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Comunicação Política

Comunicação Política

12
Mai13

Introdução

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Política é comunicação.
Toda e qualquer acção política passa pela comunicação.

Construir um movimento doutrinário, edificar uma estrutura assente em bases ideológicas ou pragmáticas, alargar essa estrutura gerando simpatias, crenças, expectativas…governar e fazer oposição. Tudo isto passa pela comunicação. “Para chegar ao poder, assim como para o exercer ou prestar contas ao cidadão, a política é comunicação.” (1)

Seja qual for o sistema político e a organização do Estado. A própria legitimação do sistema assenta nesta capacidade de comunicação - «as acções para gerar e manter a crença social da validade das instituições são em grande medida uma tarefa que se dá à propaganda. Nela se atribui a função de difundir os princípios e os valores que fundamentam o exercício ideológico, consolidar a legitimação do sistema.» (2)


Esta é uma das características mais salientes da Democracia porque está directamente relacionada com um dos elementos essenciais do sistema: o voto. Votar é escolher. Para haver uma escolha tem de existir informação sobre as candidaturas.

A Democracia afirma-se e valoriza-se com mais informação e capacidade de análise crítica, com melhor conhecimento da governação, dos programas eleitorais e do estado do país.
Apesar de, aparentemente, provocar resultados contraditórios: em Portugal, por exemplo, o grupo de pessoas com maior nível de instrução é o mais crítico e o que mais rapidamente assume uma postura de desconfiança em relação à governação do país. Esta tendência avolumou-se nos últimos anos.
Segundo o sociólogo Pedro Magalhães, a capacidade de discernimento deste tipo de eleitor perante o não cumprimento das promessas por parte do eleito propicia este sentimento negativo.

Os assuntos relativos a uma comunidade local ou a toda a sociedade deixaram de ser exclusivo de uma elite. Passaram para a «esfera pública» onde cada cidadão pode exercer os seus direitos, individualmente ou inserido numa organização.
O próprio debate dos temas colectivos é aberto e tende a ser o mais abrangente possível. Uma multiplicidade de direitos (e novos direitos) – cidadania, organização, opinião, diferença…. – são indutores da necessidade de afirmação, de fazer valer os respectivos pontos de vista para influenciar a tomada de decisão.
Este processo passa necessariamente pela troca de informação, pela procura de se ser notícia, de fazer parte da agenda dos media. Todos os suportes são válidos - imprensa, rádio, televisão, internet, comunicação directa ou por líderes de opinião....Esta necessidade não se resume às organizações políticas. Hoje em dia a estruturação do poder passa por outras entidades, como sindicatos e grupos de pressão. É um fluxo que se estabelece em rede, onde os núcleos centrais são os eleitos, os eleitores e grupos de pressão.

Independentemente destes efeitos, há uma necessidade permanente de os regimes democráticos serem sistemas abertos, com um fluxo significativo de informação.

O trabalho desses profissionais é, em síntese, recolher e interpretar informação e comunicar da forma mais positiva possível as decisões que são tomadas.

O objectivo principal passa por dois planos:
- dar a conhecer, de forma positiva, a organização e/ou a liderança;
- influenciar o cidadão em determinado sentido.

A primeira fase, «dar a conhecer», tem em vista a notoriedade: é a difusão do nome do líder, do candidato, da plataforma política ou das acções que estão a ser desenvolvidas por entidades, como por exemplo, governos, autarquias e partidos políticos.
Trata-se essencialmente de construir uma imagem, uma mais-valia em função dos outros concorrentes ou das propostas que estão em discussão.

“Fizemos uma sondagem que revelou isso mesmo, há uma percentagem assustadora de portugueses que não sabem quem é o Dr. Durão Barroso” (…) Por isso, o primeiro “outdoor” de campanha que o PSD vai pôr na rua tem a cara do líder e a pergunta “Já tem o Portugal que quer?”, sem qualquer menção ao partido, apenas o símbolo gráfico. “o que queremos, nesta fase, é dizer que ele é o líder, apenas isto” (3)
A segunda fase visa alcançar o apoio dos cidadãos. O objectivo é convencer – o verbo diz tudo - através da persuasão, de uma mensagem fortemente apelativa e frequentemente emocional. “É um processo comunicativo cuja finalidade ou objectivo é a influência. Uma mensagem persuasiva comporta-se segundo a conduta expressa pelo emissor para que seja adoptada voluntariamente pelo receptor”(4).

Se a comunicação política não atinge a audiência desejada, a mensagem que se pretendeu transmitir não tem qualquer relevância e, por vezes, até tem um efeito negativo. O mesmo se pode afirmar quando atinge a audiência pretendida mas a mensagem não é adequada.

Um outro elemento a ter em conta é que nem sempre o aumento da notoriedade implica uma melhor popularidade. No exemplo atrás citado, do outdoor e a volta a Portugal de Durão Barroso, o resultado não foi o melhor para o então líder do PSD. Segundo sondagens divulgadas pelo DN/TSF/Marktest (30-07-99), Semanário/Eurotest (30-07-99) e Expresso/Euroexpansão (31-07-99), com o final da volta a Portugal, Durão Barroso aumentou a notoriedade mas prejudicou a popularidade, devido essencialmente ao aumento de opiniões negativas.

Quer numa, quer noutra fase - que se podem e devem integrar – são definidos os objectivos a alcançar, o eleitorado preferencial a atingir, qual o tempo necessário para concretizar as iniciativas, a estratégia a seguir e as melhores formas para desenvolver essa estratégia.

Em todas estas fases há sempre um princípio a seguir: a comunicação é lançada por antecipação, antes que seja por arrastamento. Por outras palavras, a própria organização política não perde tempo na definição e desenvolvimento da sua imagem. Se não for assim, os adversários encarregam-se de construir essa imagem e, seguramente, não será muito boa.

Também pode ser a comunicação social a estabelecer essa imagem, privando, logo de início, a organização de controlar os mecanismos de produção dessa mesma imagens.

Um exemplo de antecipação que teve um efeito positivo para o autor da iniciativa: dias antes de tomar posse como ministro, Morais Sarmento deu uma entrevista num canal de TV onde confessou ter um passado toxicodependente. O facto de ter feito esta revelação, sem estar sujeito a qualquer pressão, permitiu-lhe receber rasgados elogios e inibiu os políticos adversários de insinuar este problema.

«Nuno Morais Sarmento mostrou muita coragem e personalidade na entrevista que concedeu a Maria João Avillez na SIC Notícias, ao revelar que já foi dependente de drogas duras e ao contar o seu difícil processo de recuperação e os apoios que teve.(…) Nuno Morais Sarmento vai ter tempo para mostrar se será ou não um bom ministro. Para já, mostrou carácter. E a coragem que a muitos falta.» Duarte Moral, DN; 13 de Novembro de 2002.

Por outro lado, esta antecipação evitou a possibilidade de o caso surgir, mais tarde, na forma de manchete de um jornal, apresentado como um grande escândalo.
«Para evitar uma das principais fontes de bons boatos, os estudiosos recomendam que você não inicie a campanha sem eliminar o background noise, isto é, o “ruído de fundo” na sua vida passada. Se você tem algo na sua trajectória que pode ser utilizado como munição pelos seus adversários, a melhor maneira de desarmá-los é contar logo. Assim, a “terrível denúncia” que eles iam fazer não existe mais.» (5)

Agora, um exemplo de sentido contrário. Dos efeitos negativos devido a um processo de comunicação que falhou por ser tardio na transmissão da mensagem principal: a campanha do “SIM” à regionalização no referendo realizado em 1998. «Ninguém explicou convenientemente os benefícios que a regionalização traria. Quando se tentou esclarecer a população já era tarde e já havia muito ruído por parte de outros partidos» - Margarida Ruas dos Santos in Diário Económico de 10/11/1998.

Um outo dado relevante é que, por melhor que seja a política de comunicação, ela não resolve tudo.
Santana LopesNas legislativas de 2005, Einhart da Paz foi o responsável pela campanha de Santana Lopes que teve um resultado eleitoral negativo: “«a campanha não surtiu efeito mas não foi errada», conclui Einhart, que se recusa a atirar as culpas para Santana (…) lembrando que «o papel do ‘marketing’ não é preponderante». Subjacente parece estar a certeza de que este era, à partida, um caso perdido”. – Expresso 26/02/05.

Elihu Katz, investigador norte-americano e antigo responsável da televisão pública de Israel, vai mesmo mais longe e assegura que «a realidade tem demonstrado que os milhões de dólares gastos em campanhas políticas têm conquistado um número desproporcionadamente escasso de votos. (6)

Uma política de comunicação ajuda, contribui, é um elemento vital, mas não é o único. «Sempre manifestei alguma desconfiança em relação às técnicas de “marketing” e a determinados “estilos de comunicação” que reduzem os discursos políticos a meros “slogans” para saírem nos telejornais e serem assimilados por grandes audiências. O essencial, para um dirigente político, é ter ideias próprias, objectivos claros e convicções sólidas. (…) Cito Abraham Lincoln: “É possível enganar toda a gente durante algum tempo, e mesmo alguma gente durante todo o tempo, mas não é possível enganar toda a gente durante todo o tempo”. É por isso que uma boa estratégia de comunicação se deve adaptar ao pensamento daquele ou daqueles que serve.» - Mário Soares no Prefácio de «As Presidências Abertas de Mário Soares». (7)
Com este pensamento, Mário Soares teria ficado “estupefacto” ao ler o Público de 5 de Julho de 1999, onde Manuel Maltez, o responsável da campanha do PSD, afirmou: «Sou um profissional remunerado que tenho agora como objectivo vender um partido político e vou vendê-lo como venderia um champô ou sabonete». A frase foi citada em vários jornais e por alguns políticos como sinal de exagero. Da parte dos dirigentes do PSD houve um profundo silêncio.

No lado oposto a este tipo de campanha, há o exemplo de João Soares.
Convencido que a «obra» realizada era suficiente para convencer o eleitorado em Lisboa, João Soares não quis recorrer a uma comunicação forte, a instrumentos de marketing, nas eleições autárquicas de Lisboa em 2001. Perdeu para Santana Lopes e uma das conclusões que assumiu é que a derrota foi, em parte, «por culpa própria. Aprendi que não é suficiente o trabalho feito. É preciso comunicar e dar a conhecer o projecto que defendemos», disse a Judite de Sousa numa entrevista na RTP em Julho de 2004.

O mesmo problema se tem colocado a vários governos. É frequente a referência à necessidade de haver uma comunicação eficaz com os cidadãos. Por vezes, esta dificuldade de comunicação é colocada como um dos principais problemas da governação.

Foi o que sucedeu com o executivo liderado por Durão Barroso.
Vários comentadores chamaram a atenção para a ausência de uma política de comunicação. ‘Para Marcelo Rebelo de Sousa o «Governo prepara medidas, vai tomando iniciativas, mas não tira proveito delas’. Pelo contrário, critica, «às vezes ficam grandes equívocos no ar». –DN; 10/12/2003. Nesta mesma edição o editorial do DN foi dedicado a este tema e o título era: «Comunicar é preciso», onde se explicava que «na capacidade comunicacional de um Governo repousa muito do seu trabalho político, porque o que hoje conta, verdadeiramente, são as mensagens que se passam à opinião pública».


Ciente deste problema e alertado pelas críticas, o então primeiro-ministro assumiu a necessidade de comunicação como um dos problemas da governação e, segundo conta o DN, fez dele um dos temas de um Conselho de Ministros: ‘«Precisamos de melhorar o nosso diálogo com os portugueses», apelou o chefe do Executivo.
Nessa mesma reunião, Durão pediu aos seus ministros que enumerassem as prioridades sectoriais de cada pasta para 2004. Na sua opinião, isto permitirá simultaneamente melhorar a comunicação interna e dar visibilidade externa ao Executivo no seu todo’.

A preocupação do então primeiro-ministro foi mais longe porque, a partir daqui, o governo começou a avaliar a hipótese de criar uma estrutura que coordenasse a comunicação do executivo. Esta proposta mereceu forte contestação, embora seja um processo perfeitamente normal em alguns países, como é exemplo os EUA.

Pelo que se pode perceber nos exemplos citados, há as mais variadas opiniões sobre o papel do marketing e da comunicação na política. O que parece ser unânime é que a política não pode dispensar estas técnicas de comunicação.
Até a contra gosto: «O PCP “embora não concorde com muitas das evoluções da vida política, inevitavelmente é condicionado por elas (…) Uma dessas evoluções é a personalização da campanha em torno do líder, que se tornou um pouco inevitável, nos últimos anos, pois é atrás dele que vão as televisões»” – Vítor Dias ao Público de 5 de Julho de 1999, sobre a preparação das eleições legislativas onde a CDU apresentou pela primeira vez outdoors com o rosto do líder do PCP.

Por outro lado, a capacidade de comunicação dos dirigentes políticos começa a ser um atributo determinante para as funções para as quais são eleitos ou nomeados, designadamente a liderança de uma organização política. «Tony Blair tornou-se o primeiro político britânico a assumir a liderança de um partido, porque na visão da maioria dos militantes, tinha uma grande capacidade de comunicação na televisão (…) Um dos motivos mais evocados no apoio a Blair era a crença de que era o melhor colocado para levar o Labour ao poder, devido à sua capacidade de comunicação com o eleitorado através dos media ». (8)
O mesmo disseram muitos comentadores políticos em relação à eleição de José Sócrates para líder do PS em 2004. Aliás, um dos argumentos utilizados foi a boa prestação televisiva do dirigente do PS nos debates na RTP contra Santana Lopes.

 

(1) Michel Bongrand; O Marketing Político; Publicações Europa-América;1986
(2) Mário Herreros Arconada; Teoria e técnica da Propaganda eleitoral; Coleccion Comunicación y relaciones públicas; PPU, Barcelona, 1989
(3) Público, 5 de Julho de 1999, citando declarações de Manuel Maltez, o responsável pelo marketing da campanha do PSD nas eleições legislativas de 1999.
(4) Alejandro Quintero.
(5) Sérgio Arapuã de Andrade; Como vencer eleições usando Tv e Rádio; Livraria Nobel; São Paulo; 1996
(6) Público; 23/03/1999
(7) Estrela Serrano, As Presidências Abertas de Mário Soares;
(8) Nicholas Jones; Soundbites & spin Doctors – how politicians manipulate the media – and vice versa; Indigo edition; Londres; 1996

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3. Os temas da mensagem

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Do ponto de vista do conteúdo, uma mensagem para ser eficaz, para conseguir persuadir, tem de reunir uma série de requisitos. Os fundamentais são: clareza, credibilidade e corresponder às expectativas das pessoas a quem essa mensagem se dirige.

«Schramm, Sears e Kappler sustentam que a comunicação aumenta o seu poder persuasivo se as preposições se apoiarem ou relacionarem-se com as necessidades do receptor e com os valores do grupo a que pertence. (…) A referência na comunicação persuasiva às necessidades insatisfeitas e a relação com a sua satisfação tem efeitos positivos inegáveis, sobretudo quando se referem ao gregarismo do individuo, à sua sociabilidade e à sua projecção nos demais e à integração no seu grupo de referência». – Mário Herreos Arconada (2)

Para atingir estes objectivos, recorre-se primeiramente às sondagens - qualitativas e quantitativas. Estes estudos visam conhecer o eleitorado e a perspectiva dos inquiridos em relação às várias organizações políticas.
São essencialmente quatro os parâmetros a compreender: procura-se descobrir os desejos dos votantes, a forma como o eleitorado avalia determinadas pessoas ou organizações, a expectativa que tem em relação a essas pessoas e qual o perfil ideal para o titular de determinado cargo político.

Em quase todas as eleições, antes da pré-campanha, os maiores partidos encomendam estas sondagens para aferir as mensagens que vão transmitir e definir as estratégias de ataque e defesa.

Segundo o estudo «Comportamento Eleitoral e Atitudes Políticas dos Portugueses» (1) (sobre as eleições legislativas de 2002) é relevante entender outros elementos, como por exemplo, se é habitual a transferência de votos entre blocos e os motivos que levam a esta mudança. Se há clivagens sociais ou culturais que são determinantes na escolha, se os elementos marcantes situam-se mais no plano ideológico ou nas imagens dos líderes , a percentagem de voto feminino. E até outros aspectos interessantes como por exemplo o que foi revelado sobre a expectativa económica: «os nossos resultados revelam que as avaliações dos portugueses se baseiam bem mais na evolução da economia num passado recente do que nas expectativas para o futuro. Ou seja, os eleitores portugueses são claramente retrospectivos». Sendo que, nas legislativas de 2002, «a seguir às avaliações dos candidatos e ao auto-posicionamento dos eleitores na escala esquerda-direita, a situação económica foi a terceira principal determinante do comportamento eleitoral».

É face a esta importância que a realização de sondagens é um instrumento fundamental para o exercício do poder e da actividade política.

«‘Gabinete Big Brother’ controla Governo
Morais Sarmento (…) admite reactivar também a estrutura que, no tempo de António Guterres, fazia estudos de opinião regulares sobre preferências detalhadas do eleitorado, por áreas temáticas, faixas etárias ou avaliações globais do Governo
».
Expresso 08/11/2003

Em primeiro lugar, estes estudos permitem identificar qual o eleitorado que será objecto das acções que vão ser desenvolvidas. É importante saber se as iniciativas vão ser desenvolvidas para um eleitorado generalizado ou segmentado.
Através destes estudos é definido o perfil de cada um dos segmentos, começando pelos que estão mais próximos da organização política – os militantes e simpatizantes.
Saliente-se, no entanto, que as sondagens são uma fotografia, um levantamento feito em determinado momento. As principais preocupações do eleitorado podem mudar.
Por isso mesmo, os partidos políticos realizam sempre várias sondagens. Por um lado, tentam para avaliar a evoluir das campanhas e perceber as mudanças de opinião . Por outro lado, é uma forma de se certificarem de que os estudos realizados são fiáveis.

- «Não encomendamos sondagens. As boas são muito caras» -Jorge Alves da Silva.
- «Na generalidade são fiáveis, mas cada uma sozinha não responde. Só vendo três, quatro, cinco se começam a perceber as tendências. Adorava ter instrumentos mais exactos» - Edson Athayde
- «O problema é que têm muito pouca segurança. Se estivéssemos num país onde a experiência política mostrasse uma real aproximação das sondagens, elas passariam a ser um instrumento importante»
- Vítor Dias.

Estas opiniões espelham a desconfiança em relação às sondagens, expressas ao Público de 5 de Julho de 1999 pelos responsáveis das campanhas do PP, PS e PCP.

Em alguns casos, além das sondagens realizadas internamente, as várias organizações políticas analisam em detalhe os estudos que são publicados na comunicação social.
Todos os partidos afirmam publicamente que não dão grande importância aos estudos de opinião, mas muitos deles gastam anualmente milhares de euros em sondagens.

É a partir dos resultados destes estudos de opinião que é feito um esboço da política de comunicação que se vai desenvolver. Os resultados são analisados em detalhe e é feito um trabalho meticuloso na definição da mensagem que se vai escolher.

Se o estudo incidir sobre uma decisão que vai ser anunciada, os resultados poderão indiciar qual a melhor forma para a apresentação dessa decisão: um exemplo – quando do anúncio da Reforma Fiscal, no governo de António Guterres, os estudos de opinião revelavam que o eleitorado valorizava significativamente duas ideias: o combate à fuga fiscal e uma maior justiça fiscal. Face a estes dados, na apresentação da medida o Governo salientou que a Reforma visava, entre outros, atingir dois objectivos essenciais: o combate à evasão fiscal e uma maior justiça fiscal. Através deste processo, seguramente, o Governo conseguiu uma melhor receptividade à sua proposta.
Em outros casos, como por exemplo em campanhas eleitorais, os estudos de opinião permitem ir mais além e esclarecer quais os temas que devem estar na agenda pública e de que forma devem ser abordados.

«Nunca, mas nunca mesmo, se esqueça: quem comanda sua campanha, o que você vai dizer ou fazer é sempre o eleitor, as necessidades concretas do eleitor. É triste, eu sei, você é um génio. Mas, o que se vai fazer? Há preços a pagar pela vitória» (3)

O ponto de partida é o que deseja o eleitorado. O que deseja em relação às suas preocupações e o que deseja em relação aquele a quem vai delegar essa responsabilidade.
«A política de imagem não procura propriamente que o público deseje ou considere valorosos a posição que se sustenta e/ou o actor que se apresenta, mas busca identificar o que o público já deseja e já considera valoroso para adequar a isso posição e actor. É quase como uma versão do princípio pirandelliano: a personagem, a personalidade ideal política em busca de um actor, a posição política ideal em busca de um autor» - Wilson Gomes

É a partir do estudo de todos estes elementos que se parte para a criação de uma marca, de uma ideia forte, de uma mais valia que distinga um líder (ou uma organização) em relação aos outros.

«Isto quer dizer: deve haver o mínimo de coerência, de coincidência a priori, entre a sua personalidade, sua história pessoal e política, suas atitudes de cidadão no passado, que darão credibilidade ao programa de obras e realizações que você defende agora. Você não muda diante do que descobriu sobre o eleitor. Você apenas adapta, acomoda seus objectivos e seu “discurso” à satisfação das necessidades do eleitor» (3)

É criar uma imagem. «Essa imagem consiste em ajustar personagens reais a perfis ideais e expectativas dos públicos. Não se trata, naturalmente, de criar uma imagem para um actor político, por exemplo, mas de adaptar o actor político a uma imagem ideal ou a uma imagem esperada.» - Wilson Gomes

«O conceito de “imagem de marca”, embora tenha por referência a imagem pública, pressupõe o preenchimento de condições específicas: a) que as regras e lógica de mercado tenham se estendido ao campo da política; b) que os media tenham reestruturado a esfera pública, constituindo-se o “ambiente natural” de exposição das “imagens políticas”; c) que os produtos “imagens públicas” sejam planeados e “produzidos” em sectores empresariais especializados, as agências de publicidade.
O “empreendimento” de produção de imagens marcas como forma de garantir longevidade para personalidades políticas é no entanto sempre problemático. A pretensão de “gestão científica” no âmbito das imagens políticas depara inevitavelmente com as ciladas do imponderável que podem implicar o sucesso, ou ao contrário a destruição de uma imagem marca.
(…)Vale ressaltar que as imagens marcas aprisionam os seus portadores em suas redes: eles devem permanentemente confirmá-las em gestos e acções
.» (4)

Michel Bongrand estabeleceu uma sistematização do que chama “eixos”, os elementos centrais da comunicação que vão reforçar os traços diferenciadores da imagem dos actores políticos, por exemplo, numa campanha eleitoral. Na linguagem do marketing político corresponderá ao «posicionamento» dos candidatos ou partidos para melhor atingirem os objectivos junto de determinado eleitorado.

cartaz da cdu nas legislativas de 99

Eixo ideológico: visa realçar uma diferença que à partida já é conhecida (esquerda/direita).
Tem grande efeito nas pessoas com uma intervenção política acentuada, ao contrário do que se passa com os indecisos.


Eixo político: projecta o futuro. O ponto de partida é o ambiente que se vive no eleitorado (continuidade, mudança, renovação, união).

Em 1991, o PSD projectou a mensagem de continuidade e conseguiu a segunda maioria absoluta.

cartaz do PSDcartaz do PSDEm 2002 o PSD apostou na mudança. «As sondagens qualitativas indicaram que o eleitor ainda estava de ‘ressaca’ das autárquicas (…) e um dos objectivos do PSD foi colar Ferro Rodrigues ao governo de António Guterres. E atacar nas políticas sociais. Os cartazes com as crianças tiveram esse fim»-Público, 22/03/2002

Sá CarneiroAntónio Guterres

Eixo pessoal: personalização. A sua utilização é frequente quando não há fortes traços distintivos entre os partidos concorrentes, quando o líder tem maior projecção do que a organização a que pertence ou quando existe uma grande proximidade entre os eleitos e os eleitores, como é o caso de eleições locais.

cartaz do PSD

Eixo temático: é circunstancial. Resulta dos estudos de opinião que indicam as principais preocupações do eleitorado e avalia o desempenho de quem exerce o poder no que se refere a estes problemas (saúde, educação, segurança…).

É a partir deste eixo, do traço que define a imagem do líder ou da organização política , que escolhem os temas principais e como irão ser apresentados.

Veja-se o exemplo da governação de Cavaco Silva, nas palavras (ao Expresso) de Fernando Lima, o seu principal assessor de imagem: “Era fundamental saber falar directamente para a opinião pública de uma governação que ele queria diferente, por contraposição ao executivo que o antecedera e que marcara um período de desagregação política e económica. (…) Acima de tudo, o que interessava era que o «Governo dos engenheiros», como foi apelidado pela Imprensa, mostrasse uma forte predisposição para fazer o que antes fora adiado.
A defesa da estabilidade política foi, praticamente, a palavra de ordem das legislativas de 1987, por considerar ser condição necessária para concretizar as grandes reformas estruturais e executar as obras públicas de que o País precisava para a sua modernização. Na campanha eleitoral de 1991, focou o seu discurso na exigência da consolidação da posição de Portugal na Europa Comunitária. A frase mais repetida foi: «Depois do avanço conseguido, não podemos resvalar pela montanha abaixo
».”

cavaco SilvaPara as eleições legislativas de 1987, a campanha do PSD centrava-se no líder e na “obra” feita no governo anterior. O panfleto que foi distribuído apontava quatro temas – crescimento económico, poder de compra, segurança social e juventude – e nas acções que foram desencadeadas, para concluir: “Portugal não pode parar”.

Para o conseguir, o partido que estava no poder tinha de reforçar o seu peso eleitoral, de modo a poder governar com estabilidade

Para se conseguir essa marca, esse sinal distintivo, quando da análise das sondagens é também avaliada de uma forma muito precisa o modo como o eleitorado caracteriza as organizações políticas concorrentes e os seus líderes.
Os elementos negativos dos adversários, revelados pelos estudos de opinião, são depois acentuados através de uma postura critica ou desencadeando iniciativas que possam fazer sobressair essa diferença.

cartazUma outra forma de sublinhar a ideia forte é transformá-la no slogan.
“A reacção não passará” – um dos slogans mais fortes depois da revolução dos cravos. Era utilizado essencialmente pelo PCP.

O slogan não ultrapassa uma frase, é conciso, simples, claro, de fácil memorização (tem poucas palavras e ideias), facilmente perceptível por qualquer pessoa e reflecte o desejo do eleitorado. Procura-se impacte e provocar de imediato uma reacção na audiência: de aprovação ou reprovação. A origem do slogan vem do grito de guerra dos clãs escoceses o «sluagh-ghairm».

Exemplos de slogans usados pelo PSOE em eleições gerais:
1977: Socialismo es Libertad
1979: Tu voto es nuestra fuerza
1982: Por el Cambio
1986: Por Buen Camino
1989: España en Progreso
1993: El Progresso de La Mayoria
1996: España en Positivo

«A Propaganda - Governo lança “Portugal em acção”
O Governo lançou um novo “slogan” numa altura em que está prestes a comemorar um ano: “Portugal em acção”. Todos os documentos divulgados pelos diferentes ministérios devem levar esta chancela para passar a mensagem de um governo dinâmico. A orientação vem do ministro da Presidência, Nuno Morais Sarmento
».
Público, 2003

Tendo em conta a importância destas escolhas, antes da decisão final é efectuado um teste, mais uma vez, através de estudos de opinião. É que nem sempre a escolha que parece mais evidente é a preferida do eleitorado. Em 1995 o PS teve várias opções e a que foi escolhida, depois do estudo de opinião (“Guterres – um homem que sabe o que quer para o país”) não era a favorita dos dirigentes do partido e não foi bem aceite pela comunicação social. Só que, reunia o agrado do elemento fundamental, o eleitorado

Santna LopesEm 2005, o PSD escolheu para a primeira fase da campanha o slogan «Contra ventos e marés». A frase foi criticada por alguma imprensa e por especialistas de marketing: «o slogan do PSD - “Contra ventos e marés” - apesar de enfatizar a capacidade de luta do líder, pode levar a segundas interpretações. “Não se sabe contra quem é; contra o Presidente, contra Marques Mendes ou contra Sócrates?”, explica João Quelhas», dirigente da Associação Portuguesa de Comunicação e Marketing Político (APCMP). DN, 3/2/2005. No entanto, segundo o secretário-geral do PSD, Miguel Relvas, a escolha da frase foi submetida a um estudo qualitativo e a maioria das opiniões preferiu este slogan. O próprio responsável pela campanha, Eihnhart Jácome da Paz, numa entrevista, salienta o mesmo factor. A mensagem não é para agradar aos especialistas. O relevante é que seja eficaz junto do eleitorado: «Não faço cartazes para ganhar prémios. Faço cartazes para os objectivos que o meu cliente necessite. No caso do nosso último cartaz, ‘Contra ventos e marés’, acho um cartaz graficamente muito bonito e muito superior a todos os outros.» Meios & Publicidade; edição nº 332 de 04/02/2005.

Como as principais organizações políticas recorrem a sondagens para fazer esta avaliação, por vezes, é fácil antecipar a política de comunicação da estrutura adversária - cada uma avançará com ataques aos pontos fracos da outra e salienta os aspectos positivos da sua candidatura, essencialmente nas matérias de maior interesse para o eleitorado.

Face a esta previsão, os partidos não perdem tempo no lançamento da ideia forte. Por vezes, quando pretendem ocupar um espaço político comum, alguns partidos apresentam uma mensagem muito semelhante. Em Portugal, nas legislativas de 1995, este tipo de situação provocou fortes críticas de plágio entre o PP e o PSD e levou mesmo os Populares a registarem previamente os slogans.

Um outro dado importante para não se perder tempo é que, se não for o próprio a criar uma mais valia, uma marca pela positiva, a oposição encarrega-se de lhe criar uma imagem associada a um ponto negativo. É o que sucede com frequência a quem se preocupa apenas com uma estratégia de comunicação quando está prestes a começar uma campanha eleitoral ou já se encontra numa situação de grande dificuldade.
«Na verdade, em Portugal, não há comunicação política. “Há, sim, comunicação eleitoral”, em termos de campanha. A excepção actual é Pedro Santana Lopes que, passada a vitória das eleições, manteve a mesma equipa de brasileiros a trabalhar-lhe a imagem». Visão; 13/11/2003

 

(1) Portugal a Votos; As eleições legislativas de 2002; Organização André Freire, Marina Costa Lobo e Pedro Magalhães; Imprensa de Ciências Sociais; Lisboa; 2004
(2) Mario Herreros Arconada; Teoria e técnica da Propaganda eleitoral; Coleccion Comunicación y relaciones públicas; PPU, Barcelona, 1989
(3) Como vencer eleições usando Tv e Rádio; Sérgio Arapuã de Andrade; Livraria Nobel; São Paulo; 1996
(4) Imagem Marca e Reeleição: A campanha presidencial de FHC em 1998; Rejane V. Accioly Carvalho

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5. Uma mensagem credível

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Um outro elemento fundamental em qualquer processo de comunicação é a credibilidade.
Se ninguém acredita no que está a ser dito, a mensagem não tem qualquer efeito.
A falta de credibilidade pode radicar no emissor, na argumentação que está a ser utilizada, no próprio tema que serve de base à intervenção política ou, na falta de coerência de todos estes factores.
Algumas das decisões políticas que parecem «forçadas» ou «artificiais» têm a ver com este problema de falta de credibilidade. A tentativa de aliança PSD/PP em 1998 é um desses exemplos. Depois das sucessivas acusações mútuas entre o PP e o PSD e entre Marcelo e Portas, poucos acreditavam num fácil entendimento entre os dois partidos. Com a agravante de que um dos atributos críticos do líder do PSD era a falta de credibilidade. Numa sondagem da Metris, efectuada em Julho de 1997, eram tantas as pessoas que atribuíam a Marcelo Rebelo de Sousa a característica de honestidade como a de não honestidade. Cerca de um ano depois, em 9 de Abril de 1998, uma outra sondagem da Metris publicada no Independente voltava a colocar a credibilidade como um dos pontos mais fracos da prestação de Marcelo Rebelo de Sousa. Em honestidade, Marcelo tinha 8,4% e Guterres 42,1%.

Foi devido a esta «falta de credibilidade» que no dia em que Marcelo Rebelo de Sousa apresentou as bases programáticas da AD (22 de Janeiro de 1999), Carlos Magno fez o seguinte comentário na TSF: “as propostas podem ser interessantes. Resta é saber se as pessoas acreditam no que Marcelo prometeu”. Este indicador de falta de credibilidade de Marcelo Rebelo de Sousa foi também utilizado pelo PS como um dos instrumentos de combate ao PSD: “O que Marcelo diz hoje, amanhã não é verdade; não se pode confiar no que ele diz; sobre a mesma matéria, em menos de um mês o líder do PSD já disse três coisas diferentes…”

O mesmo problema se colocou quando da formação da AD em 2002. A questão da credibilidade não estava propriamente nos protagonistas – Durão Barroso e Paulo Portas – mas na solução encontrada. No dia em que a coligação foi dada como certa, quase todos os órgãos de comunicação social publicaram desavenças antigas entre os dois partidos. Até alguns dirigentes do PSD, como Pacheco Pereira, salientaram as dificuldades porque «nesta coligação há uma profunda desconfiança, em grande parte devido a Paulo Portas».

O mesmo Pacheco Pereira, posteriormente, foi uma das vozes que se juntou ao coro que chamava a atenção para o comportamento «errático» de Santana Lopes, quando Jorge Sampaio fazia auscultações sobre a decisão de avançar ou não para eleições antecipadas. Nesta fase, em Julho de 2004, várias pessoas (como por exemplo Marcelo Rebelo de Sousa) apontavam a Santana Lopes um perfil inadequado para chefiar o Governo porque é ‘«hiperdecisório» e «pouco coordenado» e, como tal, tende a ter «decisões múltiplas ao longo do tempo. Não é um perfil que (…) seja porventura o mais indicado para primeiro-ministro» É desta forma que Marcelo Rebelo de Sousa define o novo líder do PSD.’ (TSFOnline, http://www.tsf.pt/online/portugal/interior.asp?id_artigo=TSF151938)

Quando a falta de credibilidade é um dos atributos dominantes, é muito difícil ultrapassar este problema.

Em alguns casos, a credibilidade só lentamente é adquirida.
Os responsáveis políticos fazem um rigoroso controlo da exposição pública e procuram evitar qualquer sinal de desconfiança.
Recorrem a personalidades com grande credibilidade e reputação para “mostrar” como estão a ganhar o estatuto de “figuras respeitadas”. Em outros casos, repetem até à exaustão os argumentos indutores de confiança: “«O espírito de solidariedade já existe hoje entre os dois partidos, os dois líderes, as duas direcções e estou convencido que entre os dois partidos na sua generalidade. Acredito plenamente que isto vai funcionar», disse Durão”. – Público de 29/03/02 sobre a assinatura do acordo entre PSD e PP.

Em outras situações a credibilidade só pode ser conquistada assumindo-se os erros. Próprios ou cometidos por pessoas da mesma organização politica.
Foi o que fez Ferro Rodrigues quando se candidatou pelo PS em 2002. Perante a ideia generalizada de que o governo e o PS tinham cometido vários erros, Ferro Rodrigues assumiu o que foi feito de negativo e prometeu que com ele seria diferente: «Também cometemos erros. É nossa responsabilidade percebê-los e tirar as necessárias consequências, para corrigir caminhos e enfrentar as dificuldades com seriedade, com sentido de responsabilidade e sem indulgências connosco próprios» “RENOVAR A MAIORIA - O nosso compromisso com os portugueses” - Moção de Estratégia de Ferro Rodrigues para secretário geral do PS em 2002.

A credibilidade não é uma característica intrínseca a um indivíduo. É antes um processo contínuo, que se pode solidificar (mas nunca pode ser dado como irreversível) e, muitas vezes, é resultado de técnicas que criam essa aparência.

A mais recorrente é mostrar convicção no que se diz e ser consequente nas ilações: «Penso que, com inteira lucidez, devo reconhecer que, se nada fizesse e se olhasse para estas eleições e passasse por elas como porventura seria integralmente meu direito constitucional, continuando a exercer as funções de primeiro-ministro, o país cairia inevitavelmente num pântano político que minaria as relações de confiança entre governantes e governados, que são indispensáveis para que Portugal possa vencer os desafios que tem pela frente» (António Guterres em 16/12/01 ao anunciar a sua demissão de primeiro-ministro depois da derrota do PS nas eleições autárquicas).

Uma outra regra muito relevante para a afirmação da credibilidade é nunca violar os compromissos assumidos. Muito menos os que serviram de bandeira – “leia nos meus lábios” (George W. Bush sobre o aumento de impostos); “no jobs for the boys” (Guterres sobre a colocação de apoiantes em cargos públicos), “eu não fujo” (Durão Barroso nas eleições seguintes à demissão de António Guterres).

Quando um destes compromissos é desrespeitado, torna-se um poderoso instrumento de combate político a favor dos adversários.

É igualmente importante que se seja respeitado pelos que o rodeiam. Uma das imagens fortes de Cavaco Silva era o respeito que merecia de outros membros do governo e do PSD, o que contribuiu para solidificar a imagem de um líder forte.

O ritual desenvolvido por Cavaco Silva nas remodelações era um exemplo da afirmação dessa autoridade. Não remodelava sobre pressão da comunicação social e, quando o fazia, os visados eram demitidos sem «cerimónia».
José Sócrates foi elogiado por seguir a mesma postura. Remodelações de governo, negociações com parceiros e medidas impopulares foram sempre assumidas sem hesitação e sem receio da conflitualidade de interesses.
Ao contrário, na fase final da sua governação, a partir de 2000, a imagem de António Guterres foi afectada pelas divisões internas e pela afronta de alguns colegas de partido. A juntar a estas divisões, Guterres reforçou a sua imagem de hesitação e de falta de autoridade quando o Governo alterou as medidas sobre a interdição dos touros de morte Barrancos e o limite de álcool no sangue para os condutores de veículos.

Outro atributo a que se recorre com frequência para reforçar a credibilidade é o recurso a especialistas e a citações de estudos. Foi de certa forma o que se passou no dossier da co-incineração no governo de António Guterres. Como havia um problema de credibilidade – as pessoas não acreditavam nos argumentos do governo – recorreu-se a uma comissão de especialistas que serviu de juiz na selecção das cimenteiras onde se iria realizar a co-incineração. Através deste instrumento pretendia-se restabelecer a confiança das populações.

Um outro exemplo teve lugar nas legislativas de 2002. Muitas das medidas apresentadas pelo PSD tiveram o apoio de várias personalidades ligadas aos respectivos sectores: “Numa sala cheia de autoridades do PSD, o líder Durão Barroso apresentou ontem no Porto o programa económico reafirmando a intenção de fazer o choque fiscal que permitirá incrementar a produtividade e a competitividade da economia portuguesa.” Público 15/02/02. A presença destas personalidades era um sinal de credibilidade.

Para fortalecer a imagem de credibilidade um outro elemento importante é ter resposta fácil e directa para as questões que vão ser colocadas e evitar cair em contradição. Em momentos políticos importantes os dirigentes políticos são treinados para estas situações e os assessores preparam respostas que permitam atingir esse objectivo. O mesmo se passa em relação à comunicação não verbal.
Como a classe política vive permanentemente com o problema da falta de credibilidade, recorre quase diariamente a frases e situações que pretendem anular a desconfiança dos eleitores: a actividade que se desempenha não tem outro fim que não seja o bem comum (”Mais importante do que qualquer partido é Portugal. (…) Portugal pode contar comigo” - Durão Barroso em 15/03/02); uma visão fria e a realista (”O caminho que vos proponho não é um caminho fácil. Mas há um caminho” - Durão Barroso em 13/03/02); não se quer influenciar as ideias e os comportamentos dos outros (”Quando convidei o dr. Fernando Negrão, não lhe perguntei se era de esquerda ou de direita” - Durão Barroso em 01/03/02) .
Mais, em algumas situações, até se pode estar a ser prejudicado pessoalmente – a actividade profissional que desempenhava dava mais rendimentos e menos chatices; tem provas dadas na actividade profissional e não precisa da política para conseguir seja o que for; o estatuto de figura pública só provoca constrangimentos, já teve convites aliciantes mas continua empenhado no cargo – foi o caso de António Guterres quando foi «sondado» para Presidente da Comissão Europeia: os dirigentes do PS não se cansaram de repetir que o primeiro-ministro preferiu permanecer no cargo.

No que se refere à argumentação, os problemas mais frequentes que podem por em causa a credibilidade têm a ver com contradições. Contradições relativamente a posições assumidas no passado; contradições entre o prometido e o que está a ser feito; e contradições com os valores dominantes.
A citação de posições assumidas pelo adversário no passado e que não correspondem às actuais é um dos recursos mais frequentes em política e é sempre de esperar na prática jornalística.
Em todos os partidos há gabinetes de imprensa que recolhem e arquivam informação para que, a qualquer momento, esse material possa ser usado no combate político.

No que se refere a posições que colidem com os valores dominantes de uma determinada audiência, há quem utilize a seguinte estratégia: não iniciar a intervenção com argumentos radicais, mas antes criticar com moderação esses axiomas e, lentamente ir chamando a atenção para as diferenças de pontos de vista.
Por exemplo, no referendo sobre o aborto era frequente os vários intervenientes (contra e a favor da despenalização) iniciarem as intervenções com as palavras «este é um problema complexo»; «a decisão é muito íntima»; «do ponto de vista ético não é fácil…». Tentavam começar de uma forma abrangente, com um argumento consensual, o que permitia uma melhor receptividade por parte da audiência.

«Quando a comunicação se faz num pequeno círculo, dados pessoais tornam-se mais relevantes para acentuar ou reduzir a credibilidade do emissor da mensagem. Torna-se importante, então, a naturalidade, a identificação do líder com o meio. (…) Porque são pessoas reunidas em um pequeno círculo, têm alguma coisa em comum. Então, antes de falar, o comunicador deve ouvir. Ouvir e descobrir este traço comum. Quais as aspirações, os problemas. Ambientado, conhecendo o seu palco, o comunicador será mais eficiente. (…) Terá naturalidade e saberá transmitir a sua mensagem no código adequado» - Eduardo Portella Netto

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Mai13

6.Uma mensagem simples

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Como a comunicação política se dirige a uma audiência muito vasta, a mensagem é simples, concisa e perceptível por todos.
Este não é o tipo de comunicação onde são feitas análises profundas.

Uma preocupação constante do prof. Cavaco Silva era que o seu discurso fosse facilmente assimilado pelos portugueses. Para ele era fundamental que as pessoas identificassem os objectivos da sua governação. Por isso, era o mais simples e directo possível. Procurava sempre converter em palavras correntes o jargão habitual das questões complexas.” - Fernando Lima (1)

Há excepções mas a grande maioria dos dirigentes políticos aprenderam que é essencial saber qual o público que vão atingir. É um dos trabalhos das assessorias. Fazer um levantamento de qual a audiência de um programa de televisão ou rádio. Qual a audiência de uma publicação. É tendo em conta esta aprendizagem que os principais responsáveis políticos sabem que uma mensagem para o “grande público” não é a mesma coisa que para um público especializado. Se uma medida for revelada no noticiário das 20h de uma das televisões, o discurso é o mais simples possível, mesmo correndo o risco de ser simplista. Se, por outro lado, a medida é divulgada numa revista da especialidade, já produzem um discurso mais técnico, mais elaborado e com pormenores.

Há também várias figuras de estilo a que os políticos recorrem com frequência para conseguirem uma mensagem simples e directa. Uma das figuras mais utilizadas é a metáfora.

cartaz de apoio a candidatura de Ramalho Eanes Se for bem utilizada, a metáfora ganha um sentido que vai muito para além das palavras. Foi o caso do apoio do PPD à candidatura de Ramalho Eanes à Presidência da República em 1976.

A audiência percepciona de uma forma mais precisa a mensagem que se transmite. Se for eficiente, não é preciso dizer mais nada. Está lá todo o sentido que se pretende dar.
Tem ainda uma outra vantagem: é facilmente mediatizada porque a metáfora é do agrado do discurso dos media. Um exemplo: a cobertura noticiosa da campanha do PSD no referendo da regionalização. No Domingo, 1 de Novembro de 1998, o DN dava o seguinte título à reportagem sobre as iniciativas de Marcelo Rebelo de Sousa: “Piquenicão «laranja» na Beira de Guterres”. No dia seguinte “Portugueses não são cobaias”. Na terça-feira, o lead da reportagem era: “Na cartilha do PSD, a regionalização - «um tiro no escuro, um cheque em branco» - tem muitos males”. Na quarta-feira o título era: “Uma bomba atómica no sistema partidário”.

Muitas vezes estas frases são fruto da imaginação do emissor. Mas nem sempre. Por vezes são resultado do trabalho de assessorias. Procuram uma expressão que tenha força, imaginação, simples e curta. Ou seja, funciona como um sound bite. Este é o «ponto forte de Paulo Portas, a capacidade de sintetizar rapidamente frases mediáticas para determinadas coisas e parecer sério», nas palavras de Einhart da Paz, que assessorou Durão Barroso e Santana Lopes. (2)

Os jornalistas gostam deste efeito porque têm o trabalho facilitado: é só pegar no que é emitido pela boca do político e colocá-lo no precioso segundo televisivo, ou no imaginativo jogo de palavras do título de jornal. É um estilo que se presta à frase assassina, à boutade, ao jogo de palavras” – Pacheco Pereira. (3)

Em alguns casos são os próprios jornalistas que alteram o sentido da expressão e transformam-na num sound bite.

Há outros processos simples e eficazes e do gosto dos jornalistas. Se a medida que vai ser anunciada implica um investimento significativo, este é um dado que os políticos dão grande relevo nos discursos e na pasta de imprensa que é entregue aos jornalistas.
O mesmo se passa com o número de pessoas abrangidas, que estão envolvidas na operação, a contabilização do sucesso alcançado….
Os jornalistas gostam muito deste género de números e com muita frequência dão-lhes largo destaque. Por vezes até anulam o efeito pretendido pelo emissor.

Quando do primeiro governo de António Guterres uma das medidas foi construir 12 novos centros de atendimento a toxicodependentes. Foi este o título da notícia na quase totalidade dos jornais, rádios e televisões quando do anúncio da medida. Mas, nas iniciativas seguintes, porque este dado constava no dossier de imprensa, era quase sempre o elemento relevante das notícias mesmo quando o acontecimento incidia numa outra questão. A partir daqui, em iniciativas sem grande impacte, referia-se este número e, em muitos casos, o elemento central das notícias era, mais uma vez, os 12 centros de atendimento.
Outro exemplo, mas prejudicial para a política de comunicação do governo de Guterres: quando a oposição (essencialmente o PCP) queria destacar a violação da promessa do «no job for the boys», referia o número total de nomeações realizadas. Por mais que o governo tentasse justificar e negar a acusação, raramente conseguia esse objectivo. O número era «fatal».

 

(1) No mesmo texto é referido um outro exemplo pelo jornalista Carlos Magno: “Interessa menos saber quem escrevia os discursos de Cavaco do que perceber porque é que ele fazia discursos assim. Simples e directos. Muitas vezes irritantes para as elites, mas eficazes no eleitorado que ele pretendia atingir. E com quem estabelecia cumplicidades. Ao discursar em Vila Real, depois de o seu governo minoritário ter caído na AR, Cavaco perguntou: «Se estávamos a governar bem, porque é que nos derrubaram?» Uma senhora da primeira fila do comício sugeriu: «Foi por inveja, senhor Professor». Cavaco, que até então tinha repetido a mesma pergunta em todo o lado, chegou ao comício da Régua e incorporou a resposta da militante anónima no seu discurso dizendo: «Só por inveja nos podem ter derrubado…»”.
(2) Independente; 22/03/2002
(3) Pacheco Pereira em Diário de Notícias, 1 Abril de 1999.

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Mai13

7. Uma mensagem fixa e repetida

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Para se conseguir uma mensagem com identidade, simples e eficaz, um outro factor essencial é concentrar o “discurso” nos temas chave e não sair daqui. De nada vale a abordagem de outros temas que não encontram correspondência no eleitorado.

A dispersão tem como consequência andar ao sabor da corrente. É um sinal de falta de convicção e corre-se o risco de cair nos temas que a força política adversária mais deseja. Só se perde tempo, dinheiro e credibilidade - três factores fundamentais em qualquer processo de comunicação política.

A falta de um rumo foi uma das críticas feitas ao governo de António Guterres. Nas palavras de Manuel Maria Carrilho, «umas vezes a prioridade era a educação, outras vezes era a saúde e até foi o Euro 2004».

Um outro exemplo teve lugar na campanha eleitoral das legislativas de 2002. O presidente da Câmara do Porto entrou em conflito com o FC Porto e causou um sério embaraço ao PSD. Segundo o responsável pelo marketing dos sociais-democratas, foi o que correu pior na campanha. «Não porque Rui Rio estivesse certo ou errado. Mas o momento não era o adequado. Durante uma semana, em vez de se discutirem propostas de governo ou criticar o governo PS, só se falou de um assunto que não tinha o mínimo interesse para o eleitor decidir o voto». Esta declaração foi feita numa entrevista ao Independente. Noutra entrevista, ao Público, Einhart da Paz revelou que este caso fez o PSD perder votos.


Mais recentemente e para evitar este efeito de dispersão, as “máquinas partidárias” distribuem diariamente aos principais dirigentes qual o tema que vai ser abordado e quais são os argumentos.


Para se optimizar os efeitos pretendidos e para se marcar a agenda dos media e a agenda pública - o que as pessoas falam no seu quotidiano - é insuficiente expor a mensagem apenas uma vez. Através de uma única iniciativa, nem sempre se consegue o contacto com o eleitorado.


A repetição da mensagem aumenta a probabilidade de se atingir o eleitorado pretendido. Os receptores entendem melhor a mensagem que se pretende transmitir e favorece a memorização.

Vários estudos confirmam esta tese. Uma mensagem transmitida apenas uma vez num órgão de comunicação social tem um efeito praticamente nulo. Segundo esses estudos, num período curto, a mensagem para ter algum efeito, terá de ser repetida pelo menos três ou quatro vezes.

Quanto maior é a exposição, mais fácil é a receptividade da audiência; e em muitos casos os valores, as ideias associadas a essas mensagens, acabam por nortear o nosso comportamento e a avaliação que fazemos do mundo que nos rodeia.

Repetir não significa que seja sempre com o mesmo formato.

«Os anunciantes tentam eliminar o desgaste utilizando uma técnica conhecida como “repetição com variações”. Mediante esta técnica, repete-se muitas vezes a mesma informação ou tema, mas variando o formato da apresentação» - Anthony Pratkanis e Elliot Aronson.


Um exemplo de como se pode provocar o efeito repetitivo utilizando instrumentos diferentes teve lugar na campanha para as eleições legislativas de 2002. Em várias situações Durão Barroso deu a entender que pretendia uma maioria absoluta para o PSD, mas nunca o disse abertamente. A primeira referência foi feita no dia 07/03/02 num comício em Vila Real: “Portugal precisa absolutamente de uma maioria, Portugal precisa de uma maioria absoluta do PSD (…)Aquilo que está em causa em 17 de Março é saber se o governo deve ser de quatro meses ou de quatro anos”.

Durão BarrosoNa mesma altura em que Durão Barroso iniciou o apelo à maioria absoluta para assegurar a estabilidade, chegava à caixa do correio dos eleitores um e-mail a reforçar a mesma mensagem e até com a mesma palavra, «estabilidade».

Durão Barroso não parou no apelo à maioria absoluta. Se no dia 7 fez a primeira referência, no dia seguinte, em Barcelos, defendeu «um governo estável para restituir a esperança». No dia 9, no Porto, falou da «caminhada para a maioria». No comício do dia 10 em Aveiro voltou à expressão «só um Governo estável e forte…».

Sublinhe-se, no entanto, que há uma alteração na linguagem. Enquanto no dia 7, em Vila Real, Durão Barroso utiliza a expressão «uma maioria absoluta do PSD», nos dias seguintes o apelo vai no mesmo sentido mas não utiliza a expressão «maioria absoluta». A razão pode ser encontrada numa entrevista ao Público de 22/03/2002 de Einhart Jácome da Paz. O responsável pelo marketing político do PSD refere que este foi um dos momentos em que «os sociais-democratas perderam votos porque, na altura em que Durão pede a maioria absoluta assustou muitos eleitores». Numa outra entrevista, publicada no mesmo dia, no Independente, Einhart, interrogado «se foi um erro o PSD pedir maioria absoluta muito cedo?», respondeu: «Isso não foi uma questão estratégica de marketing, foi uma estratégia política».


Já no cargo de primeiro-ministro, há um outro exemplo de como Durão Barroso, através da repetição da mensagem, tentou generalizar uma ideia: a da retoma económica que estava a chegar.

O ponto de partida foi a passagem do ano, de 2003 para 2004. Este período, para muitos, constitui uma época de viragem: «ano novo, vida nova». Os rituais da passagem do ano, com os votos de «feliz e próspero ano novo» são outros sinais de alguma receptividade das pessoas para a mudança. Assim, em 25 de Dezembro, na mensagem de Natal, Durão Barroso centrou a sua intervenção na ideia «o pior já passou, pelo que o novo ano já será melhor». No dia 30 foi visitar a AutoEuropa e repetiu a mensagem: «o pior já passou» e «2004 será o ano da retoma económica». No dia 5 de Janeiro, o PSD fez um tempo de antena onde o tema e a expressão utilizada foram idênticos: «2004 será um ano de recuperação». No dia seguinte, Durão Barroso comentou o relatório do Banco de Portugal e afirmou que o documento confirma que «o ponto mais baixo do ciclo económico já terá passado e os primeiros sinais de retoma estão à vista». Este comentário foi feito quando recebeu em S. Bento dois grupos que foram cantar as Janeiras ao primeiro-ministro. No dia seguinte, em 7 de Janeiro, Durão Barroso recebeu o Governador do Banco de Portugal para analisar a perspectiva da economia portuguesa. No dia 8, o ministro Marques Mendes foi ao Parlamento fazer um discurso onde, segundo a agência Lusa, «elegeu a recuperação económica como a grande meta para 2004. Acabou a recessão. Iniciou-se a retoma e a recuperação’». Saliente-se que nestes dias, de 25 de Dezembro a 8 de Janeiro, o Governo optou por não insistir em veicular qualquer outra mensagem.


Apesar do esforço, a repetição desta mensagem acabou por, nesta altura, ser um fracasso. É que foi seguida de algumas medidas em sentido contrário. No início de 2004 foram anunciados aumentos acima da inflação de alguns produtos e serviços básicos, o preço dos combustíveis teve uma subida assinalável e, pelo segundo ano consecutivo, foram congelados os aumentos salariais da Administração Pública. Para o cidadão comum (e para os sindicatos e algumas organizações políticas) estas medidas eram contraditórias com a mensagem que o governo insistia em transmitir.


O efeito repetitivo nem sempre é do agrado da comunicação social. Nas Legislativas de 2005 foram vários os jornalistas que fizeram uma abordagem negativa da campanha do PS pelo facto de José Sócrates não alterar os elementos centrais do seu discurso. Em termos de ‘graça’ chegavam a compará-lo a um robot.

«Sobe:
Tudo sobre rodas. A campanha do PS funciona - passe a banalidade - como um relógio suíço. Recintos cheios, nenhum discurso fora dos eixos, tudo rigorosamente controlado. A “máquina” guterrista - com Jorge Coelho ao leme - ainda é o que era. Pelo menos por enquanto.
Desce:
A “perfeição” da campanha do PS tem um reverso: o tédio. OS estrategos parecem apostados numa campanha de risco absolutamente mínimo, ou seja, desprovida, em absoluto, de factos noticiosos. Não se passa nada porque a estratégia é precisamente essa. Torna-se difícil citar José Sócrates porque o líder resiste fortemente ao apelo de dizer o que quer que seja de novo
». João Pedro Henriques; Público; 07/02/05

Nos últimos dias, num encontro informal, Sócrates explicou aos jornalistas que tinha um manual de Blair onde um dos conselhos era não alterar o discurso: «repeat and remind».


Ver ainda: Pequenos/grandes erros

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Como Difundir a Mensagem

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B. COMO DIFUNDIR A MENSAGEM

Para se conseguir uma política de comunicação eficaz, depois de avaliado o conteúdo e a forma da mensagem, o passo seguinte é gerir o processo de divulgação dessa mensagem.


A difusão é feita através de suportes pagos e “não pagos”.
Em traços gerais, a opção é entre comunicar directamente com as pessoas ou falar para os jornalistas e, através deles, atingir o eleitorado.

Os suportes pagos são materiais produzidos e divulgados sob orientação da estrutura política ou da empresa contratada para esse fim.
Tradicionalmente este tipo de difusão recorre a técnicas ligadas à publicidade.
A principal vantagem da “publicidade paga” é ser inteiramente controlada. A organização política faz a edição e difusão de todos os elementos que pretende difundir. A principal desvantagem é que os custos são elevados.


A comunicação “não paga” são as referências difundidas através da comunicação social, englobando noticiários ou programas de outra natureza cuja edição é da responsabilidade do órgão de comunicação social.
O principal problema deste processo é que foge do controlo do emissor. Estes são simples interlocutores que, recorrendo a determinadas técnicas, tentam valorizar as suas prestações. Não está nas mãos dos agentes políticos a palavra final no processo de produção. Bem pelo contrário. Nos regimes democráticos onde existe liberdade de imprensa, quem faz os convites, quem define os temas, quem decide o tempo que é atribuído, quem escolhe as palavras e as imagens que serão transmitidas são os produtores/jornalistas.


Nas últimas décadas a comunicação “não paga” tem sido o principal instrumento de difusão da mensagem política e a tendência é para ter um peso ainda maior.
Por um lado, existe um maior interesse das estruturas políticas em organizar as suas actividades em função da comunicação social. Por outro lado, os próprios media, pelo menos em períodos eleitorais, mostram maior receptividade para o tratamento de temas ligados à actividade política.
Segundo o Media Monitor, em 2002, a política foi a editoria com mais notícias nas televisões portuguesas.
Na imprensa, em 1979, no decorrer de uma semana, o DN deu em média 3 páginas por edição à cobertura da campanha eleitoral (note-se que nessa altura, o formato do DN era maior, mas nem todo o espaço era dedicado à campanha). Em 1985 a grelha para a campanha eleitoral aumentou para 5 páginas por edição (já em formato tablóide). Em 1995, o número de páginas dedicadas, exclusivamente, à campanha eleitoral, variou entre 10 e 14 páginas. Em 2002 o DN publicou diariamente um dossier com uma média de 8 páginas e fez quatro manchetes com a campanha eleitoral. Em 2005 criou também um dossier que teve em média 6 páginas. Os espaços de opinião que, com grande frequência, se debruçavam sobre o tema das eleições encontravam-se noutras páginas. Em 2009 o DN também criou uma secção, Especial Eleições Legislativas 2009, e em várias edições chegou a dedeicar 10 páginas às eleições Legislativas.

O Correio da Manhã também aumentou o espaço dedicado às eleições. Em 1979 e em 1985 dedicou 2 a 3 páginas à campanha eleitoral para as Legislativas. Em 1995, o destaque foi ligeiramente maior. O espaço reservado à campanha andou pelas 3 a 4 páginas inseridas num dossier denominado “Campanha na Estrada”. Em 2002 fez também um dossier dedicado às eleições legislativas que, em média, tinha cinco páginas. No decorrer desta campanha eleitoral o Correio da Manhã fez duas manchetes sobre a actividade partidária. Nas legislativas de 2005 o Correio da Manhã seguiu o modelo das eleições anteriores. Nas eeições seguintes também criou uma secção, designada Especial Legislativas 2009, e dedicava em média 5 páginas à campanha eleitoral, além de vários artigos de opinião.

Nas eleições de 2002, o Público foi o diário que deu mais destaque à campanha eleitoral. Em média tinha dez páginas dedicadas às eleições e em três dias chegou às 11 páginas. Em doze dias, o Público fez seis manchetes sobre a campanha eleitoral. Nas legislativas de 2005 foi também criado um dossier sobre a campanha que variava entre as 8 e 10 páginas. Nas eleições seguintes foi o mesmo procedimento. A secção Eleições2009 chegou a ter uma edição com 10 páginas. 

A própria apetência das pessoas em dar atenção a programas de informação em períodos eleitorais parece ser maior. Foi feita a comparação da audiência de noticiários de televisão, numa semana de campanha eleitoral, para as Legislativas de 1995 e dois anos depois. A semana foi de 25 (segunda-feira) a 29 (sexta feira ) de Setembro de 1995 e de 22 (segunda-feira) a 26 (sexta feira ) de Setembro de 1997. A comparação incidiu em dois noticiários que começam às 13 h ( Primeiro Jornal e Jornal da Tarde ) e outros dois noticiários que começam às 20h ( Jornal da Noite e Telejornal ). Na semana em que estava a decorrer a campanha eleitoral, os dois noticiários da hora de almoço tiveram uma audiência média de 18.9% (Jornal da Tarde - 10.7% + Primeiro Jornal 8.2% ). Em 1997, sem campanha eleitoral, esse valor baixou para 15.8% (Jornal da Tarde - 8.4% + Primeiro Jornal 7.4% ). O mesmo se passou com os noticiários do horário nobre. Em 1995 tiveram 30% de audiência (Jornal da Noite - 17.1% mais Telejornal - 12.9%). Dois anos depois, em 1997, sem grande actividade política, a audiência média baixou para 28% (Jornal da Noite - 14.6% + Telejornal - 13.4% ).

Na mesma semana de campanha de 1995 é importante destacar um outro exemplo. Ao longo da semana, o 24h da RTP não ultrapassou os 3.4% de rating. No entanto, no dia 29/09/95 fez uma emissão especial dedicada às eleições (encerramento de campanha) e o rating passou para os 6%.


Outro motivo que salienta a eficácia da mensagem através de suportes não pagos tem a ver com a credibilidade dos políticos.
O espectador acredita mais no apresentador de um noticiário do que num líder político a falar num tempo de antena. Várias sondagens têm revelado que o eleitorado tem uma má imagem da «classe política». (1) Um estudo de 2002 conduzido pelos investigadores Pedro Magalhães e Sérgio Faria revela que «em termos médios, as instituições políticas tendem a ser aquelas em relação às quais os inquiridos declaram ter menos confiança (…) Essa desconfiança é determinada em grande medida pela avaliação negativa que é feita da performance dos agentes e das instituições dos espaços políticos, tanto no que se refere à política feita, propriamente dita, quanto aos resultados que essa política tem na órbita dos interesses particulares de cada um». (2)

Como o atesta Kenneth Galbraith, “A crença que era outrora dedicada ao padre - e, talvez em menor grau, ao mestre escola - é agora conferida aos porta vozes da televisão e da imprensa. Alusões à fonte da crença são universais e automáticas - «li isso num jornal» ou «vi isso na televisão» - e é fazendo referência a algum comentário da imprensa ou da televisão que se iniciam quase todas as conversas políticas, é com o efeito de tais notícias ou análises sobre a opinião pública que se alimenta uma enorme parcela das discussões políticas”.

Para além desta vantagem, uma outra é que, de facto, esta mensagem pouco ou nada pode custar em termos monetários.

Face a todos estes dados, não é de estranhar que já fazem parte do passado as políticas de comunicação assentes exclusivamente na publicidade e no contacto directo do líder com os eleitores através de comícios e longas digressões. Repare-se nas palavras de Cavaco Silva, proferidas em 2002, numa aula sobre jornalismo político: “Perito em «falar por cima da Comunicação Social», como o próprio o diz, o antigo Chefe de Governo gabou-se mesmo de ter ganho as eleições de 1991 contra os jornais. Garante que não recebia chamadas telefónicas de jornalistas e que tudo fazia para passar mensagens sem a mediação desses profissionais.(…) Hoje, admite, tal proeza é mais difícil.»” (3). Seria uma estratégia suicida. Aliás, no decorrer da governação de Cavaco Silva, verificou-se uma evolução significativa. Cavaco Silva teve encontros frequentes com jornalistas, pequenos-almoços com representantes de vários órgãos de comunicação social…. Além do mais, «com aquela expressão ingénua de dizer que não lia jornais, Cavaco Silva era muito sensível à comunicação social. Alguns dos seus melhores improvisos eram cuidadosamente preparados» - Marcelo Rebelo de Sousa, DN 10/12/2003.
O próprio PSD tem mais tarde uma postura completamente diferente e quase levada ao extremo quando se interpreta a frase de Einhart da Paz, o responsável de Marketing político de Durão Barroso (em 2002) e de Santana Lopes (2005), para quem «uma campanha eleitoral é organizada como um espectáculo mediático para os jornais terem matéria» - Público, 22/03/2002.


Apesar da diferença entre comunicação paga e não paga, os dois modos de difusão são complementares e utilizados com grande frequência. «Hoje o conceito é o da comunicação global, misturando “marketing”, publicidade e assessoria de Imprensa» - Luís Paixão Martins; Expresso; 18/10/1997


Esta complementaridade é feita de vários modos. Muitas vezes, o lançamento de uma iniciativa através de material pago é o pretexto para se conseguirem referências nos media. Os líderes do PP, por exemplo, recorreram com frequência à criação de um cenário para os media - afixarem o primeiro cartaz de campanha. Funcionou sempre. Os jornalistas reportavam o acontecimento e ampliavam para milhões de pessoas a difusão da mensagem de um simples cartaz.
A complementaridades destes dois tipos de comunicação é de tal forma eficaz que em alguns países os outdoors não são colocados massivamente nas ruas. Pelo contrário, são produzidos em pouca quantidade, são colocados apenas em alguns locais e a sua grande projecção é através dos media.
O efeito interessante da mensagem e/ou o sentido de oportunidade, leva os media a falar desse outdoor como uma resposta ou um ataque. Ou seja, o cartaz transforma-se em notícia. Se for criado um cenário adequado para dar a conhecer o material, mais potencialidades tem esse outdoor de ser notícia. Poupa-se dinheiro e ganha-se em eficácia.

Um outro exemplo, utilizado em Portugal é alguns partidos darem a conhecer aos jornalistas o conteúdo dos tempos de antena. Esta foi uma prática comum nas legislativas de 95. O objectivo era conseguir cobertura noticiosa. Em quase todos os casos, conseguiram referências na comunicação social, com notícias que antecipavam o conteúdo dos tempos de antena. O mesmo fez Durão Barroso num tempo de antena do PSD no início de 2004. Quase todos os órgãos de comunicação social anteciparam a mensagem que se pretendia veicular – de que a retoma económica ia começar nesse ano – antes do programa ser difundido.
Na Grã-Bretanha, os trabalhistas e os conservadores já tinham recorrido à mesma técnica, em 1992.


Um outro processo que consegue a cobertura noticiosa é o uso de mensagens fortemente emotivas e provocatórias que, em geral, provocam uma reacção hostil do adversário - ou seja, notícias.
Com o polémico cartaz da «Corrupção x 8», o PP quis, de forma simples e directa, assustar o eleitorado com a ideia de que a regionalização iria multiplicar os cargos a distribuir por uma classe política sob a permanente suspeita de ser corrupta. É essa a imagem que muitos portugueses têm dos políticos, pensa o PP. Que a vem, aliás, fomentando desde há vários anos, convencido de que daí retira alguns dividendos eleitorais.” Expresso, 26/9/98; José António Lima

Na campanha do referendo sobre a regionalização, o PP recorreu a vários cartazes com uma mensagem forte. Foi o caso da bandeira nacional rasgada e outros que falavam de corrupção, dívidas X 8. As reacções foram muitas e não se esgotaram nos partidos. políticos.


Na Grã-Bretanha, nas eleições de 1992 ficou celebrizado um clip da autoria do Labour - “Jennifer’s ear” – que dominou a agenda dos media durante três dias (de inicio com resultados fantásticos para os trabalhistas mas, no final foi uma catástrofe, quando se descobriu que a história não correspondia à realidade ).
Inversamente, pode-se aproveitar uma situação que tenha ocorrido, que tenha sido sujeita a cobertura dos media e possa ser posteriormente “explorada” através de publicidade paga.

Um dos melhores exemplos, em Portugal, foi na sequência do debate entre Mário Soares e Basílio Horta, para as eleições presidenciais de 1991. No dia seguinte ao debate, a agressividade de Basílio Horta foi sujeita ao humor de Herman José, numa crónica na TSF. Na mesma semana, um dos tempos de antena de Mário Soares, reproduziu a crónica que tinha um efeito devastador para a imagem de Basílio Horta.

O objectivo de quem concebe estas iniciativas é transmitir uma mensagem coerente entre o que é difundido nos meios de comunicação social e a mensagem que se está a desenvolver através da publicidade paga.


Com frequência, essencialmente em campanha eleitoral, é forte a tentação de gastar dinheiro em materiais de propaganda e no recrutamento de algum pessoal especializado.
Para se ficar com uma ideia só dos custos em empresas de comunicação, em declarações ao Expresso em 18/10/1997, Isaltino Morais afirmou que «fiz uma consulta a três agências e em média pediram oito mil contos por três meses de campanha». Em 2003, numa reportagem sobre agências de comunicação, a Visão escrevia que «soube que, para um cliente privado, os conselhos de imagem oscilam entre os 100 euros à hora e os 10 mil euros por trimestre». Visão; 13/11/2003
Muitas vezes, as organizações de apoio gastam sem qualquer controlo e depois aparecem as contas que ninguém quer pagar ou já se esgotou o dinheiro. O resultado é uma imagem negativa e de desorganização.

Para evitar esta situação, quando da pré-campanha eleitoral, os partidos fazem um rigoroso planeamento dos materiais e das despesas que vão efectuar. Este trabalho permite poupar recursos e evitar que a estratégia de comunicação, por ser demasiado ambiciosa, acabe por ruir antes das eleições. Apesar deste esforço, é frequente a divulgação de alguns problemas, essencialmente a nível autárquico.


Uma última referência para novos sistemas de comunicação electrónicos. Alguns exemplos recentes mostram como já estão a ser utilizados e a eficácia que atingiram.
Um desses exemplos é a difusão de mensagens através de e-mail e SMS.
Depois de algumas experiências internacionais, em Portugal o recurso às mensagens SMS começou a ser feito de uma forma sistemática quando da crise governamental com a saída de Durão Barroso para Bruxelas. Na altura, em Julho de 2004, o Presidente da República tinha de decidir se optava por eleições antecipadas ou convidar a maioria parlamentar a formar novo governo.
Foi através de SMS que foram convocadas três manifestações em frente ao Palácio de Belém. Na primeira vez apareceram algumas centenas de pessoas e, dias depois foram convocadas duas outras manifestações. Uma a favor de eleições antecipadas e outra de apoio a Santana Lopes. As manifestações tiveram uma larga cobertura mediática.
Nunca se soube quem foram os organizadores das concentrações porque este meio permite uma difusão muito rápida e, como funciona em rede, é difícil descobrir o ponto de partida. Nestes casos, foram as mesmas pessoas – ligadas a um partido político - que convocaram as duas manifestações, embora de sentido contrário.
Segundo relata o Independente de 16 de Julho de 2004, os serviços de Pedro Santana Lopes descobriram que estava em marcha a convocação de uma manifestação em seu apoio e tentaram difundir um outro SMS com a seguinte mensagem «A manif pró-PSL hoje em Belém às 19 é uma armadilha, por favor não vá». A verdade é que apareceram cinco pessoas e foi esta a mensagem que passou na comunicação social. Nestes dias surgiram muitas outras mensagens, a maioria críticas para Santana Lopes, como foi o caso da seguinte: «Esta noite todos à Kapital. O nosso PM, dr PSL, vai presidir ao concurso Miss T-Shirt Molhada. As 10 primeiras vão para o Governo».
Uma outra mensagem que teve grande repercussão foi na noite em que Jorge Sampaio anunciou que não convocava eleições antecipadas. Para exemplificar o seu desagrado, a dirigente socialista Ana Gomes puxou do seu telemóvel e leu a mensagem que tinha acabado de receber: «Cumpriu-se Sá Carneiro: um governo, uma maioria, um Presidente!». A mensagem foi repetida em todos os telejornais, noticiários de rádio e imprensa.
Talvez por ter percebido a importância das mensagens de SMS, dois meses depois de assumir a liderança do PSD, Santana Lopes assinou um acordo com a PT para o envio de 90 mil SMS por dia. Esta iniciativa foi acompanhada de uma reformulação dos processos de comunicação do PSD com uma aposta nos meios electrónicos: “Miguel Relvas promete tornar o PSD no partido «mais inovador e competitivo de Portugal». O secretário-geral dos social-democratas preparou uma nova estratégia de comunicação e acção que passa por organizar a máquina partidária («centralizar a gestão, descentralizar a execução»), dotando a sede nacional e as sedes regionais e distritais de novos equipamentos informáticos. Outro dos objectivos é chegar aos militantes e atingir os eleitores («pensar global, agir local»), com a implementação de um serviço de SMS, de mail com ‘newsletters’ e de um Call Center que comportará operações de Telemarketing.” - Barbara Baldaia; Diário Económico; 25/08/2004


Um outro processo de difusão de mensagens que está a ganhar importância é através das redes sociais. Em minbloging ou mesmo nos blogues. Em Portugal é frequente os jornalistas «coscuvilharem» alguns blogues à procura de notícias e um dos mais citados é do
Pacheco Pereira.

logo do blog de Pedro Santana LopesA utilização dos blogues pelos partidos políticos foi uma novidade nas legislativas de 2005. A convite do portal Sapo, Santana Lopes, José Sócrates, Paulo Portas e Jerónimo de Sousa, cada um, criou o seu blogue. Em cerca de 20 dias, estas página registaram 270 mil acessos e estiveram quase sempre no ‘top’ dos blogues mais vistos do portal.
Outros partidos políticos e dirigentes partidários acabaram por criar também o seu blog, como foi o caso do Partido Humanista e de Manuel Monteiro.

Nas eleições presidenciais de 2006, alem dos blogues dos candidatos, surgiram dezenas de páginas alinhadas com algumas das candidaturas. Diariamente a imprensa citava e recolhia informação nestes blogues.

 

Nas eleições Legislativas de 2009 alguns dirigentes políticos continuaram a recorrer a blogues mas a maioria preferiu criar um  site de candidatura e recorrer a redes sociais.

Quase todos os partidos e coligações utilizaram redes sociais para difundir a mensagem e palataformas de alojamento e partilha de fotos e vídeos.

Manuela Ferreira Leite tinha uma página no Facebook, o BE andou no  Twitter, o CDS de Paulo Portas colocou vídeos no Sapo Vídeos e no You Tube, a CDU partilhou fotos no Flickr e o PS tentou criar uma rede própria através do site Sócrates2009.

 


(1) Uma sondagem da Universidade Moderna, divulgada pela TSF/DN em 3 Novembro de 1998, coloca os jornalistas como uma das classes com maior credibilidade. Os professores surgem em primeiro lugar com 72.7% de respostas favoráveis. Seguem-se os médicos com 70%, e depois os jornalistas com 31,6%. Os políticos estão em último lugar, com um saldo negativo de 40%. Passados cinco anos, uma outra sondagem, da TSF Euroteste publicada na Visão de 05/11/2003, é apontado que 77% dos inquiridos acreditam no que relata a comunicação social.

(2) Segundo o mesmo estudo, os portugueses confiam mais na Igreja, Presidente da República, Forças Armadas, União Europeia, Comunicação Social, Institutos de Sondagens, Polícia, Parlamento, Governo, Tribunais e Partidos políticos.

(3) TSF Online 19 de Fevereiro de 2003.

12
Mai13

1. Planeamento

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Uma política de comunicação, para melhorar a sua eficácia, é planeada e com uma efectiva articulação e coerência da mensagem a difundir.

«Vertente essencial da comunicação política, diz Christopher Arterton, da Draduate School of Political Management, da Universidade George Washington, é a coordenação. Um governo ‘deve falar a múltiplas vozes, mas veiculando a mesma mensagem. Se falhar, não só confunde o público, como permite à oposição e aos media levantar questões sobre as políticas seguidas’» - DN 10/12/2003

As organizações políticas, a nível nacional ou regional elaboram a médio e longo prazo um conjunto de iniciativas devidamente enquadradas numa política de comunicação. Por exemplo, em campanhas eleitorais a política de comunicação é definida em função da estratégia que a candidatura vai seguir. A política de comunicação faz parte e está dependente dos restantes elementos desta estratégia, como por exemplo o programa eleitoral; os objectivos eleitorais (ganhar as eleições; vitórias parciais ou melhorar a imagem da organização política); a gestão dos meios disponíveis e o controlo e avaliação da campanha eleitoral.

O objectivo essencial deste planeamento é que a mensagem desejada chegue de forma eficaz ao maior número possível de pessoas que se pretende atingir, com o menor esforço e custo possível.

Este planeamento é feito por um pequeno grupo que reúne, entre outros, o responsável pela área financeira, o responsável pela condução política, quem vai tomar conta da logística e quem assume a responsabilidade da comunicação.
Concluído este trabalho, é apresentado ao líder e mais tarde às várias estruturas de campanha de forma a haver uma percepção geral do que se pretende e como vai ser feito.

Como é habitual em qualquer planeamento, depois de aprovada aversão final, há pequenos acertos. Nunca novos planeamentos. A optar-se por outro planeamento abre-se caminho para novos acertos… e depois nunca mais pára e ninguém se entende. Rapidamente a comunicação social interpreta estes sinais como desorganização e desentendimento.

O planeamento da política de comunicação é decorrente dos objectivos da acção política que se vai desenvolver - basicamente deriva de: “o que” se vai dizer e “a quem se vai dizer”. O “como” se vai dizer é o trabalho seguinte. Aqui entra a criatividade, a perspicácia e a perspectiva política do modo como se vai transmitir essa mensagem e como ela irá ser recebida.
Este planeamento tem ainda em conta as várias funções de uma política de comunicação e que, no entender de G. Norman Bishop, são cinco:
a) a notoriedade do líder e/ou da organização política - no fundo é dar a conhecer o(s) protagonista(s) da acção política que vai ser desencadeada. A identificação terá de corresponder ao nome e/ou símbolos que surgem no boletim de voto. Os melhores meios para garantir esta função, além das referências na comunicação social, são os outdoors, cartazes e a televisão.
b) imagem do líder e/ou do partido - corresponde aos desejos, à expectativa do eleitorado que se pretende atingir, o que espera do líder e/ou do partido ou governo. É uma imagem genérica, isto é, a mesma imagem para a generalidade dos eleitores.
c) desenvolvimento, exploração da ideia central - é trabalhada de acordo com cada um dos vários públicos a quem se destina a transmissão da mensagem. Os melhores meios para conseguir este objectivo são o direct mail, a rádio e a televisão.
d) estratégias de ataque - colocar em causa situações e propostas relacionadas com a actividade dos oponentes; como tirar partido das fraquezas dos oponentes.
e) estratégias de defesa - resposta às ofensivas dos oponentes; como tirar partido ou diminuir os estragos de situações adversas.

Este planeamento exige algum tempo. É preciso um profundo trabalho de investigação e de criatividade.
É um trabalho onde nunca há certezas absolutas e, frequentemente, as soluções preferidas, acabam por não ser as escolhidas. A palavra final é dos estudos de opinião onde se que tenta avaliar a receptividade dos slogans, das imagens, dos ícones.

Quando do planeamento da política de comunicação é também avaliado se não há elementos contraditórios. Exemplo: se a estratégia aponta para a criação de uma imagem de segurança, de pacificação e de estabilidade, as iniciativas não entram por caminhos de guerrilha permanente e de conflitualidade. Para ilustrar este exemplo, cito o caso de Ourique, no final do Verão de 1998, onde o governo colocou um forte contingente policial para evitar que alguns agricultores cortassem uma estrada. Aproveitando a polémica causada pela acção das forças de segurança, o PSD e o PP lançaram uma ofensiva contra o Governo. No debate no Parlamento, o Ministro da Administração Interna respondeu com um contra-ataque, afirmando que, com a postura que estavam a assumir, afinal o PSD e o PP eram adeptos do corte de estradas. Receosos de esta acusação entrar em conflito com a imagem de defensores da ordem e da estabilidade e de colocar em causa a relação com um eleitorado conservador, o PSD e o PP tiveram de entrar numa estratégia de defesa.
Até em termos pessoais há esta preocupação de unidade e coerência. Um exemplo muito simples: apostar numa campanha de rua com um candidato muito tímido é um suicídio. Se o candidato for uma pessoa muito avessa a contactos com o eleitorado, se não se consegue desinibir, a comunicação não funciona. Pelo que dizem alguns dirigentes do PS, este foi um dos problemas que se colocou a Vítor Constâncio na campanha do PS em 1987.

Além do planeamento a médio e longo prazo, é também preparada a gestão do dia a dia, as actividades que permitem prever ou responder à actualidade. Em situações de crise ou de grande actividade política, é habitual uma ou duas reuniões diárias de um núcleo reduzido e com grande capacidade de decisão.

Só em função deste planeamento se alcança uma cobertura dos media com continuidade. Consegue-se, assim, evitar o arrastamento e, eventualmente, ganhar uma mais valia.
Dois exemplos de algum sucesso, que decorreram na mesma altura – depois do referendo da regionalização em 1998. O PS, que perdeu o referendo, preparou uma «agenda forte» para depois da votação, de forma a ofuscar o resultado negativo. Guterres esteve presente na discussão do Orçamento de Estado, onde foi negado um eventual aumento de impostos, participou na cerimónia de entrega de 400 casas, arrancou a ligação ferroviária entre Lisboa e a margem sul do Tejo, presenciou uma aula com mais de mil novos agentes de segurança, foi à inauguração de um posto da GNR numa localidade onde teve uma boa recepção, a inauguração de tribunais…. Todas estas iniciativas deram a volta ao ambiente decorrente da derrota do referendo e a agenda passou a ser marcada pelas iniciativas do governo.
Um outro exemplo de um planeamento eficaz foi desencadeado pelo PSD. Durante o mesmo referendo, sabendo que o «Não» tinha defensores no eleitorado do PS, Marcelo Rebelo de Sousa teve uma postura que ultrapassou a liderança do PSD e apresentou-se sempre com um discurso nacional. Mesmo após o conhecimento dos resultados, Marcelo tentou transmitir a mensagem de que se tratava de uma vitória dos portugueses, não de um ou mais partidos. Na própria noite da votação foram colocados cartazes com a frase “Obrigado Portugal”, sem a assinatura de qualquer organização partidária.
Uma semana depois, surgiu uma notícia (A Capital de 18 de Novembro de 1998) onde é afirmado “PSD quer Marcelo mais próximo do eleitorado apartidário e prepara mudança de imagem (…) Marcelo vai ter que começar a preocupar-se cada vez mais com a sua imagem de candidato a Primeiro-Ministro e menos com a imagem de presidente do partido”. O título da mesma notícia é “Fazer um Primeiro-Ministro”.
A esta nova imagem juntou-se um conjunto de iniciativas que pretendiam alargar o PSD a independentes – “Ao encontro dos Portugueses”.

Através do planeamento consegue-se ainda uma gestão mais adequada. Nem sempre é positivo correr atrás da exposição pública. Por vezes é preciso dizer não.
Esta necessidade de gerir com eficácia a exposição através dos media coloca-se essencialmente a quem já ocupa o poder. Devido ao cargo que exerce são múltiplos os convites e é maior a apetência da comunicação social. As coisas não andam longe da seguinte regra: quando se está na oposição, o objectivo é aproveitar todas as oportunidades; quando se está no poder, o importante é gerir com eficácia as várias oportunidades.

«Christopher Arterton vai mais longe, defendendo que uma boa estratégia de comunicação passa por criar eventos, chamando os media para a cobertura, mas poupando nas declarações. Segundo Arterton, ‘os políticos americanos já aprenderam que não se paga um preço por não falar à imprensa. Hoje em dia o presidente é bastante inacessível» – DN; 10/12/2003

Quando uma organização política está na oposição, quase todos os telefones dos principais dirigentes estão registados nas listas telefónicas das Redacções. Quando esse partido assume o poder, apenas alguns jornalistas têm o privilégio de ter os telefones privados de um ou outro ministro.

 

(1) G. Norman Bishop

12
Mai13

2.10 A relação com os jornalistas

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A relação com os órgãos de comunicação social e especialmente com os jornalistas assume um papel vital e, segundo a experiência de Fernando Lima, também uma fatalidade: “há uma evidência que importa reter: quem está no poder dificilmente poderá fugir à conflitualidade com os «media», por mais artifícios que procure criar para continuar nas suas boas graças”.


O jogo da sedução parece não ter assim um efeito prolongado com os jornalistas. As adversidades poderão surgir com o desgaste de quem exerce o poder. No entanto, este relacionamento pode ser relativamente estável e sério, se algumas regras forem cumpridas.

As regras do jogo:


Embora nem sempre seja respeitada, muitos políticos sabem que a primeira regra é nunca mentir a um jornalista. Na sequência dessa mentira, o jornalista pode também enganar os leitores/ouvintes/espectadores, e com isso pôr em causa um dos pontos chave de qualquer órgão de comunicação social - a credibilidade. A posição do jornalista, no seio da Redacção, também pode ficar em causa e, em alguns casos, colocar em risco o seu emprego.


Por outro lado, se o jornalista percebe que foi enganado, nunca mais terá confiança em quem lhe mentiu. Habitualmente, o circuito do jornalismo é reduzido e muito fechado, e como tal propício a que esse jornalista possa fazer alastrar a outros colegas a informação de que foi enganado e por quem.


A segunda regra é cada um entender o seu papel. Independentemente das eventuais relações de amizade, a função do jornalista é obter dados para construir uma história. O melhor é haver uma relação leal e frontal.


Os políticos mais experientes sabem que, quando não se pode falar - é isso mesmo que devem dizer: «sobre essa matéria não me pronuncio». Outra possibilidade a que recorrem é prestar informações que não podem ser usadas, mas salientam, sempre, que são declarações em “off”. Se não querem ser citados, a regra é a mesma - antes de dizerem, seja o que for, referem explicitamente que não querem ser citados. Se há dúvidas sobre os dados que estão a ser comunicados, transmitem isso aos jornalistas. Com este comportamento, os jornalistas sabem que um determinado político pode não ser uma fonte regular de informação, mas seguramente, ficam mais confiantes na veracidade da informação que lhes está a ser prestada. Este é um dado essencial para ambas as partes.


No relacionamento com os jornalistas é habitual ver alguns políticos muito amáveis e disponíveis. Com este comportamento, procuram uma maior proximidade, evitam uma postura de sobranceria, e alguns jornalistas até se convencem que estão numa situação de paridade.


Nestas situações, os políticos sabem que de nada valem sorrisos artificiais ou posturas de

afirmação de poder. Assumem uma postura o mais natural possível e tentam perceber, exactamente, o que pretende o jornalista. A preocupação é dar respostas claras e deixar no interlocutor a noção de grande confiança do que se está a dizer.


Outra regra importante é nunca colocar em causa o trabalho que o jornalista está a fazer. Por vezes as coisas não correm bem, e nem sempre é por culpa dos políticos, mas caso não esteja a ser violado qualquer compromisso assumido, a regra base é: vale mais não prestar qualquer informação do que aceitar o convite e depois questionar o trabalho que está a ser efectuado. Quando se é solicitado por um jornalista, é definido com ele quais são as regras do jogo. Caso se recuse, o assunto está arrumado. Se é aceite o convite, se aceitam as regras, muitos políticos sabem que é contraproducente pôr em causa o comportamento do jornalista.
Para evitar algumas destas situações, os políticos com uma longa carreira estabelecem contactos preferenciais com alguns jornalistas. Ambas as partes já sabem como se comportam.


Nem sempre as relações com os jornalistas passam por este caminho estreito e formal. Desde que se clarifiquem as regras do jogo, há um largo espaço de diálogo e muitas vezes até de confraternização.


Para se chegar a este estádio, percorre-se um caminho longo, sem pressas e com alguma disponibilidade. Ou seja, são estabelecidos contactos regulares e pessoais com os jornalistas que habitualmente trabalham na mesma área e, por vezes, até contactos informais.


A realização dos encontros informais assume uma importância cada vez maior. Com a especialização crescente por parte dos jornalistas, é habitual que um determinado órgão de comunicação social defina como interlocutor de uma organização política apenas uma ou duas pessoas. Os jornalistas vão trabalhar essencialmente nas matérias relativas a essa área, vão ser observadores atentos e, por isso mesmo, adquirem uma perspectiva crítica superior à do comum dos cidadãos.


Por outro lado, os próprios jornalistas, devido à realização destes contactos frequentes, acabam por dar preferência a estes interlocutores quando precisam de obter ou confirmar uma informação.


Uma outra forma recorrente que propicia esta aproximação e uma maior confiança é - se o jornalista trabalha num órgão cuja audiência interessa atingir – dar-lhe informações relevantes. O jornalista não dá o tempo como perdido e sente-se estimulado a fazer novos contactos.


Esta aproximação e uma relação de confiança cada vez mais sólida permite muitas vezes uma troca de informação mais subjectiva e até influenciar a opinião de cada um dos interlocutores.


No caso dos políticos, esta capacidade de influência tem alguma relevância, porque cada vez mais os jornalistas especializados em política passaram de um discurso “reprodutor” para histórias com uma perspectiva analítica.


Os textos jornalísticos começaram a ter a opinião do seus autores, uma avaliação das acções dos políticos, uma explicação sobre os contornos das tomadas de decisão e os efeitos que se pretendem…

Veja-se a comparação no Diário de Noticias, de duas reportagens de campanha. Uma em Setembro de 1979
“PS não irá disfarçar-se em coligações eleitorais. - quem o afirmou foi Mário Soares”
“«Para que o povo português acredite em nós, no nosso amor pelos trabalhadores e pela democracia, não necessitamos de nos disfarçar em coligações eleitorais» afirmou Mário Soares durante o improviso que proferiu em Pegões Velho, ao sul do Montijo, na festa convívio que ali decorreu ontem” (notícia não assinada)
e outra em Setembro de 1995:
“ Nogueira «bate» Cavaco”
Boa vizinhança, «famílias unidas» e uma pátria «unida»- Ao discurso de Nogueira no maior comício do PSD realizado na baixa do Porto - superando, inclusive, o de Cavaco em 91 - só faltou Deus.” (texto assinado por Miguel Carvalho).


Um outro exemplo, também referente ao Diário de Noticias: em comparação estão uma semana de campanha em 1979, outra em 1985, outra semana de 1995 e, por fim, em 2002.
Em 1979 não aparece um único texto de opinião sobre as actividades dos partidos no decorrer da campanha. Nem sobre os tempos de antena. Nem no último dia de campanha é feito um balanço. O recurso a fotos é muito reduzido e por vezes são fotografias tipo passe (no dia 27/09/79 há uma única foto e é uma fotografia tipo “passe” de Octávio Teixeira). Parte dos textos alusivos à campanha são respostas sobre um inquérito acerca da economia e outro espaço foi reservado aos partidos para reprodução de partes do programa eleitoral. Os títulos de quase todas as notícias são citações de declarações dos políticos.
Em 1985 há um texto de opinião, diário, sobre os tempos de antena e é maior o recurso a ilustrações.


A partir de 1995 a diferença é mais significativa. Em todos os dias da campanha eleitoral houve dois ou mais textos de opinião (além dos comentadores permanentes); o recurso a ilustrações foi muito maior, há mesmo uma página de fait divers e de fotos tipo “apanhados”; e, em 1995, uma manchete com uma montagem de fotos de António Guterres e Fernando Nogueira com o título: “tudo por tudo”. No encerramento das campanhas foi feito um balanço, um levantamento dos casos de cada campanha, as dificuldades… Uma outra diferença significativa é visível na edição de 27/09/95. A manchete e o destaque dessa edição são os potenciais ministros de um governo do PSD e de um governo PS.



Quando o jogo não tem regras:
Nem sempre a relação entre os jornalistas e os políticos tem lugar dentro de regras claras e de respeito mútuo.
Muitos políticos consideram os jornalistas uns «vendidos».
Muitos políticos mentem descaradamente e ainda se vangloriam junto de colegas de terem passado uma «rasteira» aos jornalistas.
Por vezes, chegam ao ponto de espalhar a imagem de que determinado jornalista “é burro porque engole tudo o que lhe dizem” e, o que é mais complicado, em alguns casos até têm razão.


Há quem não respeite os compromissos assumidos, e em outras situações negam o que afirmaram e desmentem a informação veiculada pelo jornalista, apesar de correcta.
Alguns políticos chegam a exercer pressão junto das administrações ou do director de um órgão de comunicação social para afastarem determinado jornalista porque «é muito inconveniente».

Há jornalistas que «andam na cama» com políticos para obterem informação privilegiada. Têm a alcunha de «garganta funda».
Há jornalistas que são moços de recados. Fazem perguntas «encomendadas» a esses políticos ou aos adversários.
Há jornalistas que denunciam colegas por estarem a escrever ou a investigar uma história que pode colidir com os interesses desse político.
Há jornalistas completamente dependentes de meia dúzia de políticos, que para não colocarem em causa estas fontes de informação, manipulam as notícias a fim de ocultar dados negativos sobre esses políticos ou, ao contrário, para os valorizar .
Alguns jornalistas denunciam as fontes de informação junto de um político para o informar de quem anda a «fazer intriga nos jornais» contra ele.


Uma dependência excessiva dos jornalistas em relação a algumas fontes de informação e a pressão das chefias para conseguirem «exclusivos» são outros factores que contribuem para este comportamento.


Há ainda a dependência económica. A troco de algumas promessas de apoio financeiro, alguns responsáveis de órgãos de comunicação social que se encontram numa situação débil transformam-se em braços políticos de organizações ou grupos.


São inúmeros os casos de desrespeito das regras e violação da ética por parte de jornalistas e de quem ocupa cargos políticos relevantes. Muitas vezes estes casos radicam numa formação desajustada, a que se alia o «vale tudo» da luta pela sobrevivência política e profissional.


Para além destes casos (que talvez não constituam a regra na relação entre os políticos e os jornalistas), o próprio dia-a-dia já propicia situações onde há equívocos, distorções e tentativas de manipulação.


Nem sempre estes problemas são ultrapassados de uma forma adequada, e a tendência, por parte de alguns políticos, é culpar os jornalistas do que está a correr mal.

Depois das declarações continuadas dos seus dirigentes contra a cobertura que a comunicação social está a fazer da campanha eleitoral, o «povo do PSD» tem reagido contra a imprensa, às vezes com incursões pautadas por alguma violência. Foi assim com a SIC em Mirandela: aos gritos de «A SIC é mentirosa, é do PS», vários apoiantes do PSD tentaram inviabilizar a gravação, colocando-se à frente da câmara e empurrando os profissionais da estação.(…) Ontem, foi a vez da RTP ser alvo de agressões verbais, que por pouco não passaram disso: na Régua, o repórter da RTP foi insultado com gritos de «vieram filmar isto ou filmar o ministro?». (…) Recorde-se que o PS também se tem insurgido contra a cobertura da campanha por parte da RTP, tendo Narciso Miranda, no passado fim de semana, no Porto, «excitado as massas» contra a televisão estatal.
(…) Os dirigentes partidários, a começar por Fernando Nogueira, contribuem sem dúvida para o estado de excitação popular: o líder do PSD acusou em Aveiro a «mistificação deliberada» da imprensa sobre a campanha; Eurico de Melo afirmou que «toda a comunicação social está contra o PSD» e Luís Filipe Menezes acusou a existência de «editoriais e manchetes feitos de véspera para desestabilizar o PSD
»” Público - Setembro de 1995


 

Outro exemplo: Santana Lopes nas Legislativas de 2005:

 


 


Segundo Ronald Kuntz (1) esta postura de os políticos se virarem contra a comunicação social nem sempre é eficaz. Só piora as coisas, porque, “por uma questão de sobrevivência e por força das características que revestem o «ramo» de actividade, a imprensa desenvolveu um forte esquema de integração, através do qual todos se unem sempre que a instituição estiver sob ameaça, pois é vital e do interesse de todos cultivar a crença no poder da imprensa e preservar a qualquer custo a sua imagem institucional face à opinião pública”.


Em Portugal, embora se verifique ainda esta pressão, ela já não é tão homogénea.
Há mesmo espaço para a discussão, essencialmente nos jornais com a introdução da figura do provedor do leitor. É através de um texto redigido por um destes provedores, Jorge Wemans (Público de 27 Outubro de 1997 - A coluna do provedor do leitor), que se encontra um outro exemplo do efeito nefasto de se pretender transformar o jornalista em bode expiatório. O caso, que teve lugar em 1997, tem a ver com uma acção desencadeada pelo governo, com o então Primeiro-ministro e a Ministra da Saúde a visitarem várias instalações hospitalares e no decorrer do qual foi feito o anúncio de um investimento de 300 milhões de contos. Em reacção, o PSD acusou o governo e a comunicação social de propaganda. Questionada, a jornalista que escreveu a sua história no Público, Bárbara Simões respondeu: “«Primeiro senti uma profunda irritação pela referência no comunicado, à comunicação social “distraída” (…) Nisso o PSD precipitou-se». (…) Hoje a jornalista escreveria o mesmo texto? «Sem dúvida (…)».


Face a estes exemplos, há quem diga que os políticos ficaram reféns da comunicação social. Se protestam, podem provocar uma reacção negativa em determinado órgão de comunicação social ou até corporativa. Se colocam em causa uma notícia, o direito de resposta não tem a mesma projecção do texto em causa.

No entanto, há quem não se amedronte. Em muitas circunstâncias falam com o autor da notícia e tentam esclarecer o equívoco. Habitualmente, quando o jornalista compreende que cometeu um erro, acaba por «reparar» o sucedido. Não necessariamente através de um desmentido mas redigindo um outro texto onde a informação já é veiculada de forma correcta.


Noutros casos, considerados mais graves, alguns políticos desencadeiam fortes reacções através de desmentidos ou com processos em tribunais, mas nem sempre os resultados são satisfatórios. O desmentido passa muitas vezes despercebido e a Justiça é lenta. Mesmo num órgão regulador da comunicação social. Um exemplo: O Diário de Noticias publicou, no início de Agosto de 1996, uma sondagem sobre as eleições regionais nos Açores que mereceu a contestação do Partido Socialista, através de uma queixa que deu entrada na Alta Autoridade no dia 8 de Agosto. A resolução só foi tomada no dia 25 de Setembro. Ou seja, a eventual rectificação de dados publicados, entre a sua publicação e a resolução, demorou quase dois meses, uma infinidade de tempo num período pré-eleitoral, cujos efeitos…


Apesar desta relação entre os jornalistas e os políticos ser controversa e implicar uma discussão pública em momentos agitados, o resultado, na maior parte das vezes, é o descrédito das duas partes.


Por um lado, é frequente a crítica dos políticos aos jornalistas. Por exemplo, num debate sobre a relação entre política e comunicação social, realizado no Porto, em 2000, Rui Rio acusou os jornalistas «de cumprirem cada vez menos». «A comunicação social mata a casa da democracia, a Assembleia da República» e há uma opacidade corporativa que configura «uma situação de censura», há falta de transparência, atropelos à verdade e aos direitos do cidadão - «é muito mais difícil ler um jornal hoje do que antes do 25 de Abril». Outros políticos fizeram declarações no mesmo sentido. Até escreveram livros quase exclusivamente para criticar o comportamento de alguma comunicação social como fez Manuel Maria Carrilho, depois de ser derrotada nas autárquicas de Lisboa em 2005.


Porque os políticos se sentem pressionados, e porque a «imprensa tem-se tornado cada vez mais crítica com os políticos», «as pessoas passaram a ter menos confiança nos líderes e a esperar menos dos políticos».


Mas também os jornalistas, seguindo as palavras do investigador Thomas Patterson, estão a ter a sua confiança abalada. «A história que está escrita é a do declínio da confiança do público nos media, que atravessa os anos 90 nos EUA. A maioria acha que são demasiados críticos, negativos, desrespeitadores, sensacionalistas e opinativos». Esta é uma situação que está a provocar uma perda de influência da comunicação social. «Há doze anos, o caso Irão/«contras» fez a popularidade de Reagan cair quinze pontos em duas semanas. No caso Lewinsky, houve uma queda rápida, de sete a oito pontos, mas depois mudou. Neste sentido, os media são menos influentes hoje junto do público». (2)


Uma última nota, referente ao «alinhamento» dos média numa campanha eleitoral. É frequente haver, dos dois lados, acusações de tentativa de manipulação. Jornalistas que acusam políticos de faltarem à verdade ou propositadamente omitirem informação e políticos que acusam um jornalista ou um meio em particular de não ser isento. Carrilho assim o fez após as autárquicas de 2005 num ataque violento contra alguns jornalistas, órgãos de comunicação social, agências e comentadores. O PP de Paulo Portas fez duras críticas à SIC em 2002 e o PSD criticou a comunicação social em 1995 e voltou a repetir as críticas nas Legislativas de 2005.
«O PSD não poupa esforços na campanha eleitoral. O mais recente produto de marketing é um pequeno livro, intitulado “O fantástico mundo da mentira”, em que o PSD apresenta 18 notícias, que pretende desmontar, e que, segundo o partido de Pedro Santana Lopes, fazem parte “de uma estratégia de alguns órgãos de comunicação social” para “todas as semanas criar uma mentira para desestabilizar“». Público, 02/02/05

De referir ainda que, ao contrário do que se passa noutros países, como os EUA, em Portugal não há a tradição de se declarar o «alinhamento» com um partido político ou uma candidatura. A excepção foi a Capital em 2005 que, em editorial afirmou que se identificava com as propostas do PS.
Capa do CM Na Democracia portuguesa há ainda o caso do apoio «encapotado» do Correio da Manhã à AD num dia de eleições, em 5 de Outubro de 1980, ao fazer uma manchete com dois títulos que permitia a leitura “Votar AD É UM DEVER”.



Os intermediários:
Cada vez mais a relação entre os agentes políticos e os jornalistas é feita através de intermediários: o porta-voz, assessoria de imprensa ou agências de comunicação.


Quase todas as instituições públicas, organizações privadas e grandes empresas têm

gabinetes de imprensa e recorrem a agências de comunicação.
Contactam com jornalistas, preparam eventos ou produzem conteúdos para serem difundidos nos órgãos de comunicação social.


Segundo o Expresso de 20 de Maio de 2006 que cita um estudo da agência Emirec, “cerca de 70% das notícias publicadas nos jornais portugueses têm como origem as agências de informação ou os gabinetes de Imprensa”.


Por vezes a capacidade de influência destas agências é alvo de polémica. Na verdade, é costume oferecem brindes, “prendas de natal”, convites para viagens, “exclusivos” de algumas notícias e acesso a personalidades e encontros internacionais… mas é um enigma até que ponto estas “facilidades e atenções” condicionam o trabalho dos jornalistas. Um exemplo habitual é a quantidade surpreendente de “prendas” que recebem os jornalistas da secção de economia.

 

 

(1) Marketing Político – manual de campanha eleitoral
Ronald A. Kuntz; Global Editora; São Paulo; 1996.
82) Thomas Patterson é investigador e professor em Harvard e fez estas declarações ao DN, edição de 22/04/1998.

12
Mai13

2.11 Estratégias de Ataque e Defesa

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O jogo político não permite empates embora, no plano político, possa haver mais do que um vencedor.

Num confronto directo entre duas forças políticas, a conquista de uma vantagem para uma das partes implica sempre uma desvantagem para o oponente.


O comportamento da acção política passa assim por uma relação que não implica o meio-termo. Ou se ganha ou se perde. Ou se ataca ou se defende.

Este é outro elemento determinante no processo de produção da comunicação política. A forma, o conteúdo e a oportunidade são essenciais para se conseguir desenvolver estratégias de ataque e defesa


Ataque:
Muitas das iniciativas que se desencadeiam têm como principal objectivo condicionar o comportamento do adversário. É uma estratégia de ataque.

 

 

No caso do vídeo, trata-se de uma ofensiva de Hilary Clinton contra Obama, nas primárias dos Democratas em 2008, onde Hilary tentou tirar partido da imagem de inexperiência de Obama.



Nem sempre é usada contra um adversário já identificado. Por vezes, para se dar a ideia que de se vai «de vitória em vitória», ou seja, que se ganha força, é “inventado” um adversário.

Pode ser uma personalidade, um grupo, uma organização ou até mesmo uma situação que seja apontada como um obstáculo. Esta é uma situação recorrente em congressos partidários onde as lideranças tentam potenciar um adversário interno que se sabe, à partida, não tem a mínima possibilidade de vencer.


Quando se escolhe um adversário principal e a forma como pode ser combatido são realizados estudos para se perceber a opinião dos eleitores. É mais fácil e mais eficaz avançar com iniciativas que realcem as características negativas que o eleitorado já atribuiu ao adversário.


Muitas vezes estas ideias pré-concebidas ajudam a dar credibilidade às acusações. Em outras circunstâncias, quando se vai mais longe, é preciso avançar com provas evidentes.
Através desta identificação do “inimigo”, conseguem-se sinergias e coesão interna, além de, recorrendo a algum dramatismo, maior visibilidade nos média.


Se a pessoa ou organização que se pretende atingir for muito popular, é difícil avançar com ataques essencialmente de natureza pessoal. A não ser que existam provas evidentes, credíveis, e que, à partida, possam provocar a condenação do eleitorado.


Ao contrário, se o alvo é uma personalidade ou uma organização desconhecida, sem notoriedade, raramente é lançada qualquer ofensiva, porque isso só acabará por a promover. Um exemplo desta situação ocorreu com o candidato do PSD/PP à câmara do Porto, em 1997. Carlos Azeredo, segundo uma sondagem publicada na altura, tinha 30% de notoriedade. Com uma polémica gerada por um artigo do candidato do PSD, no JN, sobre o “ouro nazi”, a sua notoriedade aumentou para os 80% (um maior conhecimento que pode não ser pelas melhores razões).


A estratégia de ataque que aposta no desgaste de um adversário tende a alongar-se. Um dos métodos mais frequentes é lançar a conta-gotas alguns dados e depois fornecer elementos a jornalistas, para a eventualidade de alguns órgãos de comunicação social fazerem uma investigação própria. Os dados que dão consistência à acusação têm de ser credíveis e facilmente perceptíveis pelo cidadão comum.


A eficácia é maior quanto menos difuso é o alvo. A comunicação é muito dirigida, focada apenas nesse alvo e evitam-se polémicas que arrastem a discussão para matérias secundárias e por vezes vulneráveis.


Saliente-se no entanto que uma estratégia de ataque não se fica apenas por criticas aos adversários. Exige o passo seguinte. Apresentar propostas, uma mensagem alternativa e positiva. Primeiro diz-se o que está mal e depois apontam-se caminhos alternativos.



Defesa:

Numa estratégia de defesa, uma reacção frequente é lançar novas polémicas. Mensagens que despistam a questão essencial e provocam ruído. A um ataque responde-se com outro ataque. A comunicação política concentra-se numa iniciativa que visa condicionar o adversário e, simultaneamente, evitar que um tema negativo continue na agenda dos media.

 

Barak Obama respondeu ao spot comercial com um contra-ataque. Ao contrário dele, Hilary Clinton apoiou a invasão do Iraque. O relevante não é quem atende o telefone mas a decisão que se toma.

 


Um outro exemplo.  Santana Lopes quando da agitação criada com a saída de Marcelo Rebelo de Sousa de comentador da TVI e depois de uma sucessão de casos negativos para o Governo, principalmente o fracasso da colocação da lista de professores.
Num contexto em que, durante vários dias, políticos e a comunicação social confrontavam o governo com estes desaires, Santana Lopes criou grande expectativa em relação à mensagem que ia divulgar num tempo de antena.
A transmissão passou na íntegra nos espaços nobres da informação televisiva e incidiu sobre as novidades do orçamento de estado: aumentos salariais e das pensões e diminuição dos impostos.
No dia seguinte não se falou do caso Marcelo Rebelo de Sousa. A agenda política e dos media foi dominada pelo anúncio destas medidas positivas.


Um outro exemplo muito recorrente é quando se tem conhecimento de que vai ser divulgada uma sondagem com resultados desfavoráveis. Se existir um outro estudo, não desfavorável, divulga-se esta última sondagem e, se possível, antecipadamente. Com tantos números e ainda por cima com indicações contrárias provoca-se ruído e, desse modo, anula-se parte dos estragos.


Numa estratégia de defesa, na grande maioria dos casos, o objectivo é reduzir os estragos.
A situação mais difícil é quando se é obrigado a abandonar a luta. É uma opção que tem de ser assumida com frontalidade. E rapidamente, para evitar um desgaste acentuado.


Foi o que não fizeram os ministros do Ensino Superior e dos Negócios Estrangeiros no caso da «cunha» em Outubro de 2003.
A notícia foi dada no jornal da SIC às 20 horas e, antes, já devia ser do conhecimento do governo porque foi interpelado um Director-geral. Ninguém do executivo se antecipou e nada foi feito – em termos públicos – nas horas seguintes. No dia a seguir, o caso foi destaque em toda a comunicação social e todos os partidos políticos exigiam a demissão dos ministros. Parte significativa desta opinião surgiu também nos ‘fóruns’ promovidos pela TSF e pela Antena1. Quando às 13.30 horas Pedro Lynce anunciou a sua demissão, já estava sujeito a grande pressão, com a imagem desgastada, e para alguns ficou a ideia de que se demitiu a «pedido» da comunicação social. O mesmo se passou com Martins da Cruz que saiu do Governo dias depois.


Este exemplo mostra igualmente que não são relevantes apenas o conteúdo e a forma da mensagem. Na comunicação política são igualmente determinantes o tempo e a oportunidade.


Habitualmente o anúncio destas decisões é feito em comunicado. Uma rara excepção foi quando o ministro Pedro Lynce foi ao Parlamento anunciar a sua demissão.


Em algumas circunstâncias, quando este tipo de estratégia de defesa é feita de forma correcta, até se consegue dar a “volta”. Vejam-se os exemplos dos ministros Murteira Nabo e António Vitorino (nos governos de António Guterres). A rapidez, a forma “digna” como se demitiram, permitiu-lhes ganhar um capital de simpatia e admiração.


Outras possibilidades de se tentar controlar os estragos são: negar, explicar ou pedir desculpa.


Se a opção for negar a acusação de que se é alvo, utilizam-se argumentos bem evidentes e que não deixam qualquer margem para dúvidas. Se possível recorre-se a testemunhos independentes, para dar maior credibilidade à argumentação.


Outra possibilidade é dar uma versão dos acontecimentos. Nesta explicação não se tem a preocupação de explicar pormenorizadamente questões secundárias, a não ser que exista um dado ou uma prova forte, que anule a argumentação contrária. Se assim for, salienta-se apenas este ponto, apontando-o como exemplo de que a acusação não tem sentido. Através duma explicação, os eleitores poderão reflectir sobre a acusação e a resposta. O resultado varia com a interpretação que os eleitores fazem das duas versões. Depois da explicação pública é frequente o recurso a contactos informais com jornalistas, para explicações detalhadas. À explicação convém ser coerente e mantida durante o tempo necessário.


Outro recurso de defesa é o pedido de desculpa. É uma forma eficaz, mas funciona apenas uma vez. Se for repetida, já não tem credibilidade. Também não funciona se antes do pedido de desculpas se optou por negar as acusações. Significa que se mentiu. Foi, de certa forma, o que se passou com Bill Clinton e o caso “Monicagate”.


A optar-se por um processo de desculpas públicas, deve ser feito em grande.


Ainda numa estratégia de defesa, pode-se recorrer ao contra-ataque - tenta-se anular o efeito da acusação e, se possível, obter proveitos. Na prática é transformar a acusação de que se é alvo em ataque ao adversário. De certa forma ignora-se a questão essencial da acusação e, recorrendo a um pormenor ou ao momento em que tem lugar a polémica, transforma-se esse dado de fraqueza em motivo de contra-argumentação.


Algumas notas finais:
a) Se não se sabe como reagir o melhor é ignorar-se a iniciativa. Por outro lado, se um ataque estiver localizado apenas num único órgão de comunicação, a resposta surge apenas nesse meio de comunicação social. O objectivo é evitar o derrame da acusação para os restantes media. Caso contrário, se a acusação já estiver espalhada de uma forma generalizada, utilizam-se todos os meios possíveis para a defesa. Pode-se mesmo recorrer a publicidade paga, nomeadamente com inserções nos jornais.
b) Se algum meio de comunicação social, com um nível de audiência razoável, avançar com um escândalo, é bom que se fique, desde logo, com a noção de que os estragos nunca serão anulados. Mesmo que tudo seja falso. Mesmo que o próprio órgão de comunicação social reconheça na edição seguinte que houve um erro. Mais, mesmo que se dê tanto destaque à rectificação como se deu à noticia errada. Podem-se diminuir os estragos, mas em alguns casos já ninguém tira a “nódoa”. Então se o processo avançar para tribunal, quando for conhecida a sentença, já ninguém se lembra do caso. Casos destes não faltam.
c) Há quem jogue sujo. Em algumas organizações existe mesmo uma estrutura encarregue deste trabalho, cuja caracterização é feita do seguinte modo por Ronald A. Kuntz: “grupo de acção e combate - é o encarregado de acções anti-éticas ou trabalho sujo da campanha, tais como espionagem e contra espionagem, veículação de folhetos apócrifos, levantamento da vida do candidato adversário, difusão de boatos, segurança do candidato, sabotagem de material”.

cartazes de Marelo rebelo de Sousa

Um dos casos mais conhecidos teve lugar nas eleições autárquicas de 1989. Os cartazes de Marcelo Rebelo de Sousa foram adulterados e confundidos com o nome de uma empresa de reparação de televisores.
A candidatura e Marcelo Rebelo de Sousa atribuíram as responsabilidades aos adversários, acusando-os de intolerância.

No «verão quente» de 1975 eram frequentes estas situações, com sucessivas trocas de acusação entre os partidos. Em alguns confrontos chegou mesmo a haver vítimas mortais. O que levou, nestes momentos políticos agitados, algumas organizações a divulgarem apelos a militantes e simpatizantes para não responderem a provocações.

Em comunicação política há múltiplas formas de recorrer a processos “sujos”.
Só para citar um caso - o presidente Nixon tinha uma estrutura de comunicação que, entre várias funções, escrevia cartas ao director para jornais de praticamente todo o país (com nomes falsos - 25 a 30% das centenas de cartas eram editadas), tinha pessoas arregimentadas para falarem para Talk Shows de rádio e televisão (com núcleos nas grandes cidades) e criou associações “ independentes” que, entre outras actividades, divulgavam estudos, relatórios e sondagens (feitos pelo staff de apoio ao presidente), como se se tratassem de documentos imparciais.

 

Nos Estados Unidos parece banal o recurso a este "jogo sujo", Nas presidenciais de 2008, entre McCain e Obama, segunda narrou a Agência France Press, foram inúmeros os casos:

"   WASHINGTON, 30 Out 2008 (AFP) - Nos dias finais da campanha para as eleições presidenciais norte-americanas, candidatos e eleitores convivem com  cartazes pinchados, DVDs assustadores sobre a invasão do Islão ao Ocidente, panfletos capciosos, alegações de fraude e outros 'truques sujos'.
Na política americana, todos estes itens fazem parte do frenesim final, quando aquilo que um dos lados da disputa considera um truque sujo pode facilmente ser defendido pelo adversário como o mais puro exercício do direito à liberdade de expressão.
Exemplo: há dias, um panfleto falso ilustrado com o brasão do estado da Virgínia começou a ser distribuído, afirmando que "todos os eleitores republicanos e os independentes que apóiam candidatos do Partido Republicano devem, obrigatoriamente, votar no dia 4 de Novembro conforme previsto na lei".
Eleitores que apoiam o Partido Democrata, por sua vez, "devem votar no dia 5 de Novembro", diz o texto.
Panfletos semelhantes em Filadélfia alertam que eleitores com multas de trânsito não pagas ou ordens de prisão pendentes podem ser presos caso apareçam para votar no dia da eleição.
Esse tipo de prática costuma atingir principalmente as minorias - que este ano apoiam em massa o candidato democrata, Barack Obama. Além disso, embora a maioria dos estados americanos proíba propaganda falsa envolvendo as eleições, é difícil cumprir a lei, já que grande parte dessas acções são anónimas e realizadas com a maior discrição possível.
"É uma forma insidiosa de influenciar votos que geralmente passa despercebida pelas autoridades, e os seus responsáveis quase nunca acabam presos", destaca um relatório do Common Cause, grupo americano de vigilância das práticas políticas.
No norte da Virgínia, vândalos pincharam dezenas de placas particulares (colocadas por eleitores em janelas e jardins) de eleitores democratas, escrevendo um 's' por cima do 'b' de Obama, transformando-o assim em 'Osama', numa tentativa de ligar o candidato ao terrorista Osama bin Laden."

Em Portugal as situações mais frequentes são as cartas ao Director e os telefonemas para programas interactivos. Por exemplo, em alguns partidos há gente «arregimentada» para participar nos fóruns da TSF, Antena 1 e da SIC. Durante meses um antigo deputado do PSD entrava no fórum da TSF com nome falso e também a profissão. Numa emissão o jornalista que estava a fazer a condução do programa tratou-o pelo seu verdadeiro nome e ele nunca mais apareceu…


O “dialogo” Defesa-Ataque:
Em 1997 o PSD tentou propagar a ideia de que o governo estava a adiar as reformas e que se limitava a gerir os assuntos da governação.

A frase que mais usava era “Governo que não governa”.

Para evitar o alastrar desta ideia, o PS e o Governo articularam a estratégia do “Gente que Faz”.

Por parte do governo foram desencadeadas iniciativas que incidiam sobre várias medidas que estavam a ser concretizadas.

Membros do governo, acompanhados da comunicação social visitaram vários tribunais que estavam em construção, unidades hospitalares, estabelecimentos de ensino… Era praticamente dedicado um dia a cada tema. Nas eleições autárquicas o PS também deu continuidade a este tema.
Após estas iniciativas, o PSD abandonou, durante algum tempo, a acusação de que o “governo não governa”, acabando por a retomar mais tarde.

18
Fev11

2.6 A hora certa

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A hora em que é desencadeada uma iniciativa relevante é um factor determinante.

Se o objectivo principal é o acontecimento ser reportado nos principais blocos informativos das televisões, a iniciativa é feita até meio da tarde. Se o pseudo-acontecimento tiver força importante para passar em directo, a opção é a iniciativa estar a decorrer na hora dos noticiários televisivos (1).

Para se conseguir este último objectivo é frequente alguém estar atento às emissões das televisões para sinalizar o início do directo.
Repare-se no exemplo do comício de encerramento do PSD nas legislativas de 1999. Como a RTP estava a fazer um directo, o assessor de imprensa do PSD, José Mendonça, foi a um canto do palco com uma placa dar o sinal a Durão Barroso. A partir da Convenção das legislativas de 2002 este processo foi ultrapassado com a colocação de monitores no púlpito e, mais recentemente, através de sinais luminosos no palanque do orador que indicam qual o canal de televisão que está em directo..

O orador está atento ao sinal e depois incide a sua intervenção na mensagem que considera importante. Mesmo que isso implique uma repetição. Por vezes até é obrigado a fazer mais do que uma repetição – ao surgir o directo de outra televisão.
Apesar de aos olhos dos presentes – jornalistas e público - parecer estranha a repetição, quem o faz está interessado é nas milhares de pessoas que recebem directamente a mensagem através das televisões.

Uma outra preocupação na escolha do momento mais adequado para estes «pseudo-acontecimentos» é evitar a reacção em tempo útil da oposição.
Para isso, é frequente realizarem o evento quase em cima do “dead line” das Redacções (de televisão). Neste caso, corre-se o risco de a iniciativa não passar, mas como habitualmente são avisados os principais órgãos de comunicação social de que está prevista uma iniciativa para essa hora, e se forem dados alguns pormenores reveladores da importância do que se irá passar, o risco é diminuído.
É neste «jogo» que muitas vezes estão envolvidos os principais partidos, com o governo e os jornalistas a servirem de peões.

Durante muito tempo os dois maiores partidos portugueses (PS e PSD) utilizaram a seguinte estratégia: marcavam as reuniões dos órgãos nacionais para cerca das 17h e prestavam declarações aos jornalistas pouco depois das 19h. Quase em cima dos telejornais, restava apenas uma hora.
A equipa de reportagem das televisões recolhia o material, ia apressadamente para a Redacção e todo o esforço era dirigido para editar a notícia a tempo útil de ser colocada no jornal das 20h. Na prática, isto impedia ouvir a reacção do partido adversário a tempo de entrar no mesmo bloco informativo. Na prática, esta estratégia condicionava fortemente uma das regras do jornalismo: ouvir o contraditório (para alguns estudiosos da comunicação, o que de facto o jornalista procura não é o contraditório, a confrontação das ideias. O objectivo é o choque e o drama do confronto entre duas personalidades, o que propicia maior audiência).

Por sua vez, os oponentes tinham uma primeira dificuldade que era saber o que tinha sido dito. Em alguns casos esperavam por essa informação na agência Lusa. Noutros casos tinham de ouvir os noticiários das rádios ou alguém telefonava para um jornalista conhecido (que por vezes até tinha estado a presenciar o outro «acontecimento») a perguntar o que se tinha passado. O objectivo seguinte era desencadear o mais depressa possível uma reacção de forma a conseguir que a mensagem ainda fosse a tempo de sair na edição seguinte dos jornais e nos noticiários da noite das rádios e televisões. Um dos processos mais céleres para atingir este objectivos era colocar a informação na agência de informação.

Actualmente esta preocupação de conseguir o contraditório ganha ainda maior relevo devido à ‘actualidade’ de uma mensagem, um dos critérios de aferição dos jornalistas quando do tratamento de uma notícia. Se antes este critério podia ser mais elástico, hoje o tempo de vida de uma notícia é muito curto. Ou a reacção entra ainda a tempo da «actualidade», ou então é um caso perdido.
Quem faz a gestão de comunicação destas organizações depressa se apercebe deste factor e procura dar a resposta o mais depressa possível.

Se não se consegue atingir o objectivo de fazer passar a reacção à iniciativa de uma organização política concorrente, é vulgar criar-se um outro «pseudo-acontecimento». No dia seguinte volta tudo ao início.

Na gestão semanal da agenda dos média, o melhor dia para avançar com uma iniciativa é habitualmente a segunda-feira. É um dia de rescaldo do fim-de-semana e, na maior parte das organizações, é quando se faz a gestão das iniciativas a curto prazo. Os jornalistas têm menos acontecimentos agendados e estão mais disponíveis para a cobertura de outro tipo de acontecimentos.
A sexta-feira é um dia muito particular. Muita gente antecipa o fim-de-semana e alguns nem sequer têm contacto com os principais noticiários das televisões. Além disso, excluindo as iniciativas que requerem alguma urgência, as principais histórias foram «guardadas» para os semanários. Os políticos sabem o peso de um jornal como o «Expresso», e se tiverem possibilidade de serem notícia, de dar um exclusivo, de guardar um comentário….para o sábado, chegam à quinta e sexta-feira e a gestão da informação já tem em conta este objectivo.

«Um evento marcado para as 11.30h de uma terça-feira tem muito mais potencial mediático do que se for combinado para as 16.30 de sexta-feira» - Luís Paixão Martins; Schiu… Está aqui um jornalista

Quem tem uma visão mais apurada da gestão da agenda dos média ao fim-de-semana, tem também em conta a revista do grupo Notícias (JN e DN). Esta publicação sai ao domingo, é lida por mais de duas centenas de milhares de leitores e permite a colocação de um outro tipo de histórias. Os hobbies de um político, as viagens, a casa de campo, a família… Não é para discutir política. No entanto, muitos políticos sabem que é extremamente útil para revelar facetas pessoais ou «humanizar» alguém que por vezes tem uma postura distante do cidadão comum.

Uma última nota sobre a forma como é gerida a informação em situações de crise.
O ritmo da informação que é transmitida para a comunicação social é um dado relevante. Se há um fluxo permanente de informação isso significa que o «caso» ainda não está encerrado. Ao contrário, se for libertada informação mais espaçadamente, pode-se criar a ideia que há poucos dados novos, que o «caso» se está a esgotar e, desse modo, criar a ideia que a situação de crise está a ser ultrapassada. Jaime Gama é um dos políticos que recorre a esta técnica e chegou a influenciar o ritmo de informação dado aos jornalistas em situações de crise, no governo de António Guterres.

Gestão a médio e longo prazo:
Numa gestão a médio e longo prazo, o planeamento já não é de horas mas de semanas ou de meses.
Varia consoante a acção dos oponentes e a opinião do eleitorado, em particular de alguns círculos eleitorais.
Através de estudos de opinião consegue-se perceber se vale a pena apostar em determinado círculo eleitoral ou se os «ganhos» que se vão conseguir são nulos. Por exemplo, nas legislativas de 2005, o PS tinha vários estudos onde se concluía que a maioria absoluta só era possível se o partido conseguisse crescer em cinco círculos eleitorais. Passaram a ser os «key seats» da campanha socialista:
«Os distritos de Lisboa e Porto são os dois que o secretário-geral do PS, José Sócrates, deverá visitar mais vezes durante o período oficial de campanha eleitoral, que dura entre os dia 6 e 18 deste mês. A campanha do líder socialista vai centrar-se fortemente nos distritos mais populosos, e que elegem mais deputados à Assembleia da República, devendo mesmo ocupar-se exclusivamente dos principais centros urbanos (Aveiro, Setúbal e Braga, além de Lisboa e Porto) nos últimos 9 dias de uma campanha eleitoral de 14.» DN; 01/02/05

Os mesmos estudos permitem avaliar o comportamento do eleitorado. Tradicionalmente onde vota, se é muito volátil, se há muitos indecisos, se há condições para haver uma mudança de opinião algum tempo antes das eleições e, em caso afirmativo, como se pode consolidar estes votantes.
Em função das conclusões é escolhida a altura mais indicada para se avançar com medidas marcantes.
Em alguns contextos, o eleitorado é reticente a mudar de opinião e muitos votantes só assumem a sua escolha no decorrer da campanha eleitoral, se não no próprio dia das eleições. (2) O que implica manter a “pressão” até ao fim.
Se for outro o ambiente, se existirem condições favoráveis à mudança, as eleições podem ser ganhas muito tempo antes do acto eleitoral.
Foi o que se passou em Portugal nas legislativas de 1995. Segundo uma sondagem, 75% dos votantes tinham tomado a opção há muito tempo. No decorrer da campanha, apenas 5.1% dos votantes tomaram uma decisão sobre o partido onde iriam votar. Na véspera a percentagem foi de 0.8% e no próprio dia a decisão foi tomada por 3.4%. (3)

Um estudo, realizado na Inglaterra sobre as eleições legislativas de 1987 revelou que o comportamento do eleitorado sofreu profundas alterações meio ano antes do início da campanha eleitoral. ( Miller, W. Clarke, H…(1990) How Voters Change: the 1987 British General Election in Perspective, Oxford, Clarend Press ). Esta mudança foi em benefício dos conservadores.
Segundo Dennis Kavanagh (Election Campaigning - the new marketing of politics), os conservadores decidiram antecipar a preparação da campanha eleitoral depois de uma delegação ter ido aos Estados Unidos perceber o sucesso de Ronald Reagan. Na preparação do período pré-eleitoral de 1984, a equipa de Reagan desencadeou um plano para os últimos meses, antes do arranque da campanha eleitoral. Esse plano passava pela marcação da agenda através de discursos, conferências de imprensa, deslocações e iniciativas legislativas.

Com estes ensinamentos, os conservadores prepararam de igual modo as eleições de 1987. Uma equipa ficou encarregue de elaborar um plano que passou pela gestão da agenda através de iniciativas essencialmente no parlamento - controlo dos agendamentos, apresentação das iniciativas legislativas, debates, orçamento… Em termos complementares era feita a gestão da exposição pública de membros do governo e lançados os temas mais favoráveis.
Bill Clinton fez o mesmo ao antecipar a campanha eleitoral. Mal terminou a convenção do Partido Democrático, Clinton e Gore foram para o terreno, percorrendo vários estados. Quando terminou a Convenção do Partido Republicano, já Clinton tinha marcado há muito tempo a agenda. O mesmo sucedeu nas presidenciais de 2004. Nove horas depois de terminar a Convenção Democrata, Kerry foi para as ruas de Bóston, iniciando uma jornada que o levou de costa a costa, durante quinze dias.
Em Portugal, nas legislativas de 1 Outubro de 1995, o Partido Socialista recorreu a igual estratégia. Com o PSD ainda a elaborar a sua estratégia para as eleições, o PS encerrou os Estados Gerais em Março e, em Maio, meio ano antes do arranque da campanha, já andava António Guterres a percorrer o país, acompanhado por jornalistas.

Ao contrário das anteriores campanhas e pré-campanhas eleitorais do PS, a Caravana d’«A Nova Maioria», que está a levar António Guterres a 32 concelhos do continente e ilhas, constitui um surpreendente exemplo de organização. Inspirado no modelo de pré-campanha de Bill Clinton, que há três anos o colocou na presidência dos EUA, o actual circuito nacional do líder socialista baseia-se no principio de que é preciso dar-se a conhecer para ser conhecido. Baseia-se também no conceito segundo o qual se torna fundamental conquistar antecipadamente no terreno a simpatia dos eleitores e convencer os indecisos para os objectivos a que se propõe qualquer candidato a primeiro-ministro». José Manuel Saraiva; Expresso; 27/05/95

Nas eleições seguintes, o PSD tentou fazer o mesmo, mas um problema de saúde de Durão Barroso obrigou-o a adiar a iniciativa para próximo das férias e depois da Convenção do PS. Com o adiamento perdeu-se parte do efeito pretendido.

O propósito de antecipar as iniciativas de pré-campanha reforça a tese de que são modestos os efeitos de uma campanha eleitoral, por melhor que seja a política de comunicação.
As eleições ganham-se ou perdem-se ao longo de quatro anos e não em quatro semanas.
Tendo em conta esta tese, não é de estranhar o esforço de alguns governos (Reagan, Clinton; Blair…e também de Guterres) de estarem permanentemente em campanha. Diz Caio Blinder, especialista em assuntos internacionais, no DN de 19/10/2003: «Num ponto Bush é certeiro. Assim como o seu antecessor Bill Clinton, o presidente vive em campanha permanente e tem legiões de militantes conservadores trabalhando para ele em tempo integral».

Por último, sublinhe-se que, em algumas circunstâncias, as eleições são ganhas depois de fechadas as urnas, conforme Pacheco Pereira o salientou na sequência de uma «noite eleitoral».
Isto é, as eleições podem ser ganhas nas televisões, na noite eleitoral, quando os resultados são muito próximos, ou quando diferem os critérios de interpretação dos resultados.
Foi assim nas autárquicas de 1993 em Portugal, onde o PS foi surpreendido pelo PSD.
Nas eleições autárquicas de 1997 o PS aprendeu a lição e logo às 19.30h (antecipando a hora prevista) declarou a vitória. Esta iniciativa obrigou o PSD a também antecipar a sua declaração, reivindicando igualmente a vitória, mas quando o fez, já foi tarde.

Por outro lado, é ainda nas noites eleitorais que ficam as intervenções mais marcantes para o debate político. Mesmo quando se perde um escrutínio é essencial desencadear uma estratégia de «controlo de danos». Um dos processos habituais é assumir a responsabilidade da derrota.

«Guterres matou a noite política a seu favor com a intervenção em que assumiu as responsabilidades e é pena que não fosse possível realizar uma sondagem logo a seguir ao discurso. Decerto que lhe seria bastante favorável» – Joaquim Sabino em declarações ao Diário Económico de 10/11/1998 sobre a derrota do «Sim» no referendo da regionalização.

 

(1). “E os condimentos típicos do exercício do poder, ou das tácticas de quem por ele luta, estiveram bem presentes na reunião do “conselho económico e social” dos socialistas, que reuniu ao fim da tarde, em Setúbal, para discutir os problemas do emprego. Notoriamente, um mero pretexto para exibir a galeria de “notáveis” dos Estados Gerais. Todos os “trunfos” do PS em matéria de políticas económicas e sociais ali estiveram. Constâncio, a desdobrar-se em entrevistas e a explicar a credibilidade das propostas do PS, sobretudo aquelas que foram quantificadas (por si, claro!), Daniel Bessa, João Cravinho, António Vitorino, Vital Moreira, João Proença, Pina Moura, Ferro Rodrigues, entre outros. Tratou-se de um “número” bem conseguido para as televisões, com direito de entrada no Jornal da Noite, da SIC, e um “directo” com Vítor Constâncio. (…)” Público - Setembro 1995

(2). Nas eleições britânicas de 1992, segundo dados revelados pelo Labour, nove milhões de votos mudaram na última semana. O resultado final, com a vitória de Major, acabou por ser um balde de água fria para o Labour, já que existia um triunfalismo exagerado antes das eleições. Tendo em conta esta experiência, nas eleições seguintes, em 1997, os trabalhistas recusaram sempre um triunfalismo prematuro e organizaram detalhadamente os últimos cinco dias de campanha, concentrando e reforçando as iniciativas nos noventa círculos eleitorais que consideraram determinantes (key seats) para vencer. Na organização havia mesmo uma estrutura encarregue de preparar apenas a última semana de campanha.

(3). Na mesma sondagem, as razões que determinaram o voto eram as seguintes: fidelidade: 52%; era o melhor partido: 37.3%; voto útil: 4.6%; outra razão: 3.1; nenhuma razão: 3%.

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