando se candidatou pelo PS em 2002. Perante a ideia generalizada de que o governo e o PS tinham cometido vários erros, Ferro Rodrigues assumiu o que foi feito de negativo e prometeu que com ele seria diferente: «Também cometemos erros. É nossa responsabilidade percebê-los e tirar as necessárias consequências, para corrigir caminhos e enfrentar as dificuldades com seriedade, com sentido de responsabilidade e sem indulgências connosco próprios» “RENOVAR A MAIORIA - O nosso compromisso com os portugueses” - Moção de Estratégia de Ferro Rodrigues para secretário geral do PS em 2002.

A credibilidade não é uma característica intrínseca a um indivíduo. É antes um processo contínuo, que se pode solidificar (mas nunca pode ser dado como irreversível) e, muitas vezes, é resultado de técnicas que criam essa aparência.

A mais recorrente é mostrar convicção no que se diz e ser consequente nas ilações: «Penso que, com inteira lucidez, devo reconhecer que, se nada fizesse e se olhasse para estas eleições e passasse por elas como porventura seria integralmente meu direito constitucional, continuando a exercer as funções de primeiro-ministro, o país cairia inevitavelmente num pântano político que minaria as relações de confiança entre governantes e governados, que são indispensáveis para que Portugal possa vencer os desafios que tem pela frente» (António Guterres em 16/12/01 ao anunciar a sua demissão de primeiro-ministro depois da derrota do PS nas eleições autárquicas).

Uma outra regra muito relevante para a afirmação da credibilidade é nunca violar os compromissos assumidos. Muito menos os que serviram de bandeira – “leia nos meus lábios” (George W. Bush sobre o aumento de impostos); “no jobs for the boys” (Guterres sobre a colocação de apoiantes em cargos públicos), “eu não fujo” (Durão Barroso nas eleições seguintes à demissão de António Guterres).

Quando um destes compromissos é desrespeitado, torna-se um poderoso instrumento de combate político a favor dos adversários.

É igualmente importante que se seja respeitado pelos que o rodeiam. Uma das imagens fortes de Cavaco Silva era o respeito que merecia de outros membros do governo e do PSD, o que contribuiu para solidificar a imagem de um líder forte.

O ritual desenvolvido por Cavaco Silva nas remodelações era um exemplo da afirmação dessa autoridade. Não remodelava sobre pressão da comunicação social e, quando o fazia, os visados eram demitidos sem «cerimónia».
José Sócrates foi elogiado por seguir a mesma postura. Remodelações de governo, negociações com parceiros e medidas impopulares foram sempre assumidas sem hesitação e sem receio da conflitualidade de interesses.
Ao contrário, na fase final da sua governação, a partir de 2000, a imagem de António Guterres foi afectada pelas divisões internas e pela afronta de alguns colegas de partido. A juntar a estas divisões, Guterres reforçou a sua imagem de hesitação e de falta de autoridade quando o Governo alterou as medidas sobre a interdição dos touros de morte Barrancos e o limite de álcool no sangue para os condutores de veículos.

Outro atributo a que se recorre com frequência para reforçar a credibilidade é o recurso a especialistas e a citações de estudos. Foi de certa forma o que se passou no dossier da co-incineração no governo de António Guterres. Como havia um problema de credibilidade – as pessoas não acreditavam nos argumentos do governo – recorreu-se a uma comissão de especialistas que serviu de juiz na selecção das cimenteiras onde se iria realizar a co-incineração. Através deste instrumento pretendia-se restabelecer a confiança das populações.

Um outro exemplo teve lugar nas legislativas de 2002. Muitas das medidas apresentadas pelo PSD tiveram o apoio de várias personalidades ligadas aos respectivos sectores: “Numa sala cheia de autoridades do PSD, o líder Durão Barroso apresentou ontem no Porto o programa económico reafirmando a intenção de fazer o choque fiscal que permitirá incrementar a produtividade e a competitividade da economia portuguesa.” Público 15/02/02. A presença destas personalidades era um sinal de credibilidade.

Para fortalecer a imagem de credibilidade um outro elemento importante é ter resposta fácil e directa para as questões que vão ser colocadas e evitar cair em contradição. Em momentos políticos importantes os dirigentes políticos são treinados para estas situações e os assessores preparam respostas que permitam atingir esse objectivo. O mesmo se passa em relação à comunicação não verbal.
Como a classe política vive permanentemente com o problema da falta de credibilidade, recorre quase diariamente a frases e situações que pretendem anular a desconfiança dos eleitores: a actividade que se desempenha não tem outro fim que não seja o bem comum (”Mais importante do que qualquer partido é Portugal. (…) Portugal pode contar comigo” - Durão Barroso em 15/03/02); uma visão fria e a realista (”O caminho que vos proponho não é um caminho fácil. Mas há um caminho” - Durão Barroso em 13/03/02); não se quer influenciar as ideias e os comportamentos dos outros (”Quando convidei o dr. Fernando Negrão, não lhe perguntei se era de esquerda ou de direita” - Durão Barroso em 01/03/02) .
Mais, em algumas situações, até se pode estar a ser prejudicado pessoalmente – a actividade profissional que desempenhava dava mais rendimentos e menos chatices; tem provas dadas na actividade profissional e não precisa da política para conseguir seja o que for; o estatuto de figura pública só provoca constrangimentos, já teve convites aliciantes mas continua empenhado no cargo – foi o caso de António Guterres quando foi «sondado» para Presidente da Comissão Europeia: os dirigentes do PS não se cansaram de repetir que o primeiro-ministro preferiu permanecer no cargo.

No que se refere à argumentação, os problemas mais frequentes que podem por em causa a credibilidade têm a ver com contradições. Contradições relativamente a posições assumidas no passado; contradições entre o prometido e o que está a ser feito; e contradições com os valores dominantes.
A citação de posições assumidas pelo adversário no passado e que não correspondem às actuais é um dos recursos mais frequentes em política e é sempre de esperar na prática jornalística.
Em todos os partidos há gabinetes de imprensa que recolhem e arquivam informação para que, a qualquer momento, esse material possa ser usado no combate político.

No que se refere a posições que colidem com os valores dominantes de uma determinada audiência, há quem utilize a seguinte estratégia: não iniciar a intervenção com argumentos radicais, mas antes criticar com moderação esses axiomas e, lentamente ir chamando a atenção para as diferenças de pontos de vista.
Por exemplo, no referendo sobre o aborto era frequente os vários intervenientes (contra e a favor da despenalização) iniciarem as intervenções com as palavras «este é um problema complexo»; «a decisão é muito íntima»; «do ponto de vista ético não é fácil…». Tentavam começar de uma forma abrangente, com um argumento consensual, o que permitia uma melhor receptividade por parte da audiência.

«Quando a comunicação se faz num pequeno círculo, dados pessoais tornam-se mais relevantes para acentuar ou reduzir a credibilidade do emissor da mensagem. Torna-se importante, então, a naturalidade, a identificação do líder com o meio. (…) Porque são pessoas reunidas em um pequeno círculo, têm alguma coisa em comum. Então, antes de falar, o comunicador deve ouvir. Ouvir e descobrir este traço comum. Quais as aspirações, os problemas. Ambientado, conhecendo o seu palco, o comunicador será mais eficiente. (…) Terá naturalidade e saberá transmitir a sua mensagem no código adequado» - Eduardo Portella Netto

18
Fev11

Os debates

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 Podem ser decisivos e por isso mesmo são preparados com muito cuidado.

 Antes de mais, são negociadas as condições em que o debate vai ter lugar.
 Quem vai participar, quem é o moderador, com ou sem público, qual o cenário, um ou mais debates.

 O resultado destas negociações vai ao pormenor de definir a colocação em estúdio dos candidatos, o cenário, o tempo que falam e como o podem fazer…

Veja-se o telex da Reuters com alguns detalhes do debate entre Al Gore e George W. Bush para as presidenciais de Outubro de 2000 nos EUA: «Format: the 90-minute debate will not include opening statements. Candidates will have two minutes to respond to a question, followes by one minute to rebuttal and 3 ½ minute exchange bettween themselves. Each candidate will have two minutes for a closing statement. Thoug props are not allowed, the candidates may bring blank paper on which to take notes».

Representantes de Bush e Gore gastaram seis dias em negociações para acordarem os pormenores do debate, desde a altura do pódio ao número de ajudantes e conselheiros permitidos por detrás do palco e até a temperatura da sala.

Nas eleições seguintes, alguns pormenores discutidos nas negociações chegaram ao tamanho dos saltos dos sapatos:

EUA/Eleições: Sapatos de salto alto proibidos nos debates presidenciais
José Pestana, da Agência Lusa
Washington, 23 Set (Lusa) - Quando George W. Bush e John Kerry participarem nos seus três previstos debates televisivos não poderão usar sapatos de salto alto ou outro “instrumento” que os faça parecer mais altos.
Este é um dos muitos pormenores do acordo sobre os debates que estabelece também que as tribunas devem ter exactamente 1,27 metros de altura na parte frontal e que diagramas e cartazes não podem ser utilizados pelos dois candidatos. (…)
As duas partes estão de acordo em que nenhum candidato poderá desentorpecer as pernas, aparentemente para se evitar uma corrida para a beira do palco.
Isto porque, em 1996, Bill Clinton abandonou a tribuna, quando, num dos debates em que as perguntas eram feitas por membros da audiência, se aproximou da beira do palco e falou directamente ao público.A imagem televisiva projectada foi a de um Bill Clinton próximo do público e o seu opositor distante e afastada.
Os acordos foram negociados durante semanas (…).
Lusa/fim

Em Espanha a negociação do primeiro debate, em 1993, também foi complicada: porque Aznar é 12 cm mais baixo que Gonzalez, o PP só aceitava o debate se os dois candidatos estivessem sentados. A Antena 3 teve de apresentar três propostas de mesas para conseguir convencer socialistas e populares… Para evitar qualquer tipo de distracção, optaram pela ausência de público e 15 perguntas, com período de resposta de três minutos, seguida de réplica por mais dois minutos.(1) Este debate, em 24 de Maio de 1993, foi o primeiro, em mais de 15 anos de regime democrático.

Em 2008 foram retomados os debates, com dois frente-a-frente entre Zapatero e Rajoy.  O primeiro  terminou com um empate. No segundo, em 4 de Março, as sondagens deram uma clara vantagem a Zapatero.

 

Em Portugal, em 1995, na preparação dos debates entre António Guterres e Fernando Nogueira, um responsável da SIC (o outro debate foi na RTP) chegou a dizer que, foram mais difíceis as negociações do que a realização do debate.
Durante cerca de duas semanas repetiram-se as conferências de imprensa e as cimeiras entre as delegações dos dois partidos, só para acertarem em que televisões iam ter lugar os debates. O PS rejeitava a RTP. O PSD rejeitava a TVI. Para se ultrapassar o impasse foram avançadas várias propostas. Desde a produção dos debates ser da responsabilidade dos partidos políticos, por sorteio, haver apenas um debate, haver um debate a quatro…


A história dos debates políticos em Portugal é uma sucessão de polémicas.

Em alguns casos os candidatos recusaram-se estar presentes, porque não foram salvaguardas condições de igualdade para todos (Ramalho Eanes nas presidenciais de 1980), outros, porque recusaram o título de “pequeno partido” (Hermínio Martinho do PRD em 29 de Agosto de 1985), num outro caso, não foi aceite a delegação do líder do PSD num outro dirigente (Eurico de Melo em 5 Setembro de 1985 foi representar Cavaco Silva).

Houve ainda a ausência de Jorge Sampaio, que recusou debater com Macário Correia nas autárquicas de 1993, após uma longa polémica com a SIC e ficou a cadeira vazia, passando-se o mesmo com Marcelo Rebelo de Sousa, que recusou participar num debate a quatro. O então líder do PSD queria debater a sós com o Primeiro-ministro num debate agendado para 14/06/1197.

Nas legislativas de 1999 também foi longo o processo negocial, mas foi mais simples e menos polémico do que em 1995. O modelo encontrado foi inédito. Todos os líderes dos quatro maiores partidos se confrontaram entre si e a série foi finalizada com um debate a quatro.

Nas legislativas de 2002 foi inaugurado um outro modelo. Na RTP estiveram os líderes dos partidos com representação parlamentar e na SIC foi o frente a frente Ferro Rodrigues - Durão Barroso. A negociação destes debates não foi tão complexa como em 1995, mas obrigou igualmente a prolongadas negociações, segundo disse ao Independente Einhart da Paz.

Independente: Porque é que se indignou por Durão Barroso ter ficado sentado ao lado de Paulo Portas no debate na RTP?
Einhart: Esta divisão simplista esquerda/direita está morta. Num debate tudo deve ser decidido como em qualquer lugar do mundo: por sorteio. O candidato não está a representar o número de votos que tem, ele ainda não tem que ter votos para lá estar. Porque é que Durão tem que ficar ao lado de Portas, perto do centro como se ele fosse de centro-direita? Nós aceitamos e repare-se que o PS mandou para a reunião com a RTP um membro do governo, o que é assustador discutir o que era para ser feito. A própria Judite de Sousa, por telefone, sugeriu que o debate se iniciasse pela Educação e Saúde porque eram temas que não tinham sido ainda discutidos na campanha. O José Magalhães não aceitou e quis começar pela Economia, porque dizia que era o que interessava às pessoas. É obvio que a economia não interessa a ninguém, é uma coisa árida, mas ele disse que era importante para não perder audiência. O Bloco de Esquerda votou com o PSD neste ponto e quem é que votou junto com o PS? (…) O PP. O PCP estava na cara que ia votar junto com o PS, aliás durante a reunião, o representante do PCP nem falou. (…) José Magalhães foi pedir à RTP para não fazerem grandes planos da cara de Ferro Rodrigues para não se ver que ele baba ao falar
».
Independente; 22/03/2002

 

Nas legislativas de 2005 repetiu-se a polémica e chegou a haver a ameaça de não haver qualquer debate. «A realização do frente-a-frente entre Santana Lopes e José Sócrates foi acordada após várias semanas de desentendimentos entre as direcções do PSD e do PS, quer sobre o número de debates entre os dois principais candidatos a primeiro-ministro, quer sobre as estações de televisão que os deveriam transmitir. O presidente do PSD manifestou a vontade de fazer com o secretário-geral do PS o maior número possível de debates, mas o líder socialista apenas aceitou estar presente num único frente-a- frente com o actual primeiro-ministro e num debate com os outros quatro líderes partidários.
Depois, tendo José Sócrates a posição de apenas fazer um debate com Pedro Santana Lopes, havia que escolher quem o transmitiria entre a SIC e a TVI - as duas estações de televisão que apresentaram propostas para o realizar
“. –
Expresso;

A argumentação oficial do PS é que pretendia manter o modelo das eleições de 2002. Luís Paixão Martins, que tinha a responsabilidade do marketing da campanha disse depois do acto eleitoral que «o candidato que vai à frente não deve arriscar». Ao contrário, Santana Lopes queria que fossem realizados vários frente-a-frente com José Sócrates.

O processo arrastou-se durante toda a pré-campanha e acabou por haver um debate na RTP com os líderes dos principais partidos e um frente-a-frente promovido pelo Clube dos Jornalistas, aberto à comunicação social. Este debate introduziu uma outra novidade: «Debate à americana
Tal como nos debates das últimas eleições presidenciais norte-americanas, os tempos de resposta estão estabelecidos à partida. Quando colocado perante uma pergunta, o candidato visado terá dois minutos e 15 segundos para responder e o oponente um minuto para replicar (e o candidato questionado outro minuto para a tréplica, se assim o entender).
Durante a resposta ver-se-á uma luz verde; a 30 segundos do fim do tempo, acender-se-á uma luz laranja; e a 15 segundo do fim, uma luz vermelha. Rodrigues Guedes de Carvalho terá por missão cortar a palavra aos candidatos se estes ultrapassarem o tempo que lhes é atribuído. Sócrates começa o debate, Santana encerra
». João Pedro Henriques;
Público;

Nas Legislativas de 2009 foi alterado o modelo. Foram realizados debates, dois a dois, entre todos os líderes dos partidos com representação parlamentar.

Em 2011, com a troika em Portugal, os condicionamentos eram de outra natureza. O processo foi mais rápido e o debate entre José Sócrates e Passos Coelho teve uma das maiores audiências na história da Democracia portuguesa.

Em 2015 foi alterada a legislação. Os órgãos de comunicação social registam maior liberdade editorial e os debates estão condicionados pela representatividade das candidaturas ao órgão onde pretendem concorrer.


A ida a um debate implica uma longa e rigorosa preparação, que passa por várias áreas, desde o conteúdo à forma. É um trabalho que, em geral, exige uma equipa que recolhe e trata informação, a observação de debates anteriores e avalia os pontos fortes e fracos – e como os utilizar.

A preparação do debate de ontem começou na passada sexta-feira, dia em que no PS se fez uma reunião de planificação dos temas que ontem estiveram em causa no confronto Guterres-Nogueira na SIC. O levantamento das questões agendadas (…) o visionamento do debate na RTP, esmiuçando os pormenores, detectando os pontos fortes e fracos de Guterres e o mesmo, possivelmente ainda com maior atenção, quanto a Fernando Nogueira” – Público 14/09/85.

O mesmo foi relatado pela comunicação social no debate entre Ferro Rodrigues e Durão Barroso em 2002 e entre José Sócrates e Santana Lopes em 2005 - «O líder do PSD vai passar o dia de hoje a preparar o confronto, saindo de São Bento apenas para um almoço com a Confederação do Turismo. O presidente do PSD gosta de ficar sozinho quando se prepara para confrontos decisivos, a consultar dossiers e a preparar mentalmente as suas intervenções, mas deverá ao longo do dia ouvir conselheiros como Rui Gomes da Silva, Miguel Almeida, Pedro Pinto, Miguel Relvas ou Morais Sarmento. Santana também costuma ouvir amigos que não têm nada a ver com a política, que servem “como uma espécie de focus-group”, diz um colaborador.» - DN

 

Um outro aspecto fundamental é, com alguma antecedência, fazer-se um levantamento das situações desfavoráveis e as perspectivas que possam tornear os problemas, ou mesmo lançar um contra ataque. No “You are the message”, Roger Ailes conta detalhadamente a preparação de Reagan para um debate com Mondale. Um dos pontos fracos de Reagan era a sua idade avançada. Como era de esperar, Mondale avançou com o ataque e Reagan respondeu que não queria fazer da idade um tema de campanha, para não falar da juventude e inexperiência de alguns adversários. Era o caso de Mondale. Com este contra ataque, Reagan resolveu de uma só vez o problema da idade avançada.

 

Repare-se num outro exemplo, relativo à governação do PS que era acusado de promover o «clientelismo». À espera que Durão Barroso recorrer-se a este tema, no já citado debate de 2002, Ferro Rodrigues levou uma resposta preparada.

Durão Barroso insistiu várias vezes com o facto do governo PS ter cedido a lobbies, tendo Ferro Rodrigues reconhecido que sim. Este capítulo seria um manancial que o líder do PSD só explorou pela rama, apesar de ter acusado Ferro Rodrigues de ser o detentor do recorde das “nomeações políticas” do Governo, 1124. Ferro mostrou a última nomeação, a de Leonor Beleza, funcionária da presidência do Conselho de Ministros e candidata do PSD.”
Público; Ana Sá Lopes; 27 Fevereiro de 2002

Neste levantamento constam também os temas que criam dificuldades aos adversários. O trabalho seguinte é transformar esses dados em exemplos concretos, que o cidadão comum perceba.

«Durão Barroso replicou que o Governo “fez três orçamentos num ano”: “Os senhores não acertaram uma vez nas contas“.»
Público; Ana Sá Lopes; 27 Fevereiro de 2002

 

Há depois pequenos truques a que se recorre com alguma frequência, como por exemplo, confrontar o adversário com o preço de produtos ou serviços que fazem parte do quotidiano dos cidadãos – o preço de um pão, de um bilhete de Metro…

 

Nas legislativas de 1999 Carlos Carvalhas utilizou este truque com Paulo Portas mas, o tiro saiu-lhe pela culatra.
O líder do PP levava a lição bem estudada e, além do preço de um litro de leite, disparou de rajada o preço de vários bens essenciais.

Para os debates levam-se os documentos que possam comprovar as acusações que vão ser feitas. Mesmo que não sejam exibidos ostensivamente apontam para eles, podem ler uma frase, uma data… para dar veracidade à acusação:

A divergência relativamente ao rendimento mínimo garantido permitiu a Guterres fazer um número a calhar para a televisão: puxou de uma directiva comunitária assinada pelo «ministro de Portugal Silva Peneda», onde se defendia que os países da União Europeia adoptassem um esquema similar ao proposto pelo PS” –

Público, 07/09/95.


Mais tarde, nas legislativas de 1999 foi a vez de Durão Barroso recorrer a gráficos (que mostrava para as câmaras) para ilustrar o “mau” desempenho do Governo em determinadas áreas.

Há mesmo quem vá mais longe e, além dos documentos, chega a levar outros objectos.

Foi o que fez Paulo Portas no debate de 20 de Setembro com António Guterres para as legislativas de 1999.

O líder do PP queria chamar a atenção para um tema que fazia parte da sua campanha – a agricultura – e levou para o debate duas batatas que fizeram notícia.
Portas mostra duas batatas a Guterres (…) Ao apresentar a batata espanhola e outra nacional, o presidente do PP, Paulo Portas, procurou provar a “enorme” desvantagem competitiva entre os agricultores portugueses e os seus concorrentes directos em Espanha (…) ” Lusa, telex 202351 Set. 99.

 

Na verdade, o recurso a esta temática, vinha já das eleições Europeias, meses antes das Legislativas. Na altura, segundo Jorge Alves da Silva, responsável pela imagem do PP, “«Tínhamos 20 mil contos, não era nada. Precisávamos de fazer algo tipo guerrilha, de multiplicar os efeitos da comunicação do líder». Surgiu então a ideia da campanha nas feiras. «Era preciso encontrar formas de síntese paradoxais para comunicar com o eleitorado. Para combater a ideia burocrática da Europa, perguntava-se onde estão as batatas, as maçãs produzidas em Portugal. São questões concretas que tocam as pessoas»” – Público 5 de Julho de 1999.

Esta estratégia deu resultado e Paulo Portas continuou a apostar na visita às feiras nas eleições seguintes, de tal forma que, por algumas pessoas, era tratado como “o Paulinho das feiras”. (Esta imagem foi quebrada nas legislativas de 2005, quando era ministro de Estado e da Defesa e era perceptível a dificuldade em sobrepor as duas imagens.)

 

Na preparação destes debates é frequente fazerem uma simulação com alguém a fazer o papel de “advogado do diabo”.

Nesta simulação é avaliada a relação com as câmaras, a telegenia, a naturalidade da comunicação porque são elementos relevantes. Por vezes até são os marcantes e diferenciadores de um debate.

Foi o que sucedeu em 2002 entre Durão Barroso e Ferro Rodrigues. Segundo a imprensa, «Não houve vencedores no único frente-a-frente que pôs em confronto Durão Barroso e Ferro Rodrigues nesta campanha eleitoral.» (Ana Sá Lopes, Público de 27/02/2002). A diferença esteve mais na forma como se apresentaram.

«Ferro Rodrigues não dominou ainda o olhar e esse descontrolo da pupila nas órbitas oculares transfere-se para a sensação como o espectador recebe o seu comportamento não-verbal. Na declaração final - o último acto da divina representação - os candidatos são autorizados a prescindir do telejornalista, sacerdote intermediário entre a TV e os mortais que assistem à cerimónia. Mas, por falha momentânea, a realização não cumpriu as suas próprias regras nos primeiros segundos da declaração do candidato do PS, mostrados à audiência não pela câmara escolhida para tal, mas por uma câmara lateral. Por causa disso, vimos Ferro Rodrigues a olhar para o lado. Este facto “desconstruiu” logo de início o conceito de “declaração final”. O candidato do PS esteve a falar para um objecto (a câmara que não estava no ar) e não para “nós” (a câmara escolhida). Se fosse um “pivot” ele teria olhado para câmara certa ao perceber o erro do realizador. O modo de olhar da TV influencia o do espectador, mas não é definitivo..» Eduardo Cintra Torres, Público.

 O PS não aprendeu a lição e este problema que Ferro Rodrigues teve no debate com Durão Barroso repetiu-se no frente-a-frente de José Sócrates com Santana Lopes. Na declaração final o líder do PS não olhou para a câmara que estava definida e o efeito pretendido não foi atingido.

 Antes do debate também é avaliada qual a imagem que se quer alcançar e qual a postura que melhor se adequa a essa imagem. Em função deste exercício, conclui-se como dosear a agressividade, o modo como interpelar os adversários e a forma como abordar alguns temas.
Foi de certa forma o que aconteceu com António Guterres nas legislativas de 1995. No primeiro debate, na RTP, em 06/09/95, foi mais agressivo. No segundo debate, depois de ter ganho por “KO” como foi definido pelo Público de 07/09/95, António Guterres preferiu ir par o segundo debate numa postura mais de “estadista”, “de forma menos polémica e mais institucional”, deixando para o seu adversário “a tentação de criticar Guterres por tudo e por nada” – Público, 14/09/95.

 

Em qualquer caso, um objectivo fundamental é evidenciar uma postura segura, de controlo de todas as situações. “Foi um debate ganho no primeiro minuto: a impressionante descontracção de António Guterres chocou de imediato com a mal-disfarçada insegurança de Fernando Nogueira” – Público, 07/09/95
De forma diferente, foi a avaliação feita a José Sócrates na primeira parte do debate com Santana Lopes: «Uma hora. Durante uma hora José Sócrates não esboçou um sorriso, não descontraiu o rosto. Repetiu gestos curtos, impacientou-se, conteve-se. Depois do intervalo, transfigurou-se. Podem ter sido os conselhos que lhe deram nos bastidores, para ser menos ríspido, para não lançar o tempo todo aquele olhar de animal feroz. Bastou Pedro Santana Lopes aventurar-se em comentários sobre a co-incineração e a cara do líder socialista iluminou-se. Baixou os ombros, recostou-se na cadeira, riu-se pela primeira vez desde as oito e meia da noite, enquanto saboreava a vantagem sobre o adversário. Aquele era o seu terreno, não era o de Santana. Finalmente.»Filipe Santos Costa; DN; 0004/02/05.

Sublinhe-se que o conceito «vencer» um debate nem sempre é claro na mente de alguns políticos (e também de alguns comentadores). Muitos esquecem que «vencer» o debate, não é vencer o oponente, o objectivo é ganhar eleitores.

 

Repare-se, por exemplo, no que sucedeu a Paulo Portas e a Durão Barroso em 22 de Setembro de 1999. Os dois líderes tinham relações políticas de grande tensão e apesar de representarem um eleitorado conservador, que gosta de algum respeito e formalidade no relacionamento pessoal, acabaram por transformar o debate num ringue de acusações pessoais. “Durão e Portas lavaram roupa suja no debate da SIC. Como eles se odeiam” título da reportagem do Público de 23 de Setembro de 1999, que tinha na abertura da notícia o seguinte lead: “Maoísta, nazi, estalinista, troca-tintas. Estes foram apenas alguns dos insultos ontem entre Paulo Portas e Durão Barroso (…) Um debate em que ambos perderam, mas Durão terá perdido mais”. No mesmo dia escreveu o Diário de Notícias em título: “Zangados, nervosos e sem papas na língua.” Segundo o relato da jornalista “a agressão verbal foi aumentando e a tensão também”. Tudo isto, para concluir nas palavras de Vicente Jorge Silva, na mesma edição do D.N.: “ (…) A direita deve ter ficado bastante desgostosa com o espectáculo e Guterres ganhou sem ter mexido uma palha (…)” No mesmo sentido foi a opinião de Manuel Vilaverde Cabral na mesma edição do D.N.: “Perderam ambos o debate, autodestruindo-se”.
Ou seja, não importa qual deles ganhou o debate. O que parece ter sucedido é que ambos perderam uma oportunidade para captar novos eleitores, se não chegaram mesmo a perder alguns.

 

Os debates das legislativas de 1995 entre Fernando Nogueira e António Guterres acabaram com um interregno de 10 anos em que não houve qualquer confronto na televisão entre os líderes dos principais partidos.

 

Este intervalo teve lugar enquanto Cavaco Silva desempenhou o cargo de Primeiro-ministro.
O então líder do PSD considerava que os debates não passavam de um mero espectáculo. Mesmo em 1985, quando participou em debates, Cavaco Silva recusou o primeiro confronto, fazendo-se representar por Eurico de Melo. Só aceitava participar com o candidato socialista sobre políticas económicas. Quando se fez substituir por Eurico de Melo, a RTP não aceitou, argumentando que violava as regras estabelecidas e o debate teve apenas como participantes Lucas Pires (líder do CDS) e Álvaro Cunhal (líder do PCP). Cavaco Silva ficou em casa a ver o debate na companhia de uma jornalista do Expresso. O relato que vem na edição de 7 Setembro de 1985 mostra bem a forma como o líder do PSD encarava a questão dos debates: “Isto da TV faz-me confusão. (…) Há quem diga que eu devo ir, não se pode desperdiçar a ocasião… Não sei. (…) «Tu devias ir» aconselha-o a mulher. «Estão a descascar-te, aproveitam-se de que ali não estejas…»” Cavaco Silva acabou por aceitar a sugestão da mulher e participou em dois debates, sendo o último em 12 de Setembro de 1985, onde esteve em estúdio com Almeida Santos e Álvaro Cunhal. Curiosamente, “os comentadores deram a vitória a Almeida Santos no segundo dos seus debates com Cavaco Silva, mas foi este que ganhou as eleições” – José Manuel Fernandes, Público de 13/09/95. Segundo uma sondagem do Expresso de 7 de Setembro de 1985, Almeida Santos também venceu o debate anterior :” Santos – 36%; Cunhal – 23% e Lucas Pires – 25%”.

Na democracia portuguesa fizeram história quatro debates que, de certa forma, coincidem com três momentos políticos importantes.

 

 

 

O primeiro foi entre Mário Soares e Álvaro Cunhal. O debate teve lugar durante quase quatro horas, na noite de 6 de Novembro de 1975, em plena agitação do período revolucionário.
Para a história fica a frase “olhe que não Sr. Doutor” de Álvaro Cunhal, mas o mais relevante foi o confronto directo entre duas figuras marcantes do regime no período pós revolucionário.
Foi, talvez, o debate mais marcante da democracia portuguesa e serve como ponto de referência para os outros debates, por ter sido o primeiro “combate de gigantes” a ser transmitido em Portugal (2) e ter decorrido num ambiente calmo e ameno, ao contrário da agitação que se vivia nas ruas, mesmo enquanto decorria o debate..

 

Mário Soares participou noutro debate que fez história, devido à forma como conseguiu colar o seu adversário a uma imagem ligada ao antigo regime.
Foi em 1986, na segunda volta das eleições presidenciais, contra Freitas do Amaral. Soares precisava dos votos da esquerda para ganhar e lançou sempre a suspeição sobre Freitas do Amaral de estar envolvido com o fascismo - «Não tenho dúvidas que Freitas do Amaral se converteu, tardiamente, à democracia». Mais tarde, o próprio Mário Soares reconheceu que essa imagem não correspondia à realidade.

 

O terceiro debate que merece ser destacado é por ter tido um papel importante na viragem de um resultado eleitoral. Foi em 1989, entre Jorge Sampaio e Marcelo Rebelo de Sousa, para a Câmara Municipal de Lisboa. Até ao debate quase todas as sondagens davam a vitória a Marcelo Rebelo de Sousa, mas a partir daqui houve uma inversão e Jorge Sampaio acabou por ganhar as eleições

 

 

 

O quarto ciclo de debates que merece ser destacado foi em 1995 entre Fernando Nogueira e António Guterres. Foram dois debates que iniciaram uma nova fase de confrontos televisivos entre os dirigentes dos dois maiores partidos. Segundo um editorial do Público, António Guterres venceu o primeiro debate por «KO» e o segundo debate “confirmou o favoritismo de Guterres”. Um dos motivos invocados por vários comentadores, teve a ver com a capacidade de comunicação de Guterres que “esmagou” uma postura “cinzenta” de Fernando Nogueira. Além do efeito directo do debate (segundo dados da AGB, o primeiro debate foi visto por 1.600 mil pessoas e o segundo debate por 1.500 mil pessoas), António Guterres obteve ganhos acrescidos com os comentários positivos que se multiplicaram em vários órgãos de comunicação social.

 

Há mesmo quem afirme que parte significativa da mais-valia conseguida num debate é o efeito que provoca no tratamento informativo nos dias seguintes. «”As consequências do debate talvez sejam mais interessantes. Dão o tom da campanha a seguir. O debate não se esgota nele mesmo”, diz Fernando Mitre, director de Jornalismo da Band. - O Estado de S. Paulo; 24/10/2004

 

 

 

 

Manuel Maria Carrilho teve esta experiência quando em Novembro de 2005 foi a um debate com Carmona e Silva. A disputa para a Câmara de Lisboa terminou com Carrilho a recusar apertar a mão a Carmona e as câmaras da SIC registaram este momento. No dia seguinte foram estas imagens que abriram os telejornais, foram publicadas na imprensa e na Internet. O grande efeito mediático não foi o debate. Foi o incidente que acabou por ser amplamente valorizados pelos vários órgãos de comunicação social.

 

Após um vazio de vários anos, os debates começaram a ser um ritual nos processos eleitorais.

 

O ponto máximo foi atingido em 1999 com a realização de sete debates. Os líderes dos quatros maiores partidos tiveram confrontos directos e, no final, juntaram-se todos num debate na RTP.
O debate que, aparentemente podia ter maior incidência no resultado eleitoral foi entre António Guterres e Durão Barroso, mas o que reuniu maior curiosidade da comunicação social foi entre Paulo Portas e Durão Barroso. Este debate foi, inclusive, o que teve maior audiência média – 19.7% (fonte Audipanel), enquanto Guterres e Durão ficaram-se pelos 15.2%, o resultado mais baixo de todos os debates na SIC. Segundo uma sondagem da SIC, o líder socialista venceu este debate: 57% - António Guterres e 25% para Durão Barroso. Numa outra sondagem, da Euroexpansão, publicada pelo Expresso em 25.9.99, para 60% dos inquiridos, Guterres foi quem esteve melhor nos debates, que foram vistos por 57% dos portugueses, enquanto 34% atribuíram a Durão Barroso o pior desempenho. Além do efeito directo do debate, António Guterres tirou ainda partido da sua prestação, no dia seguinte, com os comentários publicados em vários órgãos de comunicação social: DN: Vasco Pulido Valente “ Passou por cima de Durão Barroso como um rolo compressor”; Vicente Jorge Silva: “ Claramente, quem ganhou o debate foi António Guterres”; 24H.Primeira página: “Big Show Guterres”; Independente: “o primeiro e o aspirante”, última página, num comentário de Inês Serra Lopes: “ontem o vencedor foi nitidamente António Guterres”; Diário Económico, manchete: “ Durão perde hipótese de vencer Guterres”.

Nesta série de debates, uma outra particularidade teve a ver com o confronto dos quatro líderes na RTP. Foi, de todos, o debate mais informativo, com uma discussão serena de temas que tinham a ver com o quotidiano dos cidadãos – “o debate na RTP (…) foi esclarecedor sobre os objectivos de cada partido em áreas como a economia, questões sociais e políticas.” Lusa 24 Setembro 1999. No entanto, por não ter sido um “espectáculo” televisivo, foi o que obteve menos audiência – 9.8%.
A ideia geral que ficou de todos os debates é que não despertaram grande curiosidade, nem influência no eleitorado. “O resultado final junto do eleitorado talvez tenha sido mais o alicerçar as ideias já existentes.” – Expresso 25.9.99.

 

O que se passou nas legislativas de 1999 é revelador do efeito dos debates. Se algum dos candidatos tiver uma prestação péssima, se cometeu um erro colossal, se teve um acto de coragem ou de grande afirmação, pode, eventualmente, ter reflexos no eleitorado. Se nada disto se passou e o próprio ambiente não é de mudança política, então, os debates de pouco servem. Limitam-se a segurar os fieis e convencer poucos indecisos. Nas palavras de Elihu Katz, professor norte-americano e antigo responsável pela televisão pública de Israel, os debates televisivos servem sobretudo para «cristalizar» opções já tomadas e só residualmente provocam mudanças de posição». (3)

 

Em 2002 a situação também não foi muito diferente. Por um lado, o debate entre Ferro Rodrigues e Durão Barroso não teve grande efeito nos media. O consenso foi que não houve vencedor. Por outro lado, a audiência também não foi muito significativa - «o debate entre Ferro Rodrigues e Durão Barroso teve uma audiência média de 1,2 milhões de espectadores. O”share” foi de 33,4 por cento, o que significa que àquela hora, em cada 100 espectadores que viam televisão 33,4 acompanhava as propostas dos líderes do PS e do PSD. Apesar do interesse do actual momento político português e deste ter sido o único frente-a-frente entre os dois candidatos a primeiro-ministro, o debate não foi capaz de derrotar as novelas da TVI, que mantiveram a liderança das audiências» Lusa

 

Em 2005 os debates não alteraram o valor das sondagens feitas até essa altura. O confronto entre José Sócrates e Santana Lopes não teve um vencedor claro. Pelo menos a opinião expressa nos media era contraditória - «Eleições: Imprensa dividida na análise ao debate entre Santana e Sócrates.

Lisboa, 04 Fev (Lusa) - A imprensa portuguesa de hoje divide-se na apreciação do frente-a-frente televisivo de quinta-feira à noite entre o líder social-democrata Santana Lopes, e o líder socialista José Sócrates, mas é unânime em considerar o debate morno. (…) alguns jornais atribuem a vitória ao presidente do PSD, Santana Lopes, outros ao secretário- geral socialista, José Sócrates, enquanto para outros simplesmente não houve um vencedor..» Lusa 04/02/05.
Uma sondagem revelada pelo Correio da Manhã e realizada pela Aximage revelou que 50,4 por cento dos inquiridos atribuíram a vitória a José Sócrates, 20,2 por cento a Pedro Santana Lopes, enquanto 29,6 por cento considera que se registou um empate.
O que este debate trouxe de novo foi um interesse significativo dos espectadores. O mesmo se passou duas semanas depois no debate na RTP, com os cinco principais líderes partidários.

 

 

O elevado número de indecisos talvez tenha contribuído para levar estes debates para um lugar cimeiro do ‘top’ dos programas políticos mais vistos.

1. P. Coelho/A. Costa - 09/0915 - 3,4 milhões espectadores (RTP, SIC e TVI) 

2. Santana L./J.Sócrates - 03/02/05 - 23,1 % de aud. média ; 2.242.700 espectadores

3. José Sócrates-Passos Coelho 20 Maio 2011              1.584.500

4. Paulo Portas/José Sócrates      09 Maio 2011            1.483.298

5. Paulo Portas/José Sócrates      09/2009 -                 1.439.900
6. José Sócrates/Francisco Louçã  09/2009                  1.419.400

7. José Sócrates/Manuela F. Leite 09/2009                   1.337.400

8. Fernando Nogueira/António Guterres 09/1995          1.280.000

9. Durão Barroso/Ferro Rodrigues 26/02/2002    13.7% 1.230.200

10. Fernando Nogueira/António Guterres 09/1995          1.207.200

11. Francisco Louçã/Manuela F. Leite  09/2009               1.181.500

12. Jerónimo Sousa/Manuela F. Leite 09/2009              1.180.500

13. Paulo Portas/Manuela F. Leite 09/2009                   1.176.600

14. José Sócrates/Francisco Louçã 12 Maio 2011          1.140.000

15. Paulo Portas/Francisco Louçã 09/2009                   1.020.200

16. Paulo Portas-Francisco Louçã 18 Maio 2011            1.015.615
17. Passos Coelho-Francisco Louçã 17 Maio 2011         1.010.995

18. José Sócrates/Jerónimo Sousa 09/2009                   976.800

19. P P Coelho/Jerónimo Sousa 10 Maio 2011                970.748

20. Debate a 5 em 12/03/2002  10.6%                          955.400

 

Outras audiências relevantes de programs televisivos:

Debate a cinco na RTP 16/02/05 - 18,3%
Entrevista a Cavaco Silva na TVI Novembro de 2005 – 17.8%
Entrevista a Manuel Alegre na TVI Novembro de 2005 – 13.8%
Eleições Europeias 13/06/2004 - 13.5%
Entrevista a Jerónimo de Sousa na TVI Novembro de 2005 – 12.8%
Grande Entrevista a António Guterres 04/05/2003 – 12%
Entrevista a Francisco Louçã na TVI Novembro de 2005 – 11.7
Grande Entrevista a Cavaco Silva 06/03/2003 – 10.9%
Entrevista a Mário Soares na TVI Novembro de 2005 – 10.8%
Debate da Nação – dissolução da AR 10/12/2004 – 9.8%
Grande Entrevista a Durão Barroso 16/07/03 – 8.5%
Grande Entrevista a Ferro Rodrigues 11/11/03 – 8.1%

Entrevista a José Sócrates TVI 26/04/2011 1.135.040 espectadores 

 

O debate na RTP com os cinco líderes partidários originou também uma situação inédita. Jerónimo de Sousa ficou afónico e teve de se ausentar. Fez uma primeira tentativa, não conseguiu falar e saiu do estúdio. Após o intervalo regressou, fez uma intervenção mas acabou por abandonar o debate.

O ciclo seguinte foi o das presidenciais, em Dezembro de 2005. O confronto mais esperado foi entre Cavaco Silva e Mário Soares mas acabou por ser o o quarto mais visto da série de 10 debates, com apenas 1,381 milhões de telespectadores a assistir ao "duelo".
O debate entre Mário Soares e Manuel Alegre, realizado a 15 de Dezembro, foi o mais visto, com 1,730 milhões de telespectadores.
Este frente-a-frente foi também líder de audiências, no dia em causa, uma situação que não se repetiu com qualquer outro debate da série.

 

Em 2009 é de assinalar o debate entre José Sócrates e Francisco Louçã. O debate foi visto por 1.419.400 indivíduos. Foi em 08/09/2009, na RTP e marcou uma viragem na motivação do PS. José Sócrates estava em grandes dificuldades e parte do eleitorado fiel duvidava da capacidade do líder do PS em ganhar as eleições.
Neste debate com o dirigente do BE, Sócrates conseguiu uma manifesta vantagem e introduziu uma nova motivação. Como se tivesse "renascido". De facto, para muitos dirigentes socialistas, começou aqui o ponto de viragem que levou o PS à vitória e a comunicação refletiu o impacte da vitória de Sócrates. O próprio Francisco Louçã viu-se na necessidade de, nos dias seguintes, tentar explicar alguns dos pontos controversos do debate.

 Em 2011 o debate que teve maior audiência, em 20 de Maio, entre José Sócrates e Passos Coelho, na RTP1, teve uma outra particularidade: a gestão das expectativas.
 O cariz de Sócrates, a sua acutilância, a sua determinação, o registo de que se prepara em detalhe para os debates, o estar no poder.... todos estes elementos criaram a ideia de que o então primeiro-ministro ía "dar uma tareia" a quem lhe queria tirar o lugar.
 Esta ideia estava projectada na comunicaão social, nas redes sociais e nos comentários de muitos dirigentes políticos.

Na verdade, nada disto se passou. Foi vaga a ideia de quem ganhou mas o simples facto de Passos Coelho não sair em "KO", pelo contrário, ripostou e até conseguiu surpreender José Sócrates, foi o suficiente para dar uma "nova alma" à candidatura do PSD. Ganhou o debate quem melhor fez a gestão das expectativas.

Debates das Legislativas de 2015. A particularidade foi a transmissão em simultâneo do debate Passos Coelho/António Costa por parte da SIC, TVI  RTP.
Os outros debates realizaram-se nos canais informativos distribuidos por cabo.

Como já foi referido, de destacar as audiêncis alcançadas pelos debates na Legislativas de 2009 colocando alguns no Top dos programs políticos mais vistos:
J. Sócrates - P Portas -     1,439,000 espectadores
J. Sócrates - F Louçã -     1,419,400
J Sócrates - M. F. Leite -  1,337,400
F. Louçã - M. F. Leite -    1,181,500
M. F. Leite - Jerónimo S. 1,180,500
P. Portas - M. F. Leite -    1,176,600
P. Portas - F. Louçã -        1,020,200
J. Sócrates - Jerónimo  S.    976,000
F. Louçã - Jerónimo S. -      835,000
P. Portas - Jerónimo S. -      811,400
Dos dez debates exibidos entre 2 e 12 de Setembro, quatro foram os programas mais vistos do dia.

 

 

O ritual dos debates implica também uma prática que começa a ser habitual - o protesto dos que são excluídos e que reivindicam o direito de estar presente.

Em 1985 Carlos Carvalhas tentou entrar na RTP para participar no debate entre Fernando Nogueira e António Guterres e, na semana seguinte, em frente às instalações da SIC, a CDU organizou “talvez, o maior comício desta pré-campanha da coligação de esquerda (à excepção da Festa do «Avante»)(…) Acabou por ser uma aposta ganha.” - (Público 14/09/95).

Passada mais de uma década a mesma história repetiu-se com os debates para as Legislativas de 2011. Os "pequenos" partidos recorreram a tribunais e no primeiro debate "cerca de duas dezenas de pessoas, em representação dos partidos PCTP/MRPP, Partido Trabalhista Português e Partido Nova Democracia, entraram indevidamente nas instalações da RTP, a minutos do debate entre Paulo Portas e Jerónimo de Sousa". No debate seguinte, na TVI, regitou-se novo protesto.

 

 

Uma última referência para as declarações que são feitas nos bastidores dos debates. Muitos órgãos de comunicação social fazem reportagens sobre a forma como os assessores dos líderes acompanham a emissão. É também frequente a recolha das opiniões dos candidatos sobre a forma como decorreu o debate. Muitas vezes estas reacções servem de sinais aos jornalistas sobre a percepção que os vários «stafs» fazem do resultado do debate. Habitualmente reagem de uma forma positiva: “o primeiro-ministro manifestou-se contente com o debate: «nós achamos sempre que ganhamos». E o líder da oposição também: «fiquei extremamente satisfeito»” – Público, 17 Setembro de 1999. Quando não é o próprio candidato a exprimir a sua opinião conome é exemplo no debate com Paulo Portas nas Legislativas de 2011 que permitiu ao site do Expresso colocar em grande destaque "Sócrates: "Ganhei este debate e vou ganhar as eleições"

 

(1) Porque as sondagens davam o PSOE muito próximo do PP, “o duelo feroz entre Felipe Gonzalez e José Maria Aznar terá dois assaltos e decidirá em grande medida a vitória eleitoral, segundo estimam os responsáveis políticos das duas forças políticas” - Cambio 16; 31 Maio de 1993, nº 1.123
(1) Antes, Cunhal e Soares tiveram um outro debate, mas foi difundido apenas na televisão francesa – ORTF.
(2) Público; 23/03/1999

 

 

Lista de alguns dos debates mais marcantes:
Julho de 1975 – Mário Soares / Álvaro Cunhal – ORTF ( difundindo em França)
06 Novembro 1975 – Mário Soares/Álvaro Cunhal – RTP
20 Novembro 1980 – Entrevistas aos candidatos presidenciais
29 Agosto 1985 – MDP/CDE; UEDS; UDP e PRD que abandonou – RTP
03 Setembro 1985 – Almeida Santos; Álvaro Cunhal e Lucas Pires - RTP
05 Setembro 1985 – Álvaro Cunhal e Lucas Pires -Cvaco Silva não esteve presente ) – RTP
11 Setembro 1985 – Cavaco Silva, Almeida Santos e Lucas Pires – RTP
12 Setembro 1985 – Cavaco Silva, Almeida Santos e Álvaro Cunhal – RTP
02 Janeiro 1986 – Mário Soares, Salgado Zenha - RTP
09 Janeiro 1986 – Mário Soares; Freitas Amaral – RTP
06 Fevereiro 1986 – Mário Soares; Freitas Amaral ( segunda volta ) – RTP
28 Novembro 1989 – Marcelo Rebelo de Sousa; Jorge Sampaio
06 Dezembro 1990 – Mário Soares ; Basílio Horta
1993 – Macário Correia e Jorge Sampaio que não esteve presente - SIC
06 Setembro 1995 – António Guterres; Fernando Nogueira – RTP
13 Setembro 1995 – António Guterres; Fernando Nogueira – SIC
1995 – Cavaco Silva; Jorge Sampaio
14 Junho 1996 – António Guterres, Carlos Carvalhas, Manuel Monteiro e Marcelo rebelo de Sousa que não esteve presente.
11 Maio 1999 – Mário Soares, Pacheco Pereira, Ilda Figueiredo e Paulo Portas – SIC
28 Maio 1999 - Mário Soares, Pacheco Pereira, Ilda Figueiredo e Paulo Portas – RTP
16 Setembro 1999 – António Guterres; Durão Barroso
17 Setembro 1999 – Paulo Portas; Carlos Carvalhas – SIC
19 Setembro 1999 – Durão Barroso; Carlos Carvalhas - SIC
20 Setembro 1999 – António Guterres; Paulo Portas – SIC
21 Setembro 1999 – António Guterres, Carlos Carvalhas – SIC
22 Setembro 1999 – Durão Barroso; Paulo Portas – SIC
24 Setembro 1999 – Durão Barroso; Paulo Portas; António Guterres e Carlos Carvalhas – RTP
26 Fevereiro 2002 – Ferro Rodrigues; Durão Barroso - SIC
03 Fevereiro 2005 – Santana Lopes; José Sócrates – SIC e RTP2
16 Fevereiro 2005 - Santana Lopes; José Sócrates; Paulo Portas, Jerónimo de Sousa e Francisco Louça.
15 Setembro 2005- Manuel Maria Carrilho / Carmona Rodrigues – SIC Notícias

15 Dezembro 2005 - Manuel Alegre - Mário Soares - RTP

20 Dezembro 2005 - Mário Soares - Cavaco Silva - RTP

08 Setembro 2009 - José Sócrates - Francisco Louçã - RTP

12 Setembro 2009 - José Sócrates - Manuela Ferreira Leite - SIC

20 Maio 2011 - José Sócrates-Passos Coelho (RTP)

Legislativas 2011:
6 Maio:
Paulo Portas-Jerónimo de Sousa (RTP) - audiência média de 910.800 espectadores. Share de 26.1%
9 Maio:José Sócrates-Paulo Portas (TVI) - audiência média de 1.483.298 espectadores. Share de 38.3%
10 Maio: Passos Coelho-Jerónimo de Sousa (TVI) audiência média de 970.748 espectadores. Share de 26.9%
11 Maio:José Sócrates-Francisco Louçã (SIC) audiência média de 1.140.000 espectadores com um share de 30.2%
12 Maio: Francisco Louçã-Jerónimo de Sousa (RTP) audiência de 894 mil espectadores e share de 24,2%
13 Maio: Passos Coelho-Paulo Portas (SIC) audiência média de 887.369 pessoas com um share de 28,8%
16 Maio: José Sócrates-Jerónimo de Sousa (SIC) audiência média de 920.620 pessoas com um share de 28%.
17 Maio: Passos Coelho-Francisco Louçã (TVI) audiência média de 1.010.995 pessoas e share de 30.2%
19 Maio: Paulo Portas-Francisco Louçã (SIC) audiência média de 1.015.615 pessoas e share de 27.9%
20 Maio; José Sócrates-Passos Coelho (RTP)  audiência média de 1.584.500 pessoas e share de 44.2%

18
Fev11

1. O líder e a política de comunicação

rgomes

«Para Alejandro Pizarroso Qintero, existem três tipos de políticos com os quais os profissionais do marketing terão de se confrontar: aqueles que não entendem o fenómeno da comunicação e não atendem aos conselhos dos consultores, aqueles que são um puro produto de marketing e aqueles que têm personalidade e inteligência para atender a esses conselhos» Público; 06/04/1998
Ao fim de alguns meses, independentemente da relação inicial, todos percebem que é vital o papel desempenhado pelo líder e o seu envolvimento na política de comunicação.

Numa sociedade fortemente mediatizada, os líderes são o elemento central da actividade política.
Há uma relação biunívoca. Os dirigentes precisam da comunicação social para difundir a sua mensagem e, por outro lado, os media andam incessantemente atrás dos líderes. Um exemplo é o número crescente de histórias que vasculham a vida pessoal dos líderes e dos seus familiares. Os chefes de governo, os ministros os líderes partidários recebem centenas de solicitações por parte de jornalistas.
Porque a actividade que desempenham está muito dependente da avaliação que é feita pelos órgãos de comunicação social, os líderes políticos procuram adaptar-se à linguagem e aprendem muitas das técnicas de comunicação.
Nem todos os dirigentes partidários se adaptam bem a este papel, nem à postura que muitas vezes são «obrigados» a assumir, em função da mensagem que foi definida.
Foi o caso de Santana Lopes quando assumiu as funções de Primeiro-ministro.
A imagem com que se apresentou não era a que estava na memória das pessoas. Procurou uma postura mais institucional. «Não gostava do penteado dele, mas ele dizia-me que se usava em Portugal. Agora, quando chegou a primeiro-ministro, finalmente cortou o cabelo» - Einhart Paz, em declarações à A Capital; 10/08/2004. Santana Lopes fez outras alterações. Parte significativa das intervenções públicas foi feita com discursos escritos e não se deu bem. Aparecia muito distante. Teve de mudar e passou a improvisar. Por várias vezes a comunicação social chegou a referir que ele não se adaptou bem ao papel de primeiro-ministro e a oposição acusou-o no Parlamento de «não se sentir bem no fato de chefe de Governo».

«Quando ascendeu ao Governo, há três anos, Paulo Portas assumiu uma pose de estadista que soava a falso. Passou a vestir de modo mais formal, adoptou uma postura corporal rígida e pareceu mesmo ensaiar uma mudança na colocação de voz.
Todos os observadores notaram a diferença – que foi objecto de múltiplos comentários.
A verdade é que, a pouco e pouco, o hábito foi fazendo o monge – e a certa altura o “Paulo Portas governante” e o “Paulo Portas individuo” confundiam-se, a ponto de ninguém distinguir um do outro.
Com Pedro Santana Lopes sucedeu exactamente o oposto.
Em vez de se meter na pele do governante, Santana tentou que o governante se metesse na sua pele. Engoliu-o Continuou a ter o comportamento que tinha antes, a fazer as mesmas coisas, a manter os mesmos hábitos, a encarar a vida do mesmo modo.
Deve dizer-se que esse é o lado mais atraente de Santana Lopes: ser ele próprio em todas as circunstâncias e levar a vida com ligeireza.
Só que, de todos os cargos da política portuguesa, o de primeiro-ministro é o mais exigente.
Ao querer adaptá-lo à sua forma de estar, Santana Lopes retirou-lhe toda a respeitabilidade e traçou o seu próprio destino». José António Saraiva; Expresso de 22/01/05.

Este é um processo que necessita de uma adaptação mútua entre o candidato e a mensagem que se pretende transmitir. É um casamento que tem de ser perfeito.

“Preparar o candidato não significa procurar ensinar-lhe coisas a respeito das quais conhece bem e já tem pontos de vista formados. Trata-se, isto sim, de proceder a um ajustamento entre a sua personalidade, suas ideias, objectivos políticos e administrativos e a linguagem a ser adoptada nas comunicações aos eleitores, adequando o conjunto à plataforma política final (…) o candidato deverá ser preparado para a linguagem, o processo de comunicação que deve ter com os eleitores. Em todos os níveis, portanto desde a comunicação factual, publicitária, até os contactos com os grupos representativos do seu eleitorado e os próprios eleitores, passando pela cobertura da imprensa, reuniões, comícios, encontros, entrevistas, etc., a imagem de personalidade do candidato deve obedecer a parâmetros uniformes, valorizando a credibilidade em seus planos de acção, em sua plataforma eleitoral (…) Trata-se pois, na verdade, não de preparar um candidato mas, sim, de fazer com que este seja visto sob a óptica do político em acção política”. - “A Cartilha da Eleição” - Manual do PDS ( Partido Democrático Social ), Brasil.

Nas palavras de Edson Athayde ao Público de 5 de Julho de 1999: “Construir a imagem de um político é impossível, explica. «Pode ir conseguindo convencer as pessoas um dia, outro dia, mas chega a altura em que o olhar trai, alguma coisa não convence, soa a falso. A imagem do engenheiro Guterres é a dele, enquanto for a dele está óptima»”.
Roger Ailes, que foi um dos principais conselheiros de Ronald Reagan conta a sua surpresa quando assistiu a um encontro do candidato republicano com os assessores de imagem. Estes queriam obrigar Reagan a assumir uma postura que não tinha nada a ver com ele e tudo soava a falso. Quando Ailes assumiu o papel de conselheiro alterou completamente esta postura e apostou na valorização de uma das principais características de Ronald Reagan: «ele era um excelente comunicador». Ele próprio era «a mensagem», o trabalho a fazer era valorizar esta característica deixando-o assumir uma postura natural e preparar apenas a argumentação que Reagan poderia utilizar.

Com o crescente efeito da personalização da política em Portugal, este tem sido também o caminho percorrido pela maior parte das organizações políticas. Procuram centrar a mensagem nos atributos que estão directamente associados à imagem do líder.
Os valores pessoais, as crenças sobre o sistema político, o seu passado e da organização política que lidera (o que por vezes implica alterar a imagem do partido), a forma como reagiu numa situação difícil... são sinais importantes para o eleitorado e até determinantes para estabelecerem juízos de valor, afectos e a escolha na hora do voto.

Para aferir a «imagem» do líder, as características negativas e positivas, recorre-se a estudos de opinião. Numa primeira fase é um trabalho qualitativo, para se saber a percepção do eleitorado sobre o candidato - aquilo que ele é, o que gostariam que fosse e o que esperam dele.

Numa segunda fase, depois de trabalhadas as conclusões do estudo qualitativo e lançadas as pistas que podem ser seguidas, passa-se para um estudo quantitativo.
Conclusões de um estudo – qualitativo e quantitativo - realizado em 1999 onde se «afere» a imagem de António Guterres e Durão Barroso:

Foto A. Guterres: Foto Durão B. Durão B. - negativos

Vantagem de A Guterres (1)

Conclusões de um outro estudo, anterior, quando estava a ser preparada a AD de Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Portas:
«António Guterres / Marcelo Rebelo Sousa:

1. Atributos mais valorizados:

2. Atributos menos valorizados:

Vantagem na comparação:

Estes dados servem, em primeiro lugar, para se perceber qual a leitura do eleitorado em relação aos líderes políticos.
Traçados os «perfis», o passado seguinte é avaliar quais os atributos positivos do líder que devem ser valorizados e quais as características negativas do adversário que devem também ser realçadas. Um outro dado que é avaliado é se é possível alterar este perfil, através de iniciativas ou mudanças na postura. No fundo, é procurar atingir o «perfil desejado» pelo eleitorado, pelo menos em alguns atributos considerados vitais.

É em função do perfil actual e do perfil que pretende alcançar que o líder norteia a sua acção política e o modo como se apresenta ao eleitorado.
O processo mais recorrente é começar por estabelecer um conjunto de compromissos perante o eleitorado.
É um parágrafo com uma linguagem clara e com um conteúdo adequado às expectativas do eleitorado.
Numa situação normal, «o líder apresenta-se perante o eleitor no estilo do “homem comum”, para que a massa dos eleitores se possa identificar com ele. Existe outro tipo de “imagem” mais adequada em épocas de crise. Trata-se do líder pai da nação, no qual se confia e se entrega a tutela dos demais». (1)

Numa fase posterior, esses compromissos são desenvolvidos e assumidos de uma forma frontal com o eleitorado.
Basicamente o jogo consiste na seguinte regra: o eleitorado ao votar num político delega nele determinadas responsabilidades. Para conseguir esta delegação de poderes, o político tem de ser merecedor de confiança, competente, honesto... Pode não o ser, mas tem de o parecer. Tem de dar sinais que é competente, que tem capacidades para assumir as responsabilidades do cargo, que não vai esquecer quem o elegeu e mantém a palavra dada....
Para alcançar alguns destes atributos, o político tem de saber do que fala, não cometer erros e, antes de mais, incutir entusiasmo e confiança.
Um líder tem de evidenciar ambição e confiança de que vai atingir o objectivo.
Esta característica é fundamental para poder mobilizar, logo numa primeira fase, os seus apoiantes. Fernando Lima sobre Cavaco Silva: “era importante que os portugueses compreendessem que o País tinha um rumo e que ele, à primeira dificuldade, não mudava de agulha. Procurava, com a força das suas convicções, transmitir esperança e ambição”.
Para alcançar esta projecção de confiança, um dos recursos mais frequentes é estabelecer objectivos a curto prazo que sejam realizáveis.
Alicerçada esta imagem, partem então para outro patamar, com metas estabelecidas a médio e longo prazo.

Todos estes elementos são importantes na implementação de uma política de comunicação, mas há precauções a tomar antes de se avançar com as iniciativas e sair para o terreno.
Um líder político é alguém que está a ser observado em permanência pelos eleitores e pela comunicação social. Um dirigente político está frequentemente sob a mira dos adversários e sujeito a desafios permanentes, quer dos outros partidos, quer da comunicação social, como também dos próprios apoiantes. A pressão é tão grande, que é necessário estofo e preparação adequada para ultrapassar essas dificuldades.

“Numa campanha eleitoral, os líderes estão tão expostos que a verdade vem sempre ao de cima, há um “striptease” público que mostra tudo, o melhor que se pode fazer é ajudá-los a estar bem, dar-lhes conselhos básicos que qualquer pessoa sabe dar” - Manuel Maltez, director-geral da BBDO Portugal que trabalhou para o PSD nas eleições europeias e legislativas de 1999, em declarações ao Público de 6 Julho de 1999.

É tendo em conta estes factores que, previamente, é feito um trabalho de “laboratório” para tirar melhor partido da exposição pública. Como se comportar perante as câmaras de televisão, como falar através de um microfone, que tiques devem ser evitados, o melhor aproveitamento da voz, que técnicas devem ser usadas em situações como entrevistas (2), debates, contacto com eleitorado, avaliação da situação em que se pode tirar melhor partido (pequenos grupos, comícios, contactos de rua, participação nos media …).
Os resultados de todo este trabalho é depois tido em conta no planeamento da política de comunicação.
O próprio candidato deverá ter confiança em todos os passos que está a dar. Confiança em si próprio e confiança na sua equipa. Só assim conseguirá ter um norte e resistir à má-língua, à intriga, a conselhos, dicas de leigos, por mais próximos que lhe sejam.
Em algumas circunstâncias (essencialmente quando o líder não é muito conhecido) o trabalho prévio chega ao ponto de escolher qual o nome que deve constar em toda a comunicação. (O nome não é grande, tem de ficar no ouvido e quando o apelido é banal, mais importante se torna o primeiro nome.)

Com o objectivo de acentuar a imagem de competência, honestidade, prestígio e o estatuto que já adquiriram (sinais indutores de confiança), os líderes recorrem também a iniciativas onde se tentam «colar» a figuras internacionais. Exemplos não faltam - reuniões, encontros com dirigentes políticos internacionais; participação em encontros internacionais e nacionais de grande prestígio; convites a personalidades importantes; publicação de livros… mesmo sobre matérias que nada têm a ver com a actividade política. Os livros foram o forte na campanha eleitoral das Europeias de 1999, com Pacheco Pereira a ter grande visibilidade mediática devido à biografia de Álvaro Cunhal. Quanto aos encontros internacionais dois exemplos: o empenho de António Guterres, antes das legislativas de 1995, em encontrar-se com Helmut Khol – “(…) na mente dos dirigentes socialistas, sobretudo daqueles que dirigem a campanha, estão as vantagens eleitorais que poderão tirar da audiência com o democrata cristão, Khol. Acham mesmo que, «se o PS não tivesse hipóteses de ganhar, Khol não o receberia…»” – Público 21/08/95.
O outro exemplo tem a ver com Durão Barroso que, mal foi eleito líder do PSD, teve uma audiência com o chefe do governo espanhol, José Maria Aznar.
Ainda na fase de pré-campanha um dos principais objectivos de Durão Barroso na visita ao Brasil foi a “foto” com Fernando Henrique Cardoso.

Se estas oportunidades forem devidamente aproveitadas, o candidato não dá o tempo por perdido… “ Penso que posso dizer, como uma das testemunhas directas, que o Prof. Cavaco conseguiu grande projecção internacional, expressa não só através de inúmeros artigos de órgãos de comunicação social de renome mas, também, pelas referências elogiosas de muitas personalidades conhecidas e pelos prémios de prestígio que lhe foram atribuídos” - Fernando Lima.

São muitas as oportunidades que um líder político tem ao seu dispor para projectar a sua imagem. Muitas pessoas estão convencidas que é uma actividade aliciante, para não dizer, deslumbrante. No entanto, há uma faceta que habitualmente é ofuscada. É uma actividade muito exigente, dá muito trabalho e por vezes implica muita paciência.
Não é fácil e exige uma grande preparação ter de «dar a cara» em situações difíceis e de grande tensão, até mesmo do ponto de vista pessoal. Na noite em que morreram ter soldados portugueses na Bósnia, António Vitorino teve de «cerrar os lábios» e fazer uma declaração que as televisões transmitiram em directo. Terminada a intervenção, já nos bastidores, não aguentou e surgiram as lágrimas.
António Guterres conseguiu ofuscar na sua actividade pública como Primeiro-ministro os difíceis momentos que passou com a doença da sua mulher, durante semanas.
Ferro Rodrigues andou, infundadamente, a ser envolvido no escândalo Casa Pia e, durante algumas semanas, conversas particulares que teve (por exemplo com a filha) sem qualquer significado com o caso, foram relatadas na comunicação social. E tinha de aparecer em público, nas actividades de secretário-geral do PS, contendo a sua revolta e amargura pelo que lhe estavam a fazer. Falava de temas que tinham a ver com os objectivos políticos e os jornalistas só lhe faziam perguntas sobre o caso Casa Pia. Apesar destas dificuldades, não baixou os braços mas, nos bastidores, quem ouvia os seus desabafos, percebia que levava o esforço quase ao limite para cumprir a sua tarefa.
Para se ser um bom líder é vital ser um bom comunicador. Mas não é tudo. A exposição pública é de tal forma grande que, se falhar uma das partes, falha tudo.


Ver ainda: Fale para todos como se falasse para cada um

 

(1) Mario Herreros Arconada; Teoria e técnica da Propaganda eleitoral; Coleccion Comunicación y relaciones públicas; PPU, Barcelona, 1989

(2) Só para dar um exemplo (da autoria de Roger Ailes) de uma técnica que pode revelar uma faceta pessoal: a técnica consiste em ajustar o tom de voz e as expressões gestuais à forma como foi feita a pergunta. Se o jornalista faz a pergunta num estilo agressivo, hostil, o candidato deve responder com calma, de uma forma suave. Através desta técnica consegue evidenciar que controla as emoções e não se deixa influenciar pelas dificuldades que lhe são criadas.

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